sexta-feira, 16 de setembro de 2005

Claquete 16 de setembro de 2005




Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Enquanto as cabeças começam a rolar em Brasília, o terror e a cegueira chegam a Natal – mas, só na ficção. Neste final de semana, estréia “Água Negra”, suspense dirigido por Walter Salles, e, “A Pessoa é Para o Que Nasce”, documentário sobre três cegas nordestinas. Nas continuações, “Vôo Noturno”, de Wes Craven, “Gaijin – Ama-me Como Sou”, a seqüência de “Gaijin”, da diretora Tizuka Yamazaki, “Deu Zebra”, um filme família, sobre uma zebra que pensava ser um cavalo de corridas, as comédias românticas “Penetras Bons de Bico”, com Owen Wilson, “Amor em Jogo”, com Drew Barrymore, e, “Procura-se um Amor Que Goste de Cachorros”, com Diane Lane e John Cusack, o terror “A Chave Mestra”, e, “2 Filhos de Francisco”, cine-biografia da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. No filme de arte, a produção americana “Espanglês”.


Estréia 1: “Água Negra”


Apesar de ter estreado quatro semanas atrás, só agora “Água Negra”, do diretor brasileiro Walter Salles, chega aos cinemas natalenses. Dahlia Williams (Jennifer Connelly) separou-se recentemente, e, está tentando começar uma vida nova, mudando para um novo apartamento, e, começando a trabalhar em um novo emprego. Dahlia está decidida a pôr um ponto final no relacionamento com seu antigo marido, para poder cuidar de Ceci (Ariel Gade), sua filha, mas, a separação litigiosa se transforma em uma complicada batalha pela custódia da criança. Para piorar a situação, o apartamento para o qual elas se mudaram possui barulhos misteriosos, vazamentos constantes de uma água negra, e, alguns fatos estranhos, que dão margem à imaginação de Dahlia. Acreditando que está sendo vítima de um assustador jogo mental, ela tenta juntar as peças do enigma, e, descobrir o que está acontecendo. Este filme, que é uma refilmagem da produção japonesa “Honogurai Mizu No Soko Kara”, é a primeira produção em inglês do diretor brasileiro. “Água Negra” estréia nesta sexta-feira, no Cine 5 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.


Estréia 2: “A Pessoa é Para o Que Nasce”

Um interessante documentário, do diretor Roberto Berliner, chega aos nossos cinemas. “A Pessoa é Para o Que Nasce”, foi, inicialmente, um curta-metragem de seis minutos que percorreu vários festivais do Brasil e do mundo. A adaptação para um longa-metragem levou três anos, terminando em 2004. O documentário trata sobre três irmãs cegas. Unidas por esta incomum peripécia do destino, Regina, Maria e Conceição viveram toda sua vida cantando e tocando ganzá, em troca de esmolas, nas cidades e feiras do Nordeste do Brasil. O filme acompanha os afazeres cotidianos destas mulheres, e, revela suas curiosas estratégias de sobrevivência, das quais participam parentes e vizinhos. Acompanha, também, numa reviravolta inesperada, o efeito do cinema na vida destas mulheres, transformando-as em celebridades. “A Pessoa é Para o Que Nasce” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 2 do Moviecom. Censura Livre.

Filme de Arte: “Espanglês”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, apresenta a produção americana “Espanglês”. Flor (Paz Vega) é uma bela mexicana, que possui uma filha de 12 anos (Shelbie Bruce). Ela vai trabalhar como empregada doméstica na casa dos Clasky, uma influente família de Los Angeles. Temendo sua adaptação à cultura americana, Flor se surpreende com a forma receptiva com a qual é tratada pelos Clasky. Dirigido por James L. Brooks (“Laços de Ternura”), e, com Adam Sandler, Paz Vega e Téa Leoni no elenco. Curioso que este filme, apesar de ter o cartaz exibido durante meses, nunca chegou a ser exibido comercialmente, em Natal. A Sessão Filme de Arte será no Cine Natal 1, na terça-feira, dia 20, em sessão única, às 21h. Para maiores de 12 anos.



Abertas inscrições para Festival de Cinema Universitário


Chegando em sua quarta edição, o Nóia – Festival Brasileiro de Cinema e Vídeo Universitário, abriu as inscrições, durante todo o mês de setembro. O tema do festival deste ano, que acontece entre os dias 30 de novembro e 03 de dezembro, no Centro Dragão do Marde Arte e Cultura, em Fortaleza, é “Cinema de Animação”. Poderão se inscrever estudantes universitários de todo o Brasil, nas categorias ficção, documentário, experimental, além da animação. A programação do festival contará, também, com Oficinas e Seminários, abertos ao público, e, trará grandes profissionais, da área de quadrinhos, e, cinema de animação. Mais informações, no site do festival: www.noia2005.com.


Morre Robert Wise

O diretor de “Noviça Rebelde” e “Amor, Sublime Amor”, morreu na última quarta-feira, aos 91 anos de idade, em decorrência de problemas cardíacos. Ele morreu poucos dias antes do Festival de San Sebastian, onde seria premiado pelo conjunto de sua obra. Wise foi indicado aos Oscar em três ocasiões, ganhando a estatueta nos filmes citados acima. Wise também dirigiu outros filmes memoráveis, como “A Maldição do Sangue da Pantera”, “O Canhoneiro do Yang-Tsé”, “O Enigma de Andrômeda”, “Jornada nas Estrelas – O Filme”, e, o clássico “O Dia em Que a Terra Parou”, libelo pacifista em plena Guerra Fria, lançado recentemente, em DVD, no Brasil. Além de sua carreira como diretor, Wise foi um talentoso editor, sendo indicado ao Oscar pela edição de “Cidadão Kane”, considerado, por muitos, o melhor filme de todos os tempos.


“Star Wars III” em pré-venda

Já está sendo colocado à venda, com entrega para 1º de novembro, o DVD duplo de “Star Wars Episódio III – A Vingança dos Sith”. A edução, ansiosamente aguardada pelos fãs, vem recheada de extras, como é de costume na série. O primeiro disco traz o filme, com formato de vídeo widescreen 2.35:1 & 16x9 Anamórfico, e, áudio em inglês Dolby Digital 5.1Surround EX, e, Espanhol e Português Dolby Digital 2.0. O disco de extras traz seis cenas excluídas inéditas, documentário “Em Um Minuto”, a transformação em Darth Vader, no featurette “O Escolhido”, a criação das batalhas em "É Tudo Verdade", "making of" de "A Vingança dos Sith", em uma coleção de 15 documentários para a internet, clipe musical "A Hero Falls", Teaser do cinema e trailers de lançamento, galeria de fotos de produção, demo do novo videogame “STAR WARS Battlefront”, e, links do DVD-ROM de Star Wars.


“Fome de Viver” é relançado no circuitão

Os fãs estranhavam a demora do lançamento, em DVD, do cultuado filme “Fome de Viver”, de 1983. A explicação é que o filme foi relançado nos cinemas, em cópia nova, estando, atualmente, em cartaz no Rio de Janeiro. “Fome de Viver”, baseado em livro de Whitley Strieber, conta a história de uma sensual vampira, vivida por Catherine Deneuve, que, ao perder o seu atual companheiro (David Bowie), inicia um romance com uma jovem médica, vivida por Susan Sarandon. O filme virou cult, nos anos 80, pelo visual requintado, misturando elementos clássicos e modernos, além de uma trilha sonora, que une rock a Bach e Schubert. Vamos torcer para que chegue por aqui.



Filme recomendado: “Rios Vermelhos”

Rios de ação


Ninguém é inocente. Não, não estou me referindo aos protagonistas das várias CPIs que assolam o país. Mas, a frase resume bem um intessante filme francês, que resgata o clima das produções policiais das décadas de 30 e 40, embora use, com parcimônia, os efeitos especiais da tecnologia atual. O filme em questão é “Rios Vermelhos”, do diretor Mathieu Kassovitz, baseado no best seller homônimo do escritor Jean-Christophe Grangé.

O filme inicia com a chegada do comissário Niemans a Guernon, uma pequena cidade nos Alpes franceses. Niemans é um veterano policial de Paris, famoso, tanto por sua experiência de campo, quanto pela truculência e mau humor. Sua vinda à pequena cidade foi motivada por um crime bizarro. O corpo de um homem foi encontrado, sem as mãos e olhos, e, com sinais de tortura, executada com requintes de crueldade.

O crime chocou a pequena cidade, que vivia em função da universidade local. Esta, uma instituição tradicional, orgulhava-se dos prêmios conquistados, tanto nas competições atléticas universitárias, como nas pesquisas acadêmicas. A vítima, como a maioria dos habitantes da cidade, trabalhava na universidade, na biblioteca do campus.

A análise da água encontrada nos globos oculares do morto levou à descoberta de uma nova vítima, o que sugeriu a possibilidade de um criminoso em série.

Longe dali, um jovem policial, Max Kerkerian, investiga a violação do túmulo de uma criança, morta em um acidente automobilístico, dezoito anos antes. Logo, ele descobre que todos os registros referentes à menina, tinham sido roubados, da escola local. Seguindo as poucas pistas de que dispunha, conseguiu chegar à casa do possível autor da violação do túmulo.

Ao tentar entrar na casa, encontra com Niemans, que também vinha examiná-la, pois pertencia à segunda vítima. Após um confuso início, os dois passam a trabalhar juntos.

As investigações são dificultadas pelo próprio ambiente. Os professores da universidade formam uma comunidade extremamente fechada, expurgando os estranhos, e, casando-se entre si, numa casta moderna. Os policiais ficam chocados com a tese de doutorado da primeira vítima, o blibliotecário, que estudava os jogos olímpicos de 1936, numa apologia à criação da raça pura nazista. É desse trabalho que vem o título do filme, já que “rios vermelhos” seriam as veias, por onde corria o sangue puro.

Os crimes continuam acontecendo, desta vez com o oftalmologista local, ex-membro da universidade. Niemans escapa da morte, enquanto o assassino foge de Kerkerian, após uma exaustiva perseguição.

Aos poucos, os dois vão percebendo que, mais que crimes isolados, as mortes refletem uma vingança terrível, a crimes praticados no passado. O desfecho se dará no alto das montanhas, em meio às neves eternas, com revelações surpreendentes.

Certamente, o espectador já terá visto muitos filmes policiais tratando de serial killers, com muito mais efeitos especiais, tiros, explosões, e, perseguições de carros. Então, o que teria de mais, este filme, em particular?

Embora o cinema hollywoodiano seja o melhor em termos de efeitos especiais, a maioria dos autores e distribuidores morre de medo da autocensura, que pode classificar o filme impróprio para determinadas faixas de público. Isso, certamente prejudica a bilheteria do filme, ponto mais sensível do coração dos burocratas.

Sendo assim, o cinema americano, na maioria dos casos, carece de ousadia. Os personagens são estereotipados, o mocinho, um anjo de candura, o vilão, o pior dos elementos, etc..

O cinema europeu, de uma maneira geral, e, o filme policial francês, em particular, mostram-se bem mais soltos, apresentando seus personagens de uma forma mais humana, com virtudes e defeitos. Niemans, o poderoso comissário, é bruto, mal humorado, não respeita regras, e, morre de medo de cachorros. Kerkerian, certamente, se não fosse policial, seria um marginal. Ele fuma maconha, e, ao se ver sem transporte, não hesita em roubar um carro. Mesmo assim, os dois irão às últimas conseqüências, para elucidar os crimes, e, prender os culpados.

Todas as vítimas estavam envolvidas em um tenebroso plano, no passado, plano este que motivou o assassino a vingar-se, de uma forma cruel e aterradora.

O filme mantém um ritmo intenso, cheio de reviravoltas, que mantém o espectador preso, tanto pela direção segura de Kassovitz, como pela atuação do elenco, em especial, do marroquino Jean Reno, que criou uma magnífica interpretação do comissário Niemans. Vicente Cassel faz um contra-ponto interessante, como o jovem policial Kerkerian. “Rios vermelhos” recebeu cinco indicações ao César, o Oscar francês, nas Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.

A edição em DVD, da Columbia, está excelente. Além das trilhas em francês (original), inglês, portugues e espanhol, foi mantido o formato da tela em widescreen anamórfico. Como extras, comentários do diretor, Mathieu Kassovitz, e, do ator Vicent Cassel, documentário “A Investigação”, com 50 minutos, Making Of, com mais 25, tudo legendado em português, notas sobre o elenco e diretor, trailer de cinema, e, mais alguns easter eggs, extras escondidos. O filme gerou uma seqüência, “Rios Vermelhos 2 – Anjos do Apocalipse”, que, além de não ter o brilho do filme original, teve uma péssima edição em DVD.

Puro entretenimento, quem gosta do gênero policial, certamente ficará satisfeito, ao acompanhar a história, num crescente de ação e suspense. “Rios Vermelhos”, além de resgatar o filme policial francês noir, também trouxe elementos do cinema moderno, como a montagem alucinante, além de uma fotografia impecável, que, não apenas contribui para a atmosfera do filme, como também ressalta as belíssimas paisagens das montanhas francesas.

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