quarta-feira, 26 de julho de 2017

Coluna Claquete - 26/07/2017 - Filme da Semana: “Despedida em Grande Estilo”





Newton Ramalho

 

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Filme da Semana: “Despedida em Grande Estilo


 

             Não sei se foi coincidência, mas a véspera do dia dos Avós foi embalada por um delicioso filme intitulado “Despedida em Grande Estilo” (“Going in Style”, EUA, 2017). O que me chamou mais a atenção foi o trio de protagonistas, Morgan Freeman, Michael Caine e Alan Arkin, que estrelaram muitos filmes que embalaram minha adolescência.
Este filme é uma refilmagem de outra produção de mesmo nome, lançada em 1979, com um trio de veteranos da época, George Burns, Art Carney e Lee Strasberg. A trama é a mesma: revoltados pela situação financeira provocada pela ganância dos bancos, eles decidem assaltar um desses estabelecimentos.
Willie (Morgan Freeman), Joe (Michael Caine) e Albert (Alan Arkin) são amigos de longa data, atualmente aposentados, mas, companheiros por décadas em uma siderúrgica. Na idade avançada em que estão, são surpreendidos pelo aumento abusivo da hipoteca de suas casas, enquanto veem seu fundo de pensão ser confiscado, para pagar dividas de sua antiga empresa.
Joe havia sido testemunha involuntária de um assalto ao banco onde tinha conta, e após ser burocraticamente maltratado pelo mesmo, propõe aos companheiros vingar-se do mesmo por meio de um assalto.
Cada um tem os seus próprios problemas. Joe cuida da filha e da neta, que moram com ele, e agora vê-se na iminência de perder a casa onde mora. Willie tem graves problemas renais, e precisa desesperadamente de um transplante. Albert é um homem solitário e recluso, que não vê muitas perspectivas na vida.
A partir do momento em que decidem assaltar o banco, suas vidas são sacudidas por novas motivações. Eles conseguem a ajuda inesperada de um bandido chamado Jesus (John Ortiz), e fazem muitos treinos e planos para o golpe final.
É bem provável que o leitor esteja sentindo o indisfarçável gosto de Sessão da Tarde neste filme. Isso é irrefutável. Mas, a condução da trama, a atuação dos atores, e as inúmeras situações que tem como principal motivo a avançada idade dos personagens cria uma atmosfera divertida, que transforma um filme policial em uma comédia leve e extremamente agradável.
Não é a primeira vez Morgan Freeman brinca com estripulias na velhice. Ele já fizera isso em “RED: Aposentados e Perigosos” (“RED”, 2010), “Última Viagem a Vegas” (“Last Vegas”, 2013), e o sensível “Antes de Partir” (“The Bucket List”, 2007).
Além do ótimo trio central, o filme ainda conta com ótimas participações de Ann-Margret como uma fogosa avó, Christopher Lloyd (o cientista de “De Volta ao Futuro”) vivendo um divertido esclerosado e Matt Dillon, no contraponto do oportunista agente do FBI.
Uma referência curiosa é quando os velhinhos assistem "Um Dia de Cão" ("Dog Day Afternoom"), um clássico estrelado por Al Pacino sobre um famoso assalto a banco com uma espetacular cobertura da mídia.
O filme não deixa de focar em aspectos sérios, que afetam muito mais a sociedade americana. Como lá não existe INSS, a aposentadoria vem de fundos de pensões mantidos pelas próprias empresas. Uma aplicação fraudulenta, ou a extinção da empresa pode simplesmente fazer desaparecer esse fundo.
Outra situação mostrada é o efeito da globalização e da ganância dos empresários, que extinguem empregos nos Estados Unidos para fabricar os seus produtos no México, China ou outro país onde a mão de obra é mais barata e as leis trabalhistas são mais frouxas – exemplo do que está acontecendo no Brasil.
Outra coisa estranha para nós brasileiros é o financiamento imobiliário. Enquanto os nossos são extremamente rígidos e exigentes, os deles são fáceis de obter – mas os juros podem variar e ficar impraticáveis, por culpa dos próprios bancos, que causaram os grandes escândalos financeiros que abalaram o mundo na década passada.
Deixando de lado estas questões mais sérias, que tal juntar avós, filhos e netos para comemorar o dia dos Avós em grande estilo? Não esqueçam da pipoca!

Título Original: “Going in Style”


quinta-feira, 20 de julho de 2017

Coluna Claquete - 20/07/2017 - Filme da Semana: "O Círculo"






Newton Ramalho

 

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Filme da Semana: “O Círculo”

O que você acharia de trabalhar em uma empresa gigante de tecnologia, uma mistura de Google, Facebook, Pixar, Sony e Apple? E não apenas ter um ótimo salário, plano de saúde, mil e uma atividades de lazer e até um apartamento na própria sede da empresa? Para isso, basta candidatar-se para a empresa que dá nome ao filme, “O Círculo” (“The Circle”, EUA, 2017).
Mae (Emma Watson) é uma jovem no início da vida profissional, que sonha ter um emprego mais interessante, enquanto sofre com a situação familiar, com um pai portador de esclerose múltipla. Sua vida é uma rotina entediante, que se divide entre a burocracia de teleatendimento em uma companhia de água, e a tristeza da condição do pai, que se deteriora a cada dia.
Tudo isso muda quando ela recebe uma ligação da amiga Annie (Karen Gillan), informando-a que ela foi selecionada para uma entrevista na empresa O Círculo, a maior empresa de tecnologia e mídia social do mundo. Mae sai-se bem na entrevista, e é contratada para um cargo de atendimento ao cliente.
Logo ela percebe que tudo na empresa é diferente. Constituída em sua maior parte por jovens, a empresa une todo tipo de informações das redes sociais, e seu último lançamento é uma prodigiosa minicâmera, capaz de transmitir som e imagem com ótima qualidade sem qualquer tipo de fios.
Mae fica aliviada quando recebe o suporte da empresa para a saúde do pai, ao mesmo tempo em que são estimulados pelo messiânico fundador da empresa Eamon Bailey (Tom Hanks), que percebe na moça um grande potencial como garota propaganda, tanto para o mercado, quanto para o mundo externo.
As propostas da empresa sempre conduzem para um total compartilhamento de informações de todos os tipos, e Mae adere a esse projeto passando a utilizar uma câmera pessoal que a acompanha 24 horas por dia.
Alguma coisa, entretanto, incomoda a jovem, principalmente quando ela descobre que não existe mais privacidade para ninguém, e que esta invasão leva a uma tragédia anunciada. Ela terá que tomar decisões que afetarão não apenas a sua vida, mas até de toda a Humanidade.
Talvez o leitor ache o tema futurista, mas nós já vivemos tempos em que a nossa privacidade é descaradamente devassada, muitas vezes com a nossa ajuda involuntária. Além da vontade das pessoas em expor a própria vida, tudo o que pesquisamos, compramos ou visitamos na internet é coletado e vendido para empresas com objetivos nem sempre nobres.
Mais perigoso ainda é o uso da exposição midiática para atingir alguém, usando a indignação das pessoas sem que elas tenham ideia de que estão sendo maliciosamente manipuladas. Isso acontece na política, no comércio e até nas relações interpessoais, como o ex que expõe fotos íntimas do companheiro, por exemplo.
“O Círculo” é um grito de alerta transvestido de entretenimento, mostrando que caminhamos para um mundo de escravidão midiática, onde quem tem a informação tem o poder – isso no sentido literal.
O filme traz algumas curiosidades que causam estranheza para nós brasileiros, como o fato de ter que se inscrever para votar numa eleição. Como a nossa eleição é obrigatória, não precisamos dessa etapa, que acontece em países de voto facultativo.
Como se poderia esperar, os efeitos gráficos são fascinantes, e as locações na Art Center College of Design, em Pasadena, California, realmente remetem a um ambiente futurista.
Emma Watson consegue se libertar de vez da Hermione Granger da saga Harry Potter, firmando-se cada vez mais como atriz profissional e competente. Tom Hanks também foge do padrão “bom rapaz”, num misto de empresário e pastor evangélico que representa o perfeito vilão dos dias atuais – e claramente inspirado em Steve Jobs. É notável também a atuação de Bill Paxton como portador de esclerose múltipla.
“O Círculo” é um filme interessante, que foge do lugar comum, e que desperta uma reflexão sobre o mundo em que vivemos e onde queremos – ou somos induzidos a – chegar.

Título Original: “The Circle”