sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Claquete 10 de fevereiro de 2006




Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Com a garotada de volta às aulas, chegam os filmes mais adultos, como “Johnny e June”, a esperada cinebiografia do cantor Johnny Cash, e, “Syriana – A Indústria do Petróleo”, drama político, com George Clooney e Matt Damon. Tem, também, o infantil “A Terra Encantada de Gaya”, dublado por Marcio Garcia, e, pela equipe do Pânico na TV. Nas continuações, o drama “O Segredo de Brokeback Mountain”, do diretor Ang Lee (veja em Filme Recomendado), o policial “Edison – Poder e Corrupção”, com Morgan Freeman, Kevin Spacey e o cantor Justin Timberlake, as comédias “Vovó...Zona 2”, com Martin Lawrence, “As Loucuras de Dick & Jane”, com o careteiro Jim Carrey, e, o ótimo “Se Eu Fosse Você”, com Tony Ramos e Glória Pires. Tem, ainda, o drama “Munique”, do diretor Steven Spielberg, a comédia romântica “Dizem Por Aí”, com Kevin Costner, e, Jennifer Aniston, e, “Didi – O Caçador de Tesouros”, com Renato Aragão.

Estréia 1: “Johnny e June”

Um dos principais ídolos da música country norte-americana, Johnny Cash, tem a sua vida retratada, na cinebiografia “Johnny e June”. Com uma vida tumultuada, repleta de música, alegrias, mas, também, de muitas confusões, para sobreviver, contou com o apoio de sua esposa June. Quando esta morreu, em 2003, Johnny não suportou, falecendo pouco depois. O filme mostra toda a vida do cantor, desde a juventude, em uma fazenda de algodão, até o início do sucesso, em Memphis, onde gravou com Elvis Presley, Johnny Lee Lewis e Carl Perkins. Sua excêntrica personalidade, a infância tumultuada, e, a fama inesperada, faz com que Johnny (Joaquin Phoenix) entre em um caminho de autodestruição, do qual apenas June Carter (Reese Whiterspoon), o grande amor de sua vida, poderá salva-lo. O filme recebeu cinco indicações ao Oscar (Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Som, Melhor Edição e Melhor Figurino). A direção é de James Mangold. A estréia será nesta sexta-feira, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

Estréia 2: “A Terra Encantada de Gaya”

A Terra Encantada de Gaya é um programa de TV, passado em um mundo fantástico, repleto de paisagens paradisíacas, cores, e, os mais variados seres. Nele, vivem o corajoso Zino (Márcio Garcia), o trabalhador Boo (Wellington Muniz), e, Alanta (Sabrina Sato), a linda filha do prefeito, além dos terríveis Snurks: Galger (Marcos Chielsa), Zeck (Rodrigo Scarpa) e Bramph (Carlos Alberto). Quando a pedra mágica, o elixir da vida de Gaya, desaparece, os Gayanos entram em atrito com os Snurks. Repentinamente, eles são arrancados de seu mundo, para outra dimensão, na qual, precisam se unir, para sobreviver. Primeiro filme alemão feito com animação computadorizada, tem a direção de Hlger Tappe e Lenard Fritz Krawinkel. “A Terra Encantada de Gaya” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 1 do Moviecom. Censura livre. Atenção: cópia dublada.

Estréia 3: “Syriana – A Indústria do Petróleo”

Durante 21 anos, Robert Baer (George Clooney) trabalhou para a CIA, investigando terroristas, ao redor do planeta. À medida que os atos terroristas se tornaram mais constantes, Robert nota que a ação da CIA passa a ser deixada de lado, de forma a favorecer a politicagem. Com isso, vários sinais de ataque são ignorados, devido à falta de tato dos políticos para lidar com terroristas. Baseado em livro de Robert Baer, “Syriana” foi dirigido por Stephen Gaghan. O filme ganhou o Globo de Ouro de Ator Coadjuvante (George Clooney), além de ter sido indicado para os Oscars de Ator Coadjuvante e Roteiro Original. “Syriana – A Indústria do Petróleo” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.




Filme Recomendado: “O Segredo de Brokeback Mountain”

O amor no mundo de marlboro

Não são raros os filmes que retratam o homossexualismo, seja como tema principal, seja como elemento de apoio. Porque, então, todo este rebuliço a respeito de “O Segredo de Brokeback Mountain”, filme indicado – e favorito – para oito premiações do Oscar? Longe da alegria escrachada de “Priscilla – A Rainha do Deserto”, ou, “A Gaiola das Loucas”, o filme do diretor twaianês Ang Lee pode ser considerado um drama comum. Mas, atenção, comum, neste caso, não significa desinteressante. Comum, porque retrata as histórias de amores fadadas ao insucesso, que acontecem, o tempo todo, ao nosso redor.

O filme inicia em 1963, quando dois jovens, Jack (Jake Gyllenhaal), e, Ennie (Heath Ledger), são contratados para tomar conta de um rebanho de ovelhas, em um local ermo, chamado Brokeback. Região montanhosa, e, de difícil acesso, era o lugar ideal para a criação destes animais. Os dois jovens, que jamais haviam se encontrado antes, passam a viver em completo isolamento, dependendo um do outro, para sobreviver, e, levar o trabalho a contento.

Aos poucos, os dois, nascidos do meio rural, educados no trabalho duro e exaustivo, vão confiando mais no outro, e, deixando transparecer os sonhos e projetos de vida. Jack, que fugira de casa ao completar 17 anos, aspira à fama nos rodeios, domando cavalos, ou, montando touros bravos. O calado Ennie, sonha apenas em ter a sua própria fazenda, e, casar-se com a noiva, Alma.

A solidão os leva a uma amizade e companheirismo cada vez mais fortes. Depois de uma bebedeira, os dois dividem a barraca, por conta do frio, e, terminam por fazer sexo. A cena é um pouco chocante, pois se percebe que apenas o desejo carnal impera.

Embora, no dia seguinte, ambos decidam esquecer o que passou, a intimidade fica cada vez maior, e, mais que sexo, sentem prazer na companhia do outro. O idílio é abruptamente rompido, quando recebem ordem do patrão para voltarem para as suas casas.

Quatro anos se passam, sem que os dois se encontrem. Ennie casa com Alma (Michelle Williams), e, logo chegam as crianças. Devido às dificuldades do meio rural, mudam-se para uma pequena cidade, onde Alma consegue um emprego, e, as crianças tem mais companhias. Suas vidas prosseguem, com as dificuldades da pobreza (lá também tem pobres...).

Jack persegue o seu sonho nas quadras de rodeio, e, é em uma delas, que conhece Lureen (Anne Hathaway), uma bela herdeira texana, com que tem um namoro ardoroso. O namoro termina em gravidez, em casamento às pressas, e, com Jack assumindo o posto de vendedor na loja de tratores do sogro, o autoritário LD (Graham Beckel).

Um belo dia, Jack consegue entrar em contato com Ennie, e, o reencontro é uma explosão de paixão represada. Alma, que não entendia o porquê da ansiedade do marido, à espera do amigo, fica chocada quando surpreende os dois se beijando, num canto escondido.

Os dois passam a se encontram regularmente, sempre indo ao seu paraíso, a montanha Brokeback, o único lugar onde podiam ter um lampejo de felicidade. Embora ambos desejassem, jamais poderiam ter uma vida em comum, pois a conservadora sociedade em que viviam não aceitaria isso.

Ennie divorcia-se de Alma, mantém-se perto das filhas, namora outras mulheres, mas, não deixa de ser um eterno solitário. Jack, por sua vez, mantém o seu papel no artificial mundo da mulher, onde a felicidade é diretamente proporcional ao tamanho da conta bancária, e, a correspondente ostentação de riqueza.

Um certo dia, Ennie é surpreendido com a notícia da morte do amado. Embora a história oficial relate um acidente, o espectador toma conhecimento do verdadeiro destino de Jack, embora nunca fiquem claras as circunstâncias de sua morte. A Ennie, então, resta tentar cumprir os últimos desejos de Jack, de retornar ao único lugar onde conheceu a felicidade, a montanha Brokeback. Xi, contei o final, e, agora?

Neste breve resumo, o leitor tem a certeza de que é uma história comum, uma história de amor, sim, que tem o diferencial de ser entre dois homens, mas, uma bela e trágica história de amor. O que tem, fora isso, este filme, para fazer tanto barulho?

O diretor Ang Lee, que já surpreendeu o mundo com o belíssimo “O Tigre e o Dragão”, deve ter causado estranheza, ao querer fazer este filme. Afinal de contas, o que é que um chinês pode entender de caubóis americanos? Bem, Ang Lee mostrou muito mais intimidade com o universo americano que os diretores ocidentais quando falam das coisas orientais.

Mas, o importante de “O Segredo de Brokeback Mountain” não está no happy end, ou, na ausência dele. Assim como uma bela e tortuosa estrada nas montanhas, a beleza está no caminho, no desenvolvimento do filme. Assim como fizera, com maestria, em “O Tigre e o Dragão”, Lee conta a sua história com as belas paisagens, realçadas por uma fotografia espetacular, uma montagem inteligente, uma trilha sonora sutil e envolvente, e, principalmente, com a atuação expressiva do elenco, muitas vezes, limitados a diálogos sem palavras, transparecendo os sentimentos e emoções nas expressões corporais. Não é para menos que já rendeu dois Globos de Ouro para Heath Ledger e Michelle Williams, que também concorrem ao Oscar, junto com Jake Gyllenhaal.

Certamente, as pessoas mais conservadoras irão torcer o nariz para o filme, por se tratar de homossexuais. Mas, ao contrário de outras produções, os personagens são figuras másculas, sem trejeitos, ou, outras atitudes estereotipadas. Homens rudes, às vezes, capazes de violência incontida, mantêm, trancados a sete chaves, os seus desejos e aspirações mais íntimas. Talvez, muitas pessoas se identifiquem com a situação de Ennie, conformado e aprisionado em uma vida insípida, para quem Jack representasse um lampejo de felicidade e esperança. Embora nunca ousasse quebrar as regras, “chutar o pau da barraca”, Ennie não abria mão desses frágeis momentos.

Apesar do tema forte, “Brokeback” é um filme contido, assim como os seus personagens. Ang Lee cortou qualquer cena que tivesse nu frontal, ou, qualquer coisa mais agressiva. Mesmo as cenas de beijos são menos gratuitas do que as de “Alexandre”, por exemplo. Aliás, Heath Ledger quase quebrou o nariz de Jake Gyllenhaal, ao realizar uma das cenas de beijo com o ator.

Se, mesmo assim, não admitir a idéia, vá assistir qualquer outra coisa, e, esqueça “Brokeback”. Se resolver entrar, assista ao filme com o espírito desarmado, olhando para uma história de amor sem esperanças, oprimida por uma sociedade cada vez mais conservadora, materialista, e, dominadora. Ao final do filme, se não gostar, paciência, nem todos gostam do amarelo. Mas, não seja do tipo “não vi, e, não gostei”. Veja, e, emita a sua opinião, com fundamento.

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