Newton Ramalho
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Filme da Semana: “Omar Me Matou”
Sempre imaginamos que ações arbitrárias da polícia e
da justiça são coisa do terceiro mundo – como aliás, está acontecendo neste
exato momento no Brasil. Talvez por isso cause espanto quando acontece em algum
país civilizado, como a França. Este é o fato retratado em “Omar Me Matou” (“Omar
m’a tuer”, 2011), infelizmente baseado em eventos reais.
Em 23 de junho de 1991, um crime chocou a França. Na
pequena cidade de Mougins, no departamento Alpes-Maritimes, a rica viúva Ghislaine
Marchal foi encontrada morta na adega de sua casa, com inúmeras perfurações no
corpo e pancadas na cabeça que a levaram à morte. No local, foram encontradas
na porta, escritas com o próprio sangue da vítima as palavras “Omar m’a tuer”,
que foram interpretadas como “Omar me matou”.
A polícia imediatamente fez a conexão com Omar
Raddad, que trabalhava como jardineiro da vítima. Omar era de origem
marroquina, pobre, gostava de jogar em máquinas caça-níqueis nos cassinos da
região, e constantemente pedia adiantamentos do salário. Ou seja, o suspeito
perfeito.
Por sua vez, Ghislaine Marchal era uma mulher
importante (mesmo para os padrões europeus), já que era filha de um industrial
de autopeças, e cunhada de Bernard de Bigault du Granrut, que tinha sido
advogado do Ministério de Assuntos Estrangeiros e fora delegado
interministerial na época dos primeiros-ministros Jacques Chirac e Michel
Rocard.
No filme, que começa já após a condenação de Omar
Raddad (Samir Bouajila), mostra as investigações do escritor Pierre-Emmanuel
Vaugrenard (Denis Podalydès), que está escrevendo um livro sobre o assunto.
Vaugrenard fica surpreso ao constatar as contradições
e erros no inquérito policial, e todas as intervenções que parecem atrapalhar e
sempre conduzir à condenação do acusado.
O filme é muito bem construído, mostrando em
flashback as etapas do processo, e a dolorosa caminhada de Omar em seu
calvário. Para ele, pior que a prisão e o afastamento da família era ser
acusado por um crime que ele sempre negou, e todas as evidências a seu favor
foram desconsideradas.
O leitor pode indagar como é possível que isto
aconteça em um país que sempre foi aberto para os imigrantes, e que a igualdade
está presente até no lema nacional. O fato é que ele era o suspeito perfeito,
mal falava o francês, era analfabeto, e nunca houve muito esforço para buscar
outros possíveis culpados.
O
calvário de Omar continua até hoje, pois nem a profissão de jardineiro lhe é
permitido exercer. Mesmo os pedidos de revisão do processo foram negados, não
por falta de elementos duvidosos, mas por absoluta má vontade na conservação de
provas e evidências. Para se ter ideia, o corpo da vítima foi cremado poucos
dias após o crime, mesmo ela tendo comprado um túmulo no cemitério.
A
principal prova considerada, as palavras escritas na porta ainda contém um erro
crasso, que seria pouco provável de ser cometido por uma pessoa culta como
Ghislaine Fachal.
O
filme é de 2011 e os eventos da década de 1990, muito antes dos atuais ataques
terroristas em Paris e Cannes, e quando a crise da imigração ainda não estava
tão aguda. Contudo, vê-se que a xenofobia já estava em acelerado processo de crescimento.
No
início do filme há uma referência ao famoso caso Dreyfus, onde um oficial do
exército francês foi condenado por traição, mesmo com um processo falho e
deturpado. Ele era um suspeito perfeito, por ser judeu, assim como Omar é
africano.
Título original: "Omar m'a tuer"
Sempre imaginamos que ações arbitrárias da polícia e
da justiça são coisa do terceiro mundo – como aliás, está acontecendo neste
exato momento no Brasil. Talvez por isso cause espanto quando acontece em algum
país civilizado, como a França. Este é o fato retratado em “Omar Me Matou” (“Omar
m’a tuer”, 2011), infelizmente baseado em eventos reais.
Em 23 de junho de 1991, um crime chocou a França. Na
pequena cidade de Mougins, no departamento Alpes-Maritimes, a rica viúva Ghislaine
Marchal foi encontrada morta na adega de sua casa, com inúmeras perfurações no
corpo e pancadas na cabeça que a levaram à morte. No local, foram encontradas
na porta, escritas com o próprio sangue da vítima as palavras “Omar m’a tuer”,
que foram interpretadas como “Omar me matou”.
A polícia imediatamente fez a conexão com Omar
Raddad, que trabalhava como jardineiro da vítima. Omar era de origem
marroquina, pobre, gostava de jogar em máquinas caça-níqueis nos cassinos da
região, e constantemente pedia adiantamentos do salário. Ou seja, o suspeito
perfeito.
Por sua vez, Ghislaine Marchal era uma mulher
importante (mesmo para os padrões europeus), já que era filha de um industrial
de autopeças, e cunhada de Bernard de Bigault du Granrut, que tinha sido
advogado do Ministério de Assuntos Estrangeiros e fora delegado
interministerial na época dos primeiros-ministros Jacques Chirac e Michel
Rocard.
No filme, que começa já após a condenação de Omar
Raddad (Samir Bouajila), mostra as investigações do escritor Pierre-Emmanuel
Vaugrenard (Denis Podalydès), que está escrevendo um livro sobre o assunto.
Vaugrenard fica surpreso ao constatar as contradições
e erros no inquérito policial, e todas as intervenções que parecem atrapalhar e
sempre conduzir à condenação do acusado.
O filme é muito bem construído, mostrando em
flashback as etapas do processo, e a dolorosa caminhada de Omar em seu
calvário. Para ele, pior que a prisão e o afastamento da família era ser
acusado por um crime que ele sempre negou, e todas as evidências a seu favor
foram desconsideradas.
O leitor pode indagar como é possível que isto
aconteça em um país que sempre foi aberto para os imigrantes, e que a igualdade
está presente até no lema nacional. O fato é que ele era o suspeito perfeito,
mal falava o francês, era analfabeto, e nunca houve muito esforço para buscar
outros possíveis culpados.
O
calvário de Omar continua até hoje, pois nem a profissão de jardineiro lhe é
permitido exercer. Mesmo os pedidos de revisão do processo foram negados, não
por falta de elementos duvidosos, mas por absoluta má vontade na conservação de
provas e evidências. Para se ter ideia, o corpo da vítima foi cremado poucos
dias após o crime, mesmo ela tendo comprado um túmulo no cemitério.
A
principal prova considerada, as palavras escritas na porta ainda contém um erro
crasso, que seria pouco provável de ser cometido por uma pessoa culta como
Ghislaine Fachal.
O
filme é de 2011 e os eventos da década de 1990, muito antes dos atuais ataques
terroristas em Paris e Cannes, e quando a crise da imigração ainda não estava
tão aguda. Contudo, vê-se que a xenofobia já estava em acelerado processo de crescimento.
No
início do filme há uma referência ao famoso caso Dreyfus, onde um oficial do
exército francês foi condenado por traição, mesmo com um processo falho e
deturpado. Ele era um suspeito perfeito, por ser judeu, assim como Omar é
africano.
Título original: "Omar m'a tuer"
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