Newton Ramalho – colunaclaquete@gmail.com
O que está em cartaz
Enquanto o clima natalino fervilha, no comércio da cidade, o FESTNATAL prossegue as suas atividades, graças à incansável batalha do colega Valério Andrade. Como estréia, “apenas” a superprodução da Disney, “As Crônicas de Nárnia”. Nas continuações, “Harry Potter e o Cálice de Fogo”, quarto filme do bruxinho mais famoso do mundo, o ótimo “Em Seu Lugar” (veja Filme Recomendado), com Cameron Diaz, Toni Collette, e, a grande dama Shirley MacLaine, o terror “O Exorcismo de Emily Rose”, a produção nacional “Cidade Baixa”, estrelada por Lázaro Ramos, Wagner Moura, e, Alice Braga (com preço único de R$3), e, a animação da Disney “O Galinho Chicken Little”, com as vozes de Daniel de Oliveira e Mariana Ximenes. Na outra semana, estréia “King Kong”, cujos ingressos já estão à venda.
Estréia: “As Crônicas de Nárnia”
Os estúdios Disney lançam a primeira adaptação, para o cinema, da série “As Crônicas de Nárnia”, baseadas nos livros do escritor irlandês C. S. Lewis. Lúcia (Georgie Henley), Susana (Anna Popplewell), Edmundo (Skandar Keynes) e Pedro (William Moseley) são quatro irmãos que vivem na Inglaterra, em plena 2ª Guerra Mundial. Fugindo dos bombardeios alemães em Londres, as crianças são mandadas para a propriedade rural de um professor misterioso, onde costumam brincar de esconde-esconde. Em uma de suas brincadeiras, eles descobrem um misterioso guarda-roupas, que leva, quem o atravessa, ao mundo mágico de Nárnia. Este novo mundo é habitado por seres estranhos, como centauros e gigantes, que já foi pacífico, mas, hoje, vive sob a maldição da Feiticeira Branca, Jadis (Tilda Swinton). Ela fez com que o local se mantivesse em um pesado inverno. Sob a orientação do leão Aslam, que governa Nárnia, as crianças decidem ajudar na luta para libertar este mundo do domínio de Jadis. O filme cobre os eventos descritos em todos os sete livros de Lewis. A direção é de Andrew Adamson. “As Crônicas de Nárnia” estréia, nesta sexta-feira, nos Cines 1 e 6 (cópias dubladas) e Cine 4 (cópia legendada), do Moviecom. Para maiores de dez anos.
FESTNATAL – Mostra Competitiva e Filmes Convidados
O XV Festival de Cinema de Natal, o FESTNATAL, prossegue suas atividades durante a próxima semana. Nesta sexta-feira, dia 9, às 15h, “Bens Confiscados”, 17h, “O Quinze” (convidado), e, às 19h, “Concerto Campestre”. No sábado, dia 10, às 17h, reprise de “Concerto Campestre”, e, às 19h, “Vida de Menina”. No domingo, dia 11, às 15h, reprise de “Vida de Menina”, 17h, “Dom” (convidado), e, às 19h, “Celeste e Estrela”. Na segunda-feira, dia 12, às 17h, reprise de “Celeste e Estrela”, e, às 19h, “A Máquina”. As exibições serão no Centro de Convenções da Via Costeira. O ingresso custa R$ 1,00. Mais informações no site do festival, www.festnatal.com.
FESTNATAL – “Bens Confiscados”
Américo Baldani, poderoso senador da República, é denunciado publicamente pela esposa Valquíria por corrupção, tráfico de influências e bigamia. Quando sua amante, a estilista Isabela Siqueira, se suicida, ele manda seqüestrar Luís Roberto, o secreto filho bastardo, e o esconde da imprensa e dos inimigos políticos numa cidade balneária no extremo sul do país. Para cuidar dele o senador convence uma antiga amante, a enfermeira Serena. Dirigido por Carlos Reichenbach (Anjos do Arrabalde) e com Betty Faria, Werner Schünneman, Antônio Grassi e Marina Person no elenco. Mostra competitiva do FESTNATAL, dia 9, às 15h.
FESTNATAL – “O Quinze”
No ano de 1915, uma grande seca dizimou uma boa parte da população pobre do estado do Ceará. Conceição (Karina Barum), uma jovem professora que trabalha em Fortaleza, vai passar férias na fazenda da avó, Mãe Inácia (Maria Fernanda), no município de Quixadá, e, lá, além de conviver com o flagelo da seca, se envolve emocionalmente com um primo, Vicente (Juan Alba). Dirigido por Jurandir Oliveira, baseado no livro de Rachel de Queiroz. Filme convidado do FESTNATAL, dia 9, às 17h.
FESTNATAL – “Concerto Campestre”
Major Eleutério Fontes (Antonio Abujamra), que, como os demais, é um homem rico, cuja principal ocupação é a exploração das charqueadas, operadas por verdadeiros exércitos de escravos. Um dia, durante um passeio por seus domínios, ele descobre dois índios guaranis executando uma obra sacra, música aprendida com os jesuítas nas reduções missioneiras. É então que este homem rude ouve música pela primeira vez, e, a partir deste momento, sua vida jamais será a mesma. Dirigido por Henrique de Freitas Lima, e, com Samara Felippo e Leonardo Vieira, no elenco. Mostra competitiva do FESTNATAL, dia 9, às 19h, e, reprise no dia 10, às 17h.
FESTNATAL – “Vida de menina”
“Vida de Menina” é uma mais do que justa adaptação de um clássico da literatura brasileira, “Minha vida de menina”, de Helena Morley, publicado em 1942. Passado no final do século 19, mostra a vida da adolescente no interior de Minas, na efervescência da recém-proclamada república e libertação dos escravos. Nesse momento da vida, Helena é magra, desengonçada, e sardenta. Não é boa aluna, nem comportada como sua irmã Luizinha. Mas, Helena, como nenhuma outra garota de Diamantina, escreve. E, é nesse diário que Helena debocha, e, desmascara as pretensas virtudes alheias. Dirigido por Helena Solberg, e, com Ludmila Dayer e Daniela Escobar, no elenco. Mostra competitiva do FESTNATAL, dia 10, às 19h, e, reprise no dia 11, às 15h.
FESTNATAL – “Dom”
Bento (Marcos Palmeira) tem esse nome porque seus pais, apreciadores de Machado de Assis, resolveram batizá-lo como o personagem do livro "Dom Casmurro". De tanto ouvir isso, Bento cresceu com a idéia fixa de que seria o próprio personagem, e, destinado a viver, exatamente, aquela história. Até chamava sua amiga de infância, Ana (Maria Fernanda Cândido), de Capitu. Seus amigos, entrando na brincadeira, o apelidaram de Dom. Bento e Ana separaram-se, quando a família do menino mudou-se para São Paulo. Já adulto, Bento reencontra a sua Capitu, e, dali renasce o romance da infância, só que, agora, avassalador. Dirigido por Moacyr Góes. Filme convidado do FESTNATAL, dia 11, às 17h.
FESTNATAL – “Celeste e Estrela”
Paulo Estrela (Fábio Nassar) é um crítico de cinema, que está no aeroporto à espera de Celeste (Dira Paes), sua grande paixão. Enquanto a aguarda, ele começa a conversar com Salete (Ana Paula Arósio), uma recepcionista, sobre como ambos se conheceram. Celeste é uma cineasta principiante, que conheceu Estrela em cursos de cinema, e, foi bastante premiada por seu trabalho como curta-metragista. Agora, Celeste planeja fazer sua estréia como diretora de longas-metragens, e, conta com a ajuda de Estrela, para adentrar na penosa seara de captação de recursos para fazer cinema no Brasil. Dirigido por Betse de Paula. Mostra competitiva do FESTNATAL, dia 11, às 19h, e, reprise no dia 12, às 17h.
FESTNATAL – “A Máquina”
Em Nordestina, cidadezinha perdida no sertão, "Karina da rua de baixo" (Mariana Ximenes) sonha em ser atriz, e, partir para o mundo. Antes que seu amor lhe escape, "Antônio de Dona Nazaré" (Gustavo Falcão) adianta-se, numa cruzada kamikaze, para trazer o mundo até Karina. Em uma história em que os sonhos contradizem a realidade, e, as condições geográficas e políticas ameaçam conter a vida, o amor desempenha o papel de elemento transformador. Dirigido por João Falcão, conta, ainda, com a participação de Paulo Autran, Wagner Moura e Lázaro Ramos. Mostra competitiva do FESTNATAL, dia 12, às 19h.
Cineclube Natal exibe “9 Canções”
No seu último evento no ano de 2006, o Cineclube Natal promove, nesta segunda-feira, dia 12, a exibição do longa “9 Canções”, de Michael Winterbottom , e, o curta-metragem “Amor”, de José Roberto Torero. “9 Canções” inicia com um encontro casual, entre um homem, e, uma mulher, num show de rock. Ele, inglês, ela, uma estudante americana. Desse inusitado par, surge um intenso relacionamento sexual, embalado por uma trilha sonora, que passeia pelos acordes do pop e do rock alternativo. Trata-se do primeiro filme com cenas de sexo explícito que recebeu o certificado de exibição em grande circuito na Inglaterra e na França. Ganhou o prêmio de Melhor Fotografia no Festival de San Sebastián. A sessão começa às 19h, no auditório do Teatro de Cultura Popular (TCP), ao lado da Fundação José Augusto, na rua Jundiaí, 641, Tirol. O ingresso custa R$1,00. Para maiores de 18 anos.
Filme recomendado: “Em Seu Lugar”
Almas gêmeas
O subtítulo acima não se refere ao filme neozelandês que marcou a aparição de Kate Winslet, mas, sim, à estréia desta semana, “Em Seu Lugar”, que, apesar de ser classificado como comédia romântica, vai muito além disso. Claro, tem romance, um pouquinho de comédia, mas, o forte do filme é explorar a complicação das relações familiares, que parece fazer parte da cultura norte-americana. Apesar de ser estrelado por Cameron Diaz, não espere as façanhas das panteras, ou, as situações infames de “Quem Vai Ficar Com Mary?”.
As personagens centrais da história são as irmãs Maggie (Cameron Diaz) e Rose (Toni Collette). Rose é advogada, viciada em trabalho, extremamente responsável, que vive em seu próprio apartamento, cercada de livros, e, sapatos novos, que, raramente usa. Gordinha, dentuça, e, tímida, ela tem dificuldades em lidar com os homens, embora esteja mantendo um caso com o seu chefe.
Maggie é o oposto completo de Rose. Por sofrer de dislexia, tem enorme dificuldade com a leitura e com os números, mal conseguindo terminar o ensino médio. Relaxada, desatenta, e, desmazelada, prefere viver a frivolidade das festas e paqueras em bares, onde a sua beleza e coquetismo prevalecem. Mesmo adulta, ainda mora com o pai (o que é raro nos Estados Unidos), mas, quando chega bêbada em casa, a madrasta a expulsa de vez. Sem ter outra solução, Rose a abriga em seu apartamento.
A convivência entre as duas vai de mal a pior, principalmente pelo comportamento de Maggie. Quando Maggie usa o carro de Rose sem permissão, esta pede que a irmã deixe a casa. Num impulso de vingança, Maggie seduz o namorado de Rose, o que provoca a ruptura total entre as duas.
Sem saber para onde ir, Maggie só quer saber de ir embora. Por um acaso, ela descobrira, na casa do pai, cartões da avó, que supunha estar morta, e, que jamais haviam sido entregues para elas. Decidida a mudar de ares, ela toma o primeiro trem para a Flórida, onde a avó recém-descoberta reside. Ella (Shirley MacLaine), a avó das garotas, mora e trabalha em um asilo de velhos, e, tem uma enorme surpresa ao reencontrar a neta, com a qual perdera contato há décadas.
O prazer do reencontro dá lugar a alguma decepção, pois Maggie continua com o seu costumeiro padrão de comportamento, descuidada e desinteressada. Um dia, após uma conversa dura e franca, com a avó, decide encarar um emprego no asilo.
Ao conhecer um dos internos, um ex-professor universitário, cego, mas, de um espírito extremamente aguçado, Maggie recebe uma ajuda inesperada, quando ele a orienta a dominar a sua deficiência. Aos poucos, a garota, muito mais responsável, descobre outras maneiras de ajudar os idosos, e, ajudar a si própria.
Enquanto isso, Rose também passava por momentos difíceis e reveladores. Apesar de ter brigado com a irmã, a dor da sua ausência é muito maior do que o rancor. Reconhecendo a artificialidade da sua vida, ela larga o emprego de advogada, e, resolve viver de passear com cachorros. Num desses passeios, reencontra um antigo colega de escritório, Simon (Mark Feuerstein), com o qual começa a se envolver.
Apesar o prazer do novo romance, Rose sente muito a falta de Maggie, e, ressente-se com o antigo namorado, a madrasta, e, mesmo o pai, que nunca deram a devida atenção à irmã. Uma carta da avó a faz voar até a Flórida, para descobrir os elos que faltavam em seu passado.
Apesar da falta que sentiam uma da outra, o confronto é inevitável, pois ainda havia muita mágoa, de parte a parte. Contudo, a condução experiente da sofrida avó leva as duas a entender o quanto eram importantes, uma para a outra.
É curioso que, apesar de ser, este filme, uma produção hollywoodiana, há uma fuga do padrão, pois não existem os estereótipos “heróis maravilhosos”, e, “bandidos malignos”. Todos os personagens tem (muitos) defeitos, e, também, inúmeras qualidades. São seres humanos normais, o que, dificilmente, se vê nas telas de cinema.
Por outro lado, o roteiro aborda, de uma maneira leve e sutil, as dificuldades de relacionamento das famílias americanas, que, ao contrário das nossas, são muito fechadas, e, resistentes à intromissão dos pais. As pessoas também são muito ciosas das suas liberdades individuais e privacidades, mesmo que, para isso, tenham que se isolar dos entes mais próximos. O maior pecado de todos, na história, foi, exatamente, o de querer proteger demais os outros.
A vida de todas as personagens sofre uma necessidade de renovação e busca de autenticidade, mesmo a workaholic Rose, bem-sucedida, financeiramente, faltava um sentido, que ela só veio descobrir muito depois. O curioso é a convergência sobre o crescimento das pessoas, muitas vezes, em uma direção que ninguém espera. Se Maggie, que nem ao menos conseguia ler direito, foi capaz de declamar uma poesia, Rose, por sua vez, descobriu que não tinha que carregar o mundo nas costas, num trabalho que a deprimia, encontrando o prazer de viver em pequenas coisas.
O elenco está muito bem, em especial, a grande dama do cinema, Shirley MacLaine, que mostra, em poucas cenas, porque é um dos maiores nomes de Hollywood. Cameron Diaz, por sua vez, está perfeita, no papel da porra-louca jovem, mas, desgastada pela vida desregrada. O sacrifício maior foi da atriz Toni Collette, que precisou engordar onze quilos, para assumir a patinha feia Rose.
Misto de drama, comédia, e, romance, “Em Seu Lugar”, dirigido por Curtis Hanson (“8 Mile - Rua das Ilusões”), consegue manter um equilíbrio tranqüilo, fugindo do melodrama, e, das situações estapafúrdias, passando a sua mensagem de busca da harmonia e de auto-aperfeiçoamento. Vale à pena conferir.
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