sexta-feira, 25 de junho de 2004

Claquete 25 de junho de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Entre os fogos de São João, as quadrilhas e as comidas de milho, três novas produções nacionais estréiam, esta semana, juntando-se ao ótimo “Cazuza”. São elas, “Diários de Motocicleta”, elogiado trabalho de Walter Salles, “Pelé Eterno”, documentário sobre o maior jogador de futebol do mundo, e, a comédia “Viva Voz”. Continuam em cartaz, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, com as aventuras do bruxinho inglês, “Shrek 2”, com o simpático ogro verde, o ótimo “Cazuza – O Tempo Não Pára”, cinebiografia autorizada de uma das maiores expressões da música brasileira pós-80, “O Dia Depois de Amanhã”, um ótimo filme catástrofe, com Dennis Quaid, e, a aventura mitológica “Tróia”, com Aquiles & Cia. No Filme de Arte, do Cine Natal 1, o filme “Dogville”, com a gatíssima Nicole Kidman.


Che e sua moto

O mais recente filme de Walter Salles, “Diários de Motocicleta”, chega, finalmente, a Natal. O filme conta a história de Che Guevara (Gael García Bernal), um jovem estudante de Medicina, que, em 1952, decide viajar pela América do Sul, com seu amigo, Alberto Granado (Rodrigo de la Serna). A viagem é realizada em uma moto, que acaba quebrando, após oito meses de jornada. Eles, então, seguem viagem através de caronas e caminhadas, sempre conhecendo novos lugares. Porém, quando chegam a Machu Pichu, a dupla conhece uma colônia de leprosos, e, passam a questionar a validade do progresso econômico da região, que privilegia apenas uma pequena parte da população. Nessa época, nem mesmo o próprio Che poderia imaginar a repercussão que viria alcançar, alguns anos depois, participando da revolução cubana. “Diários de Motocicleta” estréia, nesta sexta-feira, na Sala 3 do Moviecom.

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Filme de Arte: “Dogville”

O Filme de Arte desta semana é “Dogville”, do diretor Lars Von Trier. Durante os anos 30, Grace (Nicole Kidman), uma bela desconhecida, aparece em Dogville, um lugarejo nas Montanhas Rochosas, fugindo de gângsteres. Com o apoio de Tom Edison (Paul Bettany), Grace é escondida, pela população da pequena cidade, e, em troca, trabalhará para eles. Fica acertado que, após duas semanas, ocorrerá uma votação, para decidir se ela fica. Após este “período de testes”, Grace é aprovada por unanimidade, mas, quando a procura por ela se intensifica, os moradores exigem algo mais, em troca do risco de escondê-la. É quando ela descobre, de modo duro, que, nesta cidade, a bondade é algo bem relativo, pois Dogville começa a mostrar seus dentes. No entanto, Grace carrega um segredo, que pode ser muito perigoso para a cidade. Reapresentação em sessão única, no Cine Natal 1, terça-feira, às 20h10.


Pelé Eterno

Antes tarde do que nunca. Pelé, o nosso mais famoso desportista, tem a sua vida levada às telas, pelo diretor Aníbal Massaini, numa primorosa montagem de fotos, entrevistas, reportagens, e, obviamente, imagens de jogadas maravilhosas do rei. Começando pela sua pobre e difícil infância, até os seus melhores momentos em campo, o filme mostra detalhes sobre a vida profissional e amorosa, além, é claro, de muitos gols. Para ser mais exato, 400 gols, três mil fotografias, 2100 narrações de gols, 150 depoimentos, e, ainda, 1500 manchetes de jornais, de diversos países. O diretor Aníbal Massaini teve a idéia de realizar um documentário sobre Pelé em 1981, logo após Pelé ter ganho o título de Atleta do Século. “Pelé Eterno” levou cinco anos para ser concluído, devido à extensa pesquisa realizada. Foram coletadas 25 horas de imagens de gols e jogadas de Pelé, que serviram de base para a confecção do filme. Dois dos mais famosos gols de Pelé foram recriados digitalmente, pelo fato de não terem sido encontradas imagens que os documentem. São o gol de placa feito contra o Fluminense, no Maracanã, em 1961, e, o famoso “gol da Rua Javari”, considerado pelo próprio Pelé como sendo o mais bonito de sua carreira, no jogo Santos 2 x 1 Juventus, em 2 de agosto de 1959. “Pelé Eterno” estréia, nesta sexta-feira, na Sala 1 do Moviecom.


Viva Voz

Duda (Dan Stulbach) é um empresário inseguro, que está para receber uma alta quantia em dinheiro, proveniente de uma transação ilegal. Duda pretende usar a quantia para pôr sua vida em ordem, inclusive encerrar o longo romance que mantém com Karina (Graziella Moretto), sua amante. Porém, quando Karina tenta agarrar Duda, ela acidentalmente liga o celular dele, que faz uma ligação para Mari (Vivianne Pasmanter), esposa de Duda. É quando, através da ligação, Mari descobre que seu marido a está traindo e parte ao seu encontro. “Viva Voz” é o segundo filme do diretor Paulo Morelli, e ganhou o prêmio de Melhor Filme Internacional, no New York Independent Film Festival. Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 1.



Festival Internacional de Curtas Metragens inscreve até 30 de junho

Atenção, cineastas potiguares! Quem quiser participar do Festival Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, tem até o dia 30 de junho para inscrever sua obra. O Festival, em sua 15ª edição, acontece entre 26 de agosto e 4 de setembro, com patrocínio da Petrobras. Podem ser inscritos filmes concluídos em 2003 e 2004, finalizados em 35mm ou 16mm, com uma duração máxima de 35 minutos (para as seções Panorama Brasil e Cinema em Curso), ou, finalizadas em 35mm, 16mm, beta, dvcam ou mini-dv, e, com duração entre 5 a 20 minutos (para a seção Formato Curta). Mais informações, no site www.kinoforum.org.


Garfield, o site

Preguiçoso, comilão, e, extremamente crítico, quando consegue se manter acordado, Garfield, finalmente, chega à tela grande, graças às maravilhas da computação gráfica. O filme só estréia no Brasil no dia 16 de julho, mas os fãs já podem acessar o site do gato, em português, com direito a animações divertidas, trailers, papéis de parede, ficha técnica, jogos, e, e-cards. Quem se cadastra, pode receber avisos das atualizações do site, com novos trailers, jogos, etc.. Para dar uma conferida, acesse www.garfieldmovie.com.


Comédias da Vida Privada

Um dos sitcom mais inteligentes da televisão brasileira, “A Comédia da Vida Privada”, chega, agora, às locadoras, em DVD. Com cinco episódios, dirigidos por Guel Arraes, a divertida obra de Luis Fernando Veríssimo ganha vida, com excelente atuação de Alexandre Borges, Cláudia Abreu, Giulia Gam, Marisa Orth, e, Pedro Cardoso. Mas, se preferir, veja também o livro, com 101 crônicas divertidas, das agruras e delícias de casais de classe média. Melhor ainda, faça as duas coisas, e, veja que ainda existe vida inteligente neste mundo de Deus.

Filme recomendado: “Os Cinco Sentidos”

Erros dos cinco erres


Considerado o mais intelectual dos festivais para filmes comerciais, o Festival de Cannes, muitas vezes, premia filmes herméticos, e, de difícil aceitação para o público em geral. São filmes como o iraniano “Gosto de cereja”, ou, o francês “Sob o sol de Satã”, que deixam o grande público confuso, por ter uma ótica diferente do padrão hollywoodiano. Outros filmes premiados dividem as opiniões, como “Apocalipse Now”, “sexo, mentiras e videotapes”, ou, “Pulp fiction”. Um filme que certamente foi acrescentado a esta lista é o canadense “Os Cinco Sentidos”.

Fugindo da apresentação tradicional, “Os Cinco Sentidos” não se resume a uma única história, mas seis, num entrelaçado de vidas durante um período de três dias. O que serve de ligação entre todos é o desaparecimento de uma garotinha de três anos, perdida durante um passeio no parque.

Os outros personagens têm suas personalidades, e, expressões, associadas aos sentidos - daí o título. Rachel (Nadia Litz), uma adolescente introvertida, sente-se culpada pela morte do pai. É a única personagem que usa óculos, e, que assume o papel de observadora do mundo, embora viva à parte dele. Por ter deixado de olhar a garotinha, Rachel é responsável por sua perda. Em compensação, consegue perceber, em um novo amigo, sentimentos e emoções, que nem mesmo ele percebia.

Ruth (Gabrielle Rose), a mãe de Ruth, é massagista profissional, e, ganha a vida aliviando as dores dos outros, com o toque de suas mãos. Apesar deste talento, após a morte do marido, não consegue tocar ou ser tocada por ninguém. Até mesmo a filha é mantida à distância, numa relação fria e formal. Quando é obrigada a manter um contato estreito com a mãe da garotinha perdida, é forçada a tocar o mundo real.

Richard (Philippe Volter), o oftalmologista que trabalha vizinho a Ruth, está perdendo a audição, e, faz uma lista dos sons que quer preservar na memória. Sons como a chuva, a música, uma simples conversa, a voz da filha distante, etc.. É através de uma prostituta, cuja filha é surda de nascença, que ele percebe que existe mais de uma forma de se escutar as coisas.

Robert (Daniel MacIvor), é um faxineiro que adora o seu trabalho. Nos últimos tempos, encontra-se com todos os ex-amantes, homens, e, mulheres, para comprovar a sua teoria de que o amor proporciona um cheiro especial. Decepcionado, por não encontrar o cheiro que procura entre eles, descobre ser amado por outras pessoas.

Por fim, Rona (Mary Louise-Parker), a doceira que faz belíssimos bolos e doces, mas não se importa com o sabor que tenham. Apesar do paladar aguçado, ela acha que só o aspecto externo é suficiente para atender as pessoas, assim como nas suas próprias relações, que nunca vão além do superficial. Quando resssurge, na sua vida, Roberto, um chef italiano que conhecera na Europa, Rona deixa-se envolver por emoções que sempre controlara. Para complicar, sua mãe é doente terminal de câncer, o que lhe causa um sentimento de culpa pela distância que mantém da mesma.

Os principais personagens - todos com nomes iniciados em “r” - são contidos e introvertidos, cheios de problemas, e, presos em seus próprios mundos. O elo entre todos é a garotinha Amy, que fez parte da vida de cada um, de alguma forma, até pela lembrança que inspira. O elenco é multinacional: Mary Louise-Parker é americana, Gabrielle Rose, Nadia Litz e Daniel MacIvor são canadenses, Philippe Volter é francês e Marco Leonardi é australiano. Todos são atores experientes e conseguem dar aos seus personagens a carga emocional necessária.

A edição em DVD difere pouco do VHS. Formato de tela Full Screen, áudio em inglês e português 2.0, e, legendas em português e inglês. Como extras, umas poucas notas, sobre elenco, sinopse, e, diretor, além do trailer de cinema, e, nove minutos de entrevistas com o elenco, com legendas em português.

“Os Cinco Sentidos” não é um filme de fácil assimilação. É uma visão do mundo normal, por uma ótica “anormal”, mostrando situações comuns, de uma maneira exacerbada. É como uma colcha de retalhos, aparentemente desconexos, mas, que levam à reflexão. Vale à pena assistir, nem que seja para fugir do hamburger-com-coca de Hollywood, pelo menos de vez em quando. Experimentem.

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