Coração de porcelana
Distante do tempo em que filme chinês era de kung fu, os filmes que tem chegado do Extremo Oriente tem sido de uma qualidade de fazer inveja a qualquer produção de Hollywood. São pérolas como o vietnamita “Três estações” e os chineses “Nenhum a menos” e “Último entardecer”. A eles vem se juntar “O Caminho Para Casa” de Yimoou Zhang.
A história de filme é de uma simplicidade assustadora: um jovem retorna para a sua aldeia natal ao receber a notícia de que o pai falecera. Este era o único professor da aldeia, onde ensinara por quarenta anos. Ao chegar em casa, o rapaz sabe que a mãe quer que seja cumprida uma antiga tradição da região: o morto deve ser conduzido a pé para que não se perca a caminho de casa.
Nesse retorno a seu local de origem, o jovem revive a história de amor dos seus pais. No lugar e na época em que viviam, onde todos os casamentos eram negociados pelas famílias. Di, jovem inculta do interior, já recusara vários pretendentes. Quando Changyu, um jovem da cidade para ser o professor local, ela se apaixona por ele.
Indiferente a esse abismo cultural que os separava, Di chega quase a morrer - literalmente - devido a esse amor. Até aí, nada que já não tenha sido visto mil vezes nas telas de cinema.
A diferença deste filme é o tratamento delicado que é dado ao relacionamento dos dois jovens. Diferente de nossas novelas, onde no primeiro encontro os jovens já vão para a cama, o comportamento dos jovens chineses pode até parecer ridículo. Não é, pelo menos para quem conseguir partilhar da inocência de um primeiro amor.
O filme é belo, seja pelas paisagens de tirar o fôlego, pela música suave e enternecedora, seja pelo romance delicado e dolorosamente real. Não é sem razão que sentimos a dor de Di ao partir-se o vaso de porcelana que continha as iguarias para seu amado. Com ele se partia também o coração da moça e todos os seus sonhos mais lindos.
Nesse universo ainda convive a mãe cega, que perdera a visão de tanto chorar a perda do marido, mas que é capaz de enxergar o que os outros não viam. É dela a iniciativa de mandar consertar a tigela partida, de valor inestimável para a garota.
Na busca para satisfazer a vontade da mãe, o filho do professor termina encontrando muito mais do que procurava. O valor do pai, a amizade e apreço de pessoas desconhecidas ou há muito esquecidas, bem como as próprias raízes que pensara ter cortado. A volta para casa não fora só do pai. O romance, a cultura e a tradição o levam a uma última homenagem ao velho professor.
A versão nacional do DVD ( que não foi lançado nos Estados Unidos em vídeo ou DVD) está excelente. O formato original do cinema permite apreciar a bela fotografia do filme e o áudio está em mandarim, permitindo ouvir a musicalidade da língua chinesa. Infelizmente não existem extras, mas este é um caso em que o conteúdo do filme já está muito bom. A trilha sonora é um espetáculo à parte, com melodias suaves e bem integradas às imagens. A atriz que personifica a Di jovem é Ziyi Zhang, a mesma que fez a esposa jovem em “Lanternas vermelhas” e mais recentemente, a guerreira mascarada de “O tigre e o dragão”.
É interessante observar os três momentos dessa promissora atriz, mas acima de tudo apreciar um bom momento da Sétima Arte nesse filme sensível e agradável aos sentidos. Recomendo a todos.
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