Filme
da Semana: “Iguais”
Um dos meus gêneros favoritos é
a ficção-científica, preferência que herdei de meus pais. Acredito que esta
atração se deva ao fato de que estamos falamos de coisas que poderão acontecer,
num futuro próximo ou distante. Embora o gênero esteja muito associado à
tecnologia, o tema explorado pode ser a forma como a Humanidade se comportará,
como é o caso do intrigante filme “Iguais” (“Equals”, 2015).
O mundo mostrado em “Iguais”
está em um futuro não especificado, quando a Humanidade sobreviveu a um grande
conflito que destruiu 99,6% da área fértil, e buscou uma nova forma de
convivência. Este novo mundo é asséptico, organizado, e, acima de tudo,
igualitário. Se pensarmos em “1984”, “Admirável Mundo Novo” ou “Fuga do Século
23” veremos alguma semelhança.
Não há diferenciação social,
todos tem acesso aos mesmos benefícios de moradia, transporte e saúde, os
apartamentos são igualmente dotados de uma tecnologia dedicada ao conforto e à
praticidade. As diferenças que existem, nos vestuários, indicam o tipo de
trabalho, se é como operário, num escritório, ou numa discreta força policial,
que não usa armas e tem o sugestivo nome de “Saúde e Segurança”.
Neste universo que parece ser um
comunismo sem ideologia, existe apenas uma restrição: os sentimentos e desejos
foram banidos, assim como as relações íntimas de qualquer natureza. Qualquer
coisa que remeta a isso deve ser comunicado às equipes médicas, pois é
considerado uma doença, com vários níveis de profundidade.
É neste mundo que vive Silas (Nicholas Hoult),
um jovem ilustrador, que cumpre sua rotina todos os dias, até perceber que
sente uma atração por uma colega de trabalho, Nia (Kristen Stewart).
Aturdido, Silas busca a ajuda
oficial, que consiste em medicamentos e uma classificação Nível 1 da doença.
Aos poucos, porém, ele descobre que existem muitos como ele, que se reúnem
secretamente numa espécie de grupo de autoajuda, liderados por Jonas (Guy
Pearce).
Silas também descobre que sua
atração por Nia é correspondida, mas ao mesmo tempo que começam a viver um caso
de amor, sentem o cerco da sociedade sufocá-los cada vez mais. A única solução
será a fuga para um resto de mundo selvagem fora do opressivo paraíso em que
vivem.
Embora já tenha lido ou
assistido filmes com propostas intrigantes sobre as sociedades futuras, é
difícil não questionar se já alcançamos algo mostrado em “Iguais”. Claro que
esta sociedade sem ricos e pobres jamais existirá – os ricos nunca permitirão!
Contudo, será que já não chegamos neste patamar de convivência sem emoção.
Pode parecer um paradoxo esta
afirmação, pois estamos vivendo um tempo de tremenda intolerância e absoluto
desrespeito à opinião do outro. Contudo, é mais fácil alguém se indignar com um
acontecimento do outro lado do planeta do que com algo bem próximo.
Estamos nos tornando insensíveis
ao sofrimento e às necessidades de pessoas que estão ao nosso lado, mas que
fazemos de conta que não vemos. Tanto faz que o objeto seja a vítima da
violência diária, o morador de rua, o estudante desassistido, e mesmo as
pessoas de nossa família às quais não damos atenção. Viramos autômatos sem
emoção, pois esta é toda canalizada para o conflito com aqueles que pensam
diferente de nós.
Elucubrações à parte, “Iguais” é
um filme tecnicamente muito bem feito, com belíssimas locações no Japão e
Singapura. O casal central tem uma química boa, mesmo Kristen Stewart ainda
lembrando sua personagem de “Crepúsculo”. Nicholas Hoult mostra mais
versatilidade, já tendo feito o Hank na nova geração de X-Men, e até o personagem-título
de “Meu Namorado é um Zumbi”. Guy Pearce, embora num papel secundário, sempre
rouba a cena quando aparece.
“Iguais” é um filme
interessante, que merece ser visto e analisado com calma, mesmo que seja para
despertar uma boa discussão de mesa de bar sobre o futuro da Humanidade – e
qual papel queremos desempenhar nele.
Título original: “Equals”
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