Filme da Semana: “A Lenda de Tarzan”
Ontem, enquanto procurava um
filme para preencher a preguiçosa tarde do domingo, deparei com esta aventura,
que passou fugazmente pelos cinemas, “A Lenda de Tarzan”. Como sou íntimo deste
personagem, que aprendi a conhecer nos livros ainda menino, fiquei curioso para
ver o que mais podiam inventar com o herói das selvas.
Tarzan deve ser um dos personagens de ficção mais
conhecidos no mundo, pois o primeiro livro, “Tarzan, o Filho das Selvas”, foi
publicado em 1912. Ele fez tanto sucesso, que logo passou para as telas do
cinema, ainda mudo, em 1918, chegando às revistas em quadrinhos em 1928.
Esse sucesso se repetiu ao longo do tempo, e além dos 24
livros escritos por Edgar Ryce Burroughs, existem 236 títulos citados pelo site
IMDB.com, entre filmes e episódios de séries televisivas. Nada mal para um
personagem criado por um escritor que jamais colocou os pés na África!
Segundo a versão original, os pais de Tarzan, John Clayton
e Alice, eram nobres ingleses, que durante uma viagem de navio foram obrigados
a desembarcar na costa da África após um motim a bordo. Alice estava grávida, e
morreu durante o parto. O garoto sobreviveu, mas logo depois um bando de
orangotangos invadiu a cabana em que viviam e matou John Clayton. Kala, uma
fêmea do bando cujo bebê morrera, resgata o garoto e o leva consigo, criando-o
como seu filho, e chamando-o de Tarzan, que seria “pele branca”, na língua dos
macacos.
Anos depois, quando Tarzan já está adulto, ele encontra um
grupo de homens brancos, no meio dos quais estão o seu primo e aquela que seria
o amor de sua vida, Jane Porter. Vários encontros e desencontros acontecem, até
que o casal fique unido e ele assuma o seu lugar de direito na aristocracia
inglesa.
A imaginação de Burroughs, aliada ao desconhecimento sobre
o continente africano no início do século XX, levou Tarzan a enfrentar não só
leões e nativos selvagens, como também alemães nazistas, soldados romanos,
cavaleiros medievais, e até seres exóticos como os homens-formiga, animais
pré-históricos, e até uma jornada ao Centro da Terra!
Fazendo uma leitura mais crítica, é possível ver que o
personagem criado por Burroughs era a imagem da sociedade da época. O herói era
branco, de origem nobre, e matava animais e nativos com a mesma naturalidade de
quem mata baratas. Em alguns trechos do livro é possível perceber um inegável
racismo, que era uma característica comum da época e do meio em que vivia o
autor.
Como foram feitos centenas de filmes com Tarzan, é natural
que sejam criadas novas situações, mas, na maioria das produções atuais há um
embaralhamento dos personagens que deixaria tonto até o próprio autor!
No filme atual, Tarzan (Alexander Skarsgård) já é adulto,
casado e mora na Inglaterra, onde usa seu verdadeiro nome e título, John
Clayton III, lorde Greystoke. Enquanto que na história original se passava no
início do século XX, aqui há um recuo, situando-o em 1889.
Outra liberdade poética foi tomada, fazendo com que Tarzan
tenha vivido no Congo Belga (hoje República Democrática do Congo). O explorador
belga Leon Rom (Christoph Waltz) é enviado pelo rei da Bélgica Leopoldo II para
encontrar a lendária cidade de Opar e pegar diamantes para financiar os
mercenários de que ele precisa para dominar a colônia. Os atacantes são
dizimados pelos nativos, mas o rei de Opar, Mbonga (Dijimon Hounsou) diz a Rom
que ele lhe dará muitos diamantes em troca de Tarzan.
Rom usa todos os artifícios para atrair Tarzan para a
África, e este aceita o convite, vindo acompanhado pela mulher Jane (Margot
Robbie) e por um explorador americano, George Washington Williams (Samuel L.
Jackson).
Ao longo do filme vão acontecendo várias reviravoltas que
chegam a um final hollywoodiano, que nada tem a ver com a História real. Mas, o
bom é que o Tarzan agora é bem diferente dos livros, respeita a Natureza, é
amigo e protetor dos nativos, e não matas nenhum bicho. Desconfio até que ele
seja vegetariano...
Uma coisa interessante do filme é apontar para um fato
histórico pouco conhecido, o papel do rei Leopoldo II no Congo. Usando
artifícios de tratados de comércio, e posteriormente um exército de
mercenários, ele manteve a região como possessão pessoal, submetendo os
habitantes à escravidão com métodos extremamente brutais, inclusive amputação
de membros. A coisa ficou tão feia que 1908, o parlamento belga retirou a
região da posse do rei e transformou-a em colônia do país, até sua
independência em 1960.
O elenco está bem, e não compromete a história, mas, faz
pena ver um ator de altíssimo nível como Christoph Waltz fazer um vilão
ridículo e estereotipado. A computação gráfica foi usada bastante,
principalmente na elaboração dos gorilas que criaram Tarzan, e que devem ter
consumido boa parte dos 180 milhões de dólares do orçamento do filme.
Embora tenha muitas diferenças em relação à versão
original, “A Lenda de Tarzan” é um filme de aventuras bem ao estilo dos dias
atuais, com muitas cenas de ação e reviravoltas constantes. É desligar o
cérebro e curtir.
Título original: “The Legend
of Tarzan”
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