terça-feira, 28 de agosto de 2018

Coluna Claquete - Filme da Semana: "Em Ritmo de Fuga"



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Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


Filme da Semana: “Em Ritmo de Fuga”

Balé no asfalto

Confesso que quando li a sinopse de “Em Ritmo de Fuga” (“Baby Driver”, EUA, 2017) não fiquei muito interessado, e nem procurei saber mais. Afinal de contas, filmes de assaltos com perseguições com carros em alta velocidade, já tivemos isso à exaustão na série “Velozes e Furiosos”.
Mas, ao assistir a cena inicial durante um curso de edição cinematográfica, descobri que estava olhando por um ângulo errado. Claro, é um filme de assaltos e perseguições, mas é além de tudo um musical – e com um ritmo alucinante!
Esqueçam essa baboseira de “La La Land”, “Chicago” e “Moulin Rouge”. Neste filme, a música é um protagonista a mais, e a dança também. Dança? Sim, neste filme tudo dança, atores, carros, cenários, máquinas de lavar roupa, câmera... Mas nada que lembre a cafonice dos musicais tradicionais.
O protagonista é Baby (Ansel Elgort), um rapaz com um passado trágico, tendo perdido os pais em um acidente de carro que ficou marcado em sua mente e em seu corpo. Ele tem um problema de audição, um zumbido permanente, que só consegue aliviar ouvindo música o tempo todo.
Extremamente habilidoso na direção, Baby pilota os carros para fuga nos ousados assaltos planejados por Doc (Kevin Spacey). Por ter roubado um carro de Doc quando era mais jovem, este o obriga a usar sua habilidade a seu serviço até quitar a dívida.
Como todo jovem, Baby sonha com um futuro melhor, e estes sonhos ficam mais bonitos quando ele conhece a linda garçonete Debora (Lily James), que também se sente atraída por ele.
Mas, os planos de Baby levam um banho de água fria quando Doc o obriga a continuar dirigindo para ele. Seus colegas neste novo assalto são o perigoso Bats (Jamie Foxx), e o casal Darling (Eiza González) e Buddy (Jon Hamm). Tudo, porém, toma um perigoso rumo quando começam a suspeitar que Baby teria seus próprios objetivos.
Entre as muitas qualidades do filme, certamente está a escolha do elenco. Ansel Elgort, um dos mais promissores atores de sua geração, já brilhara em “A Culpa é das Estrelas” (“The Fault in Our Stars”, EUA, 2014) e na série “Divergente” (2014, 2015, 2016). Com uma postura de alheamento mesclada com pontadas de sarcasmo, o personagem Baby faz humor quase sempre calado, com seus múltiplos óculos e Ipods.
O resto do elenco tem atuações excelentes, principalmente Kevin Spacey como o cérebro criminoso e Jamie Foxx como o assassino impiedoso. Mas outra boa surpresa é o personagem de Jon Hamm, ora compreensivo e companheiro, ora um anjo vingativo e implacável.
Mas, como disse antes, o personagem mais impressionante é a música. Presente em todos os momentos do filme, ela dita o ritmo do mesmo. Diferente de outros filmes de ação, que tem uma cena inicial impactante, algo pelo meio e um clímax emocionante, “Em Ritmo de Fuga” tem um ritmo alucinante... o tempo todo!
O uso da música em “Em Ritmo de Fuga” se faz através de um casamento perfeito de sons, imagens e fotografia. Tudo isso é sincronizado através da edição fantástica de Jonathan Amos e Paul Machliss, que já montaram “Scott Pilgrim Contra o Mundo”.
Usando a ideia de que o protagonista precisa sempre estar escutando uma música, nós nos tornamos cúmplices dele, e toda a ação se desenrola no ritmo da música, e não o contrário, como é o costume. Em outros momentos a letra da música é distribuída ao longo da rua, enquanto Baby caminha numa quase dança solo. Ele também grava seus encontros e faz mixagens, transformando partes de sua vida em música.
E, como se poderia deduzir, a trilha sonora do filme é fantástica, abrangendo um enorme range de músicas de compositores como Enio Morricone, Dave Brubek, Lionel Richie, Paul Simon, e muitos outros, com a interpretação de outra miríade de cantores.
O enredo também mostra uma preocupação em mostrar como é importante para um caráter em construção a perseguição de bons valores. É do mais cruel personagem que vem o aviso de que um dia Baby poderá cruzar o limite do qual ele não poderá mais retornar.
“Em Ritmo de Fuga” é um produto para múltiplos públicos, interessando tanto aos amantes de filmes de ação, quanto os apreciadores da música americana de várias gerações. E certamente é um filme para ser discutido em toda escola de cinema em função da edição inovadora e da excelente harmonia de imagens e sons.

Título Original: “Baby Drive”


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Coluna Claquete - Artigo: Que TV devo comprar?


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Ao longo de minha vida de cinéfilo e crítico de cinema, sempre fui atormentado por duas perguntas extremamente difíceis de responder: 1) Qual é o filme bom? e 2) Que televisor eu compro? A dificuldade da primeira pergunta tem a ver com o gosto de cada pessoa, e o que é bom para mim pode ser péssimo para o outro. É preciso ter um conhecimento prévio de quem pergunta, para poder indicar um filme que possa agradá-lo.
A segunda pergunta envolve um universo ainda mais complicado. Se no tempo dos televisores de tubo já havia diferença entre uma marca mais famosa e outra mais popular, imagine-se hoje, com diferentes tecnologias, resoluções, tamanhos e recursos que remetem aos filmes de ficção-científica da minha infância.
A primeira pergunta que faço ao candidato a possuidor de uma TV nova é: para que ele quer o aparelho? Muitas vezes as pessoas gastam uma pequena fortuna para adquirir um produto de alta tecnologia e usa só para ver novela e futebol. Claro, a pessoa tem todo o direito de querer ver a novela e o futebol com a melhor imagem e som possível, mas isso esbarra em outro obstáculo: a fonte geradora do programa.
Na época da TV de tubo, a resolução era baixa e a transmissão precária não ajudava nada. A chegada do videocassete permitiu assistir filmes com imagem e som melhor que o das emissoras, mas nenhum dos dois favorecia uma tela maior.
O advento do DVD trouxe um salto tecnológico impressionante, permitindo uma imagem limpa, som multicanal, diferentes tipos de legendas e mesmo do áudio, e ficou perfeito nos televisores de plasma que começavam a chegar no mercado. A resolução do DVD era de 480 linhas horizontais. Os primeiros televisores de plasma do mercado eram classificados de ED, e atendiam essa resolução do DVD.
Posteriormente, com a chegada dos televisores LCD, as resoluções foram melhorando, mas havia uma diferença de imagem entre o plasma e LCD que virou uma questão de honra, principalmente para os cinéfilos. O plasma, por ter pertos mais naturais, era considerado como uma imagem mais próxima das telas de cinema.
Com o tempo, o plasma estacionou enquanto o LCD evoluiu, transformando-se na tecnologia LED, que permitiu melhores resoluções e um preto mais profundo. Essa oferta de melhor resolução chegou junto com o disco Blu-Ray, que permitia imagens de 1920 linhas horizontais, chamado de Full HD.
A chegada do Blu-Ray foi prejudicada por uma luta fratricida com outro formato, o HD-DVD. Esse embate atrapalhou a transição do DVD para o disco de maior resolução, que foi atropelado pelo incremento das ofertas de streaming, em serviços tipo Netflix.
Enquanto isso, a pesquisa e desenvolvimento dos televisores continuou, e logo chegaram ao mercado os aparelhos com resolução 4K ou Ultra HD. Esses aparelhos podem reproduzir uma imagem com 3840 x 2160 pixels, o que seria quatro vezes a resolução Full HD.
Nessa altura, o leitor já deve estar imaginando que deve comprar um televisor 4K e pronto. Bem, a resposta é sim e não. Os modelos 4K que existem no mercado são modernos, possuem os recursos atualizados, e obviamente, o hardware também. Mas, a questão é: para que serve uma TV 4K se nenhum disco, emissora ou streaming fornecem conteúdo nessa resolução?
Existem ainda duas novas tecnologias que estão despontando no mercado, OLED e QLED. A primeira se refere a uso de diodos orgânicos que dispensam o painel de retroiluminação, que seria o mais próximo da imagem dos antigos TVs de plasma. Essa tecnologia já é usada em telas de aparelhos celulares.
A tecnologia QLED, desenvolvida pela Samsung, se baseia nos pontos quânticos, minúsculos cristais que podem absorver ou emitir frequências de luz para criar a imagem da tela. As duas tecnologias são recentes, permitem imagens maravilhosas, mas ainda implicam em preços absurdamente alto, em comparação com o resto do mercado. Aconselho esperar as duas tecnologias amadurecerem, com maior oferta de produtos e a consequente redução dos preços.
Falando nisso, a escolha termina sendo definida mesmo pelo preço. Diferente do resto do mundo, no mercado brasileiro encontramos produtos defasados tecnologicamente sendo vendidos com preço de lançamento. Então, é preciso pesquisar bastante.
Outra coisa que atrapalha muito é a profusão de tamanhos, modelos e marcas que inundam o mercado. O candidato a comprador precisa entender também que marcas renomadas normalmente usam componentes melhores do que as mais populares.
Então, o meu conselho é que em primeiro lugar se defina qual é o objetivo da nova TV: novela, filmes, futebol, shows, etc.. Depois, estimar o valor máximo que se quer pagar pelo novo aparelho. Definido isso, deve ser escolhido o tamanho do televisor desejado. Isso já reduz bastante o campo de opções.
Hoje em dia a internet fornece toda a informação possível sobre qualquer assunto, é só saber procurar. É possível ver os recursos de um televisor, qualidades e até problemas que ocorreram com outros consumidores.
Após essa pesquisa, o campo de escolha estará bem restrito, e então resta a prova final, visitar as lojas e conhecer o modelo desejado, e se possível, levar algum disco ou pendrive com um vídeo na resolução que se deseja. Assim é possível mergulhar na experiência real antes de desembolsar uma soma considerável sem ficar insatisfeito durante a vida útil do novo equipamento.


domingo, 19 de agosto de 2018

Coluna Claquete - Filme recomendado: "Jackie Brown"


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Newton Ramalho - colunaclaquete@mail.com

    


Filme Recomendado: “Jackie Brown”


“Falem mal, mas falem de mim”. Esta famosa frase, atribuída a um falecido político baiano, pode não ser a filosofia de vida de Quentin Tarantino, mas é a sua realidade. Seria injusto, porém, dizer que só se fala mal dele. Ao contrário, seus filmes são amados ou odiados com a mesma paixão, mas, sem nenhuma unanimidade. Talvez, por conseguir despertar as emoções dos espectadores, é que o polêmico mix de diretor, produtor, escritor e ator, seja uma estrela, com brilho próprio, na constelação de Hollywood. Fugindo um pouco à regra, não costumo me apegar a um diretor, e sim, cada obra individualmente. Por ter uma percepção diferente para cada trabalho dele, considero "Jackie Brown" o melhor filme de Tarantino. Fãs de "Pulp fiction", deixem para atirar as pedras em alguém que valha à pena.
     Jackie Brown (Pam Grier) é uma negra de meia-idade que trabalha como aeromoça numa empresa aérea mexicana de baixo custo. Para ganhar uns trocados a mais, Jackie faz às vezes de pombo-correio para um pequeno traficante de armas, Ordell Robbie (Samuel L. Jackson), trazendo dinheiro de uma conta-fantasma no México. Numa destas vezes, é surpreendida pela polícia carregando cinqüenta mil dólares. Como nas terras do Tio Trump é ilegal trazer mais de dez mil dólares sem declarar na alfândega, nossa heroína foi parar na cadeia.
Além de Jackie, Ordell tinha problemas com outro funcionário seu, Beaumont Livingston (Chris Tucker). Jovem e irresponsável, Beaumont fora preso dirigindo embriagado, com uma arma ilegal no carro. Juntando isso aos seus antecedentes, pegaria certamente dez anos de prisão, dos quais só se safaria se delatasse seu patrão. Ordell somou dois mais dois e logo despachou Beaumont dessa para melhor.
Para tirar Jackie da cadeia, Ordell usa os serviços de um agente de fiança, uma espécie de despachante legal, que se encarrega de tomar conta de pessoas em liberdade condicional. O agente é Max Cherry (Robert Foster), um cinqüentão prestes a aposentar-se, que é tomado por uma imediata e estranha atração por Jackie.
Ordell continua tentando manter os negócios em ordem, e agora conta com a ajuda de um velho companheiro de prisão, Louis Gara (Robert De Niro). O novo agregado ainda ressente-se de um longo período atrás das grades e a visão da jovem namorada de Ordell não ajuda muito sua readaptação. Melanie (Bridget Fonda), jovem e linda, só tem dois prazeres na vida: assistir TV e drogar-se.
Enquanto continua sendo pressionada por policiais federais para entregar Ordell, Jackie sofre veladas ameaças do próprio chefe. Sem alternativa viável, ela resolve executar um plano mirabolante para enganar todo mundo e fugir com a grana do traficante.
O filme é um belo exercício de suspense, muito presente em filmes policiais de todos os tempos. Alguns aspectos, porém, tornam "Jackie Brown" acima da média. O mais importante foi a escolha do elenco, que sustenta toda a trama.
As figuras mais conhecidas, Samuel Lee Jackson, Robert de Niro, Bridget Fonda, Michael Keaton e Chris Tucker ficaram com os papéis secundários. Jackson encarna o traficante com rabo-de-cavalo, barbicha e sotaque de gueto. Niro, com cara de quem apareceu de última hora, faz o ex-presidiário. Keaton é o agente federal que prende Jackie. Bridget, linda e talentosa, está ótima como a surfista drogada enquanto Chris Tucker cumpre seu eterno papel de grilo falante sumindo logo no início do filme.
Os papéis principais ficam mesmo com Pam Grier e Robert Foster, ótimos atores que durante três décadas só fizeram papéis secundários no cinema e na TV. O mais notável papel de Foster foi o seu filme de estréia, “Os Pecados de Todos Nós” ("Reflexions in a Golden Eye", EUA, 1967), com Elizabeth Taylor e Richard Burton. 
Se até agora os negros ainda tem dificuldades nas premiações do Oscar, pelo menos Pam mereceu a indicação para o Globo de Ouro, por sua atuação como Jackie. Também, por este filme, Foster foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e Jackson ganhou o Urso de Prata de Melhor Ator no Festival de Berlim.
Outro artifício interessante, que Tarantino já havia utilizado em "Pulp Fiction" é a condução da narrativa. Na maioria das vezes, a história segue uma narrativa linear, com fatos simultâneos contados em série (lembram do "enquanto isso, na Sala da Justiça...?). O diretor subverte essa lógica, num momento de suspense, quando Ordell vai pressionar Jackie, e logo mostra uma sequencia de fatos em um shopping center. O mesmo intervalo de tempo é mostrado três vezes, sempre de um ponto de vista diferente, resultando num conjunto muito original.
Um terceiro aspecto curioso deste filme é a maneira como a violência é apresentada. Diferente do jeito explícito e até banal de "Pulp Fiction" e outros filmes de Tarantino, em "Jackie Brown" tudo é mais escondido, submerso. A seqüência da morte do personagem de Chris Tucker é o melhor exemplo isso. Tudo é mostrado à distância, apenas confirmando o que o espectador já antecipa. Todas as ações e reações são inesperadas, fugindo ao lugar comum dos filmes policiais tipo "bateu-levou".
Fugindo ao padrão onde todos são jovens e perfeitos, como nos comerciais de margarina, Tarantino mostra um belo caso de amor entre pessoas maduras, que ainda acalentam fantasias românticas - e tem todo direito de fazê-lo. Também são mostradas as barreiras, muitas vezes intransponíveis, que as pessoas constroem ao redor de si mesmas e dificultam a realização de seus sonhos e desejos mais íntimos. Recomendo.

Coluna Claquete - Especial: Humor à francesa


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Risada com biquinho


Fazer humor não é fácil, até porque, o que é engraçado para alguns, não o é para outros. Enquanto muitos se dobravam de rir com “Um Parto de Viagem”, eu detestei cada minuto que passei até abandonar a sala do cinema. Mas, ao fazer uma retrospectiva de algumas comédias francesas, pude comprovar como as coisas são diferentes do outro lado do Atlântico.
Embora não seja um especialista em comédias, francesas, americanas ou brasileiras, tenho uma boa ideia do que não gosto, os besteiróis americanos, e as cópias de programas globais que vão para as telas de cinema. Portanto, foi uma grata surpresa ao escolher três comédias francesas ao acaso, e gostar de todas.
Minha viagem ao mundo do humor francês começou com “Le Grand Bazar” (FRA, 1973), algo como “A Grande Loja”, com o grupo humorista Les Charlots. Curiosamente, a origem deles foi como grupo musical, em 1966, com um estilo cômico e de paródia, evoluindo dos palcos para as telas do cinema.
Formando inicialmente por  Gérard Rinaldi, Gérard Filippelli, Jean Sarrus, e Jean-Guy Fechner, o grupo alcançou um grande sucesso nos cinemas nos anos 1970, com filmes como “La Grande Java”, “Les Bidasses en Folie”, “Les Fous Du Stade”, “Les Bidasses s’en Vont en Guerre” e “Le Grand Bazar”. Seu humor era cênico, quase ingênuo, lembrando muito os Trapalhões no início da carreira.
Em “Le Grand Bazar” o grupo quer ajudar um amigo cuja mercearia é ameaçada com a chegada de um grande supermercado ao bairro. Os quatro amigos usam muita criatividade para trazer os clientes para a loja do amigo, enquanto o gerente do supermercado toma a batalha como coisa pessoal. O filme é muito divertido, com poucos diálogos e muitas piadas bizarras, mas sem o mau gosto de seus similares americanos.
O segundo filme de minha lista é “A Verdadeira Vida dos Professores” (“La vrai vie des profs”, FRA, 2013). O filme foi dirigido por Emmanuel Klotz e Albert Pereira-Lazaro, dois profissionais do mundo do cinema infantil.
A história é protagonizada por cinco crianças de Marselha, Albert (Emir Seghir), Jean-Mohamed (Sami Bouzid), Juju (Maëva Arnoux), Mousse (Enzo Vallejos-Celotto) e Sissi (Victoire Poupon). Colegas de colégio, eles são os responsáveis pelo jornal interno, o que parece ser uma tarefa bem tediosa.
Depois que descobrem que uma das mestres mais conservadoras namorava um motoqueiro, Albert convence os outros a fazer um blog sobre a verdadeira vida dos professores. Para isso eles chegam a revirar o lixo, invadir escritórios e até bisbilhotar pela janela, buscando situações íntimas.
O blog faz um tremendo sucesso, mas a coisa passa dos limites, ocasionando a demissão da professora de francês Madame Oufkir (Audrey Fleurot), quando é revelado que ela tinha um caso com o diretor (Lucien Jean-Baptiste). Ao mesmo tempo, os meninos passam pelos problemas comuns do início da adolescência, o que prejudica a relação do grupo.
Embora seja um filme voltado para o público infanto-juvenil, o seu humor leve torna o resultado final muito agradável para todos os públicos. Além da história simples e divertida, também são mostrados paisagens diferentes de Marselha, e o seu multiculturalismo, algo bem estranho para a maioria dos brasileiros.
O terceiro filme desta minha seleção é “Fim de Semana à Beira-Mar” (“Ni à vendre ni à louer”, FRA, 2011), dirigido por Pascal Rabaté. Uma curiosidade sobre este filme é que ele ficou muito tempo no meu estoque de coisas para ver, pois faltava a legenda. Uma noite, resolvi dar uma olhada no filme, e quando percebi, já tinha assistido quase todo. A legenda? Não precisa, pois o filme praticamente não tem diálogos.
O título original não diz muito, mas realmente o filme trata de um fim de semana na praia, envolvendo campistas e hóspedes de um hotel à beira-mar. O filme é no melhor estilo Jaques Tati, com quase nenhum diálogo e muitas cenas non sense que tornam o filme repleto de um humor sutil e bem divertido.
O elenco é composto por atores muito conhecidos do cinema francês, como Jacques Gamblin, François Damiens, François Morel, Dominique Pinon, Stéphanie Pillonca, Catherine Hosmalin, e muitos outros. Um destaque é a portuguesa Maria de Medeiros, que ficou conhecida mundialmente ao viver a escritora Anaïs Nin em “Henry & June: Delírios Eróticos”.
As gags são variadas entrecruzando todos os personagens. Um homem persegue uma pipa fugitiva e é ajudado por uma mulher pois o colar dela foi junto. Entre os lugares que deverão percorrer está um campo de nudismo.
Um executivo tem a carteira roubada por dois malandros, e ainda fica algemado na cama por uma dominatrix, que leva o carro dele e ainda joga suas roupas no lixo. Um casal de hippies viaja com dois cachorros, enquanto um casal plus size se diverte comodamente em uma minúscula cabana, que ainda abriga os vizinhos campistas durante uma forte tempestade.
Num dos papeis mais contidos de sua carreira, Dominique Pinon está bem à vontade neste filme louco, depois de ter participado de produções como “Delicatessen”, “ O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”, “Micmacs – Um Plano Complicado”, “Ladrão de Sonhos” e “Alien, a Ressurreição”.
Nesta pequena amostragem da comédia francesa, o espectador pode apreciar um tipo diferente de humor, bem diferente de seus congêneres americanos, e, por incrível que pareça, de imitações destes filmes feitos na própria França!