Filme da Semana: “Capitão Fantástico”
Uma das coisas mais difíceis na
vida certamente é como educar corretamente seus filhos. A verdade é que, além
de cada indivíduo ser único, as condições que os permeiam também o são, e cada
um tenta fazer o que é certo baseado nas suas próprias convicções. Este é o
tema implícito no interessante filme “Capitão Fantástico”, do diretor e
roteirista Matt Ross.
Ben Cash (Viggo Mortensen) havia feito a sua escolha. Ele
vivia com os seis filhos em uma região montanhosa do estado de Washington, nas
florestas de pinheiros do noroeste americano, próximo do Canadá. Ali eles
viviam uma vida espartana, dividindo-se entre caçadas, intensos treinamentos
físicos, escaladas, defesa pessoal, etc., e ainda estudos nas mais diversas
áreas do conhecimento, línguas estrangeiras, filosofia, política e muito mais.
Em meio a essa intensa vida, uma coisa estava fazendo falta
à família, a mãe, Leslie (Trin Miller), ausente para tratamento de saúde. Mas,
quando procura saber notícias da mulher, Ben é surpreendido pela notícia de que
ela se suicidara. Ao entrar em contato com o sogro, Jack (Frank Langella), este
ameaça mandar prendê-lo se ele aparecer no funeral.
Ainda triste pela perda da mulher, Ben verifica que o
último desejo da esposa era ser cremada, o que, após alguma indecisão, o leva a
empreender com os filhos a longa viagem até o Novo México, para satisfazer o
desejo dela.
A viagem é uma grande novidade para as crianças, que só
conheciam uma pequena vila próximo de seu refúgio. A visão de milhares de
carros entulhando as rodovias, imensos supermercados e outros ícones do
capitalismo surpreende as crianças, sempre com a visão crítica de Ben sobre
este mundo.
O primeiro choque entre os mundos é na casa de Harper
(Kathryn Hahn), a irmã de Ben, que com o marido Dave (Steve Zahn) e os dois
filhos adolescentes formam a típica família americana, alienada e consumista.
Enquanto Harper e Dave fazem mil rodeios para explicar a morte de Leslie, Ben
vai direto ao ponto, explicando com clareza o que aconteceu.
Mas, o esperado escândalo acontece no funeral de Leslie,
uma cerimônia elegante em uma igreja tradicional, com dezenas de convidados.
Por mais que Ben tente mostrar que está tentando cumprir o último desejo de
Leslie, o sogro é inflexível e ameaça prendê-lo se continuar a insistir.
Este choque de mundos afeta a todos, inclusive às crianças.
Bo (George Mackay), o mais velho, aplicara para as melhores universidades do
país, sendo aceito por várias delas. Rellian (Nicholas Hamilton), quer ficar
com os avós. O próprio Ben começa a se questionar se suas escolhas foram
acertadas ou não.
O filme de Matt Ross traz uma crítica feroz sobre o modo de
vida americano, e sua maneira alienada de educar os filhos. Embora o modo de
vida waldeniano de Ben também seja fora da realidade, não resta dúvida sobre o
que o diretor considera o caminho mais correto.
Algumas das cenas mais divertidas do filme acontecem quando
os filhos questionam Ben sobre sexo, situações que normalmente são embaraçosas
para os pais, principalmente numa sociedade conservadora como a americana. Mas,
a lição do filme é: não deixe nenhuma pergunta sem resposta.
Um ponto que gera polêmica entre os espectadores é a forma
como a religião é mostrada no filme. Leslie se considerava budista mais pela
filosofia que a organização religiosa. Mas o que choca mais é quando Ben
substitui o Natal pelo dia de Noam Chomsky, por considerar um humanista mais
importante que “um elfo mágico fictício”.
A grande mensagem do filme não é dizer o que é correto ou
não, mas sim, de levantar as discussões sobre a educação e relacionamento
familiar, questionando o modo de vida alienado da sociedade em que vivemos, num
mundo cada vez mais consumista.
O filme, que foi exibido na mostra Un Certain Regard do
Festival de Cannes 2016, é tecnicamente muito bem feito, e além das lindas
crianças do elenco, traz a excepcional atuação de Viggo Mortensen e do veterano
Frank Langella. Recomendo a todos, mesmo que seja só para ver onde Leslie
queria que suas cinzas fossem depositadas.
Título original: “Captain Fantastic”
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