sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Claquete – 22 de fevereiro de 2008


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Aos poucos, os indicados ao Oscar começam a aparecer nos cinemas de Natal. É o caso de “Desejo e Reparação”, que teve sete indicações. A outra estréia do final de semana é a comédia dramática “Antes de Partir”. Pena que os dois filmes só entrem em cartaz na rede Cinemark. Nas continuações, estão a comédia romântica “Vestida Para Casar”, os dramas “O Som do Coração” (veja em Filmes da Semana) e “Juno”, o infantil “Meu Monstro de Estimação”, o nacional “Sexo Com Amor?”, e o drama político “O Suspeito”. Nas programações exclusivas, o Cinemark exibe o misto de musical e terror “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, de Tim Burton, o drama nacional “Meu Nome Não é Johnny” e, na Sessão Cult, o nacional “A Via Láctea”, e, no Moviecom, o policial “O Gangster”, com Denzel Washington, o suspense “Cloverfield – O Monstro”, a aventura “A Lenda do Tesouro Perdido 2 – Livro dos Segredos”, e a ficção-científica “Eu Sou a Lenda”.

Estréia 1: “Desejo e Reparação”

Baseado no livro homônimo de Ian McEwan, “Desejo e Reparação” conta o drama de uma jovem cujo namorado é acusado, injustamente, de um crime que não cometeu. Cecilia Tallis (Keira Knightley) está apaixonada por Robbie Turner (James McAvoy), e tudo vai bem, até o dia em que a irmã de Cecília (Saoirse Ronan) acusa Robbie de tê-la agarrado à força. O julgamento equivocado e infantil de Briony faz com que Robbie vá para a prisão e acabe lutando na França na Segunda Guerra Mundial. Cecília, por sua vez, abandona a sua família e torna-se enfermeira. Apesar de todas as adversidades, o casal Robbie e Cecília tentará viver um romance em tempos de guerra. Ao longo de sua vida adulta, a própria Briony (vivida por Romola Garai) irá tentar desfazer o erro que cometeu. “Desejo e Reparação” é a história de um erro trágico, capaz de alterar vidas e, também, da determinação de uma pessoa em reparar o equívoco. A direção é de Joe Wright, que dirigiu o ótimo “Orgulho e Preconceito”. Indicado para sete categorias do Oscar 2008, “Desejo e Reparação” estréia nesta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark. Para maiores de 14 anos.

Estréia 2: “Antes de Partir”

Jack Nicholson e Morgan Freeman, dois dos maiores nomes do cinema da atualidade estrelam a comédia dramática “Antes de Partir”, onde vivem dois pacientes terminais que fogem do hospital para aproveitar seus últimos dias de vida. Jack Nicholson interpreta bilionário Edward Cole e Freeman é o mecânico Carter Chambers. Apesar de terem vindo de mundos diferentes, eles resolvem passar o fim da vida juntos. Os dois se conhecem quando viram vizinhos de cama no hospital. Após receberem a notícia de que não terão muitos dias, eles bolam um plano de fuga. Na aventura, irão fazer tudo que nunca tiveram oportunidade antes, como saltar de pára-quedas, competir com carros em alta velocidade, ir à Europa, além de comer muito e sem restrições. A direção é de Rob Reiner. “Antes de Partir” estréia nesta sexta-feira, na Sala 2 do Cinemark. Para maiores de dez anos.

Sessão Cult: “A Via Láctea”

O professor de Literatura e escritor Heitor (Marco Ricca) e a atriz Júlia (Alice Braga) namoram há algum tempo. É entardecer na cidade de São Paulo e o casal tem uma violenta discussão por telefone. Após desligar, Heitor decide pegar o carro e encontrá-la em sua casa, para resolver a situação. Durante o trajeto pelas ruas de São Paulo, o trânsito, os engarrafamentos, os pedestres, os meninos nas esquinas, os bares, a paisagem urbana, ele passa a analisar as possibilidades do amor, perda e morte em um grande centro urbano. A direção é de Lina Chamie. A partir desta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark, na sessão de 15h. Para maiores de 12 anos.




Lançamentos em DVD


“Piaf: Um Hino ao Amor”, em DVD

A extraordinária trajetória da cantora Edith Piaf, que teve uma infância conturbada, sendo abandonada pela mãe e criada pela avó em um bordel. Ao ser descoberta, na década de 30, cantando nas ruas de Paris, a jovem grava seu primeiro disco e, em meio a altos e baixos na vida pessoal, acaba sendo reconhecida internacionalmente como uma das maiores intérpretes de todos os tempos. Com Marion Cotillard, Gerard Depardieu e Sylvie Testud. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1. Nas locadoras.

“Ligeiramente Grávidos”, em DVD

Alison (Katherine Heigl) e Ben (Seth Rogen) se conhecem numa boate e, completamente bêbados, passam a noite juntos. A ligação entre eles terminaria aí, mas, algumas semanas depois, Alison liga para Ben, para informá-lo que está esperando um filho dele. A notícia faz com que Ben passe a questionar sua própria vida, além de aproximar duas pessoas que preferiam jamais ter se conhecido. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1. Nas locadoras.

“Aristogatas”, em DVD

Em Paris, uma carinhosa e excêntrica milionária faz seu testamento deixando toda sua fortuna para seus gatos de estimação. Descobrindo sua intenção, o mordomo Edgar rapta a elegante Duquesa e seus filhotes, abandonando-os no interior da França. Em sua salvação, irão contar com a ajuda de um gato malandro e sua turma de amigos muito especiais. O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, Jogo Virtual do Gatinho, Jogos dos Instrumentos, Curta inédito: “Dia do Banho” (1946), Músicas: “Aristocats”, “Thomas O'Malley Cat”, “Everybody Wants to be a Cant” e “She Never Felt Alone” e o documentário Por trás das câmeras. Nas lojas e locadoras.

Eventos


II Semana Cult do Cineclube Natal

O Cineclube Natal, em parceria com o Teatro de Cultura Popular, está realizando, até domingo, a II Semana do Filme Cult. O evento acontece no Teatro de Cultura Popular, Rua Jundiaí, 641, Tirol, ao lado da fundação José Augusto, às 19h00. Os ingressos custam dois reais. A programação, para os próximos três dias é: na sexta-feira, “A Montanha Sagrada” (1973), de Alexandro Jodorowsky, no sábado, “A Tortura do Medo” (1960), de Michael Powell, e, no domingo, – “Meteorango Kid, o Herói Intergalático” (1969), do baiano André Luiz Oliveira.

Homenagem a Kurosawa

Nos cem anos da imigração japonesa e dez anos da morte do maior diretor de cinema japonês, Akira Kurosawa (1910-1998), três de seus filmes são lançados em DVD como homenagem póstuma ao realizador, dois deles dirigidos pelo cineasta logo no início de carreira – “A Mais Bela” (1944) e “Duelo Silencioso” (1949)- e um terceiro, “Homem Mau Dorme Bem”, realizado em 1960 e livremente inspirado em Hamlet. Além destes títulos, já existem no mercado 15 outros filmes do diretor, disponíveis em DVD, entre eles, “Ran” e “Trono Manchado de Sangue”, também baseados em Shakespeare.

Oscar 2008

A cerimônia do Oscar este ano, que acontece no próximo domingo, dia 24, está entrando em sua 80ª edição. A premiação mais badalada do cinema mundial será transmitida no Brasil pela Rede Globo, após o BBB, e, nos canais pagos TNT, a partir das 22h30, e E! Entertainment Television. A transmissão da Globo, narrada por José Wilker, deverá se limitar à cerimônia, enquanto que, nos canais de assinatura, serão transmitidas desde a chegada das celebridades até as festas após o evento.


Filmes da Semana: “Vestida Para Casar” e “O Som do Coração”

Vestidos e músicas

Com a devida licença do meu querido professor Jarbas, que, no curso de Jornalismo, se esforçava para nos fazer entender Tarkovsky e Glauber Rocha, insisto dizer que cinema é, antes de tudo, entretenimento. Para quem acredita nisso, pode apreciar, sem consciência pesada, duas produções que estão em cartaz nos nossos cinemas: “Vestida Para Casar” e “O Som do Coração”.

“Vestida Para Casar” é um daqueles filmes que é detestado pela crítica e amado pelo público – foi a maior bilheteria no seu final de semana de estréia. Porque isso? Talvez porque as pessoas se identifiquem com a heroína, vivida pela ótima Katherine Heigl, que apareceu na série “Grey’s Anatomy” e cresceu no cinema graças a uma das comédias mais elogiadas do ano passado, “Ligeiramente grávidos”.

No filme atual, ela vive Jane, uma mulher idealista, romântica e completamente altruísta. Tendo perdido a mãe muito cedo, ela praticamente a substituiu na criação da irmã mais nova, Tess. Ainda criança, ela descobriu um talento inato, que viria a desenvolver ao longo da vida: a de quebra-galho e faz-tudo em festas de casamento.

Graças a este talento, Jane se tornaria extremamente solicitada pelas amigas, tendo participado, como dama de honra, em nada menos que 27 casamentos. A capacidade da moça era tanta que ela foi capaz de participar, simultaneamente, de dois casamentos em uma mesma noite, mesmo tendo que se deslocar entre Manhattan e o Brooklin diversas vezes. Esse vai-e-vém terminou chamando a atenção de Kevin (James Marsden), um cínico repórter, que percebe que uma matéria sobre essa viciada em casamentos pode significar, para ele, uma promoção no jornal.

Mas, Jane também tem os seus sonhos. Embora apenas a torcida do Flamengo saiba, ela é apaixonada pelo seu chefe, George (Edward Burns), mas, não consegue quebrar a inércia e fazer o romance acontecer. A coisa se complica com a chegada de Tess (Malin Akerman), sua irmã caçula, que usa todas as armas para conquistar George. A coisa atinge níveis insuportáveis para Jane quando ela percebe que a irmã está se apossando até dos seus sonhos – e os destruindo.

Embora de uma maneira leve, divertida e meio despercebida, “Vestida Para Casar” traz um enfoque muito interessante sobre objetivos de vida e a dificuldade em vencer a inércia para mudanças. A personagem principal vive meio perdida, um sonho distante de felicidade que ela não tem coragem de realizar, substituindo por uma atitude de altruísmo que termina se tornando uma imagem que ela é obrigada a sustentar. Kevin, o jornalista, por sua vez, esconde a sua decepção de ter sido abandonado pela noiva atrás de uma fachada de cinismo e deboche. No fundo, ambos detestam as suas imagens, mas, não tem coragem de enfrentar o desgaste.

Curiosamente, será de Jane, a boazinha, que virá a mudança mais radical, quando ela resolve, como se diz popularmente, chutar o pau da barraca, causando uma tremenda confusão no casamento da irmã – que ela própria estava organizando. É quando ela realmente questiona os valores pelos quais viveu até então, tomando as decisões que irão determinar o rumo do seu futuro. Ponto.

Dizer que “O Som do Coração” é repleto de música seria uma redundância, até porque, hoje em dia, todo filme traz uma trilha sonora que não só preenche o vazio, mas, dá ritmo às cenas, pontua as emoções dos personagens e ajuda a causar impacto nas cenas de ação. E, o que tem de diferente neste filme?

O filme “Perfume – A História de um Assassino” conseguiu trazer uma dimensão de olfato para um ambiente onde só existe som e imagem. Se pensarmos assim, talvez não seja grande coisa um filme musicalmente rico, já que o som faz parte do cinema. Mas, “O Som do Coração” consegue algo interessantíssimo, unindo, de maneira indissolúvel, som, imagem e história, graças a um fantástico trabalho de fotografia, edição e trilha sonora.

A história é simples de doer. Dois jovens músicos encontram-se, por acaso, em uma festa em Nova York. A moça é Lyla (Keri Russell, de “Missão Impossível 3”), uma brilhante revelação no violoncelo, e o rapaz é Louis (Jonathan Rhyes Meyers, de “Match Point”), um guitarrista irlandês. A atração é imediata, e os dois passam uma mágica noite à luz das estrelas.

No dia seguinte, porém, Lyla é obrigada, pelo pai, a sair da cidade. Para frustração deste, que sonhava em uma carreira brilhante para a filha, descobre que ela está grávida. Um acidente apressa o parto, e uma manobra do pai de Lyla, forjando a assinatura dela, faz com que o bebê seja enviado para um orfanato, enquanto ele diz para ela que a criança morrera.

Onze anos se passam, e o garoto cresce. Totalmente diferente dos companheiros de orfanato, Evan (Freddie Highmore) escuta a música em tudo ao seu redor. De alguma forma, ele acredita que os seus pais estão à sua procura, e que a música será a forma de reencontrá-los. Um dia, ele decide seguir os seus instintos e foge do orfanato.

O destino o leva a Nova York, onde conhece o Mago (Robin Williams), um controverso vagabundo, meio herói, meio bandido, que toma conta de um grupo de menores abandonados, explorando-os pelas suas habilidades musicais. Percebendo o grande talento de Evan, dá-lhe um novo nome, August Rush, e o exibe no Central Park, onde o garoto chama a atenção do público.

Quando a polícia dá uma batida no velho teatro onde o grupo se abriga, o garoto foge, e encontra abrigo em uma igreja, onde o seu talento musical será reconhecido, e o levará para uma renomada escola de música de Nova York.

Nesse meio tempo, Lyla também vem à cidade, visitar o pai no hospital. Dominado pelo remorso, ele conta a verdade sobre o filho de Lyla. Revoltada, ele decide ficar em Nova York até encontrá-lo. Para isso, ela retoma o violoncelo, que tinha abandonado após o parto.

Louis, por sua vez, agora um executivo, está insatisfeito com a sua vida. Resolvendo mudar, ele troca o terno pelo jeans e vai em busca de Lyla, sem encontrá-la. Ele decide, então, retomar a vida musical do ponto onde parou, trazendo a sua velha banda para tocar em Nova York.

No que promete ser uma noite mágica, irá acontecer um imenso concerto ao ar livre, onde Evan acredita que, através da música que compôs, terá a chance de encontrar os seus pais, se estes puderem escutá-lo. O problema é que o Mago tem outros planos, e fará tudo para impedir o garoto de chegar até o palco.

“O Som do Coração” tem alguns furos de roteiro, como, por exemplo, um talento musical tão grande ficar sem ser descoberto durante anos, em um garoto que nem sabia assobiar. Todo aprendizado, então, é a jato, pois em uma noite ele já toca violão com perfeição, em meia hora compõe músicas sem saber teoria musical e, por aí vai. Mas, as qualidades do filme superam estas liberdades poéticas, principalmente nas cenas em que são mesclados diferentes ritmos e sons, quando se alternam as cenas entre Louis e Lyla, cada um se apresentando em lugares diferentes.

Vale o destaque, também, do quarteto central, em especial, do garoto Freddie Highmore, que já brilhara como o Charlie na versão burtoniana de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, e, aqui, praticamente, carrega o filme nas costas.

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