Newton Ramalho
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Filme da Semana: “Amanhã”
Sempre que se faz algum
documentário sobre a degradação ambiental no mundo, e seus efeitos sobre a
população, é utilizado um formato de denúncia, para despertar a atenção para a
gravidade do problema. Por isso, é uma grata surpresa ver um documentário como
“Amanhã” (“Demain Le Film”, 2015), que nos dá uma visão totalmente diferente,
mostrando casos bem sucedidos de soluções implementadas.
Ao tomar conhecimento de um estudo
de 21 cientistas na revista Nature, onde se mostrava que as alterações
climáticas, degradação da Terra e crescimento da população caminhavam para
níveis críticos, um grupo de amigos ligados ao cinema decidiu tomar uma
atitude, analisando a situação e expondo-a através de sua linguagem.
Sem ser ambientalistas ou cientistas,
mas pais preocupados com o futuro de seus filhos, eles percorreram o mundo,
buscando soluções encontradas por pessoas normais, sem ligação com empresas,
bancos ou governos.
Dispondo de um vasto material
coletado em suas viagens, o grupo organizou o documentário em cinco abordagens
diferentes: Agricultura, Energia, Economia, Democracia e Educação.
Ao analisar a Agricultura,
constataram que a maior parte do solo hoje é ocupado pelas grandes corporações
em monoculturas, tipo soja ou cana de açúcar, que empobrecem o solo e são
extremamente ineficientes na produção de alimentos. Por outro lado, são
mostrados inúmeros exemplos de produção de alimentos em pequenos espaços com
alta produtividade, tirando proveito da diversidade, que é como acontece na
natureza.
No capítulo sobre energia, é
mostrado como os combustíveis fósseis, petróleo e carvão, são onipresentes em
todos os aspectos da vida moderna, contribuindo para o aquecimento global. Por
outro lado, lugares como a Ilha da Reunião, Suécia e Islândia adotam cada vez
mais as fontes de energia alternativas, como o sol, o vento e a água,
estabelecendo metas ousadas para livrar-se dos combustíveis fósseis, e mesmo da
perigosa opção nuclear.
No capítulo economia, algumas
noções óbvias – e desconhecidas da maioria da população – despertam o alerta
para a nossa dependência dos grandes conglomerados bancários, e suas nefastas
consequências, como foi visto nas recentes crises mundiais. O filme mostra como
soluções que privilegiam a economia local são importantes na geração de emprego
e circulação de mercadorias.
Ao explorar a democracia, vemos que
aquilo que pensamos ser uma forma democrática de governar, na verdade é a
relação - muitas vezes espúria - de um grupo de políticos eleitos com poderosos
grupos econômicos, poucas vezes resultando em algo benéfico para a população.
São mostrados exemplos bem sucedidos na Índia e na Islândia onde resultados
inimagináveis foram alcançados, partindo da conscientização do povo e de sua
participação ativa no destino de sua cidade, região ou país.
Por fim, ao estudar a educação, o
grupo buscou o país que é reconhecido como tendo o melhor sistema educacional
do mundo, a Finlândia. Apesar de ser um país com um clima severo e sem grandes
recursos naturais, o sistema educacional é elogiado em todo o mundo. E,
revela-se aqui que não existem recursos tecnológicos ou de outra natureza. O
que se vê são classes com poucos alunos e mais de um professor, todos com anos
de universidade e experiência assistida, pouca fiscalização e muita responsabilidade,
além de uma ótima relação entre dirigentes, professores e alunos – além da
gratuidade do ensino, é claro.
O filme é extremamente bem feito,
com fotografia, música e edição primorosos, sem nenhum aspecto apelativo, e ao
mesmo tempo fugindo da monotonia de um documentário tradicional. “Amanhã”
ganhou o César (o Oscar francês) de Melhor Filme-Documentário, Melhor Diretor
(Cyril Dion e Mélanie Laurent), e Produção (Bruno Levy).
É difícil não sentir uma grande
dose de esperança ao ver este documentário, principalmente ao saber que não são
apenas as soluções mostradas no filme que estão em andamento. Milhares de
cidades estão adotando soluções alternativas para fazer a sua parte e reverter
o destino perverso que nós mesmos criamos.
E para quem ficou interessado, duas
boas notícias: “Amanhã” está na programação do Festival Varilux de Cinema
Francês de 2017 que acontece a partir de 8 de junho próximo, e para os que não
conseguirem ver na tela grande, é possível encontrá-lo no catálogo da Netflix
brasileira.
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