sexta-feira, 30 de julho de 2004

Claquete 30 de julho de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Aos poucos, o cinema volta seus olhos para os adolescentes e adultos. Neste final de semana, estréiam “Hellboy”, mais uma adaptação de um herói de quadrinhos, com muita ação e efeitos especiais, e, a comédia romântica “Meninas Malvadas”. Continuam em cartaz, “Efeito Borboleta”, uma ficção científica estilo viagem no tempo, “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada do inesquecível Cazuza, e, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara. Para a criançada, “Garfield”, com o gato mais folgado do mundo, “Homem Aranha 2”, dublado e legendado, “Cinegibi, o Filme – A Turma da Mônica”, a produção da Disney, “Nem Que a Vaca Tussa”, e, o nacional “Didi Quer Ser Criança”, com Renato Aragão. Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte. Na próxima quinta-feira, acontece a pré-estréia de “Eu, Robô”, estrelado pelo rapper Will Smith.


Hellboy

Já perto do fim da 2ª Guerra Mundial (aquela, em que americanos e ingleses eram os mocinhos), os nazistas tentam eliminar seus inimigos, usando magia negra, e, invocando forças ocultas. Um destes rituais é interrompido por um grupo aliado, mas, alguma coisa já havia chegado ao nosso mundo: uma criança com a pele vermelha, e, a mão esquerda feita de metal. O garoto passa a ser chamado de Hellboy, sendo levado pelos Aliados. Depois de adulto, passa a integrar a agência clandestina BPRD (Bureau de Pesquisa e Defesa Paranormal), que luta contra as forças do Mal. Na agência, Hellboy tem a companhia do ser anfíbio Abe Sapien (Doug Jones), de seu amor platônico Liz Sherman (Selma Blair) - uma garota com poderes pirocinéticos – e, do agente Myers (Rupert Evans), além do próprio Broom, responsável pelo salvamento de Hellboy. As coisas se complicam quando Grigori Rasputin (Karel Roden) - o homem que trouxe Hellboy à Terra - é ressuscitado, e, retoma seus planos de deflagrar o Apocalipse. Hellboy é interpretado por Ron Perlman, mais conhecido por seu papel de Salvatore, em “O Nome da Rosa”. Mais uma adaptação de quadrinhos para o cinema, projeto pessoal do diretor mexicano Guillermo del Toro (“A Espinha do Diabo”, “Blade 2”). Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 4 do Moviecom. Censura 14 anos.


Meninas Malvadas


Cady Heron (Lindsay Lohan) é uma garota que cresceu na África, e, sempre estudou em casa, nunca tendo ido a uma escola. Após retornar aos Estados Unidos, com seus pais, ela se prepara para iniciar sua vida de estudante, matriculando-se em uma escola pública. Logo, Cady percebe como a língua venenosa de suas novas colegas pode prejudicar sua vida, e, para piorar ainda mais sua situação, Cady se apaixona pelo garoto errado. Estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom. Censura 12 anos.


Pré-estréia: Eu, Robô

Isaac Asimov, um dos maiores escritores de todos os tempos, já teve várias de suas obras transformadas em filmes. Desta vez, o filme “Eu, Robô”, estrelado por Will Smith, baseia-se nos elementos de um dos mais famosos livros de Asimov, de mesmo nome. O livro, na verdade, é uma coletânea dos primeiros contos sobre robôs, onde foram formuladas as famosas leis da robótica, que, assim como a personagem Susan Calvin (Bridget Monayhan), estão presentes no filme. Em 2035, a existência de robôs é algo corriqueiro, sendo utilizados, constantemente, como empregados, e, assistentes dos humanos. Os robôs possuem um código de programação chamado Leis da Robótica, que impedem que façam mal a um ser humano. Estas leis parecem ter sido quebradas, quando o Dr. Miles aparece morto, e, o principal suspeito de ter cometido o crime é, justamente, o robô Sonny. Caso Sonny realmente seja o culpado, a possibilidade dos robôs terem encontrado um meio de quebrar a Lei da Robótica pode permitir que eles dominem o planeta, já que nada mais poderia impedi-los de subjugar os seres humanos. Para investigar o caso, é chamado o detetive Del Spooner (Will Smith), que, com a ajuda da Dra. Susan Calvin, precisa desvendar o que realmente aconteceu. “Eu, Robô” tem pré-estréia na próxima quinta-feira, dia 5, no Cine Natal 1 (sessão única, às 21h30), e, no Cine 1 do Moviecom, sessões a partir de 16h10. Censura 12 anos.


Os Três Patetas, em DVD


Os nomes Moe.Curly e Larry são familiares? Não, se você não foi criança nos anos 60, a chance de ter assistido os filmes dos Três Patetas é muito remota. Mas, as novas gerações têm, agora, a chance de conhecer um dos mais famosos trios de comediantes americanos, adeptos da fórmula pastelão, que seria copiada, com sucesso, pelos Trapalhões, aqui no Brasil. A Columbia Tri-Star, que pertence à Sony, está lançando, no próximo dia 11, dois discos, “The Three Stooges: Goofs on the Loose”, e, “The Three Stooges: Stooged and Confoosed”, com dois dos mais populares filmes do trio. Uma inovação, deverá chamar a atenção, mesmo de quem não é fã do grupo. A Sony está lançando os DVDs com um efeito denominado ChromaChoice, um formato que permite ao usuário ver filmes antigos no original preto e branco ou colorido, com um simples comando do controle remoto. Segundo os especialistas, os métodos de colorização estão muito mais sofisticados do que no início dos anos 80, quando vários filmes “sofreram” a inclusão de cores. É esperar, para conferir.



Fahrenheit 11 de setembro

Ele não é candidato a nada, mas mete medo em todos os políticos americanos, principalmente os republicanos de George W. Bush. Michael Moore, que ficou mundialmente famoso com o seu libelo contra o armamentismo, “Tiros em Columbine”, investiga, em “Fahrenheit 11 de Setembro”, como os Estados Unidos se tornaram alvo de terroristas, a partir dos eventos ocorridos naquele fatídico dia de 2001. Também são explorados os paralelos entre as duas gerações da família Bush que já comandaram o país, e, ainda, as relações entre o atual Presidente americano, George W. Bush, e, Osama Bin Laden. O filme, que teve a sua distribuição ameaçada, já passou dos cem milhões de dólares de bilheterias, e, promete fazer muito estrago, na campanha da reeleição de Bush. “Fahrenheit” estréia, no Brasil, nesta sexta-feira. Vamos torcer para que chegue logo em Natal!


Asimov no cinema: O Homem Bicentenário

Uma das mais bem sucedidas adaptações de livros de Isaac Asimov para o cinema, foi “O Homem Bicentenário”, estrelado por Robin Williams. Em 2005 (o livro foi publicado em 1976), uma família americana compra um novo utensílio doméstico: um robô, chamado Andrew (Robin Williams), para realizar tarefas domésticas simples. Entretanto, aos poucos, o robô vai apresentando traços característicos do ser humano, como curiosidade, inteligência, e, personalidade própria. É o início da saga de Andrew em busca de liberdade e de se tornar, na medida do possível, humano. O diretor Chris Columbus, que fez os dois primeiros Harry Potter, conseguiu dar uma dimensão mais simpática ao drama do robô Andrew, inclusive com uma trama romântica que nunca existiu na história original. O filme, que já passou até na TV aberta, está disponível nas locadoras, em VHS e DVD.


Filme recomendado: “Viagem Fantástica”


Rumo ao espaço interior

Poucos se lembram, ou, tiveram notícia, de um filme, lançado no ano de 1966, que, se não teve o embasamento técnico, ou, os recursos de “2001, Uma Odisséia no Espaço”, apresentou um tema inovador, sobre a exploração do interior do corpo humano. Esse filme foi “Viagem Fantástica”, que seria refilmado nos anos 80, em “Viagem Insólita”.

A história foi absolutamente inovadora na época: um dissidente político (provavelmente da União Soviética, já que a época de era de plena Guerra Fria) consegue escapar, mas, sofre um atentado, e, entra em coma. Graças a um projeto ultra-secreto dos Estados Unidos, uma equipe é selecionada para ser miniaturizada, e, injetada no corpo do dissidente, a fim de reparar o dano no cérebro do cientista.

Bem de acordo com a paranóia da época, suspeitava-se de um traidor no grupo. Por isso, Grant (Stephen Boyd), o agente da CIA que trouxera o dissidente, vai junto com o grupo. Um pequeno submarino, com a equipe a bordo, é reduzido ao tamanho de um micróbio, e, injetado numa veia do cientista. Além de Grant, compõem o grupo um comandante da marinha, dois neuro-cirurgiões, e, a assistente de um deles, Cora, vivida pela linda Rachel Welch, ainda em início de carreira.

A viagem prossegue por várias partes do corpo humano, com as dificuldades inerentes de um filme do gênero. A suspeita do sabotador começa a se comprovar, quando ocorrem tentativas de assassinato de membros do grupo, e, danos nos equipamentos necessários para operar o paciente. O clímax ocorre em pleno cérebro, quando a equipe está divivida entre salvar as próprias vidas, ou, a do paciente, ao mesmo tempo em que luta contra o sabotador.

O problema de todo filme que depende de tecnologia é que esta “envelhece”. Os efeitos especiais, surpreendentes para a época, hoje parecem primários, se comparados ao que qualquer garoto de escola faz, com um simples PC. A trilha sonora, apesar de muito bem integrada à ação, apoia-se fortemente no uso de sintetizadores eletrônicos, novidade na época.

O elenco era formado por grandes atores, o que mostra como o filme foi levado a sério. Stephen Boyd já era famoso por seu papel de Messala, na megaprodução "Ben-Hur" de 1959. Donald Pleasence, um conhecido vilão das telas, William Redfield, e, Arthur Kennedy, todos atores veteranos, reforçavam o elenco de apoio. Novata mesmo, só a belíssima Rachel Welch, que explodiria em seu filme seguinte, “Um milhão de anos AC”. Além de uma carreira brilhante como estrela de cinema, Rachel viria a ser uma das primeiras a vender as fitas de exercícios.

O curioso deste filme é que, depois de ter sido lançado, foi encomendado ao grande autor de ficção-científica, Isaac Asimov, transformar o roteiro em livro, que saiu com o mesmo título. Aceitando o encargo, Asimov manteve-se fiel ao roteiro original, tendo o cuidado de corrigir as incoerências científicas. Contudo, o fato de não ser uma obra sua o incomodava. Em 1987, explorou novamente o tema, já com uma visão totalmente sua, que denominou “Viagem fantástica II - Rumo ao cérebro”. Nesse mesmo ano, foi lançado o filme “Viagem insólita”, como Dennis Quaid e Meg Ryan, com a mesma temática, mas num enfoque tipo comédia de aventura.

A edição em DVD, de “Viagem Fantástica” poderia ter sido um pouco melhor, pois o áudio veio em inglês, e, espanhol, estéreo (a turma do dublado, sorry!). Mas, pelo menos o formato de tela foi mantido em widescreen anamórfico. As legendas estão disponíveis em português, espanhol e inglês. Como extras, apenas trailer de cinema.

Apesar da produção não ter o requinte dos efeitos técnicos dos filmes atuais, “Viagem Fantástica” é um filme curioso para se ver, pelo pioneirismo dos efeitos, e, pela abordagem, com forte influência da Guerra Fria. Com um certo atraso, foi lançado, em DVD, “Viagem Insólita”, de modo que, dá para ver como vinte anos de evolução na indústria do cinema repercutem, na exploração de um mesmo tema. Valeu, Saba!

sexta-feira, 23 de julho de 2004

Claquete 23 de julho de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Quer ir ao cinema, mas, tem mais de doze anos? Bem, se não for chegado a um filme infantil, as opções são poucas. Para completar, apenas um filme estréia neste final de semana, “Efeito Borboleta”, um ficção científica estilo viagem no tempo. Fora isso, continuam em cartaz, “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, “A Batalha de Riddick”, ficção científica repleta de ação, e, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara. Para a criançada, “Garfield”, com o gato mais folgado do mundo, “Homem Aranha 2”, dublado e legendado, “Cinegibi, o Filme – A Turma da Mônica”, a produção da Disney, “Nem Que a Vaca Tussa”, o nacional “Didi Quer Ser Criança”, com Renato Aragão, “Shrek 2”, com o simpático ogro verde, Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte.


Efeito Borboleta


Que conseqüência um fato de hoje pode causar no futuro? Esse é o tema de “Efeito Borboleta”, com uma nova visão de viagens no tempo. Evan (Ashton Kutcher) é um jovem que luta para esquecer fatos de sua infância. Para tanto ele decide realizar uma regressão onde volta também fisicamente ao seu corpo de criança, tendo condições de alterar seu próprio passado. Porém ao tentar consertar seus antigos problemas ele termina por criar novos, já que toda mudança que realiza gera conseqüências em seu futuro. O título do filme faz referência a um conto de Ray Bradbury, “Um Som de Trovão”, onde a morte de uma simples borboleta, no passado, causa mudanças radicais na História. Estréia nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Censura 14 anos.



HTPC

Já ouviu falar nesta sigla? Mas, se já ficou com raiva, por não poder ver aquele filme maneiro, baixado da internet, no seu telão de 29 polegadas, saiba que já existe uma solução. HTPC é a sigla de um microcomputador, idealizado para uso com o seu hometheater. Com um bom processador, muita memória RAM, disco rígido acima de 80 giga, boas placas de som e captura de vídeo, é possível gravar programas da TV em formato digital, reproduzir filmes, clipes e jogos, como se viessem do DVD, e, tudo o mais que a sua imaginação permitir. Já podem, inclusive, ser montados em gabinetes pretos, coloridos, e, até mesmo transparentes, com néon e outras acessórios, como teclados e mouse sem fio. Mas, prepare o bolso, pois uma configuração destas sai bem mais caro do que o pecezinho básico do dia-a-dia...


Band of Brothers, em DVD

Você é fã dos filmes de guerra, daqueles em que os gringos ainda eram os mocinhos? Experimente, então, “Band of Brothers”, minissérie com dez capítulos, que conta a trajetória de um grupo de homens (Easy Company), do primeiro dia de treinamento até o final da guerra, passando por todos os principais acontecimentos do cenário europeu. A narrativa humaniza os soldados, procurando retratá-los como homens comuns, mostrando o que eles gostavam, o que temiam, como eles se relacionavam uns com os outros e o que era importante para eles. Projeto conjunto de Steven Spielberg e Tom Hanks, inspirada no livro homônimo de Stephen E. Ambrose, resultou em uma superprodução de 120 milhões de dólares - a mais cara da história da TV. O pacote traz seis DVDs, com formato de tela Widescreen e som Dolby Digital 5.1, com pleno uso do seu subwoofer!



Cinema Revolucionário, em DVD

Essa é para os estudiosos do cinema. Foi lançado, em DVD, mais um pacote com filmes russos que marcaram época. É a coleção “Cinema Revolucionário Soviético - Vol. 2”. Entre as obras, “Aelita – A Rainha de Marte”, curiosa aventura de ficção científica com toques de comédia e política, dirigida por Iakov Protazanov, baseada em livro homônimo de Alexei Tolstoi; “Um Homem Com Uma Câmera”, exemplo da ruptura total do cinema com a literatura e a dramaturgia, de Dziga Vertov, o artista preferido do governo soviético, que criou o Kino-Pravda (Cine-Verdade) e o Kino-Glaz (Cine-Olho); “Andrei Rublev”, obra-prima desigual do cinema-russo, que revelou ao mundo um jovem e promissor cineasta, Andrei Tarkovsky; e, finalmente, “Câmera Olho - Réquiem a Lênin”, projeto cinematográfico mais ambicioso de Dziga Vertov, cineasta favorito de Lênin.


Morre o coreógrafo Antonio Gades

Morreu nesta terça-feira, dia 20, em Madri, aos 67 anos, vítima de um câncer, o bailarino e coreógrafo espanhol Antonio Gades, famoso por difundir a dança flamenca. Seus restos mortais foram levados para Cuba, onde foi cremado, e, suas cinzas, espalhadas. Sua admiração por este país era tanta, que chegou a filiar-se ao PC cubano, recebendo, do próprio Fidel, a Ordem José Martí, em junho passado. Gades ficou mundialmente famoso, após protagonizar filmes do cineasta Carlos Saura, como “Bodas de sangue” (1981), “Carmen” (1983), e, “Amor Bruxo” (1986).


Os reis do cinema

Se lhe perguntassem qual o país que mais produz filmes, o que responderia? Se pensou nos Estados Unidos, errou por uma letra. O país que mais produz filmes no mundo é a Índia, principalmente em Bombaim, por isso mesmo, apelidada de “Bollywood”. Os números impressionam: são produzidos cerca de 700 filmes indianos por ano, empregando dois milhões de pessoas, e, levando 70 milhões de espectadores aos cinemas, por semana! Para conferir algumas produções, que dificilmente chegam por aqui, só nas locadoras. Veja “Missão Kashmir” e “Lagaan”, com direito a muita ação, belas músicas e coreografias, e, quatro horas de duração, cada!






Filme recomendado: “Uma Relação Pornográfica”

A jura secreta que não foi feita

O relacionamento entre um homem e uma mulher já foi levado às telas de mil e uma maneiras diferentes, seja de forma romântica, como “Um homem, uma mulher”, “Casablanca”, “Sintonia de amor”, seja de forma neurótica, como “O último tango em Paris”, “Império dos sentidos”, “Perdas e danos”. Às vezes, o casal é meio estranho, como Madonna e Rupert Everett, em “Sobrou para você”. E aí, quando se pensa que não havia nada mais a explorar, aparece um belo filme europeu intitulado “Uma relação pornográfica”.

Não deixe o título enganá-lo. O filme - indicado por minha filha caçula - não contém pornografia alguma, no máximo, breve nudez e simulação de sexo. A novela das sete, certamente, apresenta cenas mais fortes do que este filme.

A relação pornográfica, de que fala o título, refere-se a como os personagens se conheceram. Através de uma revista especializada, um homem e uma mulher, que não se conheciam, marcam um encontro, por ter em comum uma determinada fantasia sexual (que nunca chega a ser revelada). A mulher define a relação como pornográfica, por ter tido origem exclusivamente sexual.

Curiosamente, à medida que se encontram, os dois começam a descobrir afinidades e uma empatia que, aos poucos, vai transformando-se num sentimento mais profundo. Até mesmo o sexo passa a ser feito de maneira diferente, com emoção e envolvimento.

A situação se complica, porque, embora progressivamente mais envolvidos, cada um tem dificuldade para expressar seus sentimentos. É o retrato perfeito da sociedade moderna, pois quanto mais se aperfeiçoam as facilidades tecnológicas de comunicação, mais as pessoas têm dificuldades para exprimir o que sentem.

O filme é, tecnicamente, perfeito. O espectador torna-se cúmplice onisciente, pois os dois envolvidos narram sua experiência para interlocutores anônimos, provavelmente seus respectivos terapeutas. Dessa maneira, podemos tomar conhecimento, não só dos momentos mais íntimos do casal, mas também, do que cada um sentia ou pensava na ocasião.

Dois momentos do filme são particularmente interessantes. Na saída do hotel, após um dos encontros, o homem convida a parceira para jantar. Os dois sentem-se extremamente bem, pois não há a ansiedade para impressionar o outro e garantir o sexo ao final do encontro - este já aconteceu. O jantar é tão prazeroso, que eles resolvem voltar ao hotel. Num outro momento, a mulher sugere que não façam apenas sexo, mas sim, amor. Esse seria o ponto de mutação da relação, onde, pessoas que não sabiam nome, endereço ou telefone da outra, consolidam um forte vínculo emocional.

Os dois atores principais, o espanhol Sergi Lopez e a francesa Nathalie Baye, estão absolutamente perfeitos, sustentando o filme com suas atuações. O elenco é reduzido, as locações resumem-se basicamente ao quarto de hotel, e, ao restaurante onde se encontram, mas, a narração em flashback alternada, ao invés de atrapalhar, conduz o filme como se fosse uma colcha de retalhos perfeita.

É uma pena que a edição em DVD tenha sido tão pobre. O formato de tela é 4x3 e o áudio está disponível em inglês (!) e português 2.0. Poderiam ter mantido, pelo menos, o áudio original, em francês. As legendas estão disponíveis em português e inglês. Como extras, ficha técnica, sinopse, filmografia e trailer de cinema.

Apesar da mutilação técnica, este é um filme que vale à pena ser assistido, comentado, discutido, e, refletido. Talvez, exista um pouco do casal do filme em todas as nossas relações, com sentimentos abafados, palavras não ditas, gestos incompletos, e, pior de tudo, emoções não compartilhadas. Quem sabe, vendo isso com outros, não nos ajudará um pouco? Afinal, como canta Fagner, “Só uma coisa me entristece/ O beijo de amor que eu não roubei/ A jura secreta que eu não fiz/ A briga de amor que eu não causei...”

sexta-feira, 16 de julho de 2004

Claquete 16 de julho de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Se não dá para combater, una-se ao inimigo. A programação dos cinemas, está, quase toda, dedicada ao público infanto-juvenil. Em mais um reforço (de peso, por sinal), estréia, nesta semana, “Garfield”, numa versão de maior apelo para as crianças. Para os “altinhos” não reclamarem muito, estréia também uma produção de ficção científica repleta de ação, com nada menos quem Vin Diesel, “A Batalha de Riddick”. Continuam em cartaz, “Homem Aranha 2”, dublado e legendado, “Cinegibi, o Filme – A Turma da Mônica”, a produção da Disney, “Nem Que a Vaca Tussa”, o nacional “Didi Quer Ser Criança”, com Renato Aragão, “Shrek 2”, com o simpático ogro verde, “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, e, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara. Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte.


Garfield, o filme

“Dorme mais do que gato de pensão...”. Esse ditado popular, bem nordestino, cai como uma luva para Garfield, o mais famoso gato do mundo, que só se dedica a duas atividades na vida: comer e dormir, não necessariamente nesta ordem. Bem, quando consegue ficar acordado, Garfield também adora criticar o mundo, a partir de seu patético dono, Jon. Na versão cinematográfica, um Garfield com traços mais delicados, com a intenção de agradar o público infantil. Garfield é um gato preguiçoso, que adora lasanha e tem a vida que sempre quis: come, dorme e vê televisão, sempre que quer. Até que seu dono, Jon Arbuckle (Breckin Meyer), decide adotar um cachorro, Odie. Contrariado com o novo hóspede, que agora divide com ele a atenção de seu dono, Garfield inicia uma disputa particular com Odie. Porém, quando Odie é sequestrado, Garfield sente remorsos e parte para salvar o cachorro. Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, no Cine 4, do Moviecom, ambas as cópias dubladas. Censura livre.


A Batalha de Riddick

Em 2000, Vin Diesel apareceu para o mundo, em um interessante filme chamado “Eclipse Mortal”, no papel de um fugitivo da justiça. O mesmo personagem volta, em “A Batalha de Riddick”, aventura espacial que dá continuidade a “Eclipse”, também com a direção e roteiro de David Twohy. No elenco, além de Diesel, Judi Dench e Thandie Newton. O universo enfrenta um momento sombrio: todos os planetas estão caindo nas mãos do profano exército dos Necromongers — guerreiros conquistadores que oferecem aos mundos assolados uma simples opção: converter-se, ou, morrer. E, não há esperança de que alguém, ou, algo, possa impedir o controle dos Necromongers. Os poucos que conseguem sobreviver a eles passam a acreditar em mitos e profecias, já que não vêem outra saída de salvação. Quem pode ajudá-los é Riddick (Vin Diesel), um homem solitário que vive exilado e fugindo de seus perseguidores. Estréia nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Censurado para menores de 14 anos.


50 anos de Elvis

No dia 13 de julho de 1954, um garoto de 18 anos, chamado Elvis Aaron Presley, entrou na pequena Sun Records, em Memphis, Tennessee, e, gravou “My Happiness”, para dar de presente à sua mãe. Foi um momento histórico: o dono da Sun era o legendário Sam Philips, que, na época, usava esse pequeno estúdio para gravar músicos regionais, festas, casamentos, batizados, e, quem quer que se dispusesse a pagar pela gravação, como o foi o caso de Elvis. Começava uma jornada de sucesso daquele que seria conhecido como o “Rei”. E para comemorar, que tal, dar uma repassada nos filmes de Elvis, em DVD? Além dos shows, estão disponíveis alguns filmes, como “Garotas! Garotas! Garotas!”, “Meu Tesouro é Você”, “No Paraíso do Hawai”, “Ama-me com Ternura”, “Estrela de Fogo”, “Seresteiro de Acapulco”, e, “Coração Rebelde”. Dê-se a este pequeno prazer, em honra ao Rei.


Filmes de Terror, em DVD

Você é dos que gostam de filmes de terror, mas não quer nada muito antigo? Bem, saiba que os filmes de terror estão em moda desde a invenção do cinema, atingindo grandes públicos, através de figuras como Bela Lugosi, com o seu clássico “Frankenstein”, cuja imagem é copiada até nos quadrinhos infantis. Mas, alguns filmes mais recentes marcaram o seu lugar no hall da fama do Terror, e, agora, estão disponíveis em DVD. Clássicos como “O Massacre da Serra Elétrica”, que inaugurou o mata-mata de adolescentes, a série “Sexta-Feira 13”, com sua dez edições, o interessante “A Hora do Pesadelo”, onde o horror era mesclado com uma mistura de sonhos com a realidade, a quadrilogia “Alien”, a casa mal assombrada de “Amityville”, e o malvado Chucky, de “Brinquedo Assassino”. Não podemos esquecer do sensual “A Hora do Espanto”, ou de “O Exorcista”. Mais recentemente, a série “Pânico” ressuscitou o gênero, junto com “A Bruxa de Blair”, trazendo novos seguidores, para produzir gritos e sustos nos cinemas. Se esta é a sua praia, divirta-se!



Wyatt Earp, em DVD

Já ouviu falar do duelo no OK Corral? Este fato, ocorrido no Velho Oeste americano, foi protagonizado por dois dos mais conhecidos personagens da época: o delegado federal Wyatt Earp e o jogador Doc Holliday. No dia 26 de outubro de 1881, três irmãos da família Earp - Wyatt, Morgan e Virgil -, reforçados pelo dentista-tuberculoso-pistoleiro Doc Holliday, resolveram suas diferenças com Ike e Billy Clanton, Frank e Thomas McLaury, e Bill Brocius. Quando a poeira baixou, trinta segundos depois, havia três mortos, os dois McLaury, e, o mais jovem dos Clanton, Billy. Ike e Brocius tiveram tempo de se mandar. Só de filmes já foram feitos 80 nos Estados Unidos sobre o tiroteio de Tombstone. Um dos melhores exemplares, estrelado por Kevin Costner, Gene Hackman e Isabella Rossellini, chega agora, em DVD. Em edição dupla, além do filme, o disco extra traz: “Novo Documentário”, “Especial de 1994 Para TV: Wyatt Earp”, “Caminhando Com Uma Lenda”, onze Cenas Excluídas, e, Trailer de Cinema. O filme traz formato de tela widescreen e som Dolby Digital. Confira!


Fama, em DVD

Se você pensou que se trata do programa da Globo, errou, mas não tanto. O “Fama” em questão, é um filme de 1980, que trata de um tema semelhante ao do programa. O diretor Alan Parker, de “Mississipi em Chamas”, levou, às telas, a história de oito adolescentes que buscavam uma vaga na Escola de Artes de Nova York. Os estudantes, de diversas origens sociais, confrontam seus sonhos e frustrações no decorrer do curso de uma escola de arte cênicas, mas, acima de tudo, almejam ser amados, e, reconhecidos artisticamente. O filme ganhou dois Oscars, de Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original (“Fame”), e, ainda foi indicado para mais quatro categorias: Roteiro Original, Edição, Som, e, Melhor Canção Original (“Out Here on my Own”). Mantendo o formato de tela widescreen, o disco traz ainda galeria de entrevistas e excursão de Fama.



Filme recomendado: “Além da Eternidade”

História para anjos aprisionados

Lembram daquele filme, que tinha um casal muito apaixonado, aí o sujeito morria, e, voltava, para resolver as coisas? Ah! Tinha ainda uma música dos anos cinqüenta, muito bonita... Se pensaram em “Ghost”, erraram completamente. Estou falando de “Além da Eternidade”, com Richard Dreyfuss, e, Holly Hunter.

Para quem não sabe, este filme é a refilmagem de “A Guy Named Joe”, rodado em 1943, com Spencer Tracy e Irene Dunne, nos papéis principais. É um dos poucos casos em que a cópia fica melhor que o original.

De um filme para o outro, o que foi mudado foi a ambientação. Enquanto a história original acontecia no meio da guerra, “Além da Eternidade” mostra a luta dos bombeiros aéreos, para apagar incêndios nas florestas. Pete ( Richard Dreyfuss) é um piloto afoito, e, apaixonado pelo que faz, enquanto sua namorada Dorinda ( Holly Hunter) vive implorando para que deixe este trabalho perigoso. Numa destas vezes, Pete sofre um acidente, e, morre. Um anjo (Audrey Hepburn, numa de suas últimas aparições no cinema) leva-o de volta ao mundo, para que sirva de inspiração para um jovem piloto. Acontece que o rapaz está apaixonado por Dorinda, o que leva Pete a descobrir a sua real missão: resolver as pendências que deixou, ao morrer.

Este é um filme onde absolutamente tudo deu certo. A história é romântica, e, enternecedora. A dupla principal está afinadíssima, dando um “banho” de interpretação. As paisagens são belíssimas, e, as tomadas dos incêndios florestais, de tirar o fôlego. A música “Smoke Gets In Your Eyes”, grande sucesso de The Platters, de 59, casa lindamente com a história. E, ainda tem o divertido John Goodman fazendo o contraponto cômico do filme.

A comparação com “Ghost” é inevitável, devido às semelhanças entre os dois filmes, apesar de “Além da Eternidade” ter sido lançado um ano antes. A diferença fundamental está no tratamento dado aos personagens, e, à ideologia embutida nos filmes. Em “Ghost”, há uma atmosfera de sensualidade e violência, à flor da pele. Nele o “finado” Swayze investiga, e, vinga o próprio assassinato. Como é americano, branco, bonito, e, louro, vai para o céu, de qualquer jeito. Já o bandido, latino, moreno, e, feio, não escapa de ser arrastado pelas sombras do inferno.

“Além da eternidade” é bem diferente. Lutando contra as chamas infernais dos incêndios, via de regra para salvar os bombeiros, os personagens principais são angelicais. Todos são contidos, e, assexuados. O máximo que se vê são as traquinagens do recém-defunto Dreyfuss, aprontando com o amigo Goodman. Essa caraterística do filme fica visível na cena em que Dorinda, no aniversário da morte do namorado, veste o mesmo vestido branco, virginal, que este lhe presenteara, e, dança, sozinha, ao som de “Smoke Gets In Your Eyes”. Pete dança com ela, sem se tocarem, como anjos que são. Isso poderia ser classificado como piegas, e, quem o fizer, estará coberto de razão. Ridiculamente sentimental, diz o Aurélio, mas, maravilhosamente romântico.

O filme, nessa deliciosa pieguice, traz à tona a parte boa de nossas almas, que fica tão sufocada pelo materialismo desses dias atribulados que vivemos. Entre os ataques terroristas e denúncias de corrupção, deixamos de exercitar a fascinante característica humana de comover-se com o bom, o puro, o ético. Nada menos que a parte anjo, que existe dentro de cada um de nós.

Que tal assistir o filme, com o espírito aberto, sem reprimir as emoções, deixando aflorar o que quer que seja? Muitas vezes, precisamos usar a desculpa do filme água-com-açúcar, para liberar emoções aprisionadas. Vai ver que valerá à pena.

A edição latina em DVD vem com formato de tela Widescreen (graças a Deus!), áudio em inglês (DD 4.1), e, japonês (estéreo), legendas em português, espanhol, inglês, chinês, coreano e tailandês. Como extras, notas de produção, elenco e realizadores.

Algumas curiosidades: este foi o terceiro filme que Spielberg e Dreifuss fizeram juntos (antes houve “Tubarão” e “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”), e, numa prova de que, às vezes a Vida é que imita a Arte, em 1989, houve um grande incêndio no famoso Parque de Yellowstone, cujas cenas foram registradas no filme. Holly Hunter alcançaria sua maioridade dramática pouco depois, com o magnífico filme “O piano”, que lhe rendeu um merecido Oscar.

sexta-feira, 9 de julho de 2004

Claquete 09 de julho de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

As crianças invadem o cinema. Também, pudera, com as férias escolares, a programação está toda voltada para o lucrativo público infanto-juvenil. Além de “Homem-Aranha 2”, que bate até os records de bilheteria do seu antecessor, estréiam, nesta sexta-feria, mais três produções infantis. Maurício de Souza traz seus simpáticos personagens em “Cinegibi, o Filme – A Turma da Mônica”, enquanto a Disney contra-ataca com “Nem Que a Vaca Tussa”, último filme do estúdio produzido da maneira tradicional. Correndo por fora, chega também “Didi Quer Ser Criança”, com Renato Aragão. Continuam em cartaz, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, com as aventuras do bruxinho inglês, “Shrek 2”, com o simpático ogro verde, “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, e, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara. Os dois últimos, só nas sessões a partir de 18h. Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte.


Turma da Mônica: “Cinegibi”

O mais conhecido criador de histórias em quadrinhos do Brasil, Maurício de Souza, lança mais um produto, “Cinegibi, o Filme – Turma da Mônica”. Com suas histórias divertidas, estreladas por Mônica, Cebolinha, Franjinha e seus amigos, “Cinegibi” continua uma tradição que completa quatro décadas. Desta vez, Franjinha decide ler gibis de uma forma diferente, com os quadrinhos em movimento. Para tanto, ele inventa um liquidificador gigante, que engole revistas em quadrinhos, e, as projeta na forma de filmes. Animados com a possibilidade de verem suas aventuras nos quadrinhos no cinema, os personagens da turma da Mônica convidam amigos da vida real e se preparam para a grande estréia. Além dos personagens, o filme conta também com a participação de Luciano Huck, Fernanda Lima, Wanessa Camargo, a dupla Pedro e Thiago, e, o próprio quadrinista Maurício de Sousa. “Cinegibi” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom.


Nem Que a Vaca Tussa

Os Estúdios Disney lançam mais um desenho nos cinemas, com sabor de despedida. “Nem Que a Vaca Tussa” é o último filme em desenho tradicional, já que as próximas produções serão em computação gráfica. A fazenda Caminho do Paraíso está em pânico, pois uma ação de despejo ameaça acabar com o local. Temendo ir para o matadouro, os animais da fazenda decidem ajudar a dona a conseguir a quantia necessária para pagar a hipoteca. O alvo escolhido pelo grupo é o perigoso bandido Alameda Slim, que tem uma grande recompensa reservada para quem capturá-lo. Na dublagem brasileira, as vozes de Fernanda Montenegro, Cláudia Rodrigues e Isabela Garcia. Estréia nesta sexta-feira, no Cine 3 do Moviecom.

Didi Quer Ser Criança

Didi (Renato Aragão) trabalha como provador de balas em uma pequena fábrica de doces tradicionais. Eles estão sob a forte concorrência de uma outra fábrica, que produz doces usando corantes e ingredientes artificiais, que fazem mal às crianças. Além disso, a pequena fábrica, em que Didi trabalha, enfrenta a mídia da concorrência, que produz comerciais voltados para as crianças. Apesar de tentar convencê-las de que balas com ingredientes artificiais fazem mal, elas não ouvem Didi, já que criança não ouve adulto. À noite, Didi pede ajuda aos santos Cosme (Rafael de Castro) e Damião (Daniel de Castro), e, tem seu desejo atendido, na figura de dois homens maltrapilhos, a quem Didi ajuda. Eles dão a Didi um saco de balas mágicas, que têm o poder de transformar quem as come em criança. É a grande chance que Didi esperava para poder, enfim, convencer as crianças a rejeitar as balas artificiais, e, recuperar o espírito de Cosme e Damião. “Didi Quer Ser Criança” estréia nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom.



O Carteiro e o centenário do Poeta

Se estivesse vivo, Neftalí Ricardo Reyes Basoalto completaria 100 anos, no próximo dia 12 de julho. Antes de afirmar que não conhece ninguém com este nome, saiba que, assim foi batizado aquele que o mundo conheceria como Pablo Neruda. Dono de uma extensa obra, pela qual ganharia o prêmio Nobel de Literatura, Neruda foi diplomata e senador da república. Comunista, indispôs-se contra o governo de González Videla, sendo perseguido pelo regime. Chegou a ser candidato à presidência do Chile, mas renunciou em favor de Allende, que foi derrubado por Pinochet. Neruda morreu em 1973, doze dias depois da deposição de Allende. Um belíssimo filme, que tem Neruda como tema é “O Carteiro e o Poeta”, disponível em VHS e DVD. Por razões políticas, o poeta Pablo Neruda (Philippe Noiret) se exila em uma ilha na Itália. Lá, um desempregado (Massimo Troisi), quase analfabeto, é contratado como carteiro extra, encarregado de cuidar da correspondência do poeta, e, gradativamente, entre os dois se forma uma sólida amizade. Ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora - Drama, além de ter sido indicado em outras quatro categorias. Numa coincidência trágica, o ator que fez o carteiro, Massimo Troisi, morreu um dia após o término das filmagens.



Adeus, Brando!

Esta coluna não poderia deixar de homenagear Marlon Brando, um dos mais talentosos atores de todos os tempos, que abandonou os palcos da vida, após 80 anos de uma relação de amor e ódio, com a Arte, e, com o mundo. Polêmico e rebelde, ganhou dois Oscars, e, foi indicado para outros seis. Outras tragédias marcaram sua vida. O filho mais velho, Christian, assassinou o namorado da irmã, Cheyenne, que suicidou-se em 95. Dizia-se que estava praticamente falido, ao morrer. Para rever alguns de seus melhores momentos, uma pequena lista: “Uma Rua Chamada Pecado”, “O Selvagem”, “Sindicato de Ladrões”, “A Casa de Chá do Luar de Agosto”, “Motim a Bordo”, “Queimada”, “O Chefão”, “O Último Tango em Paris”, e, “Apocalipse Now”, que teve uma versão ampliada, lançada recentemente, em DVD.


O Colar e a Revolução

Na próxima quarta-feira, dia 14 de julho, comemora-se a Revolução Francesa, comemorada no dia da queda da Bastilha. Muito falada, mas, pouco conhecida, a revolução germinou em meio às intrigas palacianas na corrupta corte do rei Luis XVI. Baseado em fatos verídicos, o filme “O Enigma do Colar”, de 2001, conta um pouco desta história. Jeanne de la Motte-Valois (Hilary Swank) perdeu título de nobreza, e, a casa da família, ainda muito criança. Casou-se, sem amor, com um nobre, apenas pelo título, após tentar, de todas as maneiras legais, reaver ser direito de nascimento. Quando nada mais dá certo, ela se alia ao amante e ao marido, em um intricado plano para roubar um colar precioso, e, comprar de volta o que é seu. Em meio a intrigas e romances, o escândalo desencadeia a derrocada da monarquia francesa. O DVD traz inúmeros extras, como Trailer de Cinema, Making Of, comentário do Diretor, Por Trás das Câmeras: O Enigma do Colar, e, Cenas Adicionais com Comentários.


O Nome da Rosa, em DVD

Antes que alguém diga que já tem este disco, saiba que está sendo lançada uma nova edição, com formato de tela widescreen e som DD 5.1, bem diferente da versão que chegou a ser vendida em bancas. A história, baseada no famoso romance de Umberto Eco, passa-se em 1327, quando o monge franciscano William de Baskerville (Sean Connery), e, Adso von Melk (Christian Slater), um noviço que o acompanha, chegam a um remoto mosteiro no norte da Itália. Baskerville e outros monges participam de um conclave, para decidir se a Igreja deve doar parte de suas riquezas, mas, a atenção é desviada por vários assassinatos, que acontecem no mosteiro. O monge começa a investigar o caso, que se mostra bastante intrincado, além dos demais religiosos acreditarem que se trata de obra do Demônio. William de Baskerville não partilha desta opinião, mas, antes que ele conclua as investigações, Bernardo Gui (F. Murray Abraham), o Grão-Inquisidor, chega no local, e, está pronto para torturar qualquer suspeito de heresia que tenha cometido assassinatos em nome do Diabo. O disco traz como extras os documentários “Uma Jornada Visual com Jean-Jacques Annaud”, e, “O Mosteiro do Crime”. Confira!

Filme recomendado: “Treze Dias Que Abalaram o Mundo”

Treze dias em Camelot


Já dizia Jorge Amado, em sua obra-prima “Os velhos marinheiros”, que a morte tem o poder de apagar pecados cometidos. Se a isso juntarmos as condições trágicas de um assassinato político, o quadro fica ainda mais completo. Por isso tudo é que, até hoje, é cuidadosamente cultivada a imagem de John Fitzgerald Kennedy, como o maior herói da história moderna da América. Centenas de livros e filmes ajudam a manter esta tradição, mas, aos poucos, vão se abrindo alguns clarões, que ajudam a revelar o lado mais obscuro de Camelot. Um destes é “Treze Dias Que Abalaram o Mundo”, que trata do episódio mais marcante do governo Kennedy.

Bem diverso do que o mito estabelece, Kennedy era um incorrigível mulherengo, extremamente ambicioso, que prosseguia o projeto do pai para dominar o poder na América. Junto com o irmão Bob ( Robert Kennedy, que também seria assassinado em 1968), conduzia a presidência como um meio de alcançar as suas metas pessoais. Os dois acreditavam que eram pessoas especiais, não sujeitas às regras que impunham aos demais pobres mortais.

A corrupção e o uso do Estado para fins pessoais era uma longa tradição na família de JFK desde os avós. O pai, Joseph Kennedy, chegou a ser embaixador na Inglaterra graças à amizade com o filho do então presidente Roosevelt. Terminou perdendo o cargo e a chance de concorrer à presidência, por conspirar contra o próprio chefe da nação.

Através de um projeto muito bem definido, John Kennedy iniciou sua carreira, rumo à presidência. O candidato natural era Joe, o filho mais velho, que desapareceu durante a Segunda Guerra. Usando todos os meios, legais e ilegais ao alcance, JFK passou pelo senado, e, finalmente, chegou ao cargo máximo do executivo americano. Para chegar lá, utilizou os serviços de um velho amigo da família, Sam Giancana, mafioso de Chicago. Depois das eleições, muitas acusações de fraude eleitoral em Illinois chegaram ao Departamento de Justiça - que era chefiado por Bob Kennedy. Nenhuma das acusações chegou a ser investigada, obviamente.

As relações de Kennedy com o gângster Giancana incluíram planos para o assassinato de Fidel Castro e uma amante comum, Judith Exner. Segundo a própria, bolsas cheias de dinheiros eram enviadas através dela do presidente para o mafioso ou de empresários californianos para JFK.

Todas as atividades da família Kennedy eram acompanhadas, desde a década de quarenta, por Edgar Hoover, diretor do FBI. Por acreditar que a instituição da presidência era mais importante que o homem que a ocupava, Hoover não impediu que Kennedy se elegesse. Em compensação, a sua recondução como diretor do birô foi um dos primeiros atos do jovem presidente.

Assim como Hoover, o Serviço Secreto também acreditava que tinha que preservar a imagem do presidente - coisa que ele próprio não se preocupava. Algumas vezes, os agentes que guardavam o presidente tinham que fazer milagres, para impedir que a primeira-dama Jackie entrasse na área de lazer da Casa Branca, onde John e Bob faziam divertidas festas, com prostitutas de todos os níveis.

A crise dos mísseis de Cuba foi o grande evento do governo Kennedy. A pequena ilha do Caribe estava atravessada na garganta de JFK, desde abril de 1961. Nessa data, uma brigada de 1400 refugiados cubanos, apoiados pela CIA, desembarcou na Baía dos Porcos, para tentar derrubar Fidel Castro. A desorganização do golpe, aliado à retirada de apoio aéreo - ordenada pelo próprio JFK - resultou na morte de 112 invasores, e, na prisão do restante. Foi um desastre completo.

Em meio a planos mirabolantes, para assassinar o líder cubano, os americanos descobriram, através dos vôos do avião de espionagem U-2, que bases para lançamento de mísseis balísticos estavam sendo montados em Cuba. Os treze dias, que deram o título ao filme, foi o período estimado entre a descoberta e a data em que ficariam prontos para serem usados. Pela versão oficial, Kennedy impôs um bloqueio naval em Cuba e forçou os russos a retirarem os mísseis. Aplausos homéricos.

A história por baixo do pano é um pouco diferente. Mesmo numa época de corrida armamentista, o poderio militar soviético era muito inferior ao americano. Para se ter uma idéia, enquanto os Estados Unidos tinham trezentos lançadores de mísseis, os russos teriam no máximo quarenta e quatro - já contando com os de Cuba.

No seu ódio irracional para com os cubanos, Kennedy bravateava numa posição de valentão, enquanto corria desesperadamente junto com o irmão Bob para uma solução negociada. Para isso, utilizaram até os serviços de um agente da KGB, passando por cima dos canais diplomáticos formais.

Ninguém queria uma guerra nuclear, mas, acima de tudo, Kennedy queria a reeleição. Por isso, mesmo tendo feito um acordo com Khrushchev, o líder da União Soviética, manteve a propaganda de valentão do mundo. Pelo acordo, os mísseis soviéticos seriam retirados de Cuba em troca de mísseis americanos na Turquia, e - o mais importante - a garantia de que a ilha de Fidel jamais sofreria uma invasão dos Estados Unidos. Os cubanos foram os grandes vencedores da crise dos mísseis.

Para o mundo, o que se via era a véspera de um holocausto nuclear. A frota do Comando Aéreo Estratégico, com mais de 1400 bombardeiros B-52 e B-47, além de 174 mísseis balísticos intercontinentais, entrou em DEFCON 2, que é o último estágio antes da guerra total. Um oitavo de todos os bombardeiros ficou no ar, durante trinta dias. Mais de cem mil homens foram posicionados na Costa Leste, enquanto que uma força naval com quarenta mil fuzileiros navegava no Caribe e Atlântico Sul. Enquanto isso, do lado soviético, não havia nenhuma atividade que não fosse de rotina.

Como os Kennedy pretendiam se manter pelo menos mais dez anos no poder (com uma reeleição de John, e, depois, a dobradinha Bob-John), é possível que os soviéticos tenham preferido deixar os americanos saboreando uma vitória falsa, ficando com informações que, praticamente, manteriam os Kennedy em suas mãos. Só a morte de John desfez tanto as ambições dos Kennedy como a possível ameaça russa.

O filme “Treze Dias Que Abalaram o Mundo” toca em vários desses pontos delicados, inclusive nas negociatas conduzidas pelos irmãos, mas, evita mostrar o lado mais pessoal de JFK. A história é mostrada pelo ponto de vista do principal assessor de Kennedy, Kenneth O' Donnell, sobre quem pesaram acusações de desvio de dinheiro da campanha de 1964, para uso próprio. Quem vive o papel é Kevin Costner, que já estrelou um outro filme sobre Kennedy, “JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar” onde interpretava o promotor que investigou a morte do presidente. É uma pena que Bruce Greenwood, ator escolhido para o papel de Kennedy, não fosse mais parecido com o próprio. Afinal de contas, é incontestável o charme e o magnetismo pessoal do verdadeiro JFK.

Lamentável mesmo é o descaso que foi dedicado à edição latina em DVD, da Europa Filmes. O formato de tela é Full Screen, o áudio oferece as opções inglês ( 5.1 e 2.0) e português 2.0. Como extras, um making of, legendado em espanhol (!) de treze minutos, que nada mais é do que cenas de bastidores, algumas entrevistas com os atores, trailer e biografias do elenco. Teria sido fantástico se tivesse sido acrescentado alguma coisa a mais sobre os fatos históricos reais.

Apesar de não ter ido mais a fundo na personalidade de JFK, o filme “Treze Dias Que Abalaram o Mundo” é um exercício muito bem feito de cinema. Nele há uma mistura de filme de ação, relato histórico, drama político e reconstituição de época. Afinal de contas, não existe uma verdade absoluta, é preciso que formemos a nossa própria crença a partir do máximo de informações disponíveis. Este filme é uma fonte delas.

domingo, 4 de julho de 2004

Claquete 04 de junho de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que as forças mágicas chegam em todos os lugares do mundo, trazendo a fantasia do mundo de Harry Potter, através do terceiro filme de série, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”. Para prazer de quem é criança no coração, mas gosta de assistir o som original, o Moviecom destinou uma das salas para exibição de cópia legendada. Palmas para eles! E, se o mundo das bruxarias e seres fantásticos não faz o seu gênero, restam o filme catástrofe “O Dia Depois de Amanhã”, a aventura mitológica “Tróia”, com Aquiles & Cia, a comédia romântica “Como Se Fosse a Primeira Vez”, com Drew Barrymore, o politeratológico “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, e, o drama nacional “Benjamim”, com Paulo José e Cléo Pires. Na outra sexta-feira, acontecem duas pré-estréias, a comédia romântica “Show de Vizinha”, e, do drama nacional “Cazuza – O Tempo Não Para”, ambas no Moviecom. No Filme de Arte, do Cine Natal 1, “Swimming Pool – À Beira da Piscina”.



Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban


Provavelmente, nem a própria Joanne Kathleen Rowling, ou simplesmente J. K. Rowling, imaginaria o alcance que seus personagens teriam, no que se configura como o maior sucesso literário dos últimos tempos. Os cinco livros da série já ultrapassaram os cem milhões de cópias em todo o mundo, e, ainda tem fôlego para mais dois. Como seria de se esperar, o cinema não ficaria de fora deste suculento filão, e, chega agora, aos cinemas do mundo inteiro, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, baseado no terceiro livro da série. Em seu terceiro ano na Escola de Bruxarias de Hogwarts, Harry Potter e seus amigos são avisados de que um perigoso criminoso fugiu da prisão de Azkaban, e, ronda a escola. Para proteger a escola são enviados os Dementadores, estranhos seres que sugam a energia vital de quem se aproxima deles, que tanto podem defender a escola, como piorar ainda mais a situação. Como sempre, seres fantásticos e magias estranhas criam forma nas telas, graças aos fantásticos efeitos especiais. E, o filme conta também com um fantástico elenco de apoio, a começar pelo excelente Gary Oldman, que viverá Sírus Black, o prisioneiro do título. Continuam no elenco, e já trabalhando no quarto filme da série, Daniel Radcliffe (Harry Potter), Emma Watson (Hermione), Rupert Grint (Ronnie), o gradalhão Robie Coltrane (Hagrid) e Alan Rickman (Professor Snape). Este filme é um pouco mais sombrio, não perdendo tanto tempo, como nos dois primeiros, para apresentar os personagens e as situações mágicas do mundo de Hogwarts. Mas, as reações dos que assistiram as pré-estréias tem sido calorosas, já que há uma identidade maior com o público adolescente, com muitas cenas de ação. O filme estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 2 (dublado), e, no Moviecom, nas salas 5 (legendado), 6 e 7 (dublado). Os ingressos podem ser comprados antecipadamente.


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Filme de Arte: “Swimming Pool”

Um belo filme anglo-francês chega aos natalenses, no Filme de Arte do Cine Natal 1: “Swimming Pool – À Beira da Piscina”, com a veterana atriz inglesa Charlotte Rampling (“O Porteiro da Noite”, “Zardoz”). O filme é sobre uma escritora inglesa, madura e desencantada, que, num momento de crise criativa, aceita o convite de seu editor, para passar férias na casa de campo dele, no sul da França. Lá, ela reencontra, não apenas a sua inspiração, mas, também, Julie, a filha do editor. Muito diferentes, os choques não tardam a acontecer, até chegar a um ponto de equilíbrio. Um evento trágico, porém, vai perturbar a vida das duas, culminando com um surpreendente final. A sessão do Filme de Arte é sempre às terças-feiras, às 21h, no Cine Natal1. Quem não quiser esperar, é passar na locadora e alugar o DVD, que foi anunciado nesta coluna, na semana passada. Recomendo.


Pré-Estréia: “Cazuza – O Tempo Não Para”


A vida louca, que marcou o percurso profissional, e, pessoal de Cazuza, do início da carreira, em 1981, até a morte em 1990, aos 32 anos: o sucesso com o Barão Vermelho, a carreira solo, as músicas que falavam dos anseios de uma geração, o comportamento transgressor e a coragem de continuar a carreira, criando e se apresentando, mesmo debilitado pela Aids. A cinebiografia de Cazuza foi dirigida por Sandra Werneck (“Amores Possíveis”), e, Walter Carvalho (“Janela da Alma”). Além de Daniel de Oliveira, que vive o cantor, o elenco conta também com Marieta Severo, Reginaldo Faria, Débora Falabella, Maria Mariana, Leandra Leal, e, Andréa Beltrão. Pré-estréia no dia 10, na Sala 7 do Moviecom, para maiores de 16 anos.


Pré-Estréia: “Um Show de Vizinha”

Também em pré-estréia, a comédia romântica “Um Show de Vizinha”, que conta a história de Matthew (Emile Hirsch), um jovem estudante, que tem planos ambiciosos, e, deseja ingressar na carreira política. Após conhecer sua nova vizinha, Danielle (Elisha Cuthbert), eles se apaixonam imediatamente. Porém a situação se complica quando Matthew, e, boa parte do bairro em que vive, descobre que Danielle foi uma atriz pornô. Comédia besteirol, ao estilo (duvidoso) do adolescente americano. O título nacional perdeu o duplo sentido que tinha o original (“The Girl Next Door”), usado por revistas como Playboy e Hustler. Pré-estréia no dia 10, na Sala 2 do Moviecom, para maiores de 12 anos.



“O Mais Longo dos Dias”, em DVD

Em 6 de junho de 1944, o desembarque dos Aliados na Normandia marcou o início do fim da dominação nazista na Europa. O ataque envolveu 3.000.000 homens, 11.000 aeronaves e 4.000 navios, que compunham a maior armada que o mundo já viu. A superprodução “O Mais Longo dos Dias”, de 1962, que conta uma visão deste histórico dia, chega agora aos cinéfilos, em versão digital. Apresentando um elenco de astros internacionais, e narrado do ponto de vista de ambos os lados, é um olhar fascinante que presencia os enormes preparativos, os erros, e, acontecimentos inesperados, que determinaram o resultado de uma das maiores batalhas da História. Vencedor de dois Oscars (Efeitos Especiais e Fotografia), “O Mais Longo dos Dias” traz um elenco estelar, com John Wayne, Robert Mitchum, Henry Fonda, Robert Ryan, Rod Steiger, Richard Todd, Richard Burton, Robert Wagner, Mel Ferrer, Jeffrey Hunter, Paul Anka, e, Sal Mineo, entre outros. Além do filme, esta edição especial traz um segundo disco, com os documentários “Histórias de Bastidores de Hollywood” e “De Volta ao Dia D”, ambos legendados.


“A Volta ao Mundo em 80 Dias”, em DVD

Um dos mais divertidos filmes de todos os tempos, “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, chega agora ao grande público, em DVD. Entre as inúmeras versões do livro de Júlio Verne, esta, dirigida por Michael Anderson, Kevin McClory e Sidney Smith, foi, de longe, a mais famosa. A história é, por demais, conhecida: um rico inglês, Phileas Fogg, vivido magistralmente pelo saudoso David Niven, aposta 20 mil libras, como conseguiria dar a volta ao mundo em 80 dias. Para acompanha-lo, segue o seu fiel criado Passepartout, encarnado por Cantinflas, cômico mexicano muito popular nos anos 60. Mais adiante, uma jovem Shirley MacLaine completaria o trio, que viveria mil aventuras ao longo do globo, enfrentando desde fanáticos adoradores de Kali, a índios norte-americanos, além de um obstinado inspetor da Scotland Yard. O filme teve participações de muitos outros atores famosos, como Marlene Dietrich, John Carradine, Frank Sinatra e Buster Keaton. Nos próximos meses, chegará aos cinemas uma nova versão, com Jackie Chan no papel de Passepartout.

Filme recomendado: “O Resgate do Soldado Ryan”

Desembarque no mundo real


Sessenta anos atrás, no dia 6 de junho de 1944, o mundo fervia, em plena Segunda Guerra Mundial. Hitler e seus exércitos dominavam toda a Europa Continental, fustigando a Inglaterra com bombardeios incessantes e pagando os pecados na Rússia gelada. Mas, neste dia, apelidado de Dia D, os americanos lideraram a invasão Aliada, numa época em que eles eram os mocinhos, que lutavam contra os nazistas torturadores. Muitos filmes foram feitos sobre este histórico dia, mas um deles pode usar toda a magia dos modernos efeitos especiais, além de um primoroso trabalho de reconstituição histórica. O filme é “O Resgate do Soldado Ryan”, dirigido por ninguém menos que Steven Spielberg.

O que foi o tal "Dia D"?

O filme fala do famoso Dia D e do desembarque na Normandia durante a Segunda Guerra Mundial. Conversando com algumas pessoas mais jovens, constatei uma coisa interessante: poucos sabem o que representou o tal Dia D ou mesmo que diferença tem entre a Segunda Guerra, a Guerra do Golfo ou qualquer outra escaramuça das que vemos todos os dias nos noticiários das tv's. Acrescentarei mais um ingrediente ao bolo de dúvidas: será que qualquer um de nós tem noção do que seja uma guerra de verdade? Acredito que não.

A Segunda Guerra Mundial foi fruto de uma situação peculiar no mundo, onde uma imensa maioria dos países - o nosso, inclusive - era dominado por ditadores fascistas, que através do populismo e pela força de armas haviam conseguido chegar ao poder. Para quem sobrevivera a um infernal início dos anos trinta, quando a economia mundial fora abalada pelo "crack" de 1929, era tranquilizador ter uma situação estável, mesmo com a maioria dos direitos individuais cerceados. Era assim na Alemanha com Hitler, na Itália com Mussolini, na Espanha com Franco, em Portugual com Salazar, na Argentina com Perón, no Brasil com Vargas e tantos outros mais.

A Alemanha foi o maior expoente dessa era. Submetidos a pesadas reparações da Primeira Guerra, passaram por um período negro, que terminou mostrando-se o nascedouro ideal para o surgimento do nazismo. Um retrato desse período está magnificamente exposto em "O ovo da serpente" de Ingmar Bergman.

Metodicamente, Hitler foi estruturando o país para ser uma potência militar. Aproveitando a inércia de quem podia lhe fazer oposição, Inglaterra e França, foi anexando países vizinhos até que a situação chegou ao ponto onde não havia retorno. Em 1939, foi iniciada a guerra de fato. Durante dois anos, a maior parte das atividades concentrava-se na Europa, com a dominação quase total da Alemanha. Só a Inglaterra resistira à invasão alemã, mesmo sendo submetida a bombardeios infindáveis. Com o ataque do Japão a Pearl Harbour em 1941, os Estados Unidos entraram oficialmente na guerra, participando também das operações na Europa.

Em 1944, apesar de já ter mudado radicalmente a situação ( a Itália capitulara), a França e países vizinhos continuava ocupada pelos alemães. Um grande desembarque foi planejado e era previsto por todos, embora não se soubesse o dia e local exatos. A importância disso era o posicionamento das defesas alemãs, comandadas pelo grande general Rommel, que fizera uma brilhante campanha no norte da África, sendo conhecido como "Raposa do deserto". Contando com menos recursos, ele teria que deslocar parte das tropas de um ponto para outro em função do ataque.

No dia 6 de Junho de 1944, foi feito o desembarque na Normandia. Imaginem que a invasão é em Natal. As lanchas de desembarque trazem os soldados até próximo da Praia dos Artistas, onde existe uma infinidade de obstáculos, arame farpado, minas, etc. Trinta metros acima, na Av. Getúlio Vargas, estão as casamatas de concreto alemãs, com canhões, morteiros, metralhadoras de grosso calibre, lança-chamas, etc. Os soldados, ao desembarcar, precisam enfrentar o pesado fogo inimigo durante mais de cem metros, antes de poder disparar um tiro que faça algum efeito.

Só no primeiro desembarque, as forças aliadas tiveram 2400 baixas, contra 1200 dos alemães. Contudo, como a capacidade de substituição aliada era maior, a invasão teve êxito. Ao final do dia 06 de junho, 34 mil soldados já tinham desembarcado.

Apesar de ter sido decisivo, o desembarque da Normandia não significou o final da guerra. Vários meses ainda se passaram com sangrentos combates e pesadas baixas para ambos os lados. A Alemanha capitulou em 7 de Maio de 1945, enquanto que o Japão resistiria até 02 de Setembro, sendo dobrado pela força arrasadora de duas bombas atômicas.

A guerra provocou a morte direta de cinqüenta milhões de pessoas e praticamente arrasou os lugares onde aconteceram os combates.

O filme

Em "O resgate do soldado Ryan" é possível ter uma idéia do que foi o desembarque da Normandia e os dias que se sucederam. Ao contrário de muitos outros filmes sobre a segunda guerra, que davam uma visão muito arrumadinha, "Ryan" mostra que uma guerra é um processo lento, sujo e doloroso.

Foram feitos mais de quinhentos filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, inclusive "O mais longo dos dias", que trata do desembarque da Normandia. Infelizmente, como tantos outros, mostra uma guerra asséptica, onde os heróis passeiam e não desmancham nem o penteado. As mortes são românticas e rápidas, os movimentos são organizados, as situações se resolvem rapidamente, os prisioneiros de guerra são bem tratados... Pura balela, dizem os veteranos de combate. Toda situação de guerra é degradante, obscena, caótica e selvagem. O Dia D foi tudo isso e muito mais.

Como diz o personagem de Tom Hanks, "tenho medo de voltar para casa e minha mulher não me reconhecer, devido a tudo o que fiz na guerra..."

Para conseguir o realismo que o diferencia dos outros filmes, Spielberg mostra a ação do ponto de vista dos soldados. Os que estão desembarcando vêem os colegas serem metralhados a todo instante. Da casamata alemã vê-se a devastação que a metralhadora fazia, massacrando os homens que avançavam pela praia.

A grande fonte de inspiração para as cenas do desembarque foram as fotos de Robert Capa, o mais famoso correspondente de guerra, que efetivamente participou das ações na Normandia, armado unicamente com suas câmeras.

A trama do filme é baseada num fato real, a história dos irmãos Niland, do estado de New York. Os quatro irmãos, com idade variando entre vinte e trinta e cinco anos alistaram-se voluntariamente e partiram para a guerra. Dois deles morreram no Dia D, enquanto um outro foi dado como morto em Burma ( antiga Birmânia). Fritz Niland foi localizado na Normandia por um capelão do exército, Reverendo Francis Sampson, e retirado da zona de combate. Após o término da guerra, o Niland desaparecido foi encontrado, tendo sobrevivido a um campo de prisioneiros dos japoneses.

Na ficção, o capitão John Miller ( vivido por Tom Hanks) recebe a missão de encontrar e trazer de volta o soldado Ryan, último sobrevivente de quatro irmãos que estavam na guerra. Ao fazer isso, com um grupo de oito homens, enfrenta um franco-atirador alemão, trava uma pequena batalha numa estação de radar e finalmente encontra o homem procurado, para descobrir que este recusa-se a abandonar o posto.

Resolvido a só voltar com o rapaz, o capitão Miller organiza a resistência de um pequeno vilarejo cuja ponte é de valor estratégico para os alemães. Com poucos recursos humanos e materiais, Miller tem que usar toda a sua experiência de combate para cumprir a missão quase suicida.

A batalha no vilarejo é eletrizante, embora numa ótica diferente do desembarque. Aqui já se cai um pouco no lugar-comum dos filmes de ação, com os heróis atravessando incólumes chuvas de balas, enquanto os inimigos caem como moscas. Mesmo assim, são mostradas as reações humanas comuns num anbiente desse: heroísmo, desprendimento, covardia, auto-imolação, etc.


O DVD

Confesso que esperava muito mais da edição em DVD. Como não poderia deixar de ser, o formato de tela é widescreen, pois de outra forma seria difícil acompanhar todo o envolvimento do filme. O áudio oferece as opções inglês DD 5.1 e português e espanhol 2.1. As legendas estão disponíveis em inglês, português e espanhol. A grande decepção ficou por conta dos extras.

Conforme estava anunciado, veio um disco com o filme e um outro com os extras. Nesse, veio apenas um documentário "Into the breach" com 25 minutos de duração, notas de produção e elenco, trailer original e trailer do relançamento. Para o que se anunciava que viria "recheado de extras", me parece muito, muito pouco. "Ben-Hur" é mais longo do que "O resgate do soldado Ryan", tem o mesmo formato e tipo de som e veio com um documentário de uma hora de duração. Ou a Dreamworks está fazendo muito barulho por nada ou logo adiante sairá uma edição para coleciador.

Mesmo assim, para quem não viu no cinema ou quer revê-lo com mais atenção aos detalhes, esta edição em DVD está muito bem produzida, permitindo ao espectador manter o mesmo nível de tensão das salas de cinema. Veja e faça seu próprio julgamento.

sexta-feira, 2 de julho de 2004

Claquete 02 de julho de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Férias, para que te quero. Com estudantes em férias, e, chuva à vontade, o velho chavão continua verdadeiro: “Cinema é a melhor diversão”. Com a programação muito voltada para o público infanto-juvenil, sobra pouco para os adultos. A estréia da semana é “Homem-Aranha 2”, que abre em cinco salas em Natal, pela primeira vez, com cópias dubladas e legendadas, nos dois shoppings. Se ver as estrepolias do Homem-Aranha não está nos seus planos, o jeito é conferir “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, com as aventuras do bruxinho inglês, “Shrek 2”, com o simpático ogro verde, o ótimo “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara, e, “Pelé Eterno”, sobre o maior jogador de futebol de todos os tempos. Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte.



“Homem-Aranha 2” estréia nos cinemas

Mesmo duramente criticado pelos fãs, o filme original do “Homem-Aranha”, de 2002, conseguiu as maiores bilheterias de sua época, superando 800 milhões de dólares, em todo o mundo. A continuação, “Homem-Aranha 2”, promete despertar o mesmo interesse, apesar dos comentários maldosos sobre sua masculinidade, já que preferiu a vida de super-herói, aos braços de sua amada. Com o mesmo elenco (e cachês bem mais polpudos), o herói aracdíneo chega com novas aventuras. Após derrotar o Duende Verde, a vida de Peter Parker (Tobey Maguire) muda por completo. Temendo que Mary Jane (Kirsten Dunst) sofra algum risco, por ser ele o Homem-Aranha, Peter continua escondendo o amor que sente, manténdo-se longe dela. Ao mesmo tempo, precisa lidar com Harry (James Franco), seu melhor amigo, cuja raiva pelo Homem-Aranha aumenta cada vez mais, por considerá-lo como sendo o assassino de seu pai. Além disso, sua tia May (Rosemary Harris) passa por uma fase difícil, após a morte do tio Ben, estranhando, também, o comportamento do sobrinho. Enquanto precisa lidar com seus problemas particulares, Peter recebe ainda uma má notícia: o surgimento do Dr. Octopus (Alfred Molina), um homem que possui tentáculos presos ao corpo. O sucesso do Homem-Aranha junto ao público, talvez só se explique, por ser ele o mais “humano”, dos super-heróis, já que tem que enfrentar problemas financeiros, chefe exigente, e, outros percalços que um trabalhador está habituado. Bem, o Batman não tem poderes, mas, como é milionário, não está enquadrado no gênero “humano”. “Homem-Aranha 2” estréia nesta Sexta-feira, em cinco salas, nos dois shoppings, com cópias dubladas e legendadas (maravilha!).



“Homem-Aranha”, em DVD especial


Pegando carona na estréia de “Homem-Aranha 2” nos cinemas, foi lançada uma edição especial, em DVD, do filme original. O box traz três discos, repletos de extras sobre o filme de 2002, além de teasers sobre a continuação e games do herói aracnídeo. Os discos trazem comentários em áudio, making of, documentários diversos sobre os quadrinhos, videoclipes, trailers, filmografias, especiais da HBO e da E!, além de documentários sobre a seqüência, “Homem-Aranha 2”. É pena que, mesmo trazendo tanta coisa, os produtores mantiveram o infame formato em tela cheia, mutilando a fotografia original. Mas, para os fãs de carteirinha, esta edição especial deve valer cada centavo, para ostentá-la em sua videoteca.


Animes japoneses, em DVD

Os fãs de animes japoneses têm, à sua disposição, dois novos títulos, de autores consagrados. Um deles é “Memories”, do mestre da animação Katsuhiro Otomo (Akira, Roujin Z), com três histórias deslumbrantes. “Magnetic Rose”, fala sobre dois viajantes espaciais que, seguindo um sinal, acabam sendo levados para um mundo magnífico criado pelas memórias de uma mulher. “Stink Bomb”, mostra um jovem químico, que, acidentalmente, transforma-se em uma arma biológica, pronta para atingir Tóquio. “Cannon Fodder” mostra um dia da vida de uma cidade, que tem como único propósito disparar canhões em inimigos desconhecidos. O outro título é “Tokyo Godfathers”: Em Tóquio, as vidas de três mendigos são transformadas para sempre, quando eles encontram uma bebezinha, abandonada no lixo, em plena véspera de Natal. Com o Ano Novo se aproximando, os três esquecidos membros da sociedade se juntam, para desvendar o mistério do abandono da criança, e, o destino dos pais. Confira.


Irmãos Marx, em DVD

Já ouviu falar nos irmãos Marx? A menos que tenha mais de sessenta, a chance é pequena. Mas, os irmãos Marx fizeram tremendo sucesso nas décadas de 30 e 40, inaugurando a comédia pastelão. Numa justíssima homenagem aos hilariantes Groucho, Chico e Harpo Marx, foi lançado agora, em DVD, uma seleção dos melhores filmes do grupo. O box traz cinco DVDs, com seis filmes: “Uma Noite na Ópera”, “Um Dia Nas Corridas”, “Os Irmãos Marx no Circo”, “Uma Noite em Casablanca”, “A Grande Loja”, e, “No Tempo do Onça”. Além dos filmes, o box traz ainda muitos extras do trio, como documentários, trailers de cinema, desenhos animados clássicos, e, muitos outros. Já às vendas, nas lojas online.



Abertas as incrições para o Festival do Rio 2004

Atenção, cineastas potiguares! Quem quiser participar da Premiére Brasil do Festival Rio 2004, tem até o dia 23 de julho, para inscrever sua obra. O Festival acontece entre 23 de setembro e 7 de outubro. Podem ser inscritos filmes produzidos entre 2003 e 2004, com cópias em 35mm, 16mm, beta digital, ou, HD, sendo aceitas cópias de trabalho, para a etapa de seleção. Serão concedidas oito premiações, sendo cinco pelo Júri Oficial, e, três pelo voto popular. Os interessados em participar devem entrar em contato com Mariana Pinheiro, através do telefone (21) 2539-1505, ou, pelo e-mail eventos@estacaovirtual.com.


Curta o curta, no Portacurtas Petrobras

Já ouviu falar do Portacurtas Petrobras? Não, não se trata de uma porta pequena, mas, de um site na internet, patrocinado pela estatal, onde estão disponíveis inúmeros curtas-metragens, sendo necessário apenas cadastrar-se online. Para assistir aos curtas, basta ter o plug-in Windows Media Player, na versão 9, que pode ser “baixado” no próprio site. Entre as novidades, “Marina”, dirigido por Isabel Diegues, cinco episódios da série “Som da Rua”, produzida pela Tv Zero, e, “Uma Estrela para Ioiô”, com a lindinha Mariana Ximenes. Confira, em www.portacurtas.com.br/.


Diga NÃO ao piratão

Infelizmente, está se tornando comum, em todas as cidades do Brasil, a venda aberta de filmes piratas, muitas vezes, quando este acabou de ser lançado nos cinemas. Sem entrar no mérito dos direitos autorais, quem compra um filme destes, além de contribuir para a contravenção, está sendo lesado. Primeiro, porque muitas vezes, o que está levando para casa é um videocd, com qualidade inferior até ao VHS. Se é em DVD, além do risco de incompatibilidade com o seu player, estará levando uma cópia com imagem de péssima qualidade, filmada com uma câmera portátil dentro de um cinema. O som, então, é abaixo da crítica. Se o filme lhe interessa, não se precipite. É só ficar atento, que, cedo ou tarde, entrará numa promoção de vendas, a um preço melhor. Mas, não alimente o pirata.

Filme recomendado: “Febre da Selva”

Desfile de Preconceitos


Andando por vários lugares em Porto Alegre, deparei-me com jovens fumando, abertamente, alguns cigarros meio esquisito, o que me lembrou muito o filme de Spike Lee, “Febre da Selva”, numa prova de que, às vezes, é a Vida que imita a Arte. Mas, além da problemática das drogas, “Febre da Selva” fala bastante de preconceitos. Isso nos deixa felizes, por viver no Brasil, onde a mistura de raças é um valor, e, essa triste realidade não existe. Verdade? Bem, como diria minha avó, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. “Febre da Selva” não trata só de discriminação racial, e, de intolerâncias, o Brasil está cheio até o gargalo. Mas, vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.

“Febre da Selva” conta a história dois jovens, Flipper (Wesley Snipes), e, Angie (Annabella Sciorra), que vivem uma sofrida história de amor, na selva urbana de New York. Flipper é um jovem e bem sucedido arquiteto negro, que mora no Harlem com a mulher e uma filhinha. Do tipo certinho, Flipper segue, todos os dias, de casa para o trabalho, um importante escritório de arquitetura, onde percorreu, com sucesso, todos os postos e atribuições posssíveis. É lá que conhece Angie, uma ítalo-americana, que é contratada para serviço administrativo temporário. Após um longo período trabalhando juntos, os dois apaixonam-se, e, vivem um tórrido romance, alheios às diferenças entre os dois.

Cientes de que viviam uma aventura proibida, os dois resolvem manter suas vidas como estão, ele, com a família, ela, com um antigo namorado. Contudo, indiscrições de ambas as partes precipitam as coisas, e, os dois vêem-se forçados a deixar suas casas, para morar juntos. Mesmo sendo adultos, livres, e, financeiramente independentes, os dois são submetidos a um festival de intolerância, que vai de mau atendimento nos restaurantes, à rejeição de ambas famílias, passando até por revista da polícia. A capacidade dos dois de resistir às pressões, só vai até o limite do que realmente sentem pelo outro.

Este filme trata de preconceitos. Discriminação no trabalho, cultural, social, religiosa, sexual, e, obviamente, racial. É uma acusação mútua de racismo, quando Flipper exige uma secretária afro-americana, e, o chefe contrata uma ítalo-americana. É o italiano moreno, que reclama do americano louro e WASP. É reclamação das negras, de que os próprios negros preferem as negras mais claras. É reclamação dos brancos, de que os negros “invadiram” os esportes. É discriminação contra os mestiços, por estar enfraquecendo a raça. E, por aí vai.

Engana-se, quem pensa que o preconceito denunciado é só o racial. Substitua-se “negro” por “pobre”, “velho”, “índio”, e, tantas outras classificações, que o resultado será idêntico. Transportemos o casal para o Brasil, sendo Flipper um homem maduro (de qualquer raça), e, Angie uma mulher bem mais jovem. A menos que o cidadão seja um homem rico e influente, a rejeição será a mesma observada no filme. Não são poucas as pessoas que torcem o nariz para o casal Marília Gabriela x Gianecchini, ou, para as louras que casam com pagodeiros, e, jogadores de futebol.

Um preconceito é um pré-conceito, ou seja, um julgamento de valor, fundamentado em conceitos preconcebidos. Spike Lee foi muito feliz, ao perceber, e, mostrar, através de seus personagens, não só o alienado Flipper, como a mulher, recalcada por ser mestiça, o pai, pastor, que vê o demônio em tudo, menos em seu próprio passado, e, tantos mais. Verdadeiro mesmo, só o irmão de Flipper, viciado em crack, vivido magistralmente por Samuel L. Jackson. Numa de suas falas mais antológicas, ele diz para a mãe: “Mãe, eu fumei a maldita televisão!”.

Num filme que trata de relações entre as pessoas, a atuação do elenco é fundamental. Wesley Snipes, apesar de estrelar mais filmes de ação, está muito bem, assim como a, então, novata, Annabella Sciorra, que estrelaria vários filmes a partir deste. Eles dão vida ao casal central, transportando para o espectador a sofrida relação dos dois. Além deles, tem também o já citado Jackson, John Turturro, como o namorado de Angie, Ossie Davis, como o Bom Reverendo, o brilhante Anthony Quinn, como o pai de Turturro, o próprio Spike Lee, como o amigo indiscreto de Flipper, e, a gatíssima Hale Berry, anos-luz antes de ganhar o Oscar de Melhor Atriz, em 2002.

Apesar do filme tratar de preconceitos, não o fez como simples denúncia, mas sim como constatação dos fatos. O que faz – ou deixa de fazer – a diferença, é a atitude das pessoas. Como o personagem de Turturro, que, literalmente, enfrenta os amigos, para viver o que acredita, enquanto que o Romeu negro desiste de enfrentar as barreiras, preferindo a acomodação. “Você só tinha curiosidade, como eu...”. Ou, do fanático reverendo, que resolve combater o demônio com algo mais que pregações. Palmas para Angie, a corajosa da história, e, palmas para Lee, por ter levado às telas este belo poema de amor e ódio, decepção e resignação, aceitação e atitude.