terça-feira, 31 de maio de 2016

Coluna Claquete – 02 de junho de 2016 - Filmes da Semana: “O Eterno Zero” e “Imperador”



Filmes da Semana: “O Eterno Zero” e “Imperador”

A história da Humanidade é repleta de conflitos, muitos deles de proporções catastróficas, e, pelo jeito, sem muita perspectiva de mudança. Para tentar vislumbrar um pouco do que foi um destes maiores conflitos, a Segunda Guerra Mundial, proponho ao leitor dois filmes sobre esta guerra e um dos seus atores mais complexos, o Japão. Os filmes são “O Eterno Zero” e “Imperador”.
A cultura do Japão sempre foi complexa e diversa dos países próximos, principalmente devido ao autoisolamento imposto por seus dirigentes, e que só foi quebrado – à força de canhões – pelos europeus e americanos na metade do século 19.
Até esta época o país vivia num regime feudal, com uma sociedade extremamente estratificada, com um imperador adorado como um deus vivo, mas onde o poder real repousava nas mãos dos senhores feudais.
A chegada dos ocidentais fez ver como o país estava defasado tecnologicamente em relação ao resto do mundo, e então foi promovida uma mudança brusca e traumática onde uma sociedade que mantinha os mesmos hábitos por mil anos foi forçada a adotar novos hábitos e estilo de vida.
Esta mudança brusca, aliada a uma crescente militarização, e a um desejo de expansão reprimido ao longo de séculos fez o Japão transformar-se em um país diferente, beligerante e ambicioso por novos recursos. Esta mudança foi notavelmente retratada no filme “O Último Samurai”.
O início do século 20 foi um período de afirmação do poder de guerra dos japoneses, que chegaram a derrotar a poderosa Rússia numa disputa por algumas ilhas. Ao longo das décadas, os japoneses invadiram parte da China, Coréia e outros países da Ásia, e posteriormente envolveram-se na Segunda Guerra Mundial, ao lado da Alemanha e Itália.
O filme “O Eterno Zero” lança um olhar sob a postura do soldado japonês, principalmente os pilotos suicidas, que lançavam seus aviões sobre os navios aliados. Estes aviões, chamados de Zero, eram um projeto tecnológico extremamente avançado à época de seu lançamento, e com um grupo de pilotos experientes fazia um conjunto praticamente imbatível.
Nos dias atuais, após a morte da avó, dois irmãos, Kentaro (Haruma Miura) e Keiko (Kazue Fukiishi), descobrem que aquele que chamavam de avô não era o seu avô biológico, mas alguém que morrera na Segunda Guerra Mundial.
Os jovens decidem investigar mais sobre ele, mas, ao entrevistar antigos colegas da força aérea, só recebiam comentários negativos, dizendo que ele tinha sido um covarde egoísta. Apenas uns poucos revelam que Miyabe (Jun’ichi Okada) era um dos melhores pilotos da marinha japonesa, e que entrava em choque com os colegas por não concordar com a obsessão de morrer pela pátria cegamente. Ele acreditava que todos deveriam fazer o máximo para sobreviver à guerra e retornar para suas famílias.
Poucos amigos foram capazes de perceber a grandeza de Miyabe, e os sacrifícios que ele fazia para proteger os colegas e alunos na guerra. Essas descobertas sobre o avô provocam em Kentaro mudanças em sua própria vida e na forma de ver o mundo. Alguns segredos são revelados, enquanto outros repousarão para sempre no silêncio.
“O Eterno Zero” é um filme bem dirigido, com várias cenas de combate aéreo, e muitos flashbacks, mas com uma história bem contada graças ao roteiro bem construído. Os diálogos podem parecer estranhos para os ocidentais, pois a língua japonesa é muito gutural, e sempre parece que eles estão em uma discussão mortal.
O segundo filme em análise é “Imperador”. O momento histórico mostrado no filme é o período imediatamente posterior à rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial. Esta rendição, realizada após a explosão de duas bombas atômicas, em Hiroshima e Nagasaki, pouparam milhares de vidas que teriam sido perdidas se o conflito tivesse continuado.
Após a rendição, o Japão foi ocupado por forças americanas comandadas pelo general Douglas MacArthur (Tommy Lee Jones), e que assumiu o posto de líder supremo da ocupação. MacArthur tinha ambições políticas, e desejava candidatar-se à presidência dos Estados Unidos, usando sua imagem de herói de guerra.
Para satisfazer os eleitores com sede de vingança, ele precisava apontar e mandar para julgamento os criminosos de guerra, assim como ocorrera com os altos oficiais alemães em Nuremberg.
Entre todos os nomes, um era o mais dúbio. O imperador do Japão, Hiroito (Takatarô Kataoka) era apontado pela imprensa ocidental como o principal responsável pelas atrocidades cometidas antes e durante a guerra. Por outro lado, prender e executar um homem que era considerado um deus pela população japonesa seria o mesmo que incendiar o país com revoltas de extensão inimagináveis.
MacArthur determina a seu assistente general Bonner Fellers (Matthew Fox) que investigue sobre a responsabilidade de Hiroito e sua participação nas decisões na guerra, em especial o ataque a Pearl Harbor.
Fellers sempre admirara a cultura japonesa, e já havia feito estudos sobre o soldado nipônico, muito antes do início do conflito. Ele começa entrevistar pessoas do alto escalão do governo japonês, buscando pistas que fundamentem a culpa ou inocência do imperador.
Paralelamente, ele investiga sobre Aya Shimada (Eriko Hatsune), uma professora japonesa que conhecera na universidade, e por quem se apaixonara. As duas investigações parecem não ter definição, em meio a um país destruído pela guerra.
Embora seja um filme ocidental, a trama procura mostrar a situação ambígua do imperador, uma figura simbólica que era considerada uma divindade pela população, e ao mesmo tempo destituída de poder real, em uma cultura extremamente complexa, onde o indivíduo nunca é mais importante que o coletivo.
Os dois filmes são interessantes e historicamente ricos, mostrando um lado do Japão diferente daquele que normalmente estamos acostumados a ver nas telas.

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