terça-feira, 26 de setembro de 2017

Coluna Claquete - Filme da Semana: "Os 27 Beijos Perdidos"




A luz da estrela moribunda

Onde estão os vinte e sete beijos perdidos de Nana Dzhordzhadze? Se nunca ouviu falar nela ou numa atriz iniciante chamada Nuza Kuchianidze, que tal dar um passeio na Rússia, numa viagem cheia de simbolismos? Ao invés dos atormentados e arrastados clássicos russos, "Os 27 Beijos Perdidos" é uma comédia de humor sutil e quase ingênuo, mas recheado de belas imagens, interpretações interessantes e um roteiro bem amarrado.
A história passa-se no interior da Rússia, numa época não muito bem determinada, quando Sibylla (Nuza Kuchianidze), uma adolescente de catorze anos chega a uma pequena vila para morar com a tia. Já na chegada, encontra as duas pessoas com que iria formar o mais improvável triângulo amoroso: Mika (Shalva Iashvili), da mesma idade de Sibylla e Alexander (Evgeniy Sidikhin), o pai do garoto.
Desenvolta e provocante, Sibylla choca a todos por sua inocência despudorada. Mika apaixona-se por ela no instante em que a vê, mas Sibylla só tem olhos para o pai dele, um astrônomo que vive noite e dia com a cabeça nas estrelas. A pequena vila tem os mais estranhos e curiosos personagens. O militar incompetente, sua mulher vadia, a sogra repressora, o diretor moralista, etc.. Ao longo do verão, suas vidas entrecruzam-se com amores, brigas, traições, solidariedade, enquanto Mika tenta chegar ao coração de Sibilla e esta ao de Alexander.
Embora seja uma tragédia anunciada, "Os 27 Beijos Perdidos" são um retrato da Rússia em um delicado momento de transição. Através de seus personagens, pode ser formado o quadro de um país outrora poderoso em busca de uma nova identidade. Algumas imagens são absolutamente mágicas, como o barco que viaja pelas ruas do vilarejo à luz de uma lua feérica. Outras são intrigantes e divertidos, como o uso de livros de Marx para chegar ao prazer, o diretor que morre na cama da recatada professora de francês, ou o portentoso amante que descobre que rolamentos e sexo não combinam...
Seria a nova Rússia a jovem Sibylla, que balança seu coração entre o futuro incerto de Mika ou o conservadorismo maduro de Alexander? Ou é o velho barco que após sete anos submerso, segue em busca do mar que o abandonou? O medo do futuro é justificado pela fala de um dos personagens: "só os tolos não tem medo"...
Independente dos simbolismos, este é um filme leve e divertido, tecnicamente muito bem feito. A fotografia é brilhante, em especial nas cenas noturnas. As paisagens são fantásticas, de uma Rússia pouco conhecida mas, não menos interessante. O elenco está perfeito, com destaque para o casal jovem, Shalva Iashvili e Nuza Kuchianidze.
“Os 27 Beijos Perdidos” participou do Festival de Cannes 2000 e ganhou o prêmio especial do Júri do Festival de Bruxelas, e de público do Festival de Montpellier, ambos em 2001, além de de outros êxitos na França e Bulgária. Este filme é uma obra autoral da diretora Nana Dzhordzhadze, nascida na Geórgia no tempo da União Soviética, e que largou a carreira de arquiteta para lançar-se no cinema.   
A edição brasileira em DVD foi distribuída pela Europa Filmes, que não é muito generosa nos conteúdos. Contudo, o formato de tela foi mantido em widescreen e o som disponível no original russo em estéreo, o que não prejudica a maravilhosa trilha sonora do filme. As legendas estão disponíveis em inglês e português. Como extras, apenas notas de produção e elenco.
Apesar de algumas cenas de breve nudez, o filme é muito mais leve que as novelas e minisséries em nossa televisão. Além de ser um conjunto harmonioso de sons e imagens, o enredo caprichado de "Os 27 Beijos Perdidos" mostra que se pode misturar humor, emoção e técnica. Ao contrário do que apregoa a propaganda do tio Sam, ainda existe vida inteligente nos escombros da cortina de ferro. Confiram.


Coluna Claquete - Especial: Janelas no Cinema




Especial: Janelas no cinema

Os meninos de hoje, que praticamente nascem mergulhados na mídia, não tem ideia de que existiu um tempo onde, para assistir a um filme, era obrigatório ir ao cinema. Essa transição ocorreu nos últimos cinquenta anos, e nem sempre aconteceu de uma forma pacífica. Um indicador destas batalhas é o tempo que o filme demora entre o lançamento no cinema e em outras mídias, comumente chamado de “janela”.
A Sétima Arte é a irmã caçula das artes, e tem pouco mais de um século de existência, desde que os irmãos Lumiére fizeram a apresentação pública de 28 de dezembro de 1895, considerado o lançamento histórico oficial do cinema, no Grand Café em Paris.
A novidade transpôs o Atlântico e encontrou nos Estados Unidos a combinação ideal entre a indústria e o mercado consumidor, primeiro em Nova York, e posteriormente enraizando-se na Califórnia, na mítica Hollywood.
Durante muito tempo a indústria reinou em paz, produzindo, distribuindo e exibindo filmes mundo a fora. Aqui no Brasil, até o início dos anos 70, quase todas as cidades tinham ao menos uma sala de cinema, enquanto que nas capitais a contagem podia chegar às dezenas, todos situados nas ruas e praças da cidade.
A característica mais comum destas salas era ter muitos lugares, pouco luxo (apenas as principais tinham ar condicionado, por exemplo), e, o mais importante, o ingresso muito barato. Essa era a principal razão do slogan “cinema é a melhor diversão”.
A distribuição também era tranquila. Um blockbuster levava anos para chegar, sendo exibido primeiramente nas grandes cidades, como Rio, São Paulo, Recife, Belo Horizonte, e progressivamente passando para as cidades menores.
Como as cópias eram físicas, e nem sempre manuseadas adequadamente, quando um filme chegava a uma cidadezinha de algum rincão isolado, já apresentava riscos na imagem, e constantes quebras durante a exibição. Mesmo assim, os filmes levavam anos circulando por este Brasilzão afora.
Até o final dos anos 60, a televisão não apresentava nenhum risco ao cinema. Praticamente restrita às grandes cidades, o que chegava mais longe era transmitido através de estações terrestres chamadas “repetidoras”, com imagem cheia de “chuviscos”, e que, de vez em sempre, ficava “fora do ar”.
Com a melhoria do sistema de comunicação brasileiro, a televisão invadiu o país, com as famosas “transmissões via Embratel, para todo o Brasil”. Mas, foi só a com a chegada da transmissão a cores foi que a exibição de filmes começou a se tornar importante.
A janela entre o lançamento nos cinemas e a chegada na televisão ainda era absurdamente longa. Para se ter ideia, um dos primeiros filmes exibidos nacionalmente em cores foi “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, estrelado por David Niven e Cantinflas, produzido em 1956. A Sessão da Tarde dos anos 1970 era repleta de filmes dos anos 50.
A primeira grande mudança aconteceu no início dos anos 1980, com a popularização do videocassete. Pela primeira vez, o espectador não precisava aguardar anos para rever algum filme exibido no cinema, bastando para isso recorrer à videolocadora mais próxima.
Se a televisão já havia perturbado muito o domínio do cinema, a chegada do videocassete foi uma verdadeira pá de cal, provocando a queda vertiginosa dos frequentadores dos cinemas, e o consequente fechamento de muitas salas tradicionais.
Para sobreviver, a indústria do cinema precisou adaptar-se, e para isso uniu-se aos novos concorrentes, exatamente a televisão e o vídeo. Um filme novo deveria seguir uma trajetória de mídias, sendo exibido primeiramente nas salas de cinema, hoje menores e concentradas nos shopping centers.
As etapas seguintes seriam o lançamento em vídeo para aluguel (RENTAL), em canais por assinatura, e, finalmente, na TV aberta. Com a chegada do DVD, uma nova etapa foi inserida, do lançamento para venda direta ao consumidor (SELL THROUGH), geralmente em lojas de departamento.
Era comum um filme ser lançado em DVD nos Estados Unidos enquanto ainda chegava aos cinemas brasileiros, pois os mercados eram estanques, e praticamente não havia interferência entre eles.
Com essas etapas de distribuição escalonadas por janelas de tempo, era possível garantir uma boa renda para cada público consumidor. Tudo estaria muito bem para a indústria, não fosse uma nova ameaça, provocada pela chegada da internet mais veloz, e a digitalização das mídias.
Se antes a indústria do cinema podia dar-se ao luxo de lançar um filme em diferentes datas mundo a fora, essa realidade foi bruscamente alterada. Com o aumento vertiginoso de trocas de filmes pela internet, os exibidores viram, atônitos, o filme ser disponibilizado na rede horas depois da estreia nos Estados Unidos.
Como ocorreu com a indústria fonográfica, a primeira reação foi de tentar impedir a circulação na internet. Alguns sucessos foram obtidos, como o fechamento do site Megaupload e similares. Contudo, é praticamente impossível bloquear a troca de arquivos usando os arquivos torrent, ou P2P.
Isso levou a indústria a entender que o cinema também está globalizado, e por isso as janelas entre os lançamentos precisaram ser encurtadas, além de se promoverem estreias mundiais, para os títulos mais importantes.
A ideia do pirata com uma câmera dentro do cinema é coisa do passado. A maioria dos filmes que circulam na internet é feita a partir de cópias digitais, muitas vezes até de DVDs entregues para divulgação.
A duras penas, a indústria do cinema tornou-se mais dinâmica, com os cinemas transformados em outdoor, sendo o filme exibido apenas uma ou duas semanas, e a grande arrecadação feita com o merchandising embutido e com as cópias para o mercado doméstico. Mesmo isso começou a fraquejar com a invasão dos DVDs piratas e o download pela internet.
Um novo equilíbrio, curiosamente, chegou com o aumento de velocidade da internet, que permitiu a eliminação da mídia física, e a maior oferta de filmes via streaming, tanto pelo aluguel de cópias – serviço ainda caro – e outros como Netflix, que permitem assistir filmes com boa qualidade nas mais variadas plataformas, pagando um valor simbólico.
Hoje em dia, até a exibição nos cinemas é digital, e não é difícil imaginar que num futuro não muito distante, os lançamentos de filmes novos podem até ser simultâneos com o cinema, reduzindo a zero a famosa “janela”.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Filme da Semana: “Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro” (“La dame dans l'auto avec des lunettes et un fusil”)






Newton Ramalho

 

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Filme da Semana: “Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro”

 


A lógica de distribuição de filmes no Brasil sempre privilegia os produtos de Hollywood em detrimento de outros, digamos, menos rentáveis. Isso nos impede de ter acesso a filmes interessantes como a produção belgo-francesa “Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro”.
Esse estranho e longo título já suscita no espectador alguma desconfiança sobre o tema do filme, com certeza, uma trama policial. Mas, além de uma esperada história cheia de reviravoltas, o filme também traz uma edição interessante, que cria expectativas e desperta dúvidas no espectador sobre o que realmente está acontecendo.
A personagem do título é Dany Dorémus (Freya Mavor) uma tímida secretária de uma agência de publicidade parisiense, no início da década de 1970. Dany, embora jovem e bonita, é ridicularizada pelas colegas de trabalho pela total ausência de vida social.
Dany tem uma queda pelo patrão, Michel (Benjamin Biolay), que fora fisgado pela antiga colega de apartamento, Anita (Stacy Martin). Anita e Michel eram casados e tinham uma filha.
Um dia, Michel solicita a Dany que datilografe para ele um relatório importante. Como é um relatório grande, ele pede que ela o faça na casa dele, já que terá que trabalhar boa parte da noite. Assim, diz ele, ela também terá a chance de rever a amiga.
Dany aceita o pedido, e passa a maior parte da noite envolvida no trabalho. No dia seguinte, mais um pedido de Michel: ele quer que a jovem os deixe no aeroporto e traga o carro de volta para a mansão.
Embora ache tudo aquilo estranho, Dany aceita a incumbência. Contudo, após deixar a família no aeroporto, a jovem decide aproveitar que está com um supercarro à disposição, e faz uma viagem não autorizada para o sul da França, para realizar o sonho de ver o mar pela primeira vez.
O que parecia ser uma simples travessura começa a tomar forma de mistério e ameaça, pois todos parecem conhecê-la pelo nome, ela é agredida, roubada e intimidada, e o cúmulo acontece quando ela descobre que existe um cadáver no porta-malas. Embora ela saiba exatamente onde estivera na noite anterior, ela mesma começa a duvidar da própria sanidade ante tantas evidências estranhas.
Este roteiro, muito bem escrito por Gilles Marchand e Patrick Godeau, é baseado no livro homônimo de Sébastien Japrisot. Japrisot, um conhecido escritor e diretor francês, foi responsável por roteiros tão diversos como “A História de O” e “O Passageiro da Chuva", grandes sucessos da década de 1970. O filme atual é um remake de uma produção de mesmo nome de 1970, estrelada por Samantha Eggar e Oliver Reed.
O que chama a atenção em “Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro”, além da história curiosa, é a edição, muito dinâmica, e que emprega o recurso de flashforward, entregando ao espectador rápidas pistas sobre cenas que ainda estão por vir.
A recriação de época é excelente, e traz um sentimento de saudosismo para quem viveu aqueles dias. Carros imensos e beberrões, roupas curtas, óculos enormes, e notáveis costeletas, remetem a uma época com problemas bem diferentes dos atuais. O filme ganhou a categoria de Melhor Figurino no Prêmio Magritte 2016, na Bélgica.
Mas, o que desperta a atenção do espectador é a dubiedade do que estamos vendo na telona. A personagem é realmente inocente como acreditamos que seja? A construção da personagem lembra um pouco a dualidade magnificamente criada por Jorge Amado em “A Morte e a morte de Quincas Berro-Dágua”.
A credibilidade da personagem central deve-se muito à linda atriz escocesa Freya Mavor, que fez aqui um de seus primeiros filmes no cinema, tendo atuado bastante na televisão.
“Uma Dama de Óculos Escuros Com uma Arma no Carro” é um filme interessante, que foge do convencional, e que certamente irá agradar aos amantes do gênero suspense sem ter que escutar infindáveis sequências de tiroteios.

Título Original: “La dame dans l'auto avec des lunettes et un fusil”

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Coluna Claquete 07/09/2017 - Filme da Semana: “Órbita 9”







Newton Ramalho

 

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Filme da Semana: “Órbita 9”



O que você faria se descobrisse que a sua vida inteira é uma mentira, que os pais que acredita estarem mortos fazem parte da farsa, e que nada de bom lhe aguarda no futuro? Esta é a trama do filme “Órbita 9”, uma interessante ficção-científica hispano-colombiana, produto bem diferente do padrão hollywoodiano.
Helena (Clara Lago) é uma jovem de vinte anos que vive reclusa em uma espaçonave que faz uma longa viagem que tem como destino uma colônia terrestre em um sistema remoto. Ela iniciou a viagem com os pais quando era bebê, e estes precisaram sacrificar-se para que ela sobrevivesse, devido a um problema de geração de oxigênio.
A jovem cumpre sua solitária rotina diária trabalhando na nave, exercitando-se e assistindo filmes românticos, que para ela são uma ficção total, já que as únicas pessoas que conheceu foram os seus pais. Por causa disso, ela fica numa grande expectativa com a visita de Álex ( Álex González), um jovem engenheiro que fará a manutenção necessária para que ela possa seguir viagem.
A visita provoca em Helena reações inesperadas. A tenra idade, o contato com o primeiro ser humano diferente dos pais, e um romantismo latente levam a jovem a tomar a iniciativa de fazer amor com ele, apesar da relutância do rapaz. No outro dia ele vai embora, e ela prossegue o que acredita ser uma viagem de mais duas décadas.
No entanto, quando Álex sai da nave, o espectador é informado da verdade. O que se pensava ser uma espaçonave é uma imensa instalação subterrânea em algum lugar da Colômbia. Tudo aquilo é uma simulação de viagem espacial, e Helena é apenas uma de dez pessoas que são estudadas sem que tenham consciência de que aquilo tudo é uma farsa.
Mas, enquanto Helena continua na inocência da ignorância, Álex sente cada vez mais a consciência pesada. Além do envolvimento afetivo, ele questiona o aspecto ético do experimento, onde dez pessoas são submetidas a uma prisão perpétua sem a menor perspectiva de liberdade.
Depois de muito pensar, ele decide agir, e invade o local do experimento para retirar Helena de lá. A moça não acredita no que ele diz, até que ele a convence a sair, e descobre que ao invés do espaço sideral, ela está na Terra.
Obviamente, a adaptação não é fácil, mesmo que ela esteja vivendo uma tão sonhada relação amorosa, e descobrindo uma enxurrada de coisas com as quais nunca imaginara. Algumas destas descobertas, entretanto, a levam a questionar tudo, inclusive o próprio Álex.
Embora a sinopse leve a crer que se trata de uma ficção-científica banal, igual a tantas outras de Hollywood, “Órbita 9” mostra que, com inteligência e criatividade, é possível fazer um filme de qualidade com poucos recursos. O orçamento deste filme foi quatro milhões de euros, que em Hollywood seria apenas o cachê de um ator famoso. Sem grandes apelos de efeitos especiais, mas aproveitando algumas interessantes locações, não é difícil acreditar na história mostrada na tela. O filme foi escrito e dirigido pelo espanhol Hatem Khraiche, que já havia despertado a atenção com “O Quarto Secreto” (“La Cara Oculta”) em 2011.
“Órbita 9” levanta alguns pontos interessantes para discussão, como a utilização de seres humanos em experimentos sem sua consciência ou permissão. E se o leitor achar que isso é fantasia, que tal pensar nas dezenas de planos econômicos e sistemas de governos que tivemos no Brasil nas últimas décadas. Será que o fato de serem milhões de pessoas torna o experimento menos danoso?
Não é sem razão que o experimento mostrado no filme é realizado na Colômbia, com proteção do exército nacional, mas quem dá as ordens é uma personagem que fala inglês, e que sempre fala em questões de dinheiro. Alguma novidade?
Este é um filme que recomendo, não apenas pela história interessante, mas também pelas discussões que pode suscitar.  

Título Original: “Órbita 9”