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Newton Ramalho
colunaclaquete@gmail.com – www.colunaclaquete.blogspot.com - @colunaclaquete
Filme da Semana: “Tanna”
Se
alguém um dia perguntar para que serve o Oscar, podemos dizer que, pelo menos a
categoria de Melhor Filme Estrangeiro nos permite ter acesso a produções que
dificilmente chegariam ao circuito comercial. Claro, quando não são boicotados
pelos próprios governos, como foi o caso do nosso “Aquarius”. Mas, se não
estamos representados na competição, vale conferir os outros, e encontramos
algumas joias raras, como é o caso de “Tanna”, representante da Austrália e
Vanuatu.
O filme
tem pouco a ver com a Austrália, onde seus habitantes originais foram
massacrados ou marginalizados pelos colonizadores ingleses. Para ser franco,
precisei recorrer à internet para descobrir onde acontecia a história, e
descobri que Vanuatu é uma antiga colônia franco-inglesa, com pouquíssimo tempo
de vida independente.
O país é
um arquipélago no sul do Pacífico, e Tanna é uma das 83 ilhas que o compõem.
Embora seja uma das ilhas mais povoadas, com vinte mil habitantes, Tanna tem
uma área menor que o município de Carnaubais, com 550 km².
Embora
esses dados geográficos pareçam ter pouco a ver com o filme, eles mostram um
lugar onde a civilização moderna não conseguiu destruir os costumes locais,
onde vivem habitantes que seguem suas tradições e crenças existentes desde
tempos imemoriais.
É neste
ambiente peculiar que vive Wawa (Marie Wawa) uma jovem mulher que está
concluindo a transição entre a adolescência e a maturidade, situação que é
comemorada por toda a tribo, embora com as cobranças costumeiras.
Wawa ama
seu povo e sua família, em especial a endiabrada irmã caçula Selin (Marceline
Rofit) que parece nunca parar quieta. Mas, Wawa também tem um sentimento todo
especial por Dain (Mungau Dain), neto do chefe da tribo, que foi seu amigo por
toda vida.
Os
Yakel, o povo de Wawa, tem uma grande veneração por Yahul, um vulcão ativo de
fácil acesso, que representa para eles a divindade que lhes traz sabedoria.
Quando Selin e seu avô fazem uma visita ao vulcão, eles são atacados por dois
guerreiros Imedin, uma das tribos da ilha.
A
agressão traz muita ira e desejo de vingança ao Yakel, mas, o chefe da tribo
recebe uma mensagem divina, através de uma música, que diz que a vingança não
leva a nada, a não ser para a destruição. O caso é levado ao conselho de todas
as tribos, e um acordo é selado, onde a jovem Wawa será oferecida em casamento
para fortalecer os laços com a tribo Imedin.
O
problema é que nem Wawa nem Dain aceitam este destino e decidem fugir para
viver o seu amor. Mas o mundo de Tanna é pequeno, e parece não haver nele lugar
para amantes inocentes. Não parece existir um desfecho que não seja uma
tragédia.
Alguém
poderia ser tentado a pensar nesse enredo como uma cópia aborígene de Tristão e
Isolda, ou Romeu e Julieta. Mas, o fato retratado ocorreu mesmo, em 1987. E
provocou uma mudança de pensamento nas tradições da ilha, algo impensável até
então.
O filme
é surpreendente em muitos aspectos, principalmente na atuação do elenco, a
maioria moradores reais da ilha, sem conhecimentos cênicos, mas que trazem
realismo e charme às cenas.
A
fotografia é fantástica, explorando de maneira primorosa as belas e estranhas
paisagens da ilha, que incluem o vulcão, a floresta, planícies desérticas e um
litoral luxuriante.
O filme
é falado em bislama, o dialeto da ilha, o que não impede de explorar os belos diálogos
ricos de humor e de ensinamentos sobre a arte da convivência.
“Tanna”
é um filme muito interessante, com muitas camadas para compreensão e discussão,
e que mostram como a condição humana é rica e variada, mesmo neste mundo
perturbadamente globalizado.
Título
Original: “Tanna”
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