Newton Ramalho
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Filme da Semana:
“João, o Maestro”
João, o invencível
Os vendedores de pacotes de TV por
assinatura sempre sofrem comigo, pois quando oferecem “trocentos” canais de
filmes, minha resposta é curta e grossa: não assisto filmes na TV. Quis o acaso
que, ao fugir da programação dominical, eu parasse em um canal onde estava
começando o filme “João, o Maestro”, de Mauro Lima. O controle remoto ficou de
lado até rolarem os créditos finais.
O filme realmente me impressionou,
não apenas pelo personagem central, um fenômeno da música erudita, mas também
pela qualidade do produto. Além da direção de Mauro Lima, responsável por
sucessos como “Meu Nome Não é Johnny” e “Tim Maia”, o filme conta com o suporte
de gigantes do cinema nacional, Bruno Barreto, Luis Carlos Barreto e Cacá
Diegues.
O curioso é que mal ouvi falar
deste filme sendo exibido nos cinemas. Talvez porque nossa preferência seja por
heróis-bandidos, como foi o caso das produções citadas acima. Embora Tim Maia e
João Carlos Martins sejam exemplos de gênios da música, Tim foi pop enquanto
Martins fez sucesso entre os amantes da música clássica mundial.
Um dos lados bons de “João, o
Maestro” é mostrar com notável sinceridade alguns aspectos pouco “heroicos” do
protagonista, como bebidas, mulheres e grande dificuldade de relacionamento com
a família. Por outro lado, a história mostrada no filme traz um homem submetido
a um calvário de dificuldades para fazer aquilo que mais gostava, e sua
incrível capacidade de superação.
O filme segue uma narrativa linear,
iniciando pela infância de João Carlos, quando algumas doenças e sua introversão
o faziam ter uma vida diferente da dos próprios irmãos. Por outro lado, a
influência do pai, um imigrante português amante da música e extremamente
culto, direcionou-o para o que seria a sua grande paixão, o piano.
Se por um lado a influência do pai
foi fundamental, as qualidades do próprio João Carlos superavam qualquer
expectativa. Embora lesse partituras sem dificuldades, ele literalmente
memorizava as músicas, não importasse quão complexas fossem.
O primeiro concerto internacional
no Uruguai também representou a libertação sexual, e não demorou muito para que
alcançasse sucesso mundo à fora, o que facilitou uma proposta para morar em
Nova York.
Foi nesta cidade que sofreu o
primeiro grave revés de sua vida, ao sofrer uma queda que o fez perder o
movimento de três dedos da mão direita. A garra e determinação fizeram com que
superasse o problema, mas outros acontecimentos o poriam à prova novamente.
Além de uma história magnificamente
contada, o filme tem qualidades que o diferenciam muito do tradicional cinema
brasileiro da atualidade. Além de uma perfeita recriação de época, a edição do
filme é perfeita, e a trilha sonora deslumbrante, quase toda com gravações de
performances do próprio João Carlos.
O elenco é um show à parte,
principalmente dos quatro atores que interpretam o protagonista, com destaque
para Alexandre Nero, ao qual compete interpretar a fase mais complexa da vida
do personagem. Em papéis secundários, Caco Ciocler, Alinne Moraes e Fernanda
Nobre ajudam a compor o ótimo elenco.
Apesar da fraca distribuição, “João,
o Maestro” é um ótimo filme, fruto de uma escola de cinema que já esteve entre
as melhores do mundo. O filme já está sendo exibido nos canais de assinatura,
mas pode ser facilmente encontrado através dos serviços de internet.
No final do filme há uma participação do próprio João Carlos em uma performance emocionante. Aguarde os créditos, pois são exibidas várias imagens da vida do músico, além de informações adicionais sobre sua obra.
No final do filme há uma participação do próprio João Carlos em uma performance emocionante. Aguarde os créditos, pois são exibidas várias imagens da vida do músico, além de informações adicionais sobre sua obra.
Título original: “João, o Maestro”
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