Série
da Semana: “Vale Feliz”
Quem acompanha minha coluna há
mais tempo deve estar estranhando que eu esteja comentando – e recomendando –
uma série. Realmente, não sou muito adepto de séries, por considerá-las repetitivas
e sem criatividade, geralmente tendo os problemas resolvidos por algum herói
com um estoque inesgotável de balas. Mas, de vez em quando esbarro em alguma
grata surpresa, que foi o caso da minissérie inglesa “Vale Feliz” (“Happy
Valley”, 2014).
A mesmice que reclamo nos
seriados americanos não se limita à mesmice das roteiros sem frescor, à
ambientação nas grandes cidades, à banalização da violência,e até a escolha do
elenco, geralmente jovens bonitos, mais apropriados para comerciais de
margarina ou pasta de dente.
Bem, em se tratando de “Vale
Feliz”, pode esquecer tudo isso. A trama é ambientada em uma pequena cidade do
norte da Inglaterra. Embora esteja a anos-luz de distância dos problemas de uma
cidade do interior brasileiro, Happy Valley é cada vez mais assolada pelo
problema das drogas.
É neste lugar que o pequeno destacamento de
polícia é liderado pela sargento Catherine Cawood (Sarah Lancashire). Além dos
problemas normais da cidade, Catherine ainda precisa lidar com os próprios
fantasmas.
Ela é divorciada e com a irmã
Clare (Siobhan Finneran), uma ex-viciada em drogas, e o neto Ryan (Rhys
Connah), de oito anos. Ryan é filho de Becky, a filha de Catherine que
suicidou-se após o parto. A decisão de Catherine de criar Ryan provocou o
divórcio com Richard (Dereck Riddell) e a separação do filho Daniel (Karl
Davies).
Além dos problemas familiares,
Catherine fica extremamente abalada ao saber que Tommy Lee Royce (James Norton)
saiu da prisão. Tommy, que fora preso por tráfico de drogas, tinha sido o
responsável indireto pela morte de Becky, já que ela engravidara após ser
estuprada por ele.
Fora da cadeia, Tommy não demora
a se envolver em mais problemas. O seu novo patrão, Ashley Cowgill (Joe
Armstrong), recebe uma estranha proposta de Kevin Weatherill (Steve Pemberton).
Ele propõe a Ashley raptar a filha de seu patrão, Nevison Gallagher (George
Costigan), por este ter se recusado a dar-lhe um aumento.
Asley encarrega Tommy e seu
colega Lewis Whipey (Adam Long) de raptar Ann Gallagher (Charlie Murphy), mas
tudo vai se complicando à medida que o tempo vai passando, e a natureza de cada
um influencia os seus atos.
A minissérie tem um
desenvolvimento interessante, pois o crime principal acontece sem que a maioria
dos personagens tenha conhecimento dele. Por outro lado, vemos uma história
policial diferente, onde os agentes não usam armas de fogo, embora tenham que
lidar com delinquentes de toda sorte.
Mais interessante ainda são os
atores escolhidos para os protagonistas, a maioria cinquentões, fora do padrão
de beleza hollywoodiano, mas extremamente convincentes em seus papéis. O ponto
fora da curva é exatamente James Norton, que encarna o vilão, e cria um
interessante contraste entre seus atrativos físicos e a odiosidade de seu
personagem. Não é de graça que correm rumores de que ele será o próximo James
Bond.
“Vale Feliz” é uma minissérie
interessante, que traz uma visão da Inglaterra diferente do padrão
multicultural londrino, e bem mais próximo do que imagina-se ser a vida real de
uma pequena cidade do interior.
O melhor ainda é fugir da
dicotomia tradicional de Hollywood, onde todos são exclusivamente anjos ou
demônios. Os personagens da série são humanos, com qualidades e defeitos, não
existindo ninguém absolutamente bom ou ruim. Que nem a vida real.
Título original: “Happy Valley”
Nenhum comentário:
Postar um comentário