sexta-feira, 28 de maio de 2004

Claquete 28 de maio de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Brad Pitt continua dando seus pulinhos marotos em “Tróia”, talvez comemorando o primeiro lugar nas bilheterias nacionais, com quase dois milhões de espectadores. Mas, de novidade mesmo, só o mais novo filme catástrofe, “O Dia Depois de Amanhã”, que estréia, para valer, nesta sexta-feira. Permanecem em cartaz, além do indefectível “Tróia”, com Aquiles & Cia, as comédias “Louco Por Elas”, e, “Como Se Fosse a Primeira Vez”, com Drew Barrymore, “Van Helsing – O Caçador de Monstros”, salada mista de vampiros, lobisomens e zumbis, o infanto-juvenil “Scooby-Doo 2 – Monstros à Solta”, com Salsicha e sua turma, e, o drama nacional “Benjamim”, com Paulo José e Cléo Pires. Na tradição de que, depois da calmaria vem a tempestade, a espera agora é pela estréia de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, que acontecerá no dia 4 de junho.



O Dia Depois de Amanhã

Todo mundo sabe que o efeito estufa é uma realidade, e, que, se continuar do jeito que está, o clima global mudará bastante, prejudicando toda a vida do planeta. E, se isso acontecesse em apenas uma semana? Essa é a hipótese levada às telas em “O Dia Depois de Amanhã”, onde uma nova era glacial acontece no hemisfério norte, levando milhões de americanos a fugir para o México (!). Enquanto Nova York é destruída, pela enésima vez, no cinema, o paleoclimatologista Jack Hall (Dennis Quaid), enfrenta inundações e geleiras, já que acredita que seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) ainda está vivo. O diretor deste filme, Roland Emmerich, já destruiu o mundo outras vezes, em “Independence Day” e “Godzilla”. Como seria de se esperar, sobram efeitos especiais em cenas de tirar o fôlego, bem ao gosto dos adoradores da moderna Hollywood. História? Bem, nada muito elaborado, mas suficiente para manter a atenção durante os 124 minutos de filme. Pelo menos, os ambientalistas não reclamaram, já que uma de suas bandeiras mais importantes foi levada à atenção do grande público. Estréia nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, nas salas 6 e 7 do Moviecom.


Harry Potter vem aí

Depois de uma longa espera, os fãs do bruxinho mais famoso do mundo já estão contando os minutos que faltam, para a estréia de “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, que acontecerá, mundialmente, no dia 4 de junho. O novo filme da série é um pouco mais sombrio, não perdendo tanto tempo, como nos dois primeiros, para apresentar os personagens e as situações mágicas do mundo de Hogwarts. Mas, as reações dos que assistiram as pré-estréias tem sido calorosas, já que há uma identidade maior com o público adolescente, com muitas cenas de ação. Além dos atores Daniel Radcliffe (Potter), Emma Watson (Hermione), Rupert Grint (Ronnie), o gradalhão Robie Coltrane (Hagrid) e Alan Rickman (Snape), o elenco traz uma importante novidade, com o camaleônico ator Gary Oldman, no papel de Sírius Black, o prisioneiro do título. Em seu terceiro ano na Escola de Bruxarias de Hogwarts, Harry Potter e seus amigos são avisados de que um perigoso criminoso fugiu da prisão de Azkaban, e, ronda a escola. Para proteger a escola são enviados os Dementadores, estranhos seres que sugam a energia vital de quem se aproxima deles, que tanto podem defender a escola como piorar ainda mais a situação. Mas, nem sempre as coisas são o que parecem ser... Nos próximos dias começarão as vendas antecipadas de bilhetes para a estréia. Fiquem de olho!


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“Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei”, em DVD

Depois de uma longa espera, chega aos usuários domésticos, em VHS e DVD, o capítulo final da trilogia “Senhor dos Anéis”. “O Retorno do Rei”, que mostra o final da jornada de Frodo, em sua tentativa de livrar-se do Um Anel, enquanto Aragorn, Gandalf, Legolas e Gimli lutam contra Sauron, encerrando a Guerra do Anel. Durante a guerra, Sauron (Sala Baker), o Senhor do Escuro, envia à Terra-Média a maior força já vista, e, o mago Saruman (Christopher Lee), após rebelar-se contra o poder de Mordor, começa a atacar. Apesar da volta de Gandalf (Ian McKellen) consolar os cavaleiros do sul, todos sabem que é no centro de Mordor que estão os verdadeiros responsáveis pela decisão da Guerra: Frodo (Elijah Wood) e Sam (Sean Astin), os portadores do Anel. Só que, antes que eles possam concluir sua missão - de destruir a jóia de Sauron -, os dois serão capturados pelos orcs, e, ficarão indefesos, sem Gandalf ou qualquer guerreiro para partir em seu socorro. No DVD, além do filme, encontram-se 600 minutos de extras, com destaque para o documentário feito pela National Geographics, sobre a produção do terceiro filme da saga baseada na obra de J.R.R. Tolkien, além de trailers, e, os destaques do site www.lordoftherings.net, que abordam vários pontos dos bastidores da produção. O filme ganhou onze Oscars, quatro Globos de Ouro e quatro prêmios BAFTA. Nas lojas e locadoras.


“As Invasões Bárbaras”, em DVD

Este belo filme, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, chega , agora, nas locadoras, em VHS e DVD. Seqüência de “O Declínio do Império Americano”, esta produção canadense, dirigida por Denys Arcand, continua a história de um dos personagens do primeiro filme. O professor de história Rémy (Rémy Girard, irretocável) sofre de câncer num hospital lotado de Quebec. A sua ex-mulher, Louise (Dorothée Berryman), apesar das infidelidades do marido, fica ao seu lado. Ela até consegue chamar de volta ao Canadá o filho do casal, Sébastien (Stéphane Rousseau). Com o reencontro, renasce o conflito. Conquistador incansável, típico intelectual idealista dos anos 60, o pai é o contrário do filho, noivo fiel, pragmático, de futuro financeiro promissor no mercado acionista de Londres. O filme ficou seis semanas em cartaz na sessão de arte do Cine Natal. Confira!


As bodas de prata de “A Vida de Brian”

Aproveitando a polêmica causada por “A Paixão de Cristo”, de Mel Gibson, o filme “A Vida de Brian”, do grupo Monty Python, está sendo relançado nos cinemas. Quando foi lançado, em 1979, o filme gerou mais polêmica ainda, já que mostra, de uma forma contundente e satírica, a vida de um imaginário judeu, contemporâneo de Cristo, que vivia sendo confundido com o próprio. No centro desta história está Brian Cohen (Graham Chapman), um relutante candidato a messias, que se torna importante, devido a uma série de situações absurdas e realmente hilárias, que proporcionam amplas oportunidades para todo o grupo (John Cleese, Eric Idle, Terry Gilliam, Terry Jones, Michael Palin e Chapman) brilhar em múltiplos papéis, à medida que eles imitam a todos e a tudo: ex-leprosos, Pôncio Pilatos, profetas malucos, centuriões romanos e atos de crucificação. O filme ironiza os líderes religiosos, de maneira geral, e, os grupos de esquerda, que tem mais ódio uns dos outros, do que dos verdadeiros inimigos, no caso, os romanos.


“Sexo, Amor e Traição”, em DVD

O filme de estréia do diretor Jorge Fernando, refilmagem do mexicano “Sexo, Pudor e Lágrimas”, chega agora ao mercado doméstico. Carlos (Murilo Benício) e Ana (Malu Mader) vivem no 7º andar de um edifício localizado no coração do Rio de Janeiro. Ana necessita de mais carinho do que seu marido lhe dá. Inesperadamente Tomás (Fábio Assunção), um amigo do casal, chega depois de muitos anos de viagem e se hospeda na casa dos dois. Ao mesmo tempo Andréa (Alessandra Negrini) e Miguel (Caco Ciocler) vivem num edifício em frente, também no 7º andar. Andréa está cansada da indiferença de seu marido e ressentida porque ele a vê apenas como um objeto a ser exibido. Em uma festa se encontram com Cláudia (Heloísa Perissé), o primeiro amor de Miguel. Cláudia, não tendo lugar para ficar, acaba passando a noite no apartamento de Miguel.


Outros lançamentos

Enquanto no cinema, as estréias estão paradas, nas locadoras, a conversa é outra. Chegaram esta semana às prateleiras: “Pacto de Justiça”, western que conta a história de quatro homens (Kevin Costner, Robert Duvall, Diego Luna e Abraham Benrubi), que tentam libertar a cidade em que vivem das ameaças de um poderoso vaqueiro (Michael Gambon); o drama “Irreversível”, com Mônica Bellucci, onde dois homens perseguem o estuprador da namorada de um deles; “A Cartomante”, produção nacional, com Déborah Secco, Giovanna Antonelli, Luigi Barricelli e Sílvia Pfeiffer; e, o suspense “Swimming Pool – À Beira da Piscina”, com a veterana Charlotte Rampling.

Filme recomendado: “Manhattan”
Poema de amor em branco e preto

“Filme de intelectual é chato!”. Quantas vezes já não escutamos essa reclamação, e, diga-se de passagem, com razão. Boa parte dos filmes de Woody Allen, enquadra-se na categoria “intelectualóide”, destinado a coletar poeira, nas estantes das locadoras. Para quem percorreu uma imensa gama de temas e abordagens, Allen certamente terá obras suas enquadradas como chatas, e, outras, como geniais. Na humilde opinião deste cronista, “Manhattan” está mais próximo desta última categoria.

O início do filme cativa, e, assusta. A abertura traz algumas paisagens de New York, ao som da belíssima Rhapsody in Blue, de George Gershwin, trazendo o espectador para a Big Apple, que reside na imaginação de todos. Contudo, a fotografia preto e branco e a narração em off de Allen, já deixa as pessoas com um pé atrás: “Ele adorava New York City, embora fosse para ele uma metáfora da decadência da cultura atual.”...

A história é complexa, assim como a vida. Allen vive Ike Davis, um frustrado escritor de televisão, que sonha em escrever seu primeiro livro. Tendo sobrevivido a dois divórcios, Ike namora Tracy (Mariel Hemingway), uma linda secundarista de dezessete anos, a quem vive dizendo que nunca terão um futuro juntos, já que ele é vinte e cinco anos mais velho que ela. Seu melhor amigo, Yale (Michael Murphy), tem um casamento sólido, mas mantém um relacionamento com outra mulher. A amante, Mary Wilke (Diane Keaton), uma jornalista metida a intelectual, troca farpas com Ike desde o primeiro encontro, mas aos poucos, vai desenvolvendo uma amizade com o escritor.

Ike tem seus próprios problemas, pois além de pedir demissão num arroubo, descobre que a ex-mulher ( que o trocou por uma lésbica) está escrevendo um livro sobre o casamento dos dois. Para complicar, começa a envolver-se emocionalmente com Mary, mesmo que esta ainda não tenha se desligado de Yale. Assumindo seu novo romance, Ike rompe com Tracy para ficar com Mary. Ponto. Se falar mais, estrago a surpresa.

Apesar da verborragia quase incessante de Allen, no seu constante padrão neurótico-obsessivo, a história flui sem problemas, porque relacionamento humano é um elemento universal. Adicionalmente, a belíssima fotografia pan-cromática e a deliciosa trilha sonora repleta de melodias famosas, transportam o espectador para o mundo de Allen.

Nesse mundo, existe uma New York romântica e especial, que não tem nada a ver com ataques terroristas ou capitalismo selvagem. São belas fachadas, silhuetas estreladas por luzes, vitrines convidativas, restaurantes aconchegantes. Até o quitinete de Ike, com sua água enferrujada e barulho dos vizinhos, parece pitoresco. Nesse universo paralelo, é natural passear com o cachorro em plena madrugada, ou, receber uma ligação do analista às três da manhã.

O analista é uma constante no universo woodyano, pois todos são neuróticos de carteirinha. A honrosa exceção fica por conta de Tracy, que, nos seus dezessete anos, parece ser a personagem de maior maturidade.

O elenco está excelente, não só os veteranos Allen e Keaton (que viviam juntos na época), como também a novata Mariel Hemingway em seu segundo trabalho no cinema ( o primeiro foi “A violentada”, com a irmã Margaux em 1976).

O DVD é pobre, pois de extras tem só o trailer de cinema. Contudo, o formato widescreen foi mantido, permitindo apreciarmos a bela fotografia do filme. Para se ter uma idéia, até em VHS o formato da tela foi mantido, por exigência de Allen. O áudio traz as opções inglês, e, espanhol 2.0, e, legendas em inglês, espanhol e português.

“Manhattan” foi mais uma ousadia de Allen, que vinha do premiado “Annie Hall”. Indiferente ao padrão da indústria, teimou em fazer um filme preto e branco, tratando do seu tema favorito, a cidade de New York. Mais do que uma simples declaração de amor à Grande Maçã, este filme é também um manifesto à juventude, como esperança de redenção da humanidade. Talvez o cineasta estivesse prevendo seu próprio destino, quando, anos mais tarde, viveria um caso de amor com a filha adotiva de sua ex-mulher, Mia Farrow, numa comprovação de que, algumas vezes, é a Vida que imita a Arte.

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