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Newton
Ramalho - colunaclaquete@gmail.com
Filme da Semana: “Nos Vemos no Paraíso”
Em busca do pai
Um dos
aspectos mais interessantes do cinema é sua capacidade para discorrer sobre
relacionamentos humanos através das maneiras mais estranhas. Isso pode ser
através de um campo de batalha, em atos de corrupção ou trapaça, ou na dureza
de um diálogo entre cônjuges. Tudo isso encontramos no interessante drama
francês “Nos Vemos no Paraíso” (“Au Revoir Là-haut”, FRA, 2017).
No início do
filme, em 1920, o francês Albert Maillard (Albert Dupontel) está em uma
delegacia de polícia no Marrocos, à época uma colônia francesa. Algemado e
cercado por policiais, ele é intimado a contar sua história, que até aquele
momento ninguém imagina qual seja.
Sua narrativa
retorna a 1918, nos momentos finais da guerra, quando o ato tresloucado de um
oficial, o tenente Pradelle (Laurent Lafitte), provoca um confronto
desnecessário, que causa a morte e ferimento de inúmeros soldados.
Entre os
feridos está o jovem Edouard Péricourt (Nahuel Perez Biscayart), que sofre um
gravíssimo ferimento na face, pouco depois de salvar a vida do amigo Maillard.
Este faz o possível para salvar o amigo, que embora consiga sobreviver, fica
com o rosto monstruosamente deformado.
Péricourt não
quer ser visto assim pelo pai, e consegue convencer Maillard a trocar sua
identidade com outro soldado morto no campo de batalha. Com outro nome, ele
segue para tratamento em um hospital de Paris. Maillard continua cuidando dele,
a ponto de roubar morfina de outros veteranos para aliviar as dores do amigo.
Escondido
atrás de máscaras que ele mesmo faz, Péricourt convence Maillard a fazer um
grande golpe, convencendo prefeituras a encomendar monumentos de guerra que só
existem no papel, graças às habilidades artísticas do jovem.
Um destes
projetos chega às mãos de Marcel Péricourt (Niels Arestrup), pai de Edouard,
que reconhece a assinatura artística do filho, e acredita que este esteja vivo.
Para isso, ele encarrega Pradelle, agora seu genro, de encontrar o pretenso
artista.
Pradelle, que
não deixara de ser um trapaceiro, se agarra a esta oportunidade, pois está
envolvido em um grande esquema de corrupção, e está a ponto de ser preso. Ao
mesmo tempo, seu casamento está por um fio, o que significa perder a poderosa
influência do sogro.
Curiosamente,
o fio condutor deste emaranhado de confusas relações é exatamente o sentimento
de paternidade, que falta entre os dois Péricourt, foi criado entre Maillard e
Edouard, nasce na comunicação com a órfã Louise (Héloïse Balster) e está na
única boa ação de Pradelle, ao engravidar Madeleine (Émilie Dequenne).
Além de uma
história interessante e envolvente, “Nos Vemos no Paraíso” traz uma preciosa
recriação de época, cenários impressionantes, principalmente nos campos de
batalha, fotografia deslumbrante e um elenco bem afinado, o que reflete o
trabalho de direção do próprio Albert Dupontel.
Este filme
faz parte da programação do Festival Varilux de Cinema Francês 2018, que traz
uma série de filmes que dificilmente chegariam aos nossos cinemas na
programação normal, onde predominam os blockbusters de Hollywood. Confiram!
Título
Original: “Au Revoir Là-haut”
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