sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

20/02/2004 - "O Espelho Tem Duas Faces"


Filme Recomendado: “O Espelho Tem Duas Faces”

Pode existir um casamento sem sexo? Sim, segundo a teoria de Gregory Larkin, um professor de matemática da Universidade de Columbia. Fascinado pela beleza da simetria matemática, ele achava que o sexo provocava fortes reações emocionais nas pessoas e por isso mesmo, seria mais duradoura uma relação onde o maior atrativo fosse a amizade e não o amor. Claro que isso acontece no filme “O espelho tem duas faces”, dirigido e estrelado pela musa Barbra Streisand.

Barbra interpreta Rose, uma professora de literatura inglesa que vive sufocada entre a mãe e a irmã, que ao contrário dela, sempre tiveram a beleza entre os principais objetivos. Rose, o patinho feio, é gordinha e retraída, fugindo aos encontros como o diabo foge da cruz. Refugia-se no trabalho e nos rituais de sua vida, como o elaborado preparo da primeira e perfeita garfada.

Quando Gregory publica um anúncio procurando a companheira, onde a candidata deve ter mais de 35 anos, ser PhD e “a aparência não é importante”, recebe uma pilha de respostas, onde se destaca a de Rose. Na verdade, quem mandara a carta fora a irmã dela, Claire. Curioso, Gregory assiste uma aula de Rose, onde fica fascinado pela atenção que a professora consegue manter nos alunos e com o tema da aula, o amor romântico dos contos de cavalaria, que vê cair como uma luva em sua teoria do amor sublime.

Gregory consegue sair com Rose para jantar e os dois descobrem que existe muito em comum entre os dois. Depois de muitos encontros, e até uma importante ajuda para que Gregory melhore suas aulas, resolvem casar-se, seguindo a linha da união casta.

Dividida entre o que sente por Gregory e sua própria concepção por amor, Rose aceita o casamento, embora a necessidade do sexo termine sendo um ponto de ruptura entre os dois. Gregory afasta-se por três meses para conferencias na Europa, enquanto Rose resolve dar uma guinada em sua maneira de ser e agir. Deixando os doces e tortas de lado, lança-se em academias, regimes, salão de beleza e outros oráculos da beleza, deixando os homens de sua vida de queixo caído.

A verossimilhança desta moderna versão da gata borralheira não é o mais importante, assim como a criticada onipresença de Streisand. O ponto mais importante aqui é o ponto de mutação de Rose e as reações às suas mudanças. Uma mudança radical não é novidade na vida de ninguém. Uma separação, um novo emprego, uma casa nova, tudo isso pode provocar grandes mudanças nas pessoas envolvidas. O principal abalo não acontece com o elemento causador da mudança. Afinal de contas, o marido ou mulher que sai de casa, que muda de emprego ou de casa, teve (mais ou menos) o tempo e as razões para amadurecer sua decisão. Contudo, as pessoas que estão em sua órbita não esperam tal mudança, e são muito mais afetados por ela.

A rejeição de Gregory faz com que Rose questione sua vida e seus valores e resolva ir à luta para mudar tudo. Ela faz isso, não por Gregory, mas por si mesma. A rejeição da condição de patinha feia leva todos a repensarem suas relações com Rose e até as suas próprias maneiras de encarar o mundo.

Poderia existir o tal casamento sem amor e sexo, com duas pessoas saudáveis e maduras? Certamente não, pois a busca da paixão faz parte da condição humana, e é o que nos faz sentir vivos, de garotos adolescentes a pessoas septuagenárias. Se uma relação baseada no amor e no sexo será duradoura, isso é difícil dizer, pois há infinitos fatores e incógnitas nesta equação. Contudo, parafraseando o nosso saudoso Vinícius de Morais, “que seja infinito enquanto dure”. Ou como diz Rose no final de sua aula, “enquanto dura, é bom pra caramba!”.

O filme está disponível em DVD, da Columbia Tri Star, com áudio em inglês, português e espanhol, legendas em português e inglês e formato de tela widescreen. Como extras, apenas trailers de cinema. Além da trama alegre e romântica, o filme traz a rara oportunidade de ver em ação alguns dos monstros sagrados do cinema, como Lauren Bacall e George Segal. Isso e mais a fantástica fotografia do filme já justificam a locação. Recomendo a todos.

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