sexta-feira, 26 de maio de 2006

Claquete 26 de maio de 2006


Claquete

Newton Ramalho - claquete@interjato.com.br

O que está em cartaz

Situação curiosa, a deste final de semana. Com a estréia de “X-Men: O Confronto Final” (veja mais em Filme Recomendado), último capítulo da trilogia dos X-Men, as 14 salas de Natal estarão exibindo, na prática, três filmes. Além do filme dos mutantes, continuam, apenas, o polêmico “O Código Da Vinci”, com Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Paul Bettany e Ian McKellen, e, “Missão Impossível III”, com Tom Cruise. Em solitárias sessões, o nacional “Tapete Vermelho”, com Matheus Nachtergaele, no Moviecom, e, “Terapia do Amor”, com Uma Thurman, no Cinemark.

Estréia: “X-Men: O Confronto Final”

É descoberta uma cura para os mutantes, que agora podem optar por manter seus poderes, ou, se tornarem seres humanos normais. A descoberta põe, em campos opostos, Magneto (Ian McKellen), que acredita que esta cura se tornará uma arma contra os mutantes, e, os X-Men, liderados pelo professor Charles Xavier (Patrick Stewart). “X-Men: O Confronto Final” estréia, nesta sexta-feira, nos Cines 1, 3 e 6 do Moviecom (todas as cópias legendadas), e, nas Salas 3 (cópia dublada), 2 e 7 (cópias legendadas) do Cinemark. Para maiores de 12 anos.

“Nem Tudo é o Que Parece”, em DVD

Planejando se aposentar, sr. X (Daniel Craig), um traficante bem sucedido de West End, recebe um pedido de um último favor: negociar a venda de um milhão de pílulas de ecstasy. Infelizmente para o sr. X., as pílulas foram roubadas de um grande traficante sérvio, que irá cortar sua cabeça, se ele vendê-las. E, com um czar do crime de Londres (Michael Gambon) prometendo aposentá-lo permanentemente se ele não vender, sr. X tem toda razão de estar preocupado com o seu futuro. Não há nada pelo qual valha a pena perder a cabeça. Já nas locadoras.

“A Hora da Estrela” no projeto Cinema e Literatura

O projeto Cinema e Literatura, uma iniciativa da livraria Bortolai em parceria com o Cineclube Natal, cria um novo espaço de discussão literária e exibição de filmes na cidade. A sessão inaugural será neste sábado, dia 27, com o filme “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral, inspirado no romance de Clarice Lispector, com o qual Marcélia Cartaxo ganhou o Urso de Prata de Melhor Atriz no Festival de Berlim de 1986. A programação começa às 19h, no auditório da livraria, na Avenida Afonso Pena, 805, Tirol. O acesso é gratuito.

“Carrie, a Estranha”, em DVD

Carry White (Sissy Spacek) é uma jovem sem amigos, em virtude de morar em quase total isolamento com Margareth (Piper Laurie), sua mãe, uma pregadora religiosa que se torna cada vez mais ensandecida. Uma professora fica espantada pela sua falta de informação e Sue Snell (Amy Irving), uma das alunas que zombaram dela, fica arrependida e pede a Tommy Ross (William Katt), seu namorado e um aluno muito popular, para que convide Carrie para um baile no colégio. Mas Chris Hargenson (Nancy Allen), uma aluna que foi proibida de ir à festa, prepara uma terrível armadilha que deixa Carrie ridicularizada em público. Mas ninguém imagina os poderes paranormais que a jovem possui, e, muito menos, de sua capacidade vingança quando está repleta de ódio. Ótimo suspense de Brian de Palma, revelou inúmeras estrelas em ascensão, inclusive John Travolta.

“O Segredo de Brokeback Mountain”, em DVD

A surpreendente história de amor entre dois vaqueiros, ganhadora de três Oscars, incluindo o de Melhor Diretor, para Ang Lee, chega, agora, nas locadoras, em formato digital. Jack Twist e Ennis Del Mar são dois jovens cowboys que moram numa fazenda em Wyoming. Quando se conhecem, no verão de 1963, logo se apaixonam. Os sentimentos acabam chocando com a sociedade rural, trazendo amargos conflitos aos protagonistas. Disponível, para locação, a partir de 6 de junho.

Festivais

Quem for ao Sul-Maravilha, por estes dias, terá a chance de conferir o 11º Festival Brasileiro de Cinema Universitário, que acontece em três versões: de 30/05 a 11/06, no Centro Cultural dos Correios e no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, de 05 a 11/06, o evento é no Centro de Artes da Universidade Federal Fluminense, em Niterói, e, de 15 a 18/06, será na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Informações no site www.fbcu.com.br. E, mais perto de nós, acontece o 16º Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema, de 30/05 a 08/06, na capital cearense. Mais informações no site do evento: www.cineceara.com.br.



Filme Recomendado: “X-Men: O Confronto Final”

Ser Mutante, ou, não ser, eis a questão...

Dos idos da Grécia antiga, onde o berço da democracia pregava a igualdade dos homens, aos dias de hoje, onde as desigualdades sociais são freqüentadoras assíduas das manchetes de jornais, explora-se este tema, o da diferença entre os homens. Na convulsiva década de 60, repleta de movimentos sociais explosivos, o quadrinista Stan Lee criou os X-Men, humanos mutantes, detentores de estranhos poderes, o que os tornava diferentes – e, odiados. Sucesso em quadrinhos, os personagens chegaram às telas em 2000, 2003, e, agora, no capítulo final da trilogia, “X-Men: O Confronto Final”.

A revista “The X-Men”, da editora Marvel, surgiu em setembro de 1963, assinada pelos geniais Stan Lee e Jack Kirby. Como outros personagens da editora, os X-Men tinham um apelo social: a discriminação de minorias. Questões raciais e políticas passaram a ser discutidas, de maneira disfarçada, através do grupo de cinco jovens mutantes, liderados por um adulto em sua cadeira de rodas. O nome “X-Men”, vinha de “eXtraordinary”, ou, de eX-Homens.

Numa época em que a radioatividade ainda era algo nebuloso, atribuía-se a ela a capacidade de gerar poderes aos mutantes, citados muitas vezes como os “Filhos do Átomo”. Os X-Men eram Ciclope (Scott Summers), capaz de disparar raios de energia dos olhos; Anjo (Warren Worthington), dotado de asas e com o poder de vôo; Fera (Hank McCoy), com força e habilidades acrobáticas fora do normal e mãos e pés enormes; Homem de Gelo (Bobby Drake), capaz de congelar o ar ao seu redor e cobrir seu corpo com gelo; Garota Marvel (Jean Grey), possuidora de habilidades telecinéticas; e o Professor X (Charles Xavier), o maior telepata da Terra.

Na versão cinematográfica, iniciada em 2000, os principais personagens são Wolverine (Hugh Jackman), meio lobo, meio homem, que possui impressionantes poderes de cura, garras de adamantium retráteis, e, a fúria de um animal, Tempestade (Halle Berry), que pode manipular todas as formas de clima - e voar, Ciclope (James Marsden), que produz raios destruidores com os olhos, Jean Grey (Famke Janssen), telepata e telecinética, Vampira (Anna Paquin), capaz de absorver poderes ao tocar nos outros, todos liderados pelo professor Xavier (Patrick Stewart), um poderoso telepata. Enquanto este grupo luta pela convivência com os humanos, a turma de Magneto (Ian McKellen) quer dominar o mundo com os seus poderes extraordinários.

Em “X-Men: O Confronto Final”, a princípio, o útlimo filme da trilogia X-Men, uma importante descoberta pode fazer desaparecer os mutantes, através de uma "cura" para as suas mutações. Pela primeira vez, os mutantes têm, à sua disposição, a escolha entre manter características que os tornam únicos, ainda que desprezados pelo resto da humanidade, ou, desistir de seus poderes, para serem aceitos por ela. Os líderes dos mutantes Charles Xavier, que prega a tolerância, e, Magneto, que acredita na sobrevivência dos mais fortes, defendem pontos de vista opostos, e, por isso, terão que iniciar uma guerra definitiva, que redesenhará a história do Homem.

Ao lado de Magneto estão Mística (Rebecca Romijn), capaz de imitar qualquer outro ser, homem, ou, mutante, Pyro (Aaron Stanford), o lança-chamas humano, além de novos personagens, como Homem-Múltiplo (Eric Dane), Fanático (Vinnie Jones) e Callisto (Dania Ramirez). Os heróis também terão o reforço de Fera (Kelsey Grammer), Colossus (Daniel Cudmore) e Kitty Pryde (Ellen Page).

Além das inúmeras cenas de ação, o espectador pode contar com muitos e elaborados efeitos especiais, para os quais foram destinados boa parte dos 150 milhões de dólares do custo do filme. Um dos pontos altos é a destruição da Golden Gate, cujo set tinha nada menos do que 762 metros!

Como é freqüente, ao se retratar personagens de histórias em quadrinhos, algum grupo ficará insatisfeito, os aficionados pelas revistas, ou, os cinéfilos, já que são linguagens de comunicação diferentes. Em “X-Men: O Confronto Final”, a balança pendeu para o lado dos quadrinhos, dedicando menos tempo para um aprofundamento dramático dos personagens, em função de uma maior fidelidade à história original.

Além de estar repleto de ação, o que, para os críticos pode significar uma infantilização do tema, o filme traz uma profusão de personagens das revistas, alguns, como Anjo (Ben Foster) que, literalmente, é depenado, com uma participação mínima. Em compensação, a personagem Jean Grey, a Fênix, dada como morta, no segundo filme, reaparece, surpreendente, do lado do mal, graças a uma personalidade dupla, o que garante um embate final poderoso, com dezenas e dezenas de mutantes.

Para os que sempre gostam dos fatos inusitados, fique atento à participação de Stan Lee, que faz uma pequena ponta, como em “Hulk”, onde apareceu ao lado do ator que estrelou a série na TV.

Ao contrário de “O Código Da Vinci”, que, falsamente, se diz retratar a realidade, “X-Men: O Confronto Final” é extremamente honesto, com suas miríades de personagens superpoderosos, que têm, como finalidade, apenas o entretenimento e o exercício da imaginação das crianças dos oito aos oitenta anos. Seja fã dos quadrinhos, ou, se assistiu os dois filmes anteriores, não deixe de ver o filme. Se será o capítulo final, dependerá das bilheterias e ganhos com os DVDs, números capazes de balançar o coração dos executivos de Hollywood.

sexta-feira, 19 de maio de 2006

Claquete 19 de maio de 2006


Claquete

Newton Ramalho - claquete@interjato.com.br

O que está em cartaz

Pronto para criar celeuma, chega, em estréia mundial, o filme “O Código Da Vinci” (veja em Filme Comentado), com Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Paul Bettany e Ian McKellen. A outra estréia é o nacional “Tapete Vermelho”, com Matheus Nachtergaele. Nas continuações, “Boa Noite e Boa Sorte”, elogiado drama dirigido por George Clooney, o terror “A Caverna”, “Ponto Final – Match Point”, de Woody Allen, “Crianças Invisíveis”, “Missão Impossível III”, com Tom Cruise, a comédia romântica “Terapia do Amor”, estrelada por Uma Thurman, e, a animação “A Era do Gelo 2”, do diretor brasileiro Carlos Saldanha. Já estão à venda os ingressos para “X-Men 3” (estréia 26/05).

Estréia 1: “O Código Da Vinci”

Após o curador do museu do Louvre ser morto, um simbologista é chamado para decifrar as misteriosas pistas deixadas. As investigações levam a mensagens ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci, que indicam a existência de uma sociedade secreta. Dirigido por Ron Howard (“Uma Mente Brilhante”) e com Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Paul Bettany, Ian McKellen e Alfred Molina no elenco. “O Código Da Vinci” estréia, nesta sexta-feira, nos Cines 4, 6 e 7 do Moviecom, e, nas Salas 1, 2 e 6 do Cinemark. Para maiores de 12 anos.

Estréia 2: “Tapete Vermelho”

Quinzinho (Matheus Nachtergaele) mora em uma roça, bem distante de qualquer cidade grande. Decidido a cumprir uma promessa, ele leva seu filho, Neco (Vinícius Miranda), de nove anos, para assistir a um filme estrelado por Mazzaropi, em uma sala de cinema, assim como fizera o seu pai, quando ele era garoto. Desejando cumprir a promessa a qualquer custo, Quinzinho, sua esposa Zulmira (Gorete Milagres), Neco e o burro Policarpo viajam pelas cidades, em busca de um cinema que possa exibir o filme. A direção é de Luiz Alberto Pereira. “Tapete Vermelho” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

“A Noite Americana” no Cineclube Natal

Neste domingo, dia 21, o Cineclube Natal, comemorando o seu primeiro aniversário, exibirá o filme “A Noite Americana” (1973), do consagrado diretor François Truffaut. Na mesma programação, acontece a exibição do curta-metragem “O Dia Em Que Dorival Encarou o Guarda”, de Jorge Furtado e Pedro Goulart. A sessão começa às 19h, no Teatro de Cultura Popular (TCP), ao lado da Fundação José Augusto. Após os filmes, haverá debate com a platéia e sorteio de um DVD. Os ingressos custam R$ 2,00. Sócios do Cineclube e servidores da Adurn não pagam. Para maiores de 12 anos.

“Trovão Azul”, em DVD

“Trovão Azul”, um dos filmes que mais empolgaram a garotada nos anos 80, chega, agora, em DVD, remasterizado em formato widescreen. Roy Scheider vive um corajoso piloto da polícia, que luta contra fanáticos do governo, que planejam usar inapropriadamente um helicóptero experimental de guerra. Escolhido para testar o Trovão Azul, Frank Murphy fica impressionado pelo helicóptero de alta velocidade e alta tecnologia. Ele é capaz de ver através das paredes, gravar um suspiro ou destruir um quarteirão de uma cidade. Desconfiando das intenções militares por trás do Trovão Azul, Murphy e seu parceiro Lymangood (Daniel Stern) logo descobrem que a extraordinária aeronave está destinada a ser usada como uma arma de vigilância e controle da população. Em risco depois de ser descoberto pelo sinistro coronel Cochrane (Malcolm McDowell), Murphy voa com o Trovão Azul contra as aeronaves militares em uma fascinante batalha sob os ares de Los Angeles. Além do filme, o disco traz, como extras, Comentário em áudio do diretor John Badham, Construindo o Trovão Azul, Making Of, Especial Promocional 1983 e Galeria de Storyboard.

“Sal de Prata”, em DVD

“Sal de prata” conta a história de Cátia (Maria Fernanda Cândido), uma bem-sucedida economista, que ganha a vida no mercado financeiro, e, que está apaixonada por Veronese (Marcos Breda), um mal-sucedido cineasta, que ganha a vida com uma pequena loja de revelações fotográficas, e, faz curtas, quando consegue. Apesar de tantas diferenças, estão namorando há alguns anos e se amam. Cátia gostaria de morar com Veronese, mas, este prefere deixar as coisas como estão. Assim como Veronese não se interessa pelas transações financeiras de Cátia, esta não faz muita questão de se relacionar com o universo cinematográfico. Um inesperado golpe do destino, contudo, força Cátia a penetrar no mundo do cinema, e, tentar conhecer melhor a obra de Veronese. O disco traz, como extras, Making Of, Erros de Filmagem, A Música de “Sal de Prata”, Filme de Mentira, Trailer e Teaser, Ensaio.

“Lili Marlene”, em DVD

Mais um mestre do cinema alemão, R. W. Fassbinder (1945-1982), chega ao mercado, no formato digital. Ao gravar a popular canção "Lili Marleen", Wilkie (Hanna Schygulla) torna-se a cantora mais famosa da Alemanha de Hitler. Mesmo no auge da fama, não encontra a felicidade, pois vive um romance proibido com Robert (Giancarlo Giannini), um músico judeu que participa da resistência contra os nazistas. Será que o amor deles resistirá aos tempos de guerra? Baseado livremente na autobiografia da cantora Lale Andersen, Lili Marlene é um melodrama típico de Fassbinder, no qual o cineasta expõe sua visão irônica da sociedade nazista. O disco traz o filme com formato de tela widescreen anamórfico e som Dolby Digital. Como extras, entrevistas com Fassbinder, Hanna Shygulla e Jullia Lorenz, Making Of, Galeria de Pôsteres e Fotos, Vida e Obra de Fassbinder e Biografias.



Filme comentado: “O Código Da Vinci”

O código vazio

“Falem mal, mas, falem de mim!”. Esta frase, cuja autoria a lenda atribui a um famoso político baiano, parece ser o lema para os criadores de “O Código Da Vinci”, tanto o livro, como o filme. Embora seja um autor limitado, o escritor Dan Brown conseguiu criar polêmica ao criar uma nova interpretação para o mito do Graal, ligando Jesus Cristo e Maria Madalena.

Alguns leitores poderão perguntar porque menciono o “mistério” envolvido no filme logo no começo da crítica, mas, a menos que alguém tenha passado os últimos anos num mosteiro isolado do Tibete, certamente terá lido, ou, pelo menos, ouvido falar deste livro, e, seu audacioso tema, já que foram vendidas mais de 40 milhões de cópias, nas mais variadas línguas.

A história do filme não difere do livro, como é comum em outras obras, menos pela complexidade, e, mais porque o texto de Brown é quase um roteiro de filme. Enredo linear, capítulos curtos, personagens estereotipados, ação incessante, clímax no final, etc.. Mas, isso tudo torna o filme interessante, proporcionando duas horas e meia de diversão, desde que se excluam os questionamentos teológicos.

Durante uma visita à França, um professor universitário, Robert Langdon (Tom Hanks, com um topete de fazer inveja ao Itamar), é procurado pelo comissário de polícia Bezu Fache (Jean Reno) para ajudar na elucidação de um assassinato. O curador do museu do Louvre, antes de morrer, desenhara uma série de símbolos no próprio corpo, e, pedira a presença de Langdon, que era, também, simbologista (embora ninguém, no mundo real, saiba que profissão é esta).

As pistas parecem incriminar Langdon, que, com a ajuda da criptógrafa Sophie Neveu (Audrey Tautou, de "Amélie Poulain"), foge, espetacularmente, numa alucinante perseguição, pelas ruas de Paris. Eles buscam o auxílio de Sir Leigh Teabing (Ian McKellen), um estudioso que dedicou a vida à busca do Santo Graal. É quando se descobre que, além do estranhíssimo significado do Graal, existe, também, uma sociedade secreta, o Priorado de Sião, que remonta aos Templários, cuja missão é proteger o segredo de Madalena, e, a linhagem que dela descende.

Mas, não é só a polícia que persegue Langdon e Sophie. Enviado pela poderosa organização Opus Dei, o monge albino Silas (Paul Bettany, com uma maquiagem impressionante) mata, friamente, qualquer pessoa que atravessa o seu caminho. Com o mesmo fervor que cumpre as ordem impiedosas, pune-se, com o cilício na coxa, ou, flagelando-se com um chicote.

As sucessivas pistas levam os aventureiros das ruas de Paris para Londres, e, depois, um recanto da Escócia, sempre precisando desvendar enigmas intrincados, enquanto se desviam das balas e de outras agressões. Ponto. Para saber mais, assista ao filme.

O livro já vinha despertando o furor das organizações religiosas ao redor do mundo, pelo hipotético casamento de Cristo, pela satanização da prelazia Opus Dei, e, pela absoluta falta de fundamentos científicos. Para piorar as coisas, na primeira página do livro, o autor assegura que as descrições de obras de arte, da arquitetura, dos documentos e dos rituais secretos, ali apresentados, são verdadeiras. Mas, quem conhece o museu do Louvre, de cara, já condena o livro pela mudança na disposição das obras de arte mencionadas. Brown não se deu nem ao trabalho de checar os dados históricos, ao afirmar que o imperador Constantino tornou o cristianismo a religião oficial do Império Romano. Constantino concedeu a liberdade de culto, em 313, mas, foi seu filho, Teodósio, quem tornou o cristianismo a religião oficial do império, em 394.

Os argumentos dos personagens, também se baseiam em fontes especulativas, como os obscuros evangelhos apócrifos, manuscritos produzidos dois a três séculos após a morte de Cristo, e, obras como o livro "O Santo Graal e a Linhagem Sagrada", dos historiadores Michael Baigent e Richard Leigh, que chegaram a processar Dan Brown por plágio.

O sucesso do livro “O Código Da Vinci” foi seguido por mais de uma dúzia de obras que contestam os argumentos de Brown, tanto pelo aspecto histórico, como pela interpretação filosófica. A maior queixa, entretanto, é a de que o autor, nem uma única vez, faz referência aos quatro evangelhos oficiais, em princípio, documentos baseados em testemunhas oculares.

Se o livro já causou tanta polêmica, a estréia do filme, um veículo que tem uma penetração infinitamente maior, já provoca ondas de choque por todo o mundo. O governo da Tailândia decidira censurar os últimos quinze minutos do filme, mas, terminou aceitando um recurso, por maioria apertada. Os cinemas das Ilhas Feroe, território autônomo pertencente a Dinamarca, com cerca de 50 mil habitantes, se negaram a exibir "O Código Da Vinci". O ministro da Cultura do Vaticano, em entrevista, associou o sucesso do tema com a ignorância das pessoas sobre o assunto tratado. Alguns movimentos cristãos, católicos, ou, evangélicos, propuseram atos de protesto, boicote, ou, ações legais contra a exibição do filme, embora todos concordem que, quanto mais gritaria se fizer, mais irá contribuir para a propaganda do filme.

Outros filmes, como “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorcese, que mostra, em uma alucinação, Cristo vivendo uma vida de casado, “Stigmata”, que sugere uma nova abordagem para a Igreja, ou, “O Corpo”, onde é encontrada uma ossada que poderia ser de Jesus, o que iria contra o dogma da Ressurreição, foram igualmente polêmicos, mas, não despertaram nem uma fração do furor de “O Código”.

Se agüentou ler até aqui, certamente o leitor ainda está em dúvida se aconselho, ou, não, a assistir ao filme. Embora não tenha sido bem recebido no Festival de Cannes (talvez por causa da expectativa gerada), “O Código Da Vinci” não é mais do aquilo que se propõe: uma peça de entretenimento, baseada em um tema ficcional, tão fundamentado quanto os seres de “Alien – O 8º Passageiro”, ou, os dinossauros de “Jurassic Park”. Se gosta de filmes de suspense e ação, assista ao filme, afinal de contas, das 14 salas de cinema de Natal, seis estarão exibindo “O Código Da Vinci”. Apenas não esqueça de que esta, acima de tudo, é uma obra de ficção. É desligar o cérebro, e, curtir.

sábado, 6 de maio de 2006

Claquete 06 de maio de 2006


Claquete

Newton Ramalho - claquete@pop.com.br

O que está em cartaz

Que bom, estar de volta à terrinha. Nesta semana, estréiam dois filmes muito interessantes. O primeiro, “Cruzada”, do diretor Ridley Scott, mexe num tema até hoje polêmico, sobre as incursões dos exércitos cristãos na Oriente Médio. Quem vive o papel principal é Orlando Bloom, famoso por seu papel do elfo Legolas, em “O Senhor dos Anéis”. A outra estréia, “O Fantasma da Ópera”, é mais uma versão, para o cinema, da novela do escritor francês Gaston Leroux, escrita em 1908, sobre um misterioso personagem, que protege uma jovem cantora, vivendo nos subterrâneos de um teatro. Nas continuações, as comédias “Mais Uma Vez Amor”, com Juliana Paes, “A Família da Noiva”, refilmagem do premiado “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”, e, “Be Cool – O Outro Nome do Jogo”, com John Travolta, Uma Thurman, Danny DeVito, Vince Vaughn, The Rock, Harvey Keitel e James Woods. Para quem gosta de filmes de ação, “Refém”, com Bruce Willys, de volta à sua seara, “xXx 2 - Estado de Emergência”, com Ice Cube, Samuel L. Jackson, e, Willem Dafoe, e, “Assalto à 13ª DP”, com Ethan Hawke, Laurence Fishburne, John Leguizamo e Brian Dennehy. Para a criançada, só, e, somente só, “O Filho do Máskara”. Na sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, a produção inglesa “Código 46”.



Estréia 1: “Cruzada”

A mais recente obra de Ridley Scott, “Cruzada”, estréia neste final de semana, bombardeado de críticas, acusado tanto de fazer louvação ao belicismo americano, como de exaltar a figura do líder mulçumano, Saladino. Balian (Orlando Bloom) é um jovem ferreiro francês, que guarda luto pela morte de sua esposa e filho. Ele recebe a visita de Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), seu pai, que é também um conceituado barão do rei de Jerusalém, e, dedica sua vida a manter a paz na Terra Santa. Balian decide se dedicar também a esta meta, mas, após a morte de Godfrey, ele herda terras, e, um título de nobreza, em Jerusalém. Determinado a manter seu juramento, Balian decide permanecer no local, e, servir a um rei amaldiçoado, como cavaleiro. Paralelamente ele se apaixona pela princesa Sibylla (Eva Green), a irmã do rei. Veja mais em Filme Recomendado. “Cruzada” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, nos Cines 4 e 6 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.


Estréia 2: “O Fantasma da Ópera”

Mais um grande clássico do palco chega à telona, pela enésima versão. É “O Fantasma da Ópera”, baseado na obra de Gaston Leroux. La Carlotta (Minnie Driver) é a diva de uma conceituada companhia teatral, que é responsável pelas óperas realizadas em um imponente teatro. Temperamental, La Carlotta se irrita pela ausência de um solo na nova produção da companhia, e, decide abandonar os ensaios. Com a estréia marcada para o mesmo dia, os novos donos do teatro não têm outra alternativa, senão aceitar a sugestão de Madame Giry (Miranda Richardson), e, escalar, em seu lugar, a jovem Christine Daae (Emmy Rossum), que fazia parte do coral. Christine faz sucesso, em sua estréia, chamando a atenção do Visconde Raoul de Chagny (Patrick Wilson), o novo patrocinador da companhia. Raoul e Christine haviam se conhecido ainda crianças, mas, ele apenas a reconhece na encenação da ópera. Porém, o que, nem ele, nem ninguém da companhia, com exceção de Madame Giry, sabem, é que Christine tem um tutor misterioso, que acompanha, nas sombras, tudo o que acontece no teatro: o Fantasma da Ópera (Gérard Butler). Destaque para as conhecidas canções “The Phantom of The Opera”, e, “All I Ask of You”. “O Fantasma da Ópera” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 7 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.


Governo americano aprova a censura nos filmes

A ala conservadora conseguiu mais uma vitória, nos Estados Unidos. Uma nova lei, denominada Lei de Entretenimento Familiar e Direitos Autorais, prevê que produções de Hollywood, com cenas de violência excessiva, homossexualismo, e, relações extraconjugais, não sejam comercializadas em DVD. Essa lei decorre, na verdade, de um processo movido por algumas empresas, que alteravam filmes do mercado, censurando cenas e diálogos que achavam impróprios. Filmes como “O Furacão”, estrelado por Denzel Washington, teve excluídas algumas cenas com acusações racistas. Algumas curiosidades, nos filmes “satanizados”: enquanto “Bob Esponja” teve algumas cenas censuradas, por uma hipotética alusão ao homossexualismo, “Paixão de Cristo” não sofreu corte algum, embora seja um verdadeiro festival de sadismo... O pior é que esta lei desrespeita o filme como uma obra de arte, ao fazer tais cortes. É como se colocassem um sutiã na Vênus de Milos ou tapassem o sorriso da Mona Lisa.


“Quase Dois Irmãos” é atração do Cinema BR em Movimento

O maior circuito de exibição gratuita de filmes brasileiros, o Cinema BR em Movimento, – patrocinado pela Petrobras Distribuidora, dentro do projeto Petrobras Cultural – realiza, entre os dias 1º e 29 de maio, a sua primeira etapa de 2005, quando comunidades e universidades de todos os estados do país terão acesso gratuito ao melhor do cinema nacional atual. Em Natal, o projeto iniciou dia 3, com o filme “Quase Dois Irmãos”, da diretora Lucia Murat, sendo exibido na UFRN, FARN e UNP. A próxima sessão será no dia 11, às 9h da manhã, no auditório do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Informações adicionais podem ser obtidas com a coordenadora do programa, a jornalista Edileusa Martins (215-3465). Prestigiem!



Festival Curta Natal começa segunda, na Casa da Ribeira


O Festival Curta Natal de Cinema e Vídeo acontecerá na próxima semana, do dia 9 a 13, no Centro Cultural Casa da Ribeira, sempre às 20h30. A entrada é gratuita, mas os ingressos devem ser retirados no local, a partir das 14h, em cada dia da mostra. Serão disponibilizados até dois ingressos por pessoa. Integrando a programação do Festival TIM Mada 2005, o Curta Natal terá quatro mostras, sendo uma competitiva. Dia 9, o festival inicia com a "Mostra Mix Brasil – Festival da Diversidade Sexual". Na terça-feira, dia 10, "Animada", com a programação do festival de animação Visorama Diversões Eletrônicas. Na quarta e quinta-feiras, serão exibidos os curtas da "Mostra Nordeste", única competitiva do evento. Na sexta-feira, dia 13, tem a "Mostra Nacional", com um panorama de curtas produzidos em todo o Brasil. Logo após haverá a entrega dos prêmios aos vencedores da Mostra Nordeste. No dia 19, o festival abre espaço para a mostra itinerante no bairro de Felipe Camarão, com uma seleção de curtas de todas as mostras. No dia 21, a mostra itinerante irá até o bairro de Mãe Luíza.



Filme de Arte: “Código 46”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, traz esta semana a produção inglesa “Código 46”. Num futuro não muito distante, as cidades são rigidamente controladas, e, o acesso só é possível através de pontos de checagem. As pessoas não são autorizadas a viajar, a não ser que possuam o salvo-conduto, um seguro especial de viagem. Fora das cidades, o deserto tomou conta de tudo, com os cidadãos sem seguro sendo segregados em bairros pobres. William (Tim Robbins) é um homem casado, que trabalha como investigador de seguros. Quando sua empresa o envia para uma outra cidade, para resolver um caso de salvo-condutos forjados, ele encontra Maria (Samantha Morton). Apesar de descobrir que Maria é a culpada pelas fraudes, ele se apaixona por ela. William volta para casa, sem denunciá-la, mas, não a esquece. Porém, quando um dos salvo-condutos forjado provoca uma morte, ele é obrigado a retornar à cidade para reencontrar Maria. O filme, dirigido por Michael Winterbottom, recebeu indicações ao European Film Awards, nas categorias Fotografia, Trilha Sonora, Diretor - Júri Popular, e, Melhor Atriz - Júri Popular (Samantha Morton). “Código 46” terá sessão única, às 21h10 do dia 10, terça-feira, no Cine Natal 1. Para maiores de 16 anos.


Cinema nos ares

Durante uma longa viagem, nada melhor, para passar o tempo, do que um filme. Afinal de contas, passar oito, dez, ou sabe-se lá quantas horas, sem fazer nada, seria insuportável. As companhias de aviação sabem disto, e, tentam evoluir as ofertas, cada vez mais. Com o advento das mídias digitais, isso tem ficado mais fácil.
Até algum tempo atrás, era comum ter um projetor CRT, que produzia uma imagem esmaecida, numa tela no início do corredor, perto demais, para quem ia nas primeiras fileiras, e, longe demais, para os que ficavam no fundão. Além disso, cada vez que uma pessoa passava, lá se ia a continuidade do filme.
Com o avanço da tecnologia, tanto a dos aviões, como a das mídias de exibição, isso está mudando. No Boeing 777, um dos mais modernos, em uso nas linhas internacionais, existem telas individuais, de cristal líquido, embutidas na parte de trás do assento da frente. As telas, na verdade, monitores coloridos, de 10 polegadas, estão ligadas a uma central de entretenimento, que fornece diversas opções, aos passageiros.
Além dos canais de música, que precisam simplesmente dos fones de ouvido plugados no braço da poltrona, o sistema de vídeo oferece diversas opções, que vão da exibição de filmes, a localização do avião na rota, com informações de velocidade, tempo restante de vôo, etc.. Estão disponíveis, também, séries de televisão (sitcom), e, alguns jogos, como a velha paciência.
Na parte de cinema, são oferecidos dez títulos diferentes, que vão do desenho “Espanta Tubarões”, ao romântico drama “Antes do Pôr-do-Sol”. Como cada título pode ser exibido com dublagem em inglês, português e espanhol, são trinta opções, ao todo. E, o melhor de tudo: ao contrário dos pay-per-view, dos canais de assinatura, em que o usuário é obrigado a assistir no horário que a emissora impôe, no avião, cada um escolhe o momento de iniciar o filme. O passageiro é o dono do programa, podendo dar pause, voltar, adiantar, etc.. Prá tirar um dez, era pra poder escolher também a legenda, mas, é exigir demais. Em minha próxima viagem, que sabe...
E, para quem pensa que a telinha não é suficiente, é bom lembrar que ela fica a trinta centímetros do seu rosto. A impressão visual é a de se estar assistindo a uma tv grande, que estivesse a três ou quatro metros de distância. Bom mesmo, é que pode-se assistir o que quiser, sem estar incomodando o vizinho, ou, sendo atrapalhado por alguém que vá ao banheiro.




Filme recomendado: “Cruzada”

O nome de Deus, no reino dos homens


Chega aos cinemas natalenses, neste final de semana, mais um épico, com um orçamento de 125 milhões de dólares, dirigido pelo diretor Ridley Scott, que já brindou o mundo com “Blade Runner”, “Alien – O 8º Passageiro”, “Thelma & Louise”, e, “Gladiador”. O filme da vez é “Cruzada” (“Kingdon of Heaven”), que chega precedido de muitas críticas e discussões.

A história mostrada no filme acontece em 1186, época entre as Segunda e Terceira Cruzadas, tendo como personagem principal o ferreiro francês Balian, vivido por Orlando Bloom, o elfo Legolas, da saga Senhor dos Anéis. Após perder a mulher e o filho, Balian vem a conhecer o pai, que o abandonara quando criança, o nobre Godfrey de Ibelin (Liam Neeson), barão do rei de Jerusalém. Godfrey segue em direção à Terra Santa, com um pequeno exército de cruzados, e, convida Balian para juntar-se à missão. Quando Godfrey é atacado e morto, Balian decide continuar a jornada, acreditando estar a sua missão espiritual em Jerusalém.

Lá chegando, Balian é aceito, não apenas por seu sangue nobre, mas, também, por sua habilidade nas armas. Apaixona-se pela princesa Sybilla (Eva Green, a incestuosa irmã de “Os Sonhadores”), irmã do rei cristão Balduíno IV, que sofre de lepra (Edward Norton, sempre de máscara). Balduíno opõe-se a uma guerra com os muçulmanos, liderados por Salah al-Din, conhecido no Ocidente como Saladino (o excelente ator sírio Ghassan Massoud), o sultão que viria a reconquistar a maioria das terras dominadas pelos cristãos, no Oriente Médio. Após a morte do rei, o embate torna-se inevitável, e, a força e a determinação do exército de Saladino fazem Balian entregar Jerusalém ao domínio dos muçulmanos.

As Cruzadas são um período extremado da história medieval, que são situados entre 1095, quando o Papa Urbano II lança um apelo para que os soldados partam para o Oriente, para ajudar os cristãos, e, 1291, quando a cidade de Acre, último baluarte cristão, na Síria, é dominado pelos mulçumanos.

Muitas motivações levaram às Cruzadas, e, poucas delas realmente em função de religião ou crenças. Mesmo sob o domínio árabe, os cristãos e judeus, em Jerusalém, sempre tiveram liberdade para praticar suas religiões. Quando os turcos seljúcidas chegaram à cidade Santa, em 1076, mostraram-se, então, intolerantes com os praticantes de outras religiões, que não o islamismo. Quando eles invadiram parte do território grego, o imperador bizantino Aleixo Comneno I pediu a ajuda ao papa Urbano II, para conter o avanço turco em direção a Constantinopla.

O pedido de Aleixo caiu como uma luva para Roma, que sonhava em acabar com o Cisma de 1054, que dividiu a Igreja Católica em Apostólica Romana, com sede em Roma, chefiada pelo Papa, e, a Ortodoxa Grega, liderada pelo Patriarca de Constantinopla. Os reis, por sua vez, viram a chance de reafirmar o seu próprio poder, enfraquecido com cidades-estado, cada vez mais autônomas e independentes do governo central. O maior isolamento das cidades contribuiu para a redução das freqüentes epidemias, o que, aliado ao fim das invasões, causou um aumento populacional sem precedentes, na Europa Medieval, passando de 18 milhões de indivíduos, para 26 milhões, em 1100.

A “guerra santa”, conclamada por Urbano II, causou forte impacto entre os nobres cavaleiros, que viram a sua oportunidade de glórias e conquistas, já que, muitos viviam na nobreza, mas tinham poucas propriedades. Por outro lado, os pobres, sem nenhuma perspectiva de vida, a não ser trabalhar para seus senhores até a morte, viram as cruzadas como uma válvula de escape. Assim sendo, os exércitos cruzados reuniam não apenas nobres guerreiros, mas, também, camponeses, mendigos, pequenos comerciantes, e, toda sorte de aventureiros, principalmente da França e da Alemanha. Não é preciso dizer que milhares destes peregrinos morreram pelos caminhos. Em 12 de julho de 1099, os doze mil cruzados conquistaram oficialmente Jerusalém. Foi a última grande vitória dos cristãos.

Vários outros movimentos, em direção à Terra Santa, aconteceram, nos anos seguintes, alguns deles que nem se aproximaram de Jerusalém, outros, que assolaram os povos que deveriam proteger. Houve até a Cruzada das Crianças, em 1210, quando milhares de jovens, menores de 13 anos, foram conduzidos por um padre francês, que acreditava conseguir o poder sem auxílio das armas. O resultado foi trágico: a maioria dos participantes morreu, e, os sobreviventes acabaram na mão de mercadores de escravos do norte da África.

Dizer que as Cruzadas foram um movimento de extermínio, de um lado, ou, de outro, seria um simplismo inconseqüente, do mesmo modo que condenar o filme de Ridley Scott. É preciso lembrar que, um filme, antes de tudo, é uma peça de entretenimento, e, por isso mesmo, liberdades poéticas são tomadas, datas e fatos são distorcidos, sem grandes prejuízos, para quem assiste. Detalhes como o verdadeiro Balduíno ter morrido um ano antes do que é retratado no filme, ou, a ausência do filho de Sybilla, nada disso afeta, realmente, o que é mostrado nas telas. Afinal de contas, o registro do fato histórico fica para os documentários, ou, melhor ainda, para os bons e velhos livros de História, estes sim, merecedores da atenção dos mais interessados.

“Cruzada”, antes de tudo, é um filme de ação, com cenas de batalha impressionantes, um roteiro razoavelmente costurado, e, um elenco sólido, com grandes atuações de Liam Neeson, Jeremy Irons, Eduard Norton, e, o excelente ator sírio Ghassan Massoud, que viveu Saladino. Massoud, na vida real, constatou que, mil anos depois das Cruzadas, a intolerância ainda assola o mundo. Por ser de nacionalidade Síria, não pôde participar do lançamento do filme nos Estados Unidos, pois teve o visto de entrada negado.