sexta-feira, 2 de julho de 2004

Claquete 02 de julho de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Férias, para que te quero. Com estudantes em férias, e, chuva à vontade, o velho chavão continua verdadeiro: “Cinema é a melhor diversão”. Com a programação muito voltada para o público infanto-juvenil, sobra pouco para os adultos. A estréia da semana é “Homem-Aranha 2”, que abre em cinco salas em Natal, pela primeira vez, com cópias dubladas e legendadas, nos dois shoppings. Se ver as estrepolias do Homem-Aranha não está nos seus planos, o jeito é conferir “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, com as aventuras do bruxinho inglês, “Shrek 2”, com o simpático ogro verde, o ótimo “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, “Diários de Motocicleta”, sobre a vida pré-revolucionária de Che Guevara, e, “Pelé Eterno”, sobre o maior jogador de futebol de todos os tempos. Nesta semana, não acontecerá o Filme de Arte.



“Homem-Aranha 2” estréia nos cinemas

Mesmo duramente criticado pelos fãs, o filme original do “Homem-Aranha”, de 2002, conseguiu as maiores bilheterias de sua época, superando 800 milhões de dólares, em todo o mundo. A continuação, “Homem-Aranha 2”, promete despertar o mesmo interesse, apesar dos comentários maldosos sobre sua masculinidade, já que preferiu a vida de super-herói, aos braços de sua amada. Com o mesmo elenco (e cachês bem mais polpudos), o herói aracdíneo chega com novas aventuras. Após derrotar o Duende Verde, a vida de Peter Parker (Tobey Maguire) muda por completo. Temendo que Mary Jane (Kirsten Dunst) sofra algum risco, por ser ele o Homem-Aranha, Peter continua escondendo o amor que sente, manténdo-se longe dela. Ao mesmo tempo, precisa lidar com Harry (James Franco), seu melhor amigo, cuja raiva pelo Homem-Aranha aumenta cada vez mais, por considerá-lo como sendo o assassino de seu pai. Além disso, sua tia May (Rosemary Harris) passa por uma fase difícil, após a morte do tio Ben, estranhando, também, o comportamento do sobrinho. Enquanto precisa lidar com seus problemas particulares, Peter recebe ainda uma má notícia: o surgimento do Dr. Octopus (Alfred Molina), um homem que possui tentáculos presos ao corpo. O sucesso do Homem-Aranha junto ao público, talvez só se explique, por ser ele o mais “humano”, dos super-heróis, já que tem que enfrentar problemas financeiros, chefe exigente, e, outros percalços que um trabalhador está habituado. Bem, o Batman não tem poderes, mas, como é milionário, não está enquadrado no gênero “humano”. “Homem-Aranha 2” estréia nesta Sexta-feira, em cinco salas, nos dois shoppings, com cópias dubladas e legendadas (maravilha!).



“Homem-Aranha”, em DVD especial


Pegando carona na estréia de “Homem-Aranha 2” nos cinemas, foi lançada uma edição especial, em DVD, do filme original. O box traz três discos, repletos de extras sobre o filme de 2002, além de teasers sobre a continuação e games do herói aracnídeo. Os discos trazem comentários em áudio, making of, documentários diversos sobre os quadrinhos, videoclipes, trailers, filmografias, especiais da HBO e da E!, além de documentários sobre a seqüência, “Homem-Aranha 2”. É pena que, mesmo trazendo tanta coisa, os produtores mantiveram o infame formato em tela cheia, mutilando a fotografia original. Mas, para os fãs de carteirinha, esta edição especial deve valer cada centavo, para ostentá-la em sua videoteca.


Animes japoneses, em DVD

Os fãs de animes japoneses têm, à sua disposição, dois novos títulos, de autores consagrados. Um deles é “Memories”, do mestre da animação Katsuhiro Otomo (Akira, Roujin Z), com três histórias deslumbrantes. “Magnetic Rose”, fala sobre dois viajantes espaciais que, seguindo um sinal, acabam sendo levados para um mundo magnífico criado pelas memórias de uma mulher. “Stink Bomb”, mostra um jovem químico, que, acidentalmente, transforma-se em uma arma biológica, pronta para atingir Tóquio. “Cannon Fodder” mostra um dia da vida de uma cidade, que tem como único propósito disparar canhões em inimigos desconhecidos. O outro título é “Tokyo Godfathers”: Em Tóquio, as vidas de três mendigos são transformadas para sempre, quando eles encontram uma bebezinha, abandonada no lixo, em plena véspera de Natal. Com o Ano Novo se aproximando, os três esquecidos membros da sociedade se juntam, para desvendar o mistério do abandono da criança, e, o destino dos pais. Confira.


Irmãos Marx, em DVD

Já ouviu falar nos irmãos Marx? A menos que tenha mais de sessenta, a chance é pequena. Mas, os irmãos Marx fizeram tremendo sucesso nas décadas de 30 e 40, inaugurando a comédia pastelão. Numa justíssima homenagem aos hilariantes Groucho, Chico e Harpo Marx, foi lançado agora, em DVD, uma seleção dos melhores filmes do grupo. O box traz cinco DVDs, com seis filmes: “Uma Noite na Ópera”, “Um Dia Nas Corridas”, “Os Irmãos Marx no Circo”, “Uma Noite em Casablanca”, “A Grande Loja”, e, “No Tempo do Onça”. Além dos filmes, o box traz ainda muitos extras do trio, como documentários, trailers de cinema, desenhos animados clássicos, e, muitos outros. Já às vendas, nas lojas online.



Abertas as incrições para o Festival do Rio 2004

Atenção, cineastas potiguares! Quem quiser participar da Premiére Brasil do Festival Rio 2004, tem até o dia 23 de julho, para inscrever sua obra. O Festival acontece entre 23 de setembro e 7 de outubro. Podem ser inscritos filmes produzidos entre 2003 e 2004, com cópias em 35mm, 16mm, beta digital, ou, HD, sendo aceitas cópias de trabalho, para a etapa de seleção. Serão concedidas oito premiações, sendo cinco pelo Júri Oficial, e, três pelo voto popular. Os interessados em participar devem entrar em contato com Mariana Pinheiro, através do telefone (21) 2539-1505, ou, pelo e-mail eventos@estacaovirtual.com.


Curta o curta, no Portacurtas Petrobras

Já ouviu falar do Portacurtas Petrobras? Não, não se trata de uma porta pequena, mas, de um site na internet, patrocinado pela estatal, onde estão disponíveis inúmeros curtas-metragens, sendo necessário apenas cadastrar-se online. Para assistir aos curtas, basta ter o plug-in Windows Media Player, na versão 9, que pode ser “baixado” no próprio site. Entre as novidades, “Marina”, dirigido por Isabel Diegues, cinco episódios da série “Som da Rua”, produzida pela Tv Zero, e, “Uma Estrela para Ioiô”, com a lindinha Mariana Ximenes. Confira, em www.portacurtas.com.br/.


Diga NÃO ao piratão

Infelizmente, está se tornando comum, em todas as cidades do Brasil, a venda aberta de filmes piratas, muitas vezes, quando este acabou de ser lançado nos cinemas. Sem entrar no mérito dos direitos autorais, quem compra um filme destes, além de contribuir para a contravenção, está sendo lesado. Primeiro, porque muitas vezes, o que está levando para casa é um videocd, com qualidade inferior até ao VHS. Se é em DVD, além do risco de incompatibilidade com o seu player, estará levando uma cópia com imagem de péssima qualidade, filmada com uma câmera portátil dentro de um cinema. O som, então, é abaixo da crítica. Se o filme lhe interessa, não se precipite. É só ficar atento, que, cedo ou tarde, entrará numa promoção de vendas, a um preço melhor. Mas, não alimente o pirata.

Filme recomendado: “Febre da Selva”

Desfile de Preconceitos


Andando por vários lugares em Porto Alegre, deparei-me com jovens fumando, abertamente, alguns cigarros meio esquisito, o que me lembrou muito o filme de Spike Lee, “Febre da Selva”, numa prova de que, às vezes, é a Vida que imita a Arte. Mas, além da problemática das drogas, “Febre da Selva” fala bastante de preconceitos. Isso nos deixa felizes, por viver no Brasil, onde a mistura de raças é um valor, e, essa triste realidade não existe. Verdade? Bem, como diria minha avó, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. “Febre da Selva” não trata só de discriminação racial, e, de intolerâncias, o Brasil está cheio até o gargalo. Mas, vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.

“Febre da Selva” conta a história dois jovens, Flipper (Wesley Snipes), e, Angie (Annabella Sciorra), que vivem uma sofrida história de amor, na selva urbana de New York. Flipper é um jovem e bem sucedido arquiteto negro, que mora no Harlem com a mulher e uma filhinha. Do tipo certinho, Flipper segue, todos os dias, de casa para o trabalho, um importante escritório de arquitetura, onde percorreu, com sucesso, todos os postos e atribuições posssíveis. É lá que conhece Angie, uma ítalo-americana, que é contratada para serviço administrativo temporário. Após um longo período trabalhando juntos, os dois apaixonam-se, e, vivem um tórrido romance, alheios às diferenças entre os dois.

Cientes de que viviam uma aventura proibida, os dois resolvem manter suas vidas como estão, ele, com a família, ela, com um antigo namorado. Contudo, indiscrições de ambas as partes precipitam as coisas, e, os dois vêem-se forçados a deixar suas casas, para morar juntos. Mesmo sendo adultos, livres, e, financeiramente independentes, os dois são submetidos a um festival de intolerância, que vai de mau atendimento nos restaurantes, à rejeição de ambas famílias, passando até por revista da polícia. A capacidade dos dois de resistir às pressões, só vai até o limite do que realmente sentem pelo outro.

Este filme trata de preconceitos. Discriminação no trabalho, cultural, social, religiosa, sexual, e, obviamente, racial. É uma acusação mútua de racismo, quando Flipper exige uma secretária afro-americana, e, o chefe contrata uma ítalo-americana. É o italiano moreno, que reclama do americano louro e WASP. É reclamação das negras, de que os próprios negros preferem as negras mais claras. É reclamação dos brancos, de que os negros “invadiram” os esportes. É discriminação contra os mestiços, por estar enfraquecendo a raça. E, por aí vai.

Engana-se, quem pensa que o preconceito denunciado é só o racial. Substitua-se “negro” por “pobre”, “velho”, “índio”, e, tantas outras classificações, que o resultado será idêntico. Transportemos o casal para o Brasil, sendo Flipper um homem maduro (de qualquer raça), e, Angie uma mulher bem mais jovem. A menos que o cidadão seja um homem rico e influente, a rejeição será a mesma observada no filme. Não são poucas as pessoas que torcem o nariz para o casal Marília Gabriela x Gianecchini, ou, para as louras que casam com pagodeiros, e, jogadores de futebol.

Um preconceito é um pré-conceito, ou seja, um julgamento de valor, fundamentado em conceitos preconcebidos. Spike Lee foi muito feliz, ao perceber, e, mostrar, através de seus personagens, não só o alienado Flipper, como a mulher, recalcada por ser mestiça, o pai, pastor, que vê o demônio em tudo, menos em seu próprio passado, e, tantos mais. Verdadeiro mesmo, só o irmão de Flipper, viciado em crack, vivido magistralmente por Samuel L. Jackson. Numa de suas falas mais antológicas, ele diz para a mãe: “Mãe, eu fumei a maldita televisão!”.

Num filme que trata de relações entre as pessoas, a atuação do elenco é fundamental. Wesley Snipes, apesar de estrelar mais filmes de ação, está muito bem, assim como a, então, novata, Annabella Sciorra, que estrelaria vários filmes a partir deste. Eles dão vida ao casal central, transportando para o espectador a sofrida relação dos dois. Além deles, tem também o já citado Jackson, John Turturro, como o namorado de Angie, Ossie Davis, como o Bom Reverendo, o brilhante Anthony Quinn, como o pai de Turturro, o próprio Spike Lee, como o amigo indiscreto de Flipper, e, a gatíssima Hale Berry, anos-luz antes de ganhar o Oscar de Melhor Atriz, em 2002.

Apesar do filme tratar de preconceitos, não o fez como simples denúncia, mas sim como constatação dos fatos. O que faz – ou deixa de fazer – a diferença, é a atitude das pessoas. Como o personagem de Turturro, que, literalmente, enfrenta os amigos, para viver o que acredita, enquanto que o Romeu negro desiste de enfrentar as barreiras, preferindo a acomodação. “Você só tinha curiosidade, como eu...”. Ou, do fanático reverendo, que resolve combater o demônio com algo mais que pregações. Palmas para Angie, a corajosa da história, e, palmas para Lee, por ter levado às telas este belo poema de amor e ódio, decepção e resignação, aceitação e atitude.

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