Newton Ramalho
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Filme da Semana: “Rocky: Um
Lutador”
Em
dezembro de 2016 o filme “Rocky: Um Lutador” completou quarenta anos desde a
sua estreia nos Estados Unidos. O longa gerou cinco sequências e um derivado, e
levou ao estrelato Sylvester Stallone, um ator limitado, que soube como ninguém
agarrar a mais importante chance da sua vida – e transformar o personagem em um
ícone que sobreviverá em muito ao seu criador.
É
curioso como um filme com uma história simples, atores desconhecidos e
baixíssimo orçamento tenha alcançado um sucesso tão fenomenal. Para entender
isso, é preciso ver que a história do personagem se confunde com a do seu
criador, o protagonista e autor do roteiro, o próprio Stallone.
Nascido
em um dos bairros mais pobres de Nova York, Stallone foi colocado pela mãe em
uma escola para crianças-problema na cidade de Filadélfia, onde se dedicou ao
boxe, equitação e esgrima, que seriam muito úteis mais tarde. Com um físico
privilegiado, chegou a estudar na Suíça, e posteriormente voltou aos Estados
Unidos, ávido para entrar no cinema.
Para
sobreviver, ele fez algumas pontas em filme pequenos e até filmes eróticos. Sua
grande chance foi através do roteiro de “Rocky: Um Lutador”, que ele escreveu
em apenas três dias, após assistir uma luta de boxe em que o desconhecido Chuck
Wepner conseguiu suportar quinze assaltos antes de ser nocauteado pelo campeão
Muhammad Ali.
Os
produtores Irwin Winkler e Robert Chartoff ficaram tão interessados no roteiro
que ofereceram 350 mil dólares para que Stallone o vendesse a eles. Mas, como
insistisse em ser o protagonista, Stallone então propôs entregar o roteiro por
um valor simbólico, em troca do papel-título e uma participação na bilheteria.
Isso se revelou como a grande vitória de sua vida.
A
história do filme é bem conhecida. Rocky (Stallone) é um pugilista
semi-profissional, e que ganha uns trocados como cobrador de dívidas de um
agiota local. Aos trinta anos, é considerado velho para a carreira de lutador,
mas devido a um acidente com um oponente, o campeão mundial Apollo Creed (Carl
Weathers) decide lutar com um desconhecido, para manter o evento programado na
cidade.
Com
parcos recursos, Rocky inicia a sua reconstrução como lutador, com a ajuda de
seu velho treinador Mike (Jimmy Gambina), do amigo Paulie (Burt Young) e da
namorada Adrian (Talia Shire).
O filme
é muito envolvente, a música fantástica, e criou milhões de fãs ao redor do
mundo, que imitavam o personagem até no seu extravagante café da manhã de ovos
crus. Principalmente para os garotos, que sempre sonham em serem bonitos e
musculosos, Rocky representava a concretização destes sonhos, mesmo que fosse
apenas nas telas de cinema.
Não foi
difícil para os espectadores se identificarem com Rocky. Branco, pobre e sem
estudos, Rocky seria a imagem de milhões de americanos. Se fosse hoje,
certamente seria eleitor do Trump. Mas, essa identificação superou as
fronteiras, criando fãs em todos os continentes, de todas as raças, credos e
níveis intelectuais.
Até hoje
os responsáveis pelo Museu de Arte da Filadélfia ressentem-se pelo fato de que
milhares de pessoas vão ao local todos os anos apenas para subir correndo os
degraus da escadaria e imitar o gesto de vitória de Rocky. Nos créditos do
filme “Rocky Balboa” é possível ver cenas de pessoas reais fazendo isso.
O mais
interessante – e pouco conhecido – é que o próprio Stallone estava em uma
situação parecida com a de seu personagem. Com trinta anos, era considerado
velho para iniciar uma carreira de ator, ainda mais com suas limitações.
Para
viver o próprio personagem, Stallone também precisou se reinventar. No início
das filmagens ele estava bem acima do peso, e com a discreta intervenção do
diretor John G. Avildsen, que filmou os treinos, Stallone percebeu que teria
que imitar o personagem, construindo o magnífico corpo que apareceu nas telas.
Transformado em sucesso mundial graças ao
personagem, Stallone também encarnaria outro ícone, o veterano da guerra do
Vietnã John Rambo, que também renderia quatro filmes de grandes bilheterias.
Filmado
em apenas 28 dias, com um orçamento de um milhão de dólares, “Rocky: Um
Lutador” ganhou o Oscar de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Edição, além
indicações para as categorias de Ator (Stallone), Atriz (Talia Shire), Ator
Coadjuvante (Burt Young e Burgess Meredith), Roteiro Original, Canção Original
e Som. O filme ganhou ainda o Globo de Ouro como Melhor Filme – Drama, além de
outras cinco indicações.
Depois
de “Rocky: um Lutador” em 1976 viriam “Rocky II – A Revanche” (1979), “Rocky
III – O Desafio Supremo” (1982), “Rocky IV” (1985), “Rocky V” (1990), e “Rocky
Balboa” (2006). Em 2015 o personagem retornou às telas em “Creed: Nascido Para
Lutar”, uma quase refilmagem do primeiro filme, onde Rocky encara a
responsabilidade de treinar o filho de seu primeiro oponente, Apollo Creed.
Mesmo
passados quarenta anos, é impossível escutar os primeiros acordes da música
“Gonna Fly Now”, e não querer sair correndo pelas ruas como fazia Rocky. Longa
vida ao campeão!
Título Original: “Rocky”
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