Filmes
da Semana: “O Eterno Zero” e “Imperador”
A história da Humanidade é
repleta de conflitos, muitos deles de proporções catastróficas, e, pelo jeito,
sem muita perspectiva de mudança. Para tentar vislumbrar um pouco do que foi um
destes maiores conflitos, a Segunda Guerra Mundial, proponho ao leitor dois
filmes sobre esta guerra e um dos seus atores mais complexos, o Japão. Os
filmes são “O Eterno Zero” e “Imperador”.
A cultura do Japão sempre foi
complexa e diversa dos países próximos, principalmente devido ao autoisolamento
imposto por seus dirigentes, e que só foi quebrado – à força de canhões – pelos
europeus e americanos na metade do século 19.
Até esta época o país vivia
num regime feudal, com uma sociedade extremamente estratificada, com um
imperador adorado como um deus vivo, mas onde o poder real repousava nas mãos
dos senhores feudais.
A chegada dos ocidentais fez
ver como o país estava defasado tecnologicamente em relação ao resto do mundo,
e então foi promovida uma mudança brusca e traumática onde uma sociedade que
mantinha os mesmos hábitos por mil anos foi forçada a adotar novos hábitos e
estilo de vida.
Esta mudança brusca, aliada a uma
crescente militarização, e a um desejo de expansão reprimido ao longo de
séculos fez o Japão transformar-se em um país diferente, beligerante e ambicioso
por novos recursos. Esta mudança foi notavelmente retratada no filme “O Último
Samurai”.
O início do século 20 foi um
período de afirmação do poder de guerra dos japoneses, que chegaram a derrotar
a poderosa Rússia numa disputa por algumas ilhas. Ao longo das décadas, os
japoneses invadiram parte da China, Coréia e outros países da Ásia, e
posteriormente envolveram-se na Segunda Guerra Mundial, ao lado da Alemanha e
Itália.
O filme “O Eterno Zero” lança
um olhar sob a postura do soldado japonês, principalmente os pilotos suicidas,
que lançavam seus aviões sobre os navios aliados. Estes aviões, chamados de
Zero, eram um projeto tecnológico extremamente avançado à época de seu
lançamento, e com um grupo de pilotos experientes fazia um conjunto
praticamente imbatível.
Nos dias atuais, após a morte
da avó, dois irmãos, Kentaro (Haruma Miura) e Keiko (Kazue Fukiishi), descobrem
que aquele que chamavam de avô não era o seu avô biológico, mas alguém que
morrera na Segunda Guerra Mundial.
Os jovens decidem investigar
mais sobre ele, mas, ao entrevistar antigos colegas da força aérea, só recebiam
comentários negativos, dizendo que ele tinha sido um covarde egoísta. Apenas
uns poucos revelam que Miyabe (Jun’ichi Okada) era um dos melhores pilotos da
marinha japonesa, e que entrava em choque com os colegas por não concordar com
a obsessão de morrer pela pátria cegamente. Ele acreditava que todos deveriam
fazer o máximo para sobreviver à guerra e retornar para suas famílias.
Poucos amigos foram capazes de
perceber a grandeza de Miyabe, e os sacrifícios que ele fazia para proteger os
colegas e alunos na guerra. Essas descobertas sobre o avô provocam em Kentaro
mudanças em sua própria vida e na forma de ver o mundo. Alguns segredos são
revelados, enquanto outros repousarão para sempre no silêncio.
“O Eterno Zero” é um filme bem
dirigido, com várias cenas de combate aéreo, e muitos flashbacks, mas com uma
história bem contada graças ao roteiro bem construído. Os diálogos podem
parecer estranhos para os ocidentais, pois a língua japonesa é muito gutural, e
sempre parece que eles estão em uma discussão mortal.
O segundo filme em análise é
“Imperador”. O momento histórico mostrado no filme é o período imediatamente
posterior à rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. Esta rendição,
realizada após a explosão de duas bombas atômicas, em Hiroshima e Nagasaki,
pouparam milhares de vidas que teriam sido perdidas se o conflito tivesse
continuado.
Após a rendição, o Japão foi
ocupado por forças americanas comandadas pelo general Douglas MacArthur (Tommy
Lee Jones), e que assumiu o posto de líder supremo da ocupação. MacArthur tinha
ambições políticas, e desejava candidatar-se à presidência dos Estados Unidos,
usando sua imagem de herói de guerra.
Para satisfazer os eleitores
com sede de vingança, ele precisava apontar e mandar para julgamento os
criminosos de guerra, assim como ocorrera com os altos oficiais alemães em
Nuremberg.
Entre todos os nomes, um era o
mais dúbio. O imperador do Japão, Hiroito (Takatarô Kataoka) era apontado pela
imprensa ocidental como o principal responsável pelas atrocidades cometidas
antes e durante a guerra. Por outro lado, prender e executar um homem que era
considerado um deus pela população japonesa seria o mesmo que incendiar o país
com revoltas de extensão inimagináveis.
MacArthur determina a seu
assistente general Bonner Fellers (Matthew Fox) que investigue sobre a
responsabilidade de Hiroito e sua participação nas decisões na guerra, em
especial o ataque a Pearl Harbor.
Fellers sempre admirara a
cultura japonesa, e já havia feito estudos sobre o soldado nipônico, muito
antes do início do conflito. Ele começa entrevistar pessoas do alto escalão do
governo japonês, buscando pistas que fundamentem a culpa ou inocência do
imperador.
Paralelamente, ele investiga
sobre Aya Shimada (Eriko Hatsune), uma professora japonesa que conhecera na
universidade, e por quem se apaixonara. As duas investigações parecem não ter
definição, em meio a um país destruído pela guerra.
Embora seja um filme
ocidental, a trama procura mostrar a situação ambígua do imperador, uma figura
simbólica que era considerada uma divindade pela população, e ao mesmo tempo
destituída de poder real, em uma cultura extremamente complexa, onde o
indivíduo nunca é mais importante que o coletivo.
Os dois filmes são
interessantes e historicamente ricos, mostrando um lado do Japão diferente
daquele que normalmente estamos acostumados a ver nas telas.