Filme
da Semana: “A Três Vamos Lá”
Nestes tempos estranhos que
vivemos, em que as pessoas vagueiam entre a mais pura intolerância e a cobrança
pela correção política, é muito agradável assistir um filme em que a única
coisa que importa é o relacionamento entre as pessoas – mesmo que este
relacionamento seja diferente daquilo que é considerado “normal”. O filme em
questão é “A Três Nós Vamos” (“A trois on y va”, 2014) do diretor Jérôme
Bonnell.
Como o título sugere, a história
gira em torno de três pessoas: Charlotte (Sophie Verbeeck) e Micha (Félix
Moati), que estão juntos há quatro anos, e a amiga do casal, Mélodie (Anaïs
Demoustier). Os três são jovens e lutam com as dificuldades de um começo de
vida.
Charlotte e Micha tem um
problema a mais, já que o relacionamento que vivem sofre com o desgaste da
monotonia. Isso fez levou Charlotte a ter um caso com Mélodie, situação que já
dura alguns meses, mas que também sofre com as dúvidas e problemas das duas
mulheres.
Por sua vez, Micha sente-se
atraído por Mélodie, e algumas circunstâncias os levam, também, a um novo
ângulo deste triângulo amoroso. Apenas Mélodie tem consciência do que está
acontecendo, e ela tenta a todo custo evitar que os amigos e amantes sejam
magoados, ao mesmo tempo em que tenta sobreviver às suas próprias dificuldades
financeiras.
O filme é construído de uma
forma leve e divertida, com algumas situações engraçadas, típicas de uma
comédia romântica, mas sem nunca descambar para os exageros dos filmes de
Hollywood. O espectador fica livre tanto das piadas escatológicas quanto dos
clichês e pieguices sentimentais.
As relações entre os
personagens, por sua vez, são construídas em cima das paixões que os unem,
refletindo um pouco do imediatismo e fragilidade que compõem os relacionamentos
de hoje em dia.
O aspecto mais notável do filme
é a forma como o assunto é tratado, sem envolver questões morais. O fato de
duas mulheres manterem um caso não é visto pela ótica da homossexualidade,
assim como não é visto como adultério o envolvimento dos parceiros com uma
terceira (e mesma) pessoa. A questão maior é a dos sentimentos dos seres
envolvidos.
O trio central está muito bem, o
que reflete diretamente o trabalho do diretor francês Jérôme Bonnell. Mas, o
sucesso do filme deve-se principalmente à atuação da promissora Anaïs
Demoustuer, que já havia brilhado em “Uma Nova Amiga”, já resenhado nesta
coluna.
“A Três Vamos Lá” é um filme
leve e divertido, obviamente que para um público menos conservador, mas que
esteja com o espírito aberto para entender que o que une as pessoas não são as
convenções morais, políticas e religiosas, mas, sobretudo, o amor.
Título original: “A trois on y va”
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