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Newton
Ramalho - colunaclaquete@gmail.com
Unidos da Caverna Futebol Clube
Como este ano
acontece a Copa de Mundo de futebol, não é de admirar que a promoção do esporte
atinja todos os cantos do planeta, todos os veículos disponíveis, e – porque
não – o próprio cinema também faz a sua contribuição, com uma deliciosa
animação que encantará até mesmo quem nunca se interessou pela bola: “O Homem
das Cavernas” (“Early Man”, EUA, 2018).
Não é fácil
fazer filmes sobre futebol, pois o maior encanto do esporte é exatamente a
inventividade, o improviso, o acaso, e até mesmo a sorte ou azar, que permite a
um time pequeno vencer um grande. Vários filmes sobre o esporte fracassaram
pois tudo parecia demasiadamente artificial.
Assim, usar todas essas características do
futebol em uma animação pareceu ser a melhor solução, já que haveria o controle
total sobre os “atores” e os eventos. Obviamente que para haver um bom filme, é
preciso ter uma boa história. Junte-se a tudo isso um maravilhoso trabalho de
moldagem com massinhas, e chegou-se ao resultado esperado.
No filme,
numa época pré-histórica, onde homens primitivos e dinossauros conviviam lado a
lado, tudo muda quando um misterioso objeto cai do espaço, provocando uma
enorme explosão e criando uma zona diferente, onde a vida vegetal se tornou
exuberante, enquanto o resto do planeta permanecia um grande deserto.
O tal objeto
é encontrado pelos homens sobreviventes, e como estava muito quente, foi
passando de mão em mão, depois de pé em pé, e assim foi criado um novo esporte.
Muitas eras
depois, encontramos uma tribo ainda vivendo a idade da Pedra, e sobrevivendo da
caça a pequenos animais. A pessoa que tentava mudar isso era Dug (voz de Eddie
Redmayne), um jovem inquieto, que queria mudar as condições de vida de sua
tribo.
Tudo sofre um
grande impacto com a chegada dos homens de Lod Nooth (voz de Tom Hiddleston), o
comandante de uma cidade da Idade de Bronze, que buscava mais e mais fontes de
metais para assegurar o seu poder.
Hug é levado
para a cidade por acaso, e lá descobre muitas coisas novas, inclusive o
futebol, que era a grande ferramenta de marketing do tirano. Ele decide criar
em sua tribo um time de futebol para desafiar o poderoso time de Nooth, e assim
garantir a volta para o vale de onde tinham sido expulsos. A única ajuda que
tem é da simpática Goona, ela mesma uma excelente jogadora, mas impossibilitada
de entrar em campo porque era mulher.
As peripécias
no treinamento e na batalha final em campo são hilárias e sensíveis, sendo
trabalhados não só os valores de habilidade no esporte, mas também trabalho em
equipe, saber o objetivo a alcançar, e também explorar as forças e fraquezas
tanto do seu time quanto do adversário.
Confesso que
fiquei maravilhado imaginando o trabalho colossal de fazer todos os personagens
de massinha, com expressões faciais e tudo, arrumá-los todos em uma disposição,
fazer a filmagem de alguns segundos, e depois refazer tudo para a próxima cena!
Essa técnica, denominada Claymation (Clay Animation ou animação em argila) tem
raízes antigas no cinema, sendo adotado também o nome Stop Motion.
Muitos filmes
usaram essa técnica, principalmente sob o comando de Ray Harryhausen, criador
de títulos como “Simbad e a Princesa”, “As Novas Viagens de Simbad” e “Simbad e
o Olho do Tigre”. Muitos filmes recentes também adotaram a técnica, como
“Frankenweenie”, “A Noiva-Cadáver” e “O Estranho Mundo de Jack”, de Tom Burton,
“Coraline e o Mundo Secreto”, de Henry Sellick, “ParaNorman”, de Chris Butler,
e “Kubo e as Cordas Mágicas”, de Travis Knight.
O diretor de
“O Homem das Cavernas”, Nick Park, já usara brilhantemente a técnica antes em
“A Fuga das Galinhas” (“Chicken Run, 2000) e “Wallace & Gromit – A Batalha
dos Vegetais” (“The Curse of the Were-Rabbit”, 2005).
Apesar de
várias referências externas que só adultos entendem, “O Homem das Cavernas” é
um produto voltado para o público infantil, embora certamente divertirá quem
for assistir. É bom vermos coisas assim numa era cada vez mais mercantilista e
impessoal.
Título
Original: “Early Man”
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