Cinerama, uma volta ao passado
Ontem tive a oportunidade de vivenciar uma experiência que
uniu o avanço da tecnologia com a tradição da história do cinema. Estando em
Seattle, cidade americana no estado Washington (não a capital, mas o estado do
outro lado do país), fui assistir um filme em uma sala chamada Cinerama.
Bem, assistir um filme em um país que é a meca do cinema não
parece ser grande coisa, mas, este cinema é especial por ser de uma tecnologia
inovadora – no início da década de 1960! O primeiro filme exibido no Cinerama
de Seattle foi “O Maravilhoso Mundo dos Irmãos Grimm”, em 1963. Os experimentos
começaram ainda na década anterior, e quando a tecnologia foi consolidada, foi
denominada Cinerama, uma fusão de cinema com panorama.
O Cinerama tinha como característica principal exibir seus
filmes em uma gigantesca tela curva, utilizando nada menos do que três
projetores! Hoje isso pode parecer fácil, mas imagine-se sincronizar três
projetores de filmes analógicos em uma mesma exibição. Além disso, o som era
reproduzido em sete canais estereofônicos – isso em uma época onde o estéreo em
dois canais já era uma grande novidade.
Como aconteceu com a maioria dos cinemas de rua, o Cinerama
quase fechou, devido à concorrência dos multiplex e o crescente mercado de
vídeo doméstico, sendo salvo graças a um movimento de seus fãs e à ação do
empresário Paul Allen, que promoveu uma restauração milionária.
Hoje o Cinerama permanece fiel às suas origens, com sua
gigantesca tela recurva, mas o sistema de projeção foi substituído pelo
moderníssimo sistema a laser Harkness Matt Plus screen, que impressiona mesmo
olhos acostumados a boas resoluções como os meus. O som também mudou para o
novíssimo padrão Dolby Atmos, que embora eu não saiba com detalhes do que se
trata, é extremamente envolvente e percorre todas as escalas imagináveis.
Eu já perdera a oportunidade de oportunidade de conhecer o
cinema em 2010, em passagem por Seattle, mas o título da época não era grande
coisa, “Scott Pilgrim Contra o Mundo”. Desta vez a coisa era diferente, pois o
filme em cartaz era nada menos que “007 Contra Spectre”.
Essa experiência foi realmente uma viagem no tempo – para o
passado e para o futuro. Além do formato do cinema tradicional, ainda teve o
abrir das cortinas no início da sessão, a exibição de um desenho do Pernalonga
– uma tradição nos cinemas americanos – e finalmente o filme principal.
Um filme do 007 já é um deslumbre em qualquer momento, mas
imagine-se com um som e imagem perfeitos! Ainda assisti na primeira fila do
balcão, lugar favorito dos garotos na minha época de garoto.
Alguns amigos perguntaram se o Cinerama era aquele sistema
de tela côncava que era exibido no estacionamento dos shoppings nos anos 80. Na
verdade, aqueles sistemas são os tataravôs dos moderníssimos IMAX, outra
tecnologia, igualmente envolvente e inovadora, mas bem diferente do velho-novo
Cinerama.
Na verdade, a versão tecnológica mais próxima do público é a
dos televisores de tela curva, uma miniatura do Cinerama que só pode ser
apreciada por uma ou duas pessoas que se posicionem bem em frente ao aparelho.
Bem diferente da gigantesca tela do cinema tradicional.
Certamente é muito mais empolgante – e disponível – assistir
os blockbusters em um cinema IMAX, tecnologia já bem difundida pelo mundo.
Contudo, ter a oportunidade de fazer essa viagem ao passado já valeu o preço da
passagem por este rincão pouco popular entre os turistas brasileiros.
Seattle, 30 de novembro de 2015
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