sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Claquete – 15 de fevereiro de 2008

Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Meio emperrado, ainda curtindo a preguiça das férias, o Brasil das aulas e do comércio volta a funcionar. As estréias do final de semana são a comédia romântica “Vestida Para Casar”, o drama “O Som do Coração” e o divertido “Juno”. Continuam em cartaz o suspense “Cloverfield – O Monstro”, o infantil “Meu Monstro de Estimação”, o nacional “Sexo Com Amor?”, a aventura “A Lenda do Tesouro Perdido 2 – Livro dos Segredos”, com Nicolas Cage, a ficção-científica “Eu Sou a Lenda”, com Will Smith, e o drama nacional “Meu Nome Não é Johnny”. Nas programações exclusivas, o Cinemark exibe o misto de musical e terror “Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet”, de Tim Burton, e, na Sessão Cult, o nacional “A Casa de Alice”, e, no Moviecom, o policial “O Gangster”, com Denzel Washington e o drama político “O Suspeito”. Não deixem de conferir a II Semana Cult do Cineclube Natal.

Estréia 1: “Vestida Para Casar”

Jane (Katherine Heigl) é uma mulher idealista, romântica e completamente altruísta. Toda a sua vida dedicou-se a fazer as pessoas felizes, chegando a participar de 27 casamentos como dama de honra - e como prova, tem um armário com todos os vestidos utilizados. Em uma mesma noite, Jane conseguiu participar de duas festas de casamento, uma em Manhattan e outra no Brooklyn, o que despertou a atenção de Kevin (James Marsden), um cínico repórter de jornal. Para complicar a vida de Jane, quando Tess (Malin Akerman), sua irmã mais nova, chega, conquista o coração de George (Edward Burns), por quem Jane nutre uma paixão secreta. Agora, Jane terá que planejar mais este casamento, enquanto repensa os seus valores e objetivos de vida. A direção é de Anne Fletcher. “Vestida Para Casar” estréia nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom e na Sala 2 do Cinemark. Para maiores de dez anos.

Estréia 2: “O Som do Coração”

O jovem guitarrista irlandês (Jonathan Rhyes Meyers) e uma exímia tocadora de violoncelo (Keri Russell) dividem uma noite mágica em Nova Iorque, e o resultado de um encontro casual é August Rush (Freddie Highmore). Crescido em orfanato e dotado de um dom musical impressionante, ele se apresenta nas ruas de Nova York, ao lado do divertido Wizard (Robin Williams). Contando apenas com seu talento musical, August decide usá-lo para tentar reencontrar seus pais. A direção é de Kirsten Sheridan. “O Som do Coração” estréia nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom e na Sala 5 do Cinemark. Censura livre.

Estréia 3: “Juno”

Juno MacGuff (Ellen Page) é uma adolescente que engravida de maneira inesperada de seu colega de classe Bleeker (Michael Cera). Com a ajuda de sua melhor amiga, Leah (Olivia Thirlby), e o apoio de seus pais, Juno conhece um casal que está disposto a adotar seu filho, que ainda nem nasceu. Bem recebido pela crítica, "Juno" é protagonizado pela atriz canadense Ellen Page e conta a história de uma jovem de 16 anos do estado americano de Minnesota que tem uma gravidez não planejada. O filme foi indicado aos Oscars de Melhor Filme e Melhor Roteiro Original. A direção é de Jason Reitman. “Juno” estréia nesta sexta-feira, na Sala 5 do Cinemark e no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de dez anos.

Sessão Cult: “A Casa de Alice”

Alice (Carla Ribas) é uma manicure que tem em torno de 40 anos e mora na periferia da cidade de São Paulo. Ela vive com sua mãe, dona Jacira (Berta Zemel), seu marido, o taxista Lindomar (Zécarlos Machado), e seus três filhos Lucas, Edinho e Júnior. O casamento de Alice está em conflito e Lindomar tem casos extraconjugais. Alice faz "vistas grossas" e também tem seus casos, vendo em seu namorado de adolescência, Nilson (Luciano Quirino), um candidato a realizar seus sonhos românticos. A direção é de Chico Teixeira. A partir desta sexta-feira, na Sala 7 do Cinemark, na sessão de 15h. Para maiores de 14 anos.

Lançamentos em DVD

“Garçonete”, em DVD

Jenna (Keri Russell) é uma garçonete presa a uma vida que pretende deixar pra trás. Mas uma gravidez indesejada coloca seus planos de lado. Jenna passa então a criar compulsivamente tortas que espelham seu estado de espírito - da autopiedade pela situação atual à paixão nascente (e proibida) pelo seu novo médico... O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, Comentários em Áudio, Featturettes e o documentário “Fox Movie Channel Apresenta”. Nas locadoras.

“Segredos de Cabaré”, em DVD

Gabriel passou quatro décadas gerenciando o Papagaio Azul, uma casa noturna parisiense onde se apresentava como drag queen e onde seu amigo Nicky se apresentava como mágico. Após sua morte, seus afilhados vêm a Paris para cuidar dos detalhes do funeral: Nino, um contador gay e Marianne, editora de uma conhecida revista feminina. Também estão Simone, ex-mulher de Nicky e mãe de Marianne, e Alice (Catherine Deneuve), outra ex-mulher de Nicky e mãe de Nino. Para surpresa de todos, a propriedade do cabaré é dada a Nino e Marianne, que não têm o menor interesse de gerenciar uma casa noturna e anunciam que pretendem colocar o local à venda. Nicky deseja manter o Papagaio Azul aberto, mas, não possui recursos para comprá-lo. O disco traz o filme com formato de tela widescreen e áudio Dolby Digital 5.1, e, como extras, slide show, trailers e novidades. Nas locadoras.

“Lady Vingança”, em DVD


Aos 19 anos, Lee Geum-Ja (Lee Yeong-Ae) é condenada a 13 anos de prisão pelo seqüestro e assassinato de uma criança. Ela está acobertando o verdadeiro culpado, seu namorado, Sr. Baek (Choi Min-Sik). Quando descobre que foi traída, Geum-Ja passa todo o tempo na cadeia preparando uma vingança para o ex-amante. Treze anos depois, ela é libertada, e, com a ajuda de algumas ex-colegas da prisão, põe em prática seu minucioso plano. “Lady Vingança” é parte da trilogia da vingança, de Park Chan-Wook, junto com “Old Boy” e “Mr Vingança”. O disco traz o filme com formato de tela cheia e áudio Dolby Digital 2.0. Nas lojas e locadoras.




Eventos





“O Inquilino”, no Cine Café

O Cineclube Natal, em parceria com o Nalva Melo Café Salão, apresenta nesta sexta-feira, o longa-metragem “O Inquilino”, do diretor Roman Polanski. O filme conta a história de um polonês que aluga um apartamento em um estranho edifício francês, que antes fora ocupado por uma suicida, ao descobrir aos poucos a história dela, o homem fica obcecado pela mulher. Os protagonistas são o próprio Polanski e a linda Isabelle Adjani. A exibição começa às 20h, no espaço do próprio café (Rua Duque de Caxias, 110, Ribeira). A entrada custa R$2,00. Para maiores de 18 anos.

TV Pipa

A TV Pipa retoma as suas atividades, com uma nova temporada de exibições de filmes e documentários produzidos pelo grupo, na praça central da Pipa. As exibições começam nesta sexta-feira, às 18h30, com vídeos da TV Pipa, e, em seguida, os longas-metragens “Crianças Invisíveis”, versando sobre a dura realidade do trabalho infantil, às 19h, e, “A Onda dos Sonhos”, sobre as aspirações de uma jovem surfista, às 20h30. Mais informações no e-mail tvpipa@gmail.com e no fone 84 3246 2584.

II Semana Cult do Cineclube Natal

O Cineclube Natal, em parceria com o Teatro de Cultura Popular, na semana de 18 a 24 de fevereiro, realizará a II Semana do Filme Cult. A II Semana do Filme Cult será realizada no Teatro de Cultura Popular, Rua Jundiaí, 641, Tirol, ao lado da fundação José Augusto, às 19:00 horas. Os ingressos custarão dois reais. A programação é a seguinte:

18/02 – “Magic, Um Passe de Mágica” (1978) - Terror clássico, com um ótimo e assustador Anthony Hopkins. Ele é o ventríloquo que começa a ser atormentado e dominado por seu diabólico boneco. Dirigido por Richard Attenborough, com Ann-Margret e Burgess Meredith no elenco.

19/02 – “Zaroff, o Caçador de Vidas” (1932) – Um famoso caçador sobrevive a um naufrágio em uma ilha pertencente a um milionário russo, que tem como hobby caçar... humanos. Clássico do cinema fantástico, foi a preparação do diretor Ernest B. Schoedsack para a versão clássica de “King Kong”, onde a mesma Fay Wray repetiria sua gritaria.

20/02 – “Contos Imorais” (1974) – Filme do diretor Walérian Borowczyk em quatro atos: André inicia sua prima nos prazeres orais; Thérèse, presa em seu mundo interior, descobre o prazer solitário; Com a ajuda de seu pajem, a condessa Bathory organiza una orgia onde são imoladas belas prisioneiras: Lucrécia Borgia tem relações sexuais com seu pai, o Papa Alexandre VI e seu irmão, o Cardeal César Borgia.

21/02 – “Maladolescenza” (1977) – O diretor italiano Pier Giuseppe Murgia ousou ao extremo, em um filme que foi banido em diversos países, contando a história de três personagens adolescentes (Martin Loeb, Lara Wendel e Eva Ionesco) envolvidos num trágico jogo de sadismo erótico, em meio a um idílico bosque europeu.

22/02 – “A Montanha Sagrada” (1973) – Alexandro Jodorowsky interpreta o papel do "alquimista" que reúne um grupo de pessoas que representam os planetas do Sistema Solar. Sua intenção é submeter o grupo a uma série de ritos de natureza mística para que se desprendam da bagagem "mundana", antes de embarcar numa viagem em direção à misteriosa Ilha de Loto. Uma vez na ilha, iniciam a ascensão à Montanha Sagrada para substituir os Deuses imortais que, em segredo, dominam o mundo.

23/02 – “A Tortura do Medo” (1960) - Karl H. Boehm interpreta Mark, um fotógrafo obcecado em capturar o medo no rosto das pessoas. Para isso, comete crimes e filma suas vítimas. Essa estranha necessidade surgiu por culpa de seu pai, um psiquiatra que o sujeitava quando criança a terríveis experiências, registrando suas reações em pequenos filmes caseiros. Este filme destruiu a carreira do diretor Michael Powell, embora hoje seja considerado uma obra-prima.

24/02 – “Meteorango Kid, o Herói Intergalático” (1969) – Em meio à linha-dura do Regime Militar que tomava conta do Brasil, o baiano André Luiz Oliveira juntou atores do teatro marginal, cinema de vanguarda e Novos Baianos para filmar um texto de sua autoria, sobre a revolta da juventude classe média. Essa fita entrou para a história como um dos principais filmes marginais do cinema brasileiro e ganhou o prêmio do público no Festival de Brasília.


Filmes da Semana: “O Suspeito” e “Juno”

A hora e a vez das barrigudinhas

Gravidez na adolescência e as práticas antiéticas da política externa americana são assuntos que parecem muito distantes, e, na verdade, o são. Em comum, a alienação americana em relação a qualquer coisa fora do seu bem estar e ao fato de que, nos dois títulos que iremos tratar, as protagonistas estão grávidas. Mas, não pare a leitura por aqui. “O Suspeito” e “Juno” são dois filmes muito atuais, cada um à sua maneira, e que tratam os seus temas com uma abordagem interessante.

“O Suspeito” trata de um tema muito delicado, que é solenemente ignorado pela grande imprensa: o seqüestro de suspeitos de participação em atos terroristas, que são levados secretamente para países da África, onde são sistematicamente torturados, sem direito a qualquer tipo de proteção legal.

Anwar El-Ibrahim (Omar Metwally), egípcio de nascimento, vive nos Estados Unidos legalmente, tendo casado com a americana Isabella (Reese Whiterspoon) e seja um engenheiro químico respeitado. Ao voltar de uma viagem, é aprisionado por agentes do governo americano e mantido em lugar secreto, sem comunicação com ninguém. O motivo: seu celular teria recebido ligações de um conhecido terrorista, responsável por um atentado onde morreu um agente da CIA.

Como não consegue convencer ninguém de sua inocência, ele é levado secretamente para o Egito, onde fica sob os “cuidados” de um eficaz oficial de polícia, Abassi Fawal (Yigal Naor), que não tem escrúpulos em lançar mão de métodos brutais, como choques elétricos e outros mimos, para obter as informações desejadas. Como observador, é enviado um analista da CIA, Douglas Freeman (Jake Gyllenhaal, um dos cowboys gays de “O Segredo de Brokeback Mountain”).

Douglas tenta não se envolver com a brutalidade que presencia, mas, é difícil para ele, que nunca fora um agente de campo. Além disso, ele não acredita que Anwar seja o culpado de coisa alguma.

Outras duas histórias correm em paralelo, a da mulher de Anwar, que procura a ajuda de um colega de universidade, que trabalha como assessor de um senador, e, a de um casal de adolescentes egípcios, ela, filha do poderoso policial Fawal e ele, um jovem dividido entre a paixão pela moça e os ensinamentos radicais do grupo ao qual está ligado.

Enquanto Isabella esbarra na burocracia e na má vontade de todos para ajudar um suspeito de terrorismo, o destino do jovem casal parece caminhar para um final trágico. Em meio a tudo isso, Douglas se angustia cada vez mais, pendendo entre a obediência à sua cínica chefe, Corrine (Meryl Streep) e aos seus próprios valores, que renegam os fatos que presencia. Caberá a ele ser o fiel da balança. Como? Assistam ao filme, senão perde a graça.

Talvez o maior mérito de “O Suspeito”, além de denunciar essa prática degradante, seja a de mostrar que não existe muita diferença entre o terrorista que manda alguém praticar um atentado suicida, e o político que usa o poder ao bel-prazer, prendendo, torturando e matando, em nome da defesa da democracia.

Em “Juno”, apesar de se tratar de um tema delicado, a gravidez na adolescência, é impossível o espectador não se sentir agradavelmente cúmplice da personagem-título, vivida pela ótima atriz Ellen Page, protagonista de “Menina Má.Com” e com uma rápida aparição em “X-Men 3”.

Juno, aparentemente, é a típica adolescente americana. Criada pelo pai, que casou novamente, a garota vive como milhões de outras meninas de sua faixa etária, despreocupada em relação à vida e ao futuro, curtindo o momento presente.

Mas, a vida pregou-lhe uma peça, pois, ao tirar a virgindade de seu melhor amigo, Bleeker (Michael Cera), terminou engravidando. Sua primeira reação foi procurar uma clínica de abortos, mas, achou o lugar tão deprimente que partiu para uma segunda opção. Ela estava decidida a ter o bebê e doa-lo para algum casal sem filhos. “Um casal de lésbicas ou alguém que realmente não possa ter filhos”. A escolha foi feita nos classificados, junto dos anúncios de pássaros à venda. Quando viu a foto de Vanessa (Jennifer Garner) e Mark (Jason Bateman), ela ficou encantada, e decidiu entregar o filho para eles.

No primeiro contato, Juno estranhou o jeito obsessivo com que Vanessa mantinha a casa impecável, mas, adorou saber que Mark tinha muito em comum com ela, principalmente o gosto pelo rock.

À medida em que a gravidez ia avançando, Juno percebeu que as transformações não aconteciam apenas no seu corpo, mas, nas relações com as pessoas à sua volta. Enquanto ela se sentia gorda e desajeitada, ficou chocada quando soube que Bleeker estava interessado em uma outra garota. A outra descoberta ruim foi quando soube que Mark e Vanessa não eram o casal perfeito que ela imaginava. Todos os seus planos estavam indo por água abaixo, e ela não sabia como lidar com tudo aquilo.

Finalmente, ela decide o que fazer, e isso representa a sua passagem da infância para a maturidade, pois, essa escolha irá influenciar fortemente a vida das pessoas à sua volta.

Certamente, a esta altura, os meus queridos leitores estarão se perguntando onde está a graça do filme, já que a história parece bem banal. Como eu disse antes, a diferença não está no fato retratado, mas, na abordagem em sim.

“Juno” é um filme leve, divertido, com muitas situações que, se não levam a uma gargalhada, nos ensejam a abrir um sorriso cúmplice. Sim, cúmplice, pois tudo é visto pela ótica descompromissada e descolada da garota, com sua visão bem humorada e idealista da vida, sem espaço para dramas ou depressões. Juno quer apenas a felicidade, como todos nós. E ela descobre que, tornar os outros felizes também é um caminho para a própria felicidade.

Com jeitão de filme independente, um ritmo perfeito e uma trilha sonora envolvente, este filme já ganhou diversos prêmios e está indicado ao Oscar em quatro categorias, incluindo Melhor Filme, Melhor Diretor (Jason Reitman), Melhor Atriz (Ellen Page) e Melhor Roteiro Original. Merece tudo isso? Confira e tire as suas próprias conclusões.

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