sexta-feira, 28 de maio de 2004

Claquete 28 de maio de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Brad Pitt continua dando seus pulinhos marotos em “Tróia”, talvez comemorando o primeiro lugar nas bilheterias nacionais, com quase dois milhões de espectadores. Mas, de novidade mesmo, só o mais novo filme catástrofe, “O Dia Depois de Amanhã”, que estréia, para valer, nesta sexta-feira. Permanecem em cartaz, além do indefectível “Tróia”, com Aquiles & Cia, as comédias “Louco Por Elas”, e, “Como Se Fosse a Primeira Vez”, com Drew Barrymore, “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, salada mista de vampiros, lobisomens e zumbis, o infanto-juvenil “Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta”, com Salsicha e sua turma, e, o drama nacional “Benjamim”, com Paulo José e Cléo Pires. Na tradição de que, depois da calmaria vem a tempestade, a espera agora é pela estréia de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, que acontecerá no dia 4 de junho.



O Dia Depois de Amanhã

Todo mundo sabe que o efeito estufa é uma realidade, e, que, se continuar do jeito que está, o clima global mudará bastante, prejudicando toda a vida do planeta. E, se isso acontecesse em apenas uma semana? Essa é a hipótese levada às telas em “O Dia Depois de Amanhã”, onde uma nova era glacial acontece no hemisfério norte, levando milhões de americanos a fugir para o México (!). Enquanto Nova York é destruída, pela enésima vez, no cinema, o paleoclimatologista Jack Hall (Dennis Quaid), enfrenta inundações e geleiras, já que acredita que seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) ainda está vivo. O diretor deste filme, Roland Emmerich, já destruiu o mundo outras vezes, em “Independence Day” e “Godzilla”. Como seria de se esperar, sobram efeitos especiais em cenas de tirar o fôlego, bem ao gosto dos adoradores da moderna Hollywood. História? Bem, nada muito elaborado, mas suficiente para manter a atenção durante os 124 minutos de filme. Pelo menos, os ambientalistas não reclamaram, já que uma de suas bandeiras mais importantes foi levada à atenção do grande público. Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, nas salas 6 e 7 do Moviecom.


Harry Potter vem aí

Depois de uma longa espera, os fãs do bruxinho mais famoso do mundo já estão contando os minutos que faltam, para a estréia de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, que acontecerá, mundialmente, no dia 4 de junho. O novo filme da série é um pouco mais sombrio, não perdendo tanto tempo, como nos dois primeiros, para apresentar os personagens e as situações mágicas do mundo de Hogwarts. Mas, as reações dos que assistiram as pré-estréias tem sido calorosas, já que há uma identidade maior com o público adolescente, com muitas cenas de ação. Além dos atores Daniel Radcliffe (Potter), Emma Watson (Hermione), Rupert Grint (Ronnie), o gradalhão Robie Coltrane (Hagrid) e Alan Rickman (Snape), o elenco traz uma importante novidade, com o camaleônico ator Gary Oldman, no papel de Sírius Black, o prisioneiro do título. Em seu terceiro ano na Escola de Bruxarias de Hogwarts, Harry Potter e seus amigos são avisados de que um perigoso criminoso fugiu da prisão de Azkaban, e, ronda a escola. Para proteger a escola são enviados os Dementadores, estranhos seres que sugam a energia vital de quem se aproxima deles, que tanto podem defender a escola como piorar ainda mais a situação. Mas, nem sempre as coisas são o que parecem ser... Nos próximos dias começarão as vendas antecipadas de bilhetes para a estréia. Fiquem de olho!


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“Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, em DVD

Depois de uma longa espera, chega aos usuários domésticos, em VHS e DVD, o capítulo final da trilogia “Senhor dos Anéis”. “O Retorno do Rei”, que mostra o final da jornada de Frodo, em sua tentativa de livrar-se do Um Anel, enquanto Aragorn, Gandalf, Legolas e Gimli lutam contra Sauron, encerrando a Guerra do Anel. Durante a guerra, Sauron (Sala Baker), o Senhor do Escuro, envia à Terra-Média a maior força já vista, e, o mago Saruman (Christopher Lee), após rebelar-se contra o poder de Mordor, começa a atacar. Apesar da volta de Gandalf (Ian McKellen) consolar os cavaleiros do sul, todos sabem que é no centro de Mordor que estão os verdadeiros responsáveis pela decisão da Guerra: Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin), os portadores do Anel. Só que, antes que eles possam concluir sua missão - de destruir a jóia de Sauron -, os dois serão capturados pelos orcs, e, ficarão indefesos, sem Gandalf ou qualquer guerreiro para partir em seu socorro. No DVD, além do filme, encontram-se 600 minutos de extras, com destaque para o documentário feito pela National Geographics, sobre a produção do terceiro filme da saga baseada na obra de J.R.R. Tolkien, além de trailers, e, os destaques do site www.lordoftherings.net, que abordam vários pontos dos bastidores da produção. O filme ganhou onze Oscars, quatro Globos de Ouro e quatro prêmios BAFTA. Nas lojas e locadoras.


“As Invasões Bárbaras”, em DVD

Este belo filme, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, chega , agora, nas locadoras, em VHS e DVD. Seqüência de “O Declínio do Império Americano”, esta produção canadense, dirigida por Denys Arcand, continua a história de um dos personagens do primeiro filme. O professor de história Rémy (Rémy Girard, irretocável) sofre de câncer num hospital lotado de Quebec. A sua ex-mulher, Louise (Dorothée Berryman), apesar das infidelidades do marido, fica ao seu lado. Ela até consegue chamar de volta ao Canadá o filho do casal, Sébastien (Stéphane Rousseau). Com o reencontro, renasce o conflito. Conquistador incansável, típico intelectual idealista dos anos 60, o pai é o contrário do filho, noivo fiel, pragmático, de futuro financeiro promissor no mercado acionista de Londres. O filme ficou seis semanas em cartaz na sessão de arte do Cine Natal. Confira!


As bodas de prata de “A Vida de Brian”

Aproveitando a polêmica causada por “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, o filme “A Vida de Brian”, do grupo Monty Python, está sendo relançado nos cinemas. Quando foi lançado, em 1979, o filme gerou mais polêmica ainda, já que mostra, de uma forma contundente e satírica, a vida de um imaginário judeu, contemporâneo de Cristo, que vivia sendo confundido com o próprio. No centro desta história está Brian Cohen (Graham Chapman), um relutante candidato a messias, que se torna importante, devido a uma série de situações absurdas e realmente hilárias, que proporcionam amplas oportunidades para todo o grupo (John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam, Terry Jones, Michael Palin e Chapman) brilhar em múltiplos papéis, à medida que eles imitam a todos e a tudo: ex-leprosos, Pôncio Pilatos, profetas malucos, centuriões romanos e atos de crucificação. O filme ironiza os líderes religiosos, de maneira geral, e, os grupos de esquerda, que tem mais ódio uns dos outros, do que dos verdadeiros inimigos, no caso, os romanos.


“Sexo, Amor e Traição”, em DVD

O filme de estréia do diretor Jorge Fernando, refilmagem do mexicano “Sexo, Pudor e Lágrimas”, chega agora ao mercado doméstico. Carlos (Murilo Benício) e Ana (Malu Mader) vivem no 7º andar de um edifício localizado no coração do Rio de Janeiro. Ana necessita de mais carinho do que seu marido lhe dá. Inesperadamente Tomás (Fábio Assunção), um amigo do casal, chega depois de muitos anos de viagem e se hospeda na casa dos dois. Ao mesmo tempo Andréa (Alessandra Negrini) e Miguel (Caco Ciocler) vivem num edifício em frente, também no 7º andar. Andréa está cansada da indiferença de seu marido e ressentida porque ele a vê apenas como um objeto a ser exibido. Em uma festa se encontram com Cláudia (Heloísa Perissé), o primeiro amor de Miguel. Cláudia, não tendo lugar para ficar, acaba passando a noite no apartamento de Miguel.


Outros lançamentos

Enquanto no cinema, as estréias estão paradas, nas locadoras, a conversa é outra. Chegaram esta semana às prateleiras: “Pacto de Justiça”, western que conta a história de quatro homens (Kevin Costner, Robert Duvall, Diego Luna e Abraham Benrubi), que tentam libertar a cidade em que vivem das ameaças de um poderoso vaqueiro (Michael Gambon); o drama “Irreversível”, com Mônica Bellucci, onde dois homens perseguem o estuprador da namorada de um deles; “A Cartomante”, produção nacional, com Déborah Secco, Giovanna Antonelli, Luigi Barricelli e Sílvia Pfeiffer; e, o suspense “Swimming Pool – À Beira da Piscina”, com a veterana Charlotte Rampling.

Filme recomendado: “Manhattan”
Poema de amor em branco e preto

“Filme de intelectual é chato!”. Quantas vezes já não escutamos essa reclamação, e, diga-se de passagem, com razão. Boa parte dos filmes de Woody Allen, enquadra-se na categoria “intelectualóide”, destinado a coletar poeira, nas estantes das locadoras. Para quem percorreu uma imensa gama de temas e abordagens, Allen certamente terá obras suas enquadradas como chatas, e, outras, como geniais. Na humilde opinião deste cronista, “Manhattan” está mais próximo desta última categoria.

O início do filme cativa, e, assusta. A abertura traz algumas paisagens de New York, ao som da belíssima Rhapsody in Blue, de George Gershwin, trazendo o espectador para a Big Apple, que reside na imaginação de todos. Contudo, a fotografia preto e branco e a narração em off de Allen, já deixa as pessoas com um pé atrás: “Ele adorava New York City, embora fosse para ele uma metáfora da decadência da cultura atual.”...

A história é complexa, assim como a vida. Allen vive Ike Davis, um frustrado escritor de televisão, que sonha em escrever seu primeiro livro. Tendo sobrevivido a dois divórcios, Ike namora Tracy (Mariel Hemingway), uma linda secundarista de dezessete anos, a quem vive dizendo que nunca terão um futuro juntos, já que ele é vinte e cinco anos mais velho que ela. Seu melhor amigo, Yale (Michael Murphy), tem um casamento sólido, mas mantém um relacionamento com outra mulher. A amante, Mary Wilke (Diane Keaton), uma jornalista metida a intelectual, troca farpas com Ike desde o primeiro encontro, mas aos poucos, vai desenvolvendo uma amizade com o escritor.

Ike tem seus próprios problemas, pois além de pedir demissão num arroubo, descobre que a ex-mulher ( que o trocou por uma lésbica) está escrevendo um livro sobre o casamento dos dois. Para complicar, começa a envolver-se emocionalmente com Mary, mesmo que esta ainda não tenha se desligado de Yale. Assumindo seu novo romance, Ike rompe com Tracy para ficar com Mary. Ponto. Se falar mais, estrago a surpresa.

Apesar da verborragia quase incessante de Allen, no seu constante padrão neurótico-obsessivo, a história flui sem problemas, porque relacionamento humano é um elemento universal. Adicionalmente, a belíssima fotografia pan-cromática e a deliciosa trilha sonora repleta de melodias famosas, transportam o espectador para o mundo de Allen.

Nesse mundo, existe uma New York romântica e especial, que não tem nada a ver com ataques terroristas ou capitalismo selvagem. São belas fachadas, silhuetas estreladas por luzes, vitrines convidativas, restaurantes aconchegantes. Até o quitinete de Ike, com sua água enferrujada e barulho dos vizinhos, parece pitoresco. Nesse universo paralelo, é natural passear com o cachorro em plena madrugada, ou, receber uma ligação do analista às três da manhã.

O analista é uma constante no universo woodyano, pois todos são neuróticos de carteirinha. A honrosa exceção fica por conta de Tracy, que, nos seus dezessete anos, parece ser a personagem de maior maturidade.

O elenco está excelente, não só os veteranos Allen e Keaton (que viviam juntos na época), como também a novata Mariel Hemingway em seu segundo trabalho no cinema ( o primeiro foi “A violentada”, com a irmã Margaux em 1976).

O DVD é pobre, pois de extras tem só o trailer de cinema. Contudo, o formato widescreen foi mantido, permitindo apreciarmos a bela fotografia do filme. Para se ter uma idéia, até em VHS o formato da tela foi mantido, por exigência de Allen. O áudio traz as opções inglês, e, espanhol 2.0, e, legendas em inglês, espanhol e português.

“Manhattan” foi mais uma ousadia de Allen, que vinha do premiado “Annie Hall”. Indiferente ao padrão da indústria, teimou em fazer um filme preto e branco, tratando do seu tema favorito, a cidade de New York. Mais do que uma simples declaração de amor à Grande Maçã, este filme é também um manifesto à juventude, como esperança de redenção da humanidade. Talvez o cineasta estivesse prevendo seu próprio destino, quando, anos mais tarde, viveria um caso de amor com a filha adotiva de sua ex-mulher, Mia Farrow, numa comprovação de que, algumas vezes, é a Vida que imita a Arte.

sexta-feira, 21 de maio de 2004

Claquete 21 de maio de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Com uma estréia estrondosa, “Tróia” conseguiu superar até mesmo o polêmico “Paixão de Cristo”, arrastando 670 mil pessoa aos cinemas, apenas no final de semana passado. Mas, se a aventura de Brad Pitt e Eric Bana continuam a empolgar outros espectadores, os fanáticos por estréias tem pouco a esperar, neste final de semana. De novidade mesmo, tem o nacional “Onde Anda Você?”, com Juca de Oliveira e José Wilker, a comédia “Louco Por Elas”, e, a pré-estréia de “O Dia Depois de Amanhã”, na próxima quinta-feira. Continuam em cartaz, além da aventura de Aquiles, “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, salada mista de vampiros, lobisomens e zumbis, o infanto-juvenil “Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta”, com Salsicha e sua turma, a comédia romântica “Como Se Fosse a Primeira Vez”, com Drew Barrymore, e, o drama nacional “Benjamim”, com Paulo José e Cléo Pires. No Filme de Arte do Cine Natal 1, “Sexo Por Compaixão”.


Onde Anda Você?

Se achou familiar este título, saiba que tem mesmo a ver com a belíssima música homônima, composta por Vinícius de Moraes e Hermano Silva. O decadente humorista Felício Barreto (Juca de Oliveira), em busca da alegria perdida, embarca em uma delirante aventura, que o levará da fria metrópole de São Paulo a um paradisíaco lugarejo, perdido no fim do mundo. Nesse lugar, estranhas coisas acontecem. Lá, ele encontra sua ex-mulher e seu antigo parceiro, que o traíam, apesar de já estarem mortos. Encontra também uma menina que poderia ser sua filha, mas não é. Dirigido por Sérgio Rezende, “Onde Anda Você”, é um filme que mostra o efeito do tempo sobre o homem, entrelaçando humor e sensibilidade, com extrema delicadeza. Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, censurado para menores de 14 anos.


Pré-Estréia: O Dia Depois de Amanhã

Filmes apocalípticos não são nenhuma novidade, e, até as catástrofes repetem-se amiúde. Nova York, então, deve ter sido a cidade mais destruída, no mundo do cinema! A mudança agora é só no tipo de ameaça. A Terra sofre alterações climáticas, que modificam drasticamente a vida da humanidade. Com o norte resfriando-se cada vez mais, no que parece ser uma nova era glacial, milhões de sobreviventes rumam para o sul. Porém, o paleoclimatologista Jack Hall (Dennis Quaid), segue o caminho inverso, e, parte para Nova York, já que acredita que seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) ainda está vivo. O diretor deste filme, Roland Emmerich, é um especialista em destruir o mundo. São dele, também “Independence Day” e “Godzilla”. Pré-estréia no dia 27 de maio, próxima quinta-feira, no Cine Natal 1 (sessão única, às 21h), e, nas salas 5 e 7 do Moviecom, sessões normais.


Louco por Elas

Paul (Jason Lee) está na sua despedida de solteiro, sem muita animação. Pelo contrário, está decidido a não fazer nada de que possa se arrepender depois – ou que não possa contar à sua noiva, Karen (Selma Blair). É por isso que ele toma um susto na manhã seguinte, quando acorda, com o telefone tocando, e, uma linda – e nua - desconhecida chamada Becky (Julia Stiles), ao lado dele na cama. Ao ouvir que sua noiva está indo para lá, Paul age rapidamente, expulsando Becky porta afora, enquanto tenta desesperadamente esconder qualquer sinal de que fez algo errado – embora não consiga se lembrar de ter feito qualquer coisa de errado. Quando Karen chega e pergunta como foi a festa, Paul conta uma mentirinha para encobrir o que pode ser ou não a verdade. A mentirinha transforma-se em outra mentira, e, logo, a vida de Paul se torna uma série de mal-entendidos cômicos. Comédia de costumes, bem ao estilo do gosto americano. Estréia nesta sexta-feira, na Sala 5 do Moviecom.

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Filme de Arte: “Sexo Por Compaixão”


Dolores (Elisabeth Margoni) é uma mulher madura, conhecida e admirada por sua generosidade. Quando é abandonada pelo marido, fica sem saber o que fazer com a perda. Dolores decide, então, pecar pela primeira vez, fazendo amor com um desconhecido. Só que, sem mesmo sem quere, ela salva a vida do homem, e, o suposto pecado, converte-se em uma obra de caridade. Agora, sob a alcunha de Lolita, inicia um trabalho de "sexo por compaixão", como revela o título do filme. Em pouco tempo, seus serviços ganham fama, e, ela passa a ser bastante requisitada. Curiosamente, as outras mulheres passam a gostar quando ela transa com seus maridos, pois eles ficam mais felizes. E, a partir de suas caridades, a cidade ganha novas cores, e, novos ares. O problema é quando o marido retorna, disposto a reconciliar-se com Dolores, causando uma verdadeira comoção na cidade. Em sessão única, do Filme de Arte do Cine Natal 1, na terça-feira, dia 25, às 21h.


Retratos da Vida, em DVD

Um dos mais belos e esperados filmes chega agora ao público, na versão digital. É “Retratos da Vida”, do diretor Claude Lelouch, que conta com a participação de estrelas como James Caan, Geraldine Chaplin, Nicole Garcia, Robert Houssein, Fanny Ardant, e, muitos outros. O filme parte de uma idéia interessante: apesar dos bilhões de pessoas no mundo, existem apenas algumas poucas histórias, que repetem-se sem cessar, independente de acontecer nos Estados Unidos, França, Alemanha ou Rússia. Durante três horas, são contadas histórias muito parecidas, irmãos que se separaram, filhos perdidos, amores desfeitos, estrelas que nascem, sucessos e tragédias. No final, todos os personagens se encontram, em um show pela paz, onde o apoteótico ballet do dançarino argentino Jorge Donn, no alto da Torre Eiffel, transformaria o Bolero, de Ravel, em uma das músicas mais conhecidas do mundo. Infelizmente, não virão extras, mas ao menos foi mantido o formato de tela original do cinema. Lançamento da cearense Classicline. Aguarde!


Enigma da Pirâmide, em DVD

Alguns personagens sobrevivem muito além dos seus criadores, como aconteceu com Sherlock Holmes, criação do genial escritor inglês Arthur Conan Doyle. O infalível detetive já apareceu em filmes e livros de outros autores (até de Jô Soares, no seu “Xangô de Baker Street”), mas uma destas liberdades poéticas mais interessantes chega agora em DVD. É “O Enigma da Pirâmide”, do diretor Barry Levinson, que imagina o que teria acontecido, se Sherlock Holmes, e, o ainda garoto, Watson, tivessem se conhecido na escola. Com efeitos especiais muito inovadores, para a época, mostra o talentoso jovem, em seu primeiro caso. Quando, uma série de bizarros, e, intrigantes crimes acontece na vitoriana Londres, o jovem Holmes e seu amigo recente Watson, acabam inadvertidamente envolvidos num tenebroso mistério. O filme, além da história divertida e empolgante, traz momentos inesquecíveis, como um sacrifício profano, ao som da majestosa Carmina Burana, de Orff. A versão, produzida por Steven Spielberg, foi autorizada pela herdeira de Conan Doyle. Sem extras, o DVD traz som Dolby Digital e formato de tela widescreen anamórfico. Recomendo!


Vetado pela Disney, “Farenheit 9/11” é aplaudido em Cannes

O polêmico documentário de Michael Moore, “Farenheit 9/11”, que traz fortes críticas e denúncias sobre os dois presidentes Bush, suas ligações com a família de Bin Laden, e os atropelos em suas peripécias internacionais, no Afeganistão e Iraque, estreou com sucesso no Festival de Cannes. O filme esteve ameaçado de não ser distribuído nos Estados Unidos, já que a Disney, que tem participação na Miramax, não queria se desgastar com a família Bush, em especial o irmão do presidente, que é o governador da Flórida. O título do filme é uma referência ao famoso filme de François Truffaut, baseado no livro homônimo de Ray Bradbury, sobre uma ditadura do futuro, onde a escrita é proibida, e, os bombeiros existem para queimar livros. 451 é a temperatura, em graus farenheit, que o papel queima. 9/11 traz a situação para os dias atuais, pós-ataque de 11 de setembro.


Filme recomendado: “Lawrence da Arábia”

O homem que sonhava acordado

"Todos os homens sonham, mas não da mesma maneira. Aqueles que sonham à noite nos empoeirados recessos de suas mentes, ao acordar de dia, descobrem que tudo foi em vão. Mas, os sonhadores diurnos são homens perigosos porque eles sonham com os olhos abertos para torná-los possíveis. Isto eu fiz."
Os Sete Pilares da Sabedoria ( Capítulo Introdutório, suprimido)


Um dos mitos mais populares do Século XX foi T.E.Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia. Lawrence, que era inglês, teve um papel importantíssimo na campanha do Oriente Médio, durante a Primeira Guerra Mundial. Personalidade forte e controvertida, nada tinha do padrão do soldado britânico tradicional. Além de destoar dos hábitos militares de seu país, foi um grande defensor de uma Arábia independente. Se considerarmos que a Inglaterra era o maior império colonialista da época, pode-se ter uma idéia do sacrilégio do pensamento de Lawrence.

A história de Lawrence, em especial o período aventureiro em que pelejou no deserto, foi brilhantemente levada às telas, em 1962, por David Lean, após uma produção igualmente difícil e custosa.

Para entender melhor o mito, vamos nos transportar para o ambiente onde Lawrence atuou. No início do Século XX, se a Europa já experimentava o modernismo da Revolução Industrial, o resto do mundo era um universo de colônias subdesenvolvidas atreladas às grandes potências da época: Inglaterra, França, Alemanha e Rússia, esta última já vivendo os estertores da dinastia Romanov. O Oriente Médio era uma terra-de-ninguém, ocupada por tribos nômades, que passavam a maior parte do tempo guerreando entre si.

As comunicações eram péssimas, e, o grande meio de transmissão de notícias ainda era a imprensa escrita. Nesse ambiente, a guerra era um assunto distante para a maioria das pessoas, e, mesmo na Europa, era impossível ter idéia do horror da realidade da guerra de trincheiras que matou e mutilou milhões de homens. O que as pessoas imaginavam da Arábia, por exemplo, era Rodolfo Valentino, vestido de beduíno, galopando pelas dunas de dia, e, conquistando donzelas à noite.

Neste terreno fértil, a intensa cobertura que o jornalista e escritor americano Lowell Thomas fez em 1919, sobre a participação de Lawrence na guerra, elevou o inglês à condição de mito. Profundamente envolvido com a causa da Arábia independente, Lawrence usou seu próprio sucesso para grangear simpatia ao movimento. Esse apogeu da fama coincidiu com a Conferência de Paz em Paris, onde as nações vencedoras decidiam o destino do resto do mundo. Apesar de estar ligado à delegação da Inglaterra, Lawrence vivia junto ao então Príncipe Faissal, batalhando por adeptos à liberdade árabe.

Contrariando promessas feitas durante a guerra, Inglaterra e França mantiveram suas ideologias imperialistas, incorporando a Síria, Palestina e Mesopotâmia (atual Iraque) às suas colônias. Decepcionado, Lawrence dedicou-se a seu primeiro grande livro "Os sete pilares da sabedoria", onde narrava suas aventuras. Daí até sua morte em 1935, num acidente de moto, Lawrence dedicou-se a atividades dentro e fora do governo, convivendo com a ditadura da fama. Uma de suas últimas e valorosas contribuições foi o desenvolvimento de lanchas rápidas para salvamento de náufragos.

O filme de Lean, apesar de começar com a morte de Lawrence, restringe-se ao período em que a ação do inglês foi mais atuante na Arábia, durante a Primeira Guerra. A atuação de Lawrence na Conferência de Paris foi retratada num filme mais recente, “Um homem perigoso ( A dangerous man)”, de 1990, com Ralph Fiennes ("O paciente inglês) no papel principal.

Apesar de ter sido feito na conservadora década de sessenta, Lean conseguiu transmitir bastante fidelidade aos fatos narrados. Para isso, deslocou toda uma imensa equipe para o deserto da Jordânia, onde levou dois anos e três meses para concluir as filmagens. Foram utilizadas técnicas inovadoras, numa época em que efeitos especiais eram feitos “no braço”, e, nem se sonhava ainda com o uso de computadores. Cidades inteiras foram construídas para locações, enquanto que exércitos de homens e camelos eram selecionados e treinados para as cenas coletivas. O próprio exército da Jordânia foi colocado à disposição da produção, pelo rei.

O elenco foi escolhido criteriosamente. Para o papel de Lawrence, foi procurado um ator de teatro que nunca tivesse feito cinema, recaindo a escolha em Peter O'Toole (que fez recentemente o rei Príamo, em “Tróia”). Alec Guinness, que já havia atuado com Lean no megasucesso "A ponte do rio Kwai", foi selecionado para o imponente Faissal. O já veterano Anthony Quinn foi o nome americano para participar da produção. Ao procurarem um nome para o papel de Xerife Ali, resolveram testar um desconhecido ator, que fazia sucesso apenas no seu país, o Egito: Omar Sharif. O personagem de Ali, aparentemente secundário, era uma espécie de Grilo Falante de Lawrence, e, possibilitou a Sharif uma indicação para o Oscar, junto com O'Toole.

A edição em DVD para a América Latina veio com a mesma riqueza de detalhes que a edição americana. O filme tem quase meia hora a mais que a versão que chegou nos cinemas, incluso aí a Overture e o Intermezzo, trechos de quatro a cinco minutos só com música, comum nos longa-metragem daquela época. São dois discos, estando a primeira parte do filme num disco, e, a continuação e extras, no outro. O filme vem no formato Widescreen, como seria de se esperar para uma obra destas, e, o áudio, em inglês (DD 5.1 e 2.0), português, francês e espanhol ( 2.0). As legendas estão disponíveis em português, espanhol, inglês, chinês, francês, coreano e tailandês.

O extras existem para os brasileiros, ou seja, a maioria é legendada, incluindo o “Vento, areia e estrela: O Making Of de um clássico”, com mais de sessenta minutos e “Making Of : ‘Romance da Arábia’, uma conversa com Steven Spielberg”, com nove minutos. Além disso, tem quatro cinedocumentários curtos, da época das filmagens, além de trailers de cinema e fotos de época.

Mais uma vez, a mídia DVD oferece a oportunidade de acesso a uma das maiores obras do cinema épico, com imagem e som impecáveis, além de uma edição mais completa do que a que foi passada nos cinemas (e televisão, obviamente). Fora isso, os documentários, com testemunho de atores como Sharif e Quinn (ainda vivo em 2001), dão um brilho especial a esta edição. Se não é o testemunho histórico perfeito, é o retrato do mito que mexeu com a imaginação do mundo nos anos 20. Para completar a programação, alugue “Um homem perigoso”, e, faça uma sessão inesquecível. Não esqueça, porém, de reservar tempo: só “Lawrence da Arábia” vai prender a sua atenção por mais de cinco horas ininterruptas! Boa diversão.

sexta-feira, 14 de maio de 2004

Claquete 14 de maio de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Natal está sendo invadida! Mas, é uma invasão que deverá agradar gregos e troianos: a superprodução “Tróia”, estrelada por Brad Pitt e Eric Bana, chega arrasando, estreando em quatro salas, de uma vez. O filme ressuscita os épicos que fizeram a festa nos anos 60. Continuam em cartaz: “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, colcha de retalhos de histórias de monstros, juntando vampiros, lobisomens, zumbis, e, muitos atores canastrões, o infanto-juvenil “Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta”, com Salsicha e sua gangue, a aventura nos desertos africanos, “Mar de Fogo”, com Viggo Mortensen e Omar Shariff, o policial “Roubando Vidas”, com Angelina Jolie, e, o drama nacional “Benjamim”, com Paulo José e Cléo Pires. No Filme de Arte do Cine Natal 1, “Amen”.


Tróia

Para quem estava preocupado se “Tróia” seria só pano de fundo para exibição do corpo malhado de Brad Pitt, pode ficar tranqüilo. “Tróia” retoma uma tradição hollywoodiana de superproduções baseadas em épicos, levadas às telas, no passado, com títulos como “Ben-Hur” e “Spartacus”. Fugindo dos efeitos especiais gratuitos, o diretor Wolfgang Petersen trouxe uma história humana, esquecendo as alegorias divinas, tão presentes na Mitologia Greco-Romana. Por outro lado, as batalhas são um espetáculo à parte, que vão fazer a festa dos amantes dos filmes de ação. A história, esta é bem conhecida, mas o que interessa é a maneira de conta-la. A confusão começa quando Páris, filho do rei Príamo (o fantástico Peter O´Toole), de Tróia, rapta Helena (a novata Diane Kruger), a bela esposa de Menelau, rei de Esparta. Para se vingar, Menelau forma um poderoso exército, comandado por Agamenon (Brian Cox), e, no qual se destacam Aquiles (Brad Pitt) e Ulisses (Sean Bean), do lado dos gregos, e, Heitor (Eric Bana), do lado dos troianos. O cerco de Tróia, que durou dez anos, foi marcado por feitos heróicos de ambos os lados, até que, sob inspiração de Ulisses, os gregos construíram um gigantesco cavalo de madeira, e, o abandonaram perto das portas de Tróia, fingindo uma retirada. Apesar dos presságios de Cassandra, os troianos levaram para dentro da cidade o gigantesco cavalo, que trazia em seu interior os guerreiros de Ulisses. Abertas as portas, os gregos saquearam e destruíram Tróia. Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, nas Salas 3, 6, e, 7, do Moviecom, censurado para menores de 14 anos.


Tamanho (da TV) é documento?


A resposta para esta pergunta, depende do seu bolso, e, do tamanho da sua sala. Com o advento do DVD, a imagem grande apaixona e atrai muita gente. O problema é que, se a tela ficar muito próxima do sofá, há o risco de desconforto visual durante as sessões de filmes. Uma regra prática, é que, a altura da tela, deve ser a distância ao sofá, dividida por cinco. Assim, a tela de 29 polegadas atende uma distância de dois metros, a de 34, dois metros e meio, a de 38, três metros, e, assim por diante. Contudo, o tamanho não deve ser o único parâmetro. Nesta altura do campeonato, não compre uma tela que não seja superplana, pois os seus olhos irão agradecer. Além disso, outros itens, como entradas vídeo componente e S-VHS, e, compressão de imagem, pesam muito na real utilização da TV como monitor para os seus filmes em DVD. Em tempo: fuja das widescreen, pelo menos, até a chegada da TV Digital, que ainda deve demorar. Escolha sua TV com cuidado, pois é um investimento relativamente alto, e, que não se faz com freqüência. Boas compras!


Durval Discos, em DVD

Quem não tem cão, caça com boas idéias. Longe dos efeitos especiais milionários de Hollywood, filmes como “Durval Discos” agradam, pela boa produção, além de um roteiro inteligente. Grande vencedor do Festival de Gramado de 2002, “Durval Discos” chega agora, ao grande público, em DVD. Durval (Ary França), e, sua mãe, Carmita (Etty Fraser), vivem, há muitos anos, na mesma casa onde funciona a loja Durval Discos. Muito conhecida no passado, a loja hoje vive uma fase de decadência, devido à decisão de Durval de não vender CDs, e, manter-se fiel aos discos de vinil. Para ajudar sua mãe no trabalho de casa, Durval decide contratar uma empregada, sendo que o baixo salário acaba atraindo Célia (Letícia Sabatella), uma estranha candidata que chega junto com Kiki (Isabela Guasco), uma pequena garota. Após alguns dias de trabalho Célia simplesmente desaparece, deixando Kiki e um bilhete avisando que voltaria para buscá-la dentro de alguns dias. Durval e Carmita ficam surpresos com tal atitude, mas acabam cuidando da garota. Até que, ao assistir o telejornal, mãe e filho ficam cientes da realidade em torno de Célia e Kiki. O filme conta com participações de Marisa Orth e Rita Lee. Apesar do áudio 2.0, o formato de tela é widescreen, e, como extras, além de cenas excluídas, trailer e videoclipes, vem um ótimo documentário de 25 minutos, mostrando todo o processo de criação da fita, da escolha das locações até a montagem final. Confira!

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Filme de Arte: “Amen”

Kurt Gerstein (Ulrich Tukur) é um oficial do Terceiro Reich, que trabalhou na elaboração do Zyklon B, gás mortífero originalmente desenvolvido para a matança de animais, mas, usado para exterminar milhares de judeus, durante a 2ª Guerra Mundial. Gerstein se revolta com o que testemunha, e, tenta informar os aliados sobre as atrocidades nos campos de concentração. Católico, busca chamar a atenção do Vaticano, mas suas denúncias são ignoradas pelo alto clero. Apenas um jovem jesuíta lhe dá ouvidos, e, o ajuda a organizar uma campanha, para que o Papa (Marcel Iures) quebre o silêncio, e, se manifeste contra as violências ocorridas em nome de uma suposta supremacia racial. O filme ganhou o César, o Oscar europeu, de Melhor Roteiro, além de ter sido indicado para Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Mathieu Kassovitz), Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som. Em sessão única do Filme de Arte do Cine Natal 1, na terça-feira, dia 4, às 21h.


O Brasil em Cannes


Até o dia 23 de maio, acontece na França o mais charmoso de todos os festivais de cinema, o Festival Internacional de Cinema de Cannes. A 57ª edição do festival inova este ano, com um bom número de filmes de fora da Europa. Dos dezoito filmes que participam da mostra competitiva, seis são de diretores asiáticos, e, dois de latino-americanos. O brasileiro Walter Salles concorre com seu “Diários de Motocicleta”, road-movie sobre a juventude de Che Guevara, embora não esteja entre os favoritos. “Quimera”, de Erik Rocha e Tunga, concorre ao prêmio de melhor curta-metragem. “O Pagador de Promessas”, de 1962, foi o primeiro, e, até agora, o único filme brasileiro a ser premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes.


Fernanda Montenegro ganha prêmio internacional

Nossa grande dama do cinema, Fernanda Montenegro, que já foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz, por “Central do Brasil”, ganhou o prêmio, na mesma categoria, no Festival de Tribeca, realizado em Nova York, que privilegia filmes de diretores estreantes. A premiação da atriz foi em “O Outro Lado da Rua”, drama policial, também estrelado por Raul Cortez, que estréia nacionalmente no dia 28 de maio. Outro brasileiro premiado no festival foi Paulo Sacramento, que ganhou o prêmio de melhor diretor de documentário, por “O Prisioneiro da Grade de Ferro”, sobre o lendário presídio de Carandiru, realizado pouco antes de sua desativação.


Filme recomendado: “Nascido para Matar”

Nascido para endoidar...

Eu queria encontrar pessoas estimulantes e interessantes de uma civilização antiga e matá-los. Eu queria ser o primeiro garoto do meu quarteirão a conseguir uma morte confirmada...
Entrevista do recruta Joker à equipe de televisão


Em meio aos noticiários do mata-mata de americanos e iraquianos, além das recentes denúncias de torturas nas prisões, inflingidas exatamente por quem se julga o detentor da moral do mundo, um filme parece muito apropriado para revisitar. É um dos melhores trabalhos de Stanley Kubrick: “Nascido para matar”, que fala sobre a guerra do Vietnã.

A guerra, que é pano de fundo para o filme, ocorreu no Vietnã, entre o fim dos anos sessenta, e, começo dos setenta. Antiga colônia francesa, chamada Indochina, o país travou uma sangrenta luta de libertação com a França, entre 1946 e 1954, depois de quase um século de ocupação. Além de ter perdido a colônia, a França ainda teve cem mil soldados mortos, e, cento e quinze mil feridos. O Vietnã foi então dividido em dois, ficando o Norte na influência comunista, e, o Sul, apoiado pelos Estados Unidos.

A partir de 1961, devido à fraqueza e a corrupção do totalitário governo de Ngo Dinh Diem, os americanos começaram a participar, além de armamentos, como “consultores militares”. De mero argumento da campanha de Kennedy (que seria convenientemente “esquecido” após uma mais que provável reeleição), virou ponto de honra para o governo de Lyndon Johnson, após a morte do seu carismático antecessor. Entre 1965 e 1973, houve participação ativa do exército americano no Vietnã, chegando a 2,7 milhões de jovens americanos. Morreram 57.939 soldados dos Estados Unidos, 180.000 sul-vietnamitas, e, 900.000 norte-vietnamitas, entre soldados e civis. Mais de um milhão de crianças ficaram órfãs, e, os soldados americanos deixaram cerca de 200.000 crianças ilegítimas. Em 1975, foi selada a vitória, com a reunificação do país.

Os grandes responsáveis pela vitória vietnamita foram os vietcongues, que utilizaram com sucesso táticas de guerrilha na selva nunca antes observadas em guerras tradicionais. Os guerrilheiros chegaram a escavar uma malha de túneis com mais de trezentos quilômetros.

Muitos filmes foram feitos sobre a guerra do Vietnã, mas a maioria não passa de fantasia, de quem quer ganhar, no cinema, o que foi perdido, de fato. Geralmente são filmes de segunda linha, como os Bradock’s de Chuck Norris e outros do gênero. Os mais interessantes, são os que encaram o conflito pela ótica de quem estava na linha de frente. Podem ser citados “Platoon”, “Apocalipse Now”, “Franco-Atirador”, “Amargo Regresso”, e, entre os bons exemplos, “Nascido para Matar”.

Este filme foi realizado em 1985, dez anos após o término do conflito. “Nascido para Matar” foi dirigido e produzido por Stanley Kubrick, que também escreveu o roteiro, junto com o autor da história original, Gustav Hasford. Hasford foi fuzileiro, e, serviu no Vietnã como correspondente de guerra. Sua vivência pessoal permitiu criar o recruta Joker ( traduzido como “Hilário”).

O filme de Kubrick é dividido em dois atos. Na primeira parte, é mostrada a fase de treinamento dos recrutas, na ilha Parris, onde um curso de seis semanas os tornaria aptos a partirem para o front. O treinamento (que não deve ser muito diferente em exército nenhum do mundo) transforma seres humanos, normais, e, alienados, em máquinas de matar, verdadeiros zumbis, prontos a entrar em ação, a partir da ordem do superior. Para fazer isso, os recrutas contaram com o auxílio do “simpático” sargento Hartman ( R. Lee Ermey, que foi realmente instrutor de um campo de recrutas, e, lutou no Vietnã), que submetia o grupo e principalmente o moleirão Leonard (que ganhou do sargento o apelido de Gomer Pyle, um personagem humorístico da tv americana) a uma pressão intolerável. A loucura do treinamento foi expressada na loucura do recruta, numa recriação da imagem de Frankenstein.

A segunda parte do filme passa-se no Vietnã. Entre a convivência com um povo (literalmente) prostituído pelos americanos, e, luta com um inimigo invisível, a preocupação era uma só: conseguir voltar para casa inteiro. O clímax desse ato passa-se num vilarejo abandonado onde um franco-atirador põe toda a companhia em pânico. É a loucura da guerra, traduzida na soma das loucuras individuais.

O elenco está muito bom, não apenas Modine, num dos seus primeiros papéis importantes, como o já citado Ermey, e, Vincent D’Onofrio, que faz uma fantástica caracterização como o frágil Gomer Pyle. É dele, a citação que dá o título original ao filme: full metal jacket. Para os leigos em armamentos, full metal jacket é o tipo de projétil utilizado pelo exército, onde a ponta é revestida por um metal duro, com alma de chumbo, dotada de grande poder de perfuração.

A edição latina em DVD traz áudio remasterizado em inglês e francês Dolby Digital 5.1. As legendas estão disponíveis em português, inglês, francês e espanhol. O formato de tela é Full Screen, mas, segundo os críticos, este era o formato preferido de Kubrick, de forma que a perda não deve ser grande. É uma pena não vir nenhum extra no disco, pois este faz parte de um conjunto sobre a obra de Kubrick que condensou os documentários num disco à parte.

No mundo pós 11 de setembro, há uma vigorosa semelhança entre o antigo Vietnã e o atual Iraque, onde o ódio aos invasores só se iguala à prepotência e agressividade dos invasores. “Nascido para Matar” tem seu valor, por mostrar que qualquer guerra é uma soma de loucuras. Políticas, ideologias, ambições ou fanatismos, a coisa resume-se numa profunda conclusão filosófica: guerra é coisa de doido!

sexta-feira, 7 de maio de 2004

Claquete 07 de maio de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O Último Samurai, em DVD

Os fãs do filme “O Último Samurai” já podem ir separando os trocados. Com pré-venda iniciando já em maio, a Warner estará lançando, no dia 23 de junho, uma edição dupla, em DVD. O filme conta a história de um oficial americano, que, contratado para modernizar o exército japonês, termina testemunhando os momentos finais do último e verdadeiro samurai. O disco 1, que traz o filme, terá também os comentários do diretor Edward Zwick, infelizmente, sem legendas. O segundo disco, traz um documentário do History Channel “História versus Hollywood: O Último Samurai”, “Tom Cruise: A Jornada do Guerreiro”, “Edward Zwick: Vídeo Diário do Diretor”, “Fazendo um Épico”, uma conversa com Edward Zwick, “Um Mundo de Detalhes: Design de Produção”, com Lilly Kilvert, “Seda e Armadura: Design do Figurino”, com Ngila Dickson, “Treinamento Básico do Exército Imperial”, “Soldado a Samurai: As Armas”, “Cenas Eliminadas com Comentários opcionais do Diretor”, Pré-Estréia no Japão, e, trailer de cinema. Fique atento!


Geofísico da Petrobras produz curta sobre movimento ecológico

Pouca gente sabe, mas um movimento espontâneo, que uniu moradores de Diogo Lopes, ambientalistas, organizações não-governamentais, órgãos públicos e a Petrobras, resultou em uma importante área de preservação ambiental. E, o melhor de tudo, todo esse desenrolar foi registrado em um curta-metragem, produzido por José Paulo Goulart, geofísico da Petrobras, e, dirigido pelo designer gráfico João Roberto Fernandes. Numa narrativa didática, embalada por belíssimas imagens da região, o curta “A importância da preservação: A história da Reserva Ponta do Tubarão”, conta, em 20 minutos, toda a epopéia para a preservação deste paraíso ecológico. Quem quiser conferir, o filme será apresentado no Festival MADA, na mostra Curta Natal, entre 10 e 15 de maio, na Casa da Ribeira. Confira!


Tesouros de Mickey Mouse, em DVD


Se você é fã do ratinho de Walt Disney, chega agora, no dia 12 de maio, uma edição histórica, “Treasures – Mickey Mouse em Cores Vivas”, em DVD duplo. A carreira de Mickey Mouse na era dos desenhos a cores, com 26 historinhas, lançadas entre 1935 e 1939. Uma coleção atemporal dos primeiros passos de Mickey, fora do mundo preto e branco. Essa coletânea traz um festival de atrações especiais, inclusive os bastidores da criação de desenhos raros, feitos com lápis; e das primeiras trilhas sonoras. Lá estão preciosidades, como a concepção original dos pôsteres de cinema, e, uma entrevista com desenhistas e clássicos da TV, na qual Walt Disney comenta sobre o camundongo que deu início ao grande império. Inclui ainda, uma introdução exclusiva do historiador de filmes Leonard Maltin.




Os Maias, em DVD

Inspirada na obra homônima de Eça de Queiroz (1845- 1900), “Os Maias” estreou na TV Globo em janeiro de 2001. De autoria de Maria Adelaide Amaral, e, com direção geral de Luiz Fernando Carvalho, a minissérie, que teve o maior número de pedidos do público para ser lançada em DVD, traz sua versão inédita, adaptada para este formato pelo próprio diretor, e totaliza 904 minutos distribuídos em quatro discos. Publicado em 1888, o romance “Os Maias”, é um retrato da decadência da aristocracia portuguesa na segunda metade do século XIX, sendo considerado, por muitos, a mais perfeita obra literária produzida em Portugal, depois de “Os Lusíadas” (1572), de Luís de Camões. A história retrata a tradicional família Maia, enfocando o amor entre os irmãos Carlos da Maia (Fábio Assunção) e Maria Eduarda (Ana Paula Arósio). Além da minissérie, o pacote traz também depoimentos dos atores Ana Paula Arósio, Fabio Assunção, Walmor Chagas, Selton Mello, Simone Spoladore e Osmar Prado, comentários da autora da minissérie, Maria Adelaide Amaral (sobre a adaptação da obra para TV e para DVD), e, notas sobre a obra literária, através de Beatriz Berrine (professora de literaturas portuguesa e brasileira da PUC/SP), que também atuou como consultora do projeto.


“Eram os Deuses Astronautas?”, em DVD

Uma das figuras mais polêmicas dos anos 70, foi o escritor suíço Erich Von Däniken, que aturdiu o mundo com uma teoria impressionante. A Terra teria sido visitada por seres alienígenas, que teriam modificado nossos antepassados, e, deixado marcas de sua passagem por aqui. Publicado em 1968, o livro “Eram os Deuses Astronautas?” bateu, em pouco tempo, recordes de vendas em 38 países, com cerca de 7 milhões de cópias, vendidas em todo o mundo. Em 1970, foi produzido um filme, com locações em diversos países, que mostra os fundamentos deste marco da ufologia. Nele, o escritor Erich Von Däniken procura provar, por meio de descobertas arqueológicas e textos sagrados, que todos os deuses das antigas civilizações eram, na verdade, extraterrestres. O filme, que teve breve passagem no circuito comercial, chega agora, ao grande público, em DVD. Nele, são explorados locais fascinantes, como as pistas de Nazca, as ruínas Maias e Astecas, a Ilha de Páscoa, e, as pirâmides do Egito. O disco traz ainda, como extras, trailer original, vida e obra de Erich Von Däniken, o livro “Eram os Deuses Astronautas?”, e, galeria de fotos. Leia o livro, assista o filme e fique com uma pulga atrás da orelha.


Filme recomendado: “Brava Gente Brasileira”

Cavaleiros de Tróia do Mato Grosso

Durante muito tempo fui preconceituoso em relação ao cinema nacional. Talvez por coincidir, a minha juventude, com a época das "pornochanchadas", tomei certa aversão às produções tupiniquins, dando preferência ao que vinha de fora. À medida que fui amadurecendo, aprendi que nada é perfeito (nem eu, inclusive), e, que é melhor experimentar, para depois criticar. Não existe nada pior do que uma opinião do tipo "não vi e não gostei". Existem produções brasileiras ótimas, do mesmo jeito que saem produtos de Hollywood que não valem o que o Garfield enterra (ou enterraria, se tivesse coragem). Uma experiência interessante foi assistir "Brava gente brasileira", sobre o qual iremos conversar.

Confesso a vocês que peguei o filme enganado. Pela semelhança do título, achei que fosse baseado no romance de João Ubaldo Ribeiro, "Viva o povo brasileiro". Resolvido o engano, descobri que o enredo do filme é baseado em um fato histórico, ocorrido no Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai, no final do século XVIII.

Em 1778, um estudioso português, Diogo, vem a serviço do governo lusitano para fazer o levantamento topográfico da região do Forte Coimbra, situado na margem direita do médio rio Paraguai. Além de problemas com os espanhóis, que dominavam todo o resto da América do Sul, a região era habitada pelos índios Paiaguás e Guaicurus. Estes últimos tinham um notável desenvolvimento, chegando inclusive a desenvolver a habilidade de domar e usar cavalos em incursões de guerra. Eram conhecidos como os índios cavaleiros.

A expedição que conduzia Diogo era comandada por Pedro, um impetuoso e violento soldado, que conduzia amigos e inimigos com a mesma mão-de-ferro. No caminho para o Forte Coimbra, deparam-se com algumas índias banhando-se num rio. Numa prática que deve ter sido comum durante séculos a fio, os soldados capturaram e estupraram as índias, matando-as ao final. Separando uma delas, Pedro a entrega a Diogo, para que prove aos homens que não é um "sodomita", termo pejorativo para homossexual. Perturbado pela febre e pelas privações da extenuante jornada, Diogo cede aos impulsos e violenta a jovem. Depois, atormentado pelo remorso, impede que Pedro a execute, levando-a junto com a expedição. O outro sobrevivente é um garoto branco, que teria sido raptado pelos índios.

Os dias que se seguem no Forte trazem a Diogo uma nova visão da vida. Longe da civilização e dos rígidos padrões morais e religiosos da Corte, Diogo inicia uma relação amorosa com Ánote, com descobertas mútuas que surpreendem, deliciam e assustam o jovem português. A lembrança da noiva portuguesa, nobre, rica e virgem fica cada vez mais distante.

Enquanto os índios cavaleiros choram seus familiares mortos, Diogo e o comandante do forte tem os seus próprios problemas, enfrentando a discriminação da Igreja, que condena o relacionamento que estes mantém com mulheres indígenas. Diogo fica feliz ao descobrir que Ánote está grávida, sonhando que nasça uma pessoa com as melhores qualidades das duas civilizações. Infelizmente para Diogo, os costumes e ódios ancestrais falam mais alto, e, o filho tão sonhado não vem. Logo em seguida, os índios usam um habilidoso ardil para invadir o forte, dizimando cinquenta e quatro ocupantes. Ainda se passariam doze longos anos antes que um acordo de paz fosse concretizado entre índios e portugueses.

O massacre ao estilo Cavalo de Tróia foi o fato real em que o roteiro foi baseado. A maior parte das filmagens foi feita no próprio Forte Coimbra, local até hoje de difícil acesso, onde a comunicação com o mundo resume-se a um solitário orelhão. O resultado final do filme reflete as dificuldades de produção, tanto logísticas como financeiras. Contudo, mesmo eventuais falhas do roteiro não tiram o brilho desta interessante produção.

De todos os personagens índios, apenas Ánote era uma atriz profissional. Todos os demais eram Kadiwéus, subgrupo dos Guaicurus originais. Nenhum deles tinha a menor noção de arte cênica, mas conseguiram interpretar a si próprios magnificamente.

Os Kadiwéus, que a princípio seriam só fonte de consulta, embasaram de forma decisiva o filme, seja nos hábitos, costumes e usos, como também influenciaram na forma como as cenas foram realizadas. A própria diretora reconhece que sentia que a forma que imaginara certas passagens ficava diferente quando era mostrada da forma "Kadiwéu". Em tempo: existem algumas cenas de nudez, mas nada que não possa aparecer no Globo Repórter ou Jornal Nacional.

O elenco profissional contou com o ator português Diogo Infante para o persornagem homônimo, Leonardo Villar no papel do comandante, Luciana Riguera como Anote, e, um irreconhecível Floriano Peixoto ( lembram do transexual "Sarita", da novela "Explode coração"?) como o grosseiro Pedro. Sérgio Mamberti e Buza Ferraz fazem papéis secundários.

O enfoque mais discreto do filme é no grande embate entre as duas civilizações. É fato indiscutível que no encontro de duas civilizações diferentes, a mais poderosa sempre subjuga a mais fraca. Isso ocorreu entre os europeus e todos os indígenas, as potências mundiais e os países subdesenvolvidos e vai ocorrer com a Terra quando chegarem aqui os homenzinhos verdes de Alfa-Centauro. O que se mostra no filme, e isso sempre ocorre, é a fase em que o invasor ainda é fraco, e o autóctone ainda tem a ilusão que pode resistir e vencer.

Outro aspecto interessante é o posicionamento dos personagens como pessoas, com seus desejos, aspirações, qualidades e defeitos. Acresça-se a isso uma terra ao mesmo tempo paradisíaca e infernal, onde a sobrevivência de cada dia era uma vitória e será fácil entender o caráter brutal de todos, brancos ou índios. Talvez por isso o título em inglês tenha sido mais adequado: "Brave new land", que não só exalta o lado selvagem das novas terras como lembra o título original da famosíssima obra de Aldous Huxley, "Brave new world", traduzido por aqui como "Admirável mundo novo".

Como seria de se esperar, a edição em DVD vem com a pobreza habitual das produções nacionais. O formato de tela é Full Screen e o áudio em português 2.0 e 5.1. As legendas estão disponíveis em francês, espanhol e inglês. O curioso é que em muitas cenas quando os índios conversam entre si, simplesmente não há legenda alguma e ficamos sem entender patavina! Como extras, notas sobre elenco e diretora, trailer de cinema, notas de produção, making of, comentários em áudio da diretora, iconografia e galeria de fotos.

"Brava gente brasileira" nem de longe é a produção mais rica ou bem feita do cinema brasileiro. Contudo, na sua simplicidade consegue passar ao espectador mais um aspecto das raízes sociais, físicas e geográficas que resultaram na riquíssima cultura brasileira. Cultura essa que vem sendo dilapidada e "invadida" no inexorável processo de globalização. Isso até chegarem os homenzinhos verdes de Alfa-Centauro. Enquanto isso, vejam o filme, para reconstituir mais um pedacinho do mosaico multifacetado de nossa história.