terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Coluna Claquete - Filme da Semana: "Eu, Tonya"






Newton Ramalho

 

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Filme da Semana: “Eu, Tonya”

Glória no gelo, desastre na vida

É difícil que alguém que tivesse mais de dez anos em 1994 não tenha tomado conhecimento, ou pelo menos ouvido falar em Tonya Harding. Este foi um caso onde a esmagadora maioria da opinião pública conheceu, julgou e condenou, mesmo antes de qualquer decisão dos tribunais. E é essa a história que o diretor Craig Gillespie trouxe às telas em “Eu, Tonya” (“I, Tonya”, EUA, 2017).
Poucas vezes na história um crime envolvendo um esportista foi tão divulgado quanto o ataque à patinadora Nancy Kerrigan, em 1994, e onde todas as suspeitas apontavam diretamente a Tonya Harding, sua colega na equipe olímpica americana e principal rival na patinação artística no gelo.
Mesmo aqui no Brasil, a milhares de quilômetros de distância, ficamos indignados com o ataque, e com uma grande ansiedade para a prenderem a culpada, pois em nossas cabeças, Tonya já tinha sido condenada. Esse foi o primórdio dos dias atuais, quando uma postagem no Facebook já tem mais peso que a sentença de um juiz.
Tonya, vivida no filme pela australiana Margot Robbie, teve uma infância pobre e infeliz, marcada pelo abandono do pai e a disciplina severa da mãe, que a fez praticar patinação artística desde uma idade em que estaria brincando de bonecas.
A relação entre elas continuou ruim o resto da vida, e quando a moça casou com Jeff Gillooly (Sebastian Stan), em 1990, recebeu da mãe a observação de que “a gente transa com idiotas, não casa com eles”.
Tonya era desbocada, briguenta, competitiva e sexualmente ativa desde cedo, aspectos que não combinavam com um dos esportes mais tradicionais, que primavam pela imagem da mulher fina e delicada. Por outro lado, era uma patinadora extremamente talentosa e aguerrida, conquistando marcas impressionantes. Ela foi a segunda mulher no mundo, e a primeira americana a executar a difícil manobra triple axel.
Os problemas de Tonya ficaram maiores após o casamento com Jeff, um parasita violento e irresponsável, que terminou levando-a ao fundo do poço, mesmo já estando separados.
Em 1994, quando Tonya e Nancy Kerrigan (Caitlin Carver) disputavam para ser a patinadora número um dos Estados Unidos, esta última foi atacada por um agressor com um bastão telescópico no joelho, e embora tivesse ficado bastante machucada, não sofreu fraturas ou lesões incapacitantes.
A investigação conduziu ao atacante Shane Stant (Ricky Russert), ao guarda-costas de Tonya, Shawn (Paul Walter Hauser), e ao próprio Jeff Gillooly. Embora até hoje Tonya afirme desconhecer o plano, ela também foi implicada no caso, e graças às peculiaridades da justiça americana, declarou-se culpada para livrar-se da prisão.
O filme conta toda essa história intercalando arquivos de época com os personagens reais, entrevistas com vários deles, e a história romanceada vivida pelos atores. Mas, o que chama a atenção no filme é a montagem excepcional, que traz um senso de humor impensável para uma história tão séria. Não é para menos que o filme está concorrendo ao Oscar nesta categoria.
O outro ponto forte do filme é a interpretação do elenco, principalmente Margot Robbie e Allison Janney, vivendo os papéis principais. As duas também estão concorrendo ao Oscar, nas categorias Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante, respectivamente. As duas atrizes já ganharam oito premiações cada, além de dezenas de indicações pelos papéis.
Embora bastante criticado por jornalistas que acompanharam o caso na época, “Eu Tonya” traz uma perspectiva diferente, e mostra que muitas vezes o massacre da mídia pode ser extremamente cruel, independente de alguém ser ou não culpado.
O filme merece ser visto até pela interessante mistura de ficção e documentário, além de instigar a curiosidade para saber mais sobre o que teria sido um dos maiores escândalos da história do esporte – pelo menos, naquela época.

Título original: “I, Tonya”


sábado, 27 de janeiro de 2018

Coluna Claquete - Filme da Semana: “Viva – A Vida é uma Festa”




Uma ponte de flores

Confesso que fiquei curioso quando soube que um dos finalistas de Melhor Animação do Oscar 2018 era um filme infantil sobre um menino que se relacionava com os parentes mortos. A curiosidade aumentou ao saber que o filme em questão, “Viva – A Vida é uma Festa” (“Coco”, EUA, 2017), era dos Estúdios Disney.
Minha curiosidade centrava-se em como o filme abordaria a morte, um poderoso tabu na civilização cristã-ocidental. Mas, estamos falando do México, detentor de uma cultura que encara a morte de uma maneira bem diferente – e isso já se nota nos primeiros segundos do filme, com a tradicional música de abertura da Disney no ritmo dos mariachis.
O protagonista do filme é Miguel (voz de Anthony Gonzalez), um menino de 12 anos que nos apresenta a história de sua família. Quando o trisavô abandonou a família para dedicar-se à profissão de cantor, sua mulher, Imelda (Alanna Ubach) dedicou-se à fabricação de sapatos e passou a abominar a música, duas tradições que foram mantidas pela família.
O problema é que Miguel é louco por música, principalmente porque um dos maiores cantores de todos os tempos, Ernesto de La Cruz (Benjamim Bratt), também era um rapaz pobre de sua cidade, antes de alcançar o estrelato.
No Dia dos Mortos, tradicionalmente uma das maiores e mais alegres festividades do México, além de celebrar a lembrança dos antepassados mortos, havia um concurso de música na cidade, e Miguel queria participar dele a todo custo.
Depois que a avó descobre suas intenções e quebra seu improvisado violão, ele precisa conseguir um outro instrumento para entrar no concurso. Por achar que Ernesto de la Cruz era seu amaldiçoado trisavô, decide roubar o violão do túmulo do cantor, o que o transporta para o mundo dos mortos.
Graças aos parentes mortos, que procuram proteger seu descendente, ele descobre que a única maneira de voltar ao mundo dos vivos é através da benção de um parente morto. O problema é que quem terá que fazer isso é a trisavó Imelda, que só admite fazê-lo se ele renunciar à música para sempre!
Revoltado, Miguel foge dos parentes para procurar Ernesto de la Cruz, e para isso conta com a ajuda relutante de Héctor (Gael García Bernal), um morto malandro que tenta a todo custo visitar a filha, pois corre o risco de desaparecer para sempre.
Enquanto escapole dos parentes, Miguel recebe a ajuda de Héctor para cantar, e assim conseguir chegar à suntuosa festa de Ernesto de la Cruz. Muitas idas e vindas acontecem, e quando o encontro com o seu ídolo se revela decepcionante, Miguel descobre segredos de sua família que nunca imaginara antes.
Embora trate de um tema pesado, a morte, o filme é de uma beleza incrível, alegre e divertido, sem nunca trazer aspectos sombrios dos filmes de terror. Os aspectos mais sombrios ficam mesmo por conta de atitudes iguais ao mundo dos vivos, como a ambição, a crueldade e a indiferença.
Como foi dito acima, dificilmente essa história seria verossímil em outra cultura que não a mexicana. Provavelmente por suas tradições ligadas à cultura asteca, onde a morte era encarada com naturalidade, e embelezada por visões que a relacionavam com a natureza.
Na visão do filme não existem céu e inferno, já que todos vão para o mesmo lugar, e o assassino e a vítima parecem ter o mesmo status que tinham no mundo dos vivos, sem qualquer castigo ou recompensa por atos cometidos anteriormente. O maior medo dos mortos é o esquecimento pelos vivos, já que assim desaparecerão para sempre. No Dia dos Mortos, uma ponte de flores une os dois mundos, unidos através das lembranças.
Tecnicamente, como todos os filmes da Pixar, “Viva – A Vida é uma Festa” é impecável, merecedor dos mais de cinquenta prêmios que já ganhou, e fortíssimo concorrente ao Oscar de Melhor Animação.
O filme traz muitas referências ao cenário artístico-cultural mexicano. Dentre os mais visíveis estão o astro de luta-livre Santo, o comediante Cantinflas, o ator Pedro Infante, o cantor Jorge Negrete, a pintora Frida Kahlo, o líder revolucionário Emiliano Zapata, e a atriz María Félix. Mas, segundo o diretor Lee Unkrich, existem outras figuras importantes escondidas no filme.
O título do filme implicou em algumas coisas curiosas. Inicialmente foi pensado como “Día de los Muertos”, mas isso podía gerar problemas com a comunidade mexicana, já que o termo se tornaria propriedade da Disney. Assim, foi adotado o nome “Coco”, que era o apelido da bisavó de Miguel, que deveria se chamar Socorro. Para o Brasil, no entanto, o título foi mudado para “Viva – A Vida é uma Festa”, assim como nome da idosa para Inés, provavelmente com medo de alguma cacofonia.
Mas, a mais importante mensagem do filme, além do amor pela música, é a união da família, como diz a música no final do filme: “Nosso amor um pelo outro viverá para sempre em cada batida do meu orgulhoso coração”. Assistam e deixem-se levar pela magia desta bela mensagem.

Título original: “Coco”

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Coluna Claquete - Filme da Semana: "Beleza Americana"



 


Newton Ramalho

 

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Filme da Semana: “Beleza Americana”

Vidas de papel

Não é nenhuma novidade uma obra de ficção que fale sobre um homem maduro apaixonado por uma garota bem mais jovem. À primeira vista, este é o tema principal de "Beleza Americana", ganhador do Oscar de melhor filme em 1999. O tema é antigo, mas ganhou nome com o livro do escritor russo Nabokov, “Lolita”, que já rendeu um filme dirigido por Kubrick em 1962 e um outro de Adrian Lyne em 1997.
Fora isso, milhares e milhares de livros, filmes, novelas e minisséries já foram produzidos, baseados no tema que terminou virando sinônimo de ninfeta. E, o que tudo isso tem a ver com “Beleza Americana”? A lolita deste filme serve de estopim para causar uma revolução na vida de Lester Burnham, personagem principal da história, vivido brilhantemente por Kevin Spacey, que agora vive no ostracismo por conta de acusações de assédio sexual.
Lester não é diferente de milhões de americanos, europeus, brasileiros ou qualquer ocidental de classe média que já tenha passado dos quarenta anos. Ele vive numa situação estável, com um emprego sem atrativos, morando numa confortável casa de subúrbio ( isso lá é morar bem), que é totalmente moldada pelas regras de sua mulher, Carolyn (Annette Benning). Esta vive as suas próprias crises profissionais como corretora de imóveis, mas mantém-se inabalável. Jane (Thora Birch), a filha adolescente, sonha com uma cirurgia plástica nos seios e nutre um profundo desprezo pelos pais.
Como nenhuma desgraça vem desacompanhada, as coisas começam a complicar para Lester no trabalho. Um jovem e arrogante consultor espalha ameaças de demissão entre os funcionários, tudo em nome da revitalização da empresa. Carolyn mantém uma relação extraconjugal com um antigo colega de universidade (Peter Gallagher), agora um empresário bem sucedido.
Em meio a esta vida confusa e decepcionante, vazia de amor, emoções e objetivos, Lester experimenta duas revelações. A primeira é quando encontra com Ricky (Wes Bentley), o filho do vizinho, trabalhando como garçom numa festa. Quando estão dividindo um cigarro de maconha (que Ricky fornece “profissionalmente”), o rapaz é repreendido pelo patrão. Ricky demite-se na hora, o que deixa Lester surpreso com a tranquilidade do rapaz. Afinal de contas, o maior medo de qualquer assalariado é a perda do emprego.
A segunda é quando assiste a uma apresentação do grupo de cheerleaders de que sua filha faz parte. A visão, da melhor amiga da filha, desperta em Lester fantasias adormecidas que o deixam atordoado. Mais tarde, ao bisbilhotar atrás da porta do quarto da filha, onde a amiga fora dormir, Lester escuta a sua jovem musa dizer que "o achava simpático, se malhasse mais, ficaria um gato"...
De uma hora para outra, Lester resolve jogar tudo para o alto. Demite-se do emprego com vantagens arrancadas no grito, começa a malhar como se fosse para as Olimpíadas, troca o carrão tradicional pelo conversível dos seus sonhos, arruma um trabalho como atendente de fastfood, tenta reatar as relações sentimentais com a família e aproxima-se dos vizinhos.
Com o simpático casal gay que mora ao lado, não há problemas, mas com o pai de Ricky, a recepção é gélida. Ex-fuzileiro, ultra conservador, o coronel Fitts odeia homossexuais e controla a vida do filho com mão-de-ferro. Embora o coronel use as mesmas táticas "sutis" de sua vida como marine, Ricky sempre dá um jeito de enganá-lo. E para que ninguém cometa o mesmo erro de milhares de tradutores "profissionais": marine é fuzileiro naval, marinheiro é sailor e Marinha é Navy.
Este tema do chutar-o-pau-da-barraca de um homem de meia-idade já tinha sido brilhantemente explorado por Elia Kazan em "Movidos Pelo Ódio" (“The Arrangement", 1969), com Kirk Douglas, Deborah Kerr e a então novata Faye Dunaway. Contudo, o que "Beleza Americana" coloca o dedo na ferida não é só na rebeldia tardia dos coroas. O que fica bem evidente é o lado hipócrita da sociedade ocidental, que supervaloriza a imagem, em detrimento da realidade.
Todos tem uma imagem a zelar. A esposa perfeita que cuida das rosas do jardim (o título do filme vem daí, um tipo de rosa chamada "american beauty", do protocolo das refeições em família e da escolha do amante com a mesma dedicação. É o jovem traficante e usuário de maconha, que consegue literalmente passar-se por um menino, para burlar o exame de urina a que o pai o submete. É o rígido fuzileiro, de fazer inveja a John Wayne e Clint Eastwood, que sufoca seus desejos mais reprimidos. Até a maior gata do colégio alimenta a fama de vadia para manter uma falsa imagem.
Nessa excêntrica salada de fantoches vivos, só o casal homossexual e Lester têm coragem de expor-se como são e enfrentar o sistema de peito aberto. Pelo fato de Lester ser mais "normal", a reação das pessoas é mais confusa e violenta do que com qualquer outro.
Além de um roteiro bem amarrado, diálogos interessantes e fotografia bem cuidada, outro ponto forte do filme é o elenco, muito bom. Independente dos problemas que envolvem Kevin Spacey fora das telas, ninguém pode negar o seu talento, que neste filme se mostra excepcional. Já naquela época, Spacey foi acusado de pedofilia, já que teria mantido relações com Mena Suvari, que era menor de idade, mas a notícia foi desmentida por ambos. Annete Benning e Chris Cooper também estão excelentes, e a jovem Thora Birch já exibia uma longa carreira.
O filme foi muito premiado, sendo indicado para oito categorias do Oscar, e ganhando cinco: Melhor Filme, Melhor Diretor - Sam Mendes, Melhor Ator - Kevin Spacey, Melhor Roteiro - Alan Ball, e Melhor Direção de Fotografia. “Beleza Americana” obteve no total 103 premiações e 98 indicações, tanto nos Estados Unidos quanto ao redor do mundo.
As edições em DVD e Blu-Ray trazem o formato de tela widescreen anamórfico, áudio em inglês, espanhol e português Dolby Digital 5.1, legendas em português, espanhol, e inglês SDH. Como extras, vinte minutos de inúteis cenas de bastidores, trilha de comentários com o diretor Sam Mendes e do roteirista Alan Ball e apresentação do storyboard comentada pelo diretor Sam Mendes e pelo diretor de fotografia Conrad L. Hall.
Este filme é um retrato bem feito da civilização ocidental com suas mazelas e hipocrisias. Parece não existir fuga do sistema e todos temos que viver de acordo com nossos papéis nesse palco que é a vida. Contudo, se o filme ao menos servir para nos lembrar da existência desse mundo de fachadas vazias, já terá valido o preço da locação. Experimentem, coroas e gatinhas de todas as idades.

Título original: “American Beauty”

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Coluna Claquete - Filme da Semana: “O Guardião Invisível”





Newton Ramalho

 

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Filme da Semana: “O Guardião Invisível”



Muitas vezes sou questionado pelos meus leitores sobre o porquê de um filme fazer sucesso e outro não. Sempre tenho a resposta na ponta da língua: para fazer um bom filme, mais importante que gastar milhões em efeitos especiais é ter uma boa história, bom roteiro, boa direção e boa atuação. Este é o caso de “O Guardião Invisível” (“El guardián invisible”, ESP/ALE, 2017), baseado no livro homônimo de Dolores Redondo.
“O Guardião Invisível” é uma história policial do subgênero serial killer, mas com toques de fantasia e um frescor de novidade, ao mostrar uma parte da Espanha pouco conhecida, o País Basco, de cultura e tradições próprias, que tornam o livro e o filme muito interessantes.
Numa região remota e montanhosa do nordeste da Espanha, no vale dominado pelo rio Baztlan, é encontrado o corpo de uma jovem assassinada. A vítima, uma adolescente, é encontrada na floresta, à margem do rio, nua, com o púbis raspado, com as mãos imitando as imagens de Nossa Senhora, e com um doce comum na região depositado sobre o sexo.
É esta a situação que encontra Amaia Salazar (Marta Etura),a inspetora da seção de homicídios da polícia foral, que é encarregada de investigar o caso. A inspetora era originária da cidade de Elizondo, onde ocorrera o crime, mas saíra dali muito jovem, e nunca mais voltara até então.
Ao chegar, Amaia descobre que um crime semelhante ocorrera um mês antes, tendo a culpa sido atribuída ao namorado da vítima. Como as características são muito semelhantes, a polícia logo conclui que se trata de um assassino serial, e que outras pessoas estão em perigo.
Efetivamente, outro assassinato ocorre logo depois, com outra adolescente e com o mesmo ritual mórbido de apresentação do corpo. Por uma distorção da imprensa, o criminoso é apelidado de basajaun, que é um ser misterioso da mitologia basca, uma mistura de Pé-Grande com Curupira, e que seria um protetor da floresta.
Enquanto lida com a investigação dos assassinatos, Amaia também tem que administrar a relação familiar, já que a sua própria história pessoal contém uma horrível tragédia ligada com a mãe, fato este nunca totalmente resolvido.
A trama é densa e complexa, e as pistas dos crimes permeiam o meio familiar de Amaia, envolvendo a rígida e áspera irmã Flora (Elvira Minguez), a sofrida irmã do meio Rosaura (Patricia López), os cunhados Freddy (Mikel Losada) e Victor (Quique Gago), além da doce tia Engrasi (Itziar Aizpuru).
Alguns parecem atrapalhar as investigações, como o subinspetor Fermín Montés (Francesc Orella), enquanto o fiel auxiliar de Amaia, Jonan Extaide (Carlos Librado) usa todos os seus conhecimentos acadêmicos para ajudar a desvendar o caso.
Embora tenha poucas cenas de ação, como as que estamos acostumados nos filmes de Hollywood, “O Guardião Invisível” traz sua dose de emoções, mas, acima de tudo, tem a trama enriquecida por toques de misticismos e sobrenatural, sem nunca resvalar para o lugar-comum.
A fotografia do filme, que é fantástica, realça a exótica paisagem da região, e a bela trilha sonora de Fernando Velázquez completa a ambientação para este filme tão diferente do que estamos habituados a assistir.
O livro original é igualmente complexo e envolvente, mas foi maravilhosamente adaptado para a linguagem cinematográfica, com a história convertida em um roteiro fluido e completo. Duas novas histórias com a mesma heroína, que compõem a Trilogia do Baztan, “Legado nos Ossos” e “Oferenda à Tormenta” deverão ser adaptados para o cinema em 2019.
“O Guardião Invisível” é um filme diferente, direcionado para que gosta do gênero policial, mas, ao mesmo tempo traz características de drama, num produto bem diverso dos enlatados hollywoodianos. E, o melhor é que pode ser encontrado no Netflix, já que não foi lançado em cinema no Brasil.