Filme da Semana: “Sete Homens e um Destino”
Time que está ganhando não se
muda. Embora este ditado venha do futebol, o cinema incorporou-o ao extremo,
pois a refilmagem e cópia de um filme famoso sempre vai render alguma
bilheteria acima da média, nem que seja pela curiosidade. Embora tenha os seus
próprios méritos, este é bem o caso de “Sete Homens e um Destino”.
Para muitos, o filme atual, estrelado por Denzel
Washington, é a refilmagem do filme homônimo de 1960, que reuniu algumas das
maiores estrelas de Hollywood na época. Na verdade, ambos foram baseados no
mais conhecido filme do diretor japonês Akira Kurosawa, “Os Sete Samurais” (“Sichinin
no Samurai”).
O filme japonês, lançado em 1954, contava a história de uma
pequena aldeia no Japão do século XVI, que recebera a ameaça de ataque de um
grupo de bandoleiros, logo após o período da colheita. Desesperados, os aldeões
pedem a ajuda a Kambei (Takashi Shimura), um ronin ou samurai sem um líder
feudal. Sensibilizado com a situação da aldeia, Kambie busca a ajuda de outros
guerreiros como ele, sem lugar na fechada sociedade japonesa por não terem mais
um senhor. Os recém-chegados tem que lidar com a desconfiança do locais,
enquanto tentam treiná-los para enfrentar os bandidos numa batalha selvagem,
que ceifará muitas vidas.
O filme de Kurosawa, considerado o mais “americano” dos
diretores japoneses, teve uma grande repercussão no mundo, embora conseguisse
apenas duas indicações ao Oscar (Direção de Arte e Figurino) e três para o
BAFTA (Melhor Filme e Ator Estrangeiro para Toshiro Mifune e Takeshi Shimura),
ganhando o Leão de Prata do Festival de Veneza.
Seis anos mais tarde, era lançado “Sete Homens e um Destino”
(“The Magnificent Seven”, 1960), reunindo a nata das estrelas de filmes de ação
de Hollywood: Yul Brynner, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, James
Coburn e Eli Wallach. O filme foi dirigido por John Sturges, um veterano de
westerns e filmes de ação, como “Duelo de Titãs” e “Sem Lei e Sem Alma”,
passando ainda por “O Velho e o Mar”.
A história é transportada para o México, onde uma pequena
cidade é ameaçada pelo bando do temido Calvera (Eli Wallach). Alguns moradores
cruzam a fronteira para buscar ajuda, que encontram em Chris (Yul Brynner) e
Vin (Steve McQueen). Eles são dois pistoleiros desempregados que se dispõem a
ajudar, não pelo dinheiro, mas pela aventura, e reúnem outros cinco foras da
lei. Aqui também há dúvidas e desconfianças, mas a união prevalece na sangrenta
batalha contra os homens de Calvera.
O filme foi um tremendo sucesso e gerou uma série
televisiva de mesmo nome, estrelada por Robert Vaughn, um dos atores do filme,
e mais três sequências, “A Volta dos Sete Magníficos” (1966), “A Revolta dos
Sete Homens” (1969) e “A Fúria dos Sete Homens” (1972). A mesma ideia foi
utilizada em inúmeros filmes, não só westerns, como filmes mitológicos,
medievais, ficção-científica, e até a famosa animação “Vida de Inseto”, da
Pixar/Disney.
No filme atual, a trama se passa em uma pequena cidade
rural onde existe uma mina de ouro. O dono da mina, Bartholomew Bogue (Peter
Sarsgaard) não se contenta com o que tem, e quer a propriedade de tudo,
incluindo as fazendas em torno do vilarejo. Para demonstrar a seriedade de suas
intenções, ele não hesita em matar a sangue-frio homens e mulheres desarmados.
Por fim, informa que dentro de três semanas voltará para tomar posse de tudo.
Revoltada com a morte do marido, Emma Cullen (Haley Bennet)
decide buscar ajuda. Com o pouco dinheiro que consegue recolher na cidade, ela
sai em busca de pistoleiros para lutar contra Bogue. O acaso a leva a Sam
Chisolm (Denzel Washington), que decide aceitar o desafio, e para isso convoca
outros homens estranhos: Josh Farraday (Chris Pratt), Goodnight Robicheaux
(Ethan Hawke), Billy Rocks (Byung-Hun Lee), Jack Home (Vincent D’Onofrio), Vasquez
(Manuel Garcia-Rulfo) e o nativo Red Harvest (Martin Sensmeier). Sabendo que a
tarefa é quase impossível para sete homens apenas, eles precisam convencer a
população a lutar, e ainda treiná-los para tanto.
É curioso como os filmes retrataram os momentos históricos
da época em que foram feitos. “Os Sete Samurais”, lançado apenas nove anos após
o fim da Segunda Guerra, mostra um mundo totalmente marginal, mas onde as
pessoas viviam e morriam pelos melhores valores da cultura japonesa. A
desprezada classe dos aldeões é salva por ronins, samurais desonrados, que lutam
pelo que é certo.
Na versão de 1960, os heróis era brancos e americanos,
enquanto os bandoleiros eram mexicanos. É curioso que mesmo o mexicano do grupo
tinha todas as características físicas de um caucasiano. Trump ficaria feliz
com esta versão.
Na versão atual, tanto foram tomadas liberdades poéticas,
como o “políticamente correto”. O grupo está com mais diversidade, e entre os
sete membros do grupo estão um índio, um mexicano, um asiático e um negro, que
é o líder do bando. O vilão deixou de ser um mexicano rude para se tornar um
capitalista branco. Os oprimidos são camponeses e operários da mina, todos
explorados pelo capital, na mais crua representação da luta de classes.
É difícil imaginar que um negro, naquela época, conseguiria
tal posição de destaque, ou que uma mulher, recentemente viúva, sairia atrás de
pistoleiros com uma roupa bem decotada. Mas, quem quer rigor histórico assiste
documentários, não filmes de faroeste.
O filme é tecnicamente muito bem feito, com inúmeras cenas
de ação, e as belíssimas paisagens do deserto mexicano. A trilha sonora é
fantástica, e contém algumas músicas da versão de 1960. O elenco é menos
estelar, e à exceção de Washington e Hawke, os demais protagonistas são menos
conhecidos, embora cumpram sua função exemplarmente.
“Sete Homens e um Destino” é um filme interessante e
divertido, com mais de duas horas de duração, que além de homenagear dois grandes
clássicos do cinema, traz um ritmo mais sintonizado com as gerações atuais de espectadores.
Título original: “The
Magnificent Seven”
2 comentários:
Deveriam fazer um filme desses em Brasília, com destino à Curitiba.
Deveriam fazer um filme desses em Brasília, com destino à Curitiba.
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