sexta-feira, 26 de agosto de 2005

Claquete 26 de agosto de 2005




Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Vai-se agosto, com seus presságios, e, seus acidentes de avião. Neste final de semana, estréia a comédia romântica “Procura-se um Amor Que Goste de Cachorros”, com Diane Lane e John Cusack, e, o terror “A Chave Mestra”. Nas continuações, “Sin City – A Cidade do Pecado”, baseado na famosa graphic novel de Frank Miller, “2 Filhos de Francisco”, cine-biografia da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, a comédia “A Sogra”, com Jennifer Lopez e Jane Fonda, “A Ilha”, ficção-científica, com Ewan McGregor e Scarlett Johansson, numa história de clones, e, muita perseguição, “A Fantástica Fábrica de Chocolates”, dirigida por Tim Burton, e, estrelada por Johnny Depp, “As Aventuras de SharkBoy e LavaGirl em 3D”, fantasia de Robert Rodriguez, e, “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”, narrando os momentos finais do ditador. Apenas no final de semana, acontece a pré-estréia de “Penetras Bons de Bico”. No filme de arte, a produção independente “Hora de Voltar”.


Estréia 1: “Procura-se um Amor Que Goste de Cachorros”

Aos trinta e poucos anos, a professora de pré-escola Sarah Nolan (Diane Lane) está separada a oito meses. Preocupadas com a felicidade de Sarah, suas irmãs, Carol (Elizabeth Perkins) e Christine (Ali Hillis), e, o pai delas, o viúvo Bill (Christopher Plummer), resolvem dar uma mãozinha ao Destino, através das salas de bate-papo da internet. Carol e Christine fingem ser Sarah, e, colocam seu perfil num site de encontros, descrevendo-se como “voluptuosa, sensual, atraente e divertida”. Só que, além de compartilhar o gosto romântico, teria, também, de gostar de cachorros”. Logo, Sarah passa por uma série de primeiros encontros desastrosos e hilariantes desencontros, conforme chegam os ansiosos pretendentes. Um dia, chega a vez de um construtor de barcos, Jake Anderson (John Cusack), um idealista, que avalia um romance com base em Dr. Jivago, e, não gosta nem um pouco de cães. O problema é que, no trabalho, ela encontra um possível candidato: Bob Connor (Dermot Mulroney), o recém-separado pai de um de seus alunos. Charmoso e tranqüilo, Bob parece feito sob encomenda, o homem perfeito... Mas seria ele bom demais para ser verdade?. Comédia romântica leve, tem a direção de Gary David Goldberg. “Procura-se um Amor Que Goste de Cachorros” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Censura Livre.

Estréia 2: “A Chave Mestra”

Os filmes de terror, definitivamente, voltaram à moda. A estréia da semana é “A Chave Mestre”. Tendo como a maior parte do cenário a atmosfera dark da floresta perto de Nova Orleans, “A Chave Mestra” traz um terror inspirado nas práticas vudu, comuns no Caribe e sul dos Estados Unidos. O filme é estrelado por Kate Hudson, que vive Caroline, uma ex-produtora musical, que adotou a profissão de enfermeira para redimir-se de ter dado pouca atenção a seu pai, quando doente. Ela é contratada para trabalhar em uma velha mansão na Louisianna, cuidando de Ben (John Hurt), vítima de um derrame, que não fala e não se move. Quem a contratou foi Violet (Gena Rowlands), irmã de Ben, tão misteriosa e assustadora, quanto a casa em que moram. Intrigada, pelo casal enigmático, e, a casa misteriosa, Caroline começa a explorar a velha mansão. Armada com uma chave mestra, que abre todas as portas, ela descobre um sótão escondido, que tem um segredo mortal e aterrorizador, legado pelos antigos donos, que teriam sido linchados devido a práticas vudu. Peter Sarsgaard é Luke, o advogado local que cuida dos bens do casal, e, Joy Bryant é Jill, a melhor amiga de Caroline. A direção é de Iain Softley. “A Chave Mestra” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.


Pré-Estréia: “Penetras Bons de Bico”

John (Owen Wilson) e Jeremy (Vince Vaughn) são amigos de longa data, trabalhando juntos, como mediadores de divórcios. A dupla tem como hobby ir a festas de casamento nos fins de semana, sem serem convidados, com o objetivo de seduzir mulheres que se entusiasmam com a simples idéia de se casar. Um dia, John se apaixona por uma noiva, e, as coisas se complicam, quando ele descobre que sua nova paixão é filha do Secretário do Tesouro Americano (Christopher Walken de "Prenda-me se For Capaz"). No papel da noiva por quem o personagem de Owen Wilson se apaixona, está Rachel McAdams de "Meninas Malvadas" e "Diário de Uma Paixão". Owen Wilson ("Sou Espião", "Bater ou Correr") e Vince Vaughn ("Psicose", "Be Cool - O Outro Nome do Jogo"), que trabalharam juntos em "Starsky & Hutch", voltam a dividir a cena nesta comédia. A direção é de David Dobkin, que já havia dirigido Wilson em "Bater ou Correr em Londres". “Penetras Bons de Bico” terá pré-estréia de sexta a domingo, sempre na sessão de 18h20, no Cine 2 do Moviecom. Para maiores de 12 anos.

“De Repente, no Último Verão”, na Casa da Ribeira

O Centro Cultural Casa da Ribeira, em sua tradicional sessão “Cinema e Psicanálise”, irá exibir o filme “De Repente, no Último Verão”. O filme, de 1959, é um clássico, dirigido por Joseph Leo Mankiewicz (“A Malvada”, “Cleópatra”). O filme, que teve três indicações ao Oscar, reuniu três dos maiores nomes do cinema, na época: Montgomery Clift, Katherine Hepburn e Elizabeth Taylor. John Cukrowicz (Clift), um neurocirurgião, interessado em conseguir recursos para o hospital onde trabalha, conhece Violet Venable (Hepburn), uma rica senhora da aristocracia, que quer mandar fazer uma lobotomia em Catherine Holly (Elizabeth Taylor), uma sobrinha supostamente acometida de crises de loucura. Na verdade, Violet teme que Catherine revele a homossexualidade de Sebastian, o filho de Violet, que morreu, de forma violenta, na Espanha. Há uma versão "oficial" do acidente, mas, Catherine viu o que realmente aconteceu, e, assim, sua tia tenta silenciá-la. O filme será exibido nesta sexta-feira, dia 26, às 20h. Mais informações, no fone 3211-7710.



Filme de Arte: “Hora de Voltar”

A sessão Filme de Arte, do Cine Natal 1, reapresenta a produção independente “Hora de Voltar”, filme de estréia do diretor Zach Graff, que também interpreta o personagem principal. Andrew Largeman (Graff) é um ator de televisão, razoavelmente bem sucedido, que vive em Los Angeles, e, leva sua vida num estado de torpor induzido por lítio, há anos. Após a morte de sua mãe, ele decide retornar à sua casa, em Garden State, que não visitava há nove anos. Mesmo distante, por tanto tempo, Andrew não conseguiu escapar da dominação de seu pai, Gideon (Ian Holm). Preocupado em ter que retornar para casa, após tanto tempo, ele encontra pelas esquinas, de sua cidade-natal, antigos conhecidos, que lhe relembram bons momentos de quando morava na cidade. “A Hora de Voltar” ganhou o Independent Spirit Awards de Melhor Filme de Estréia, além de ter sido indicado na categoria de Melhor Roteiro de Estréia. O roteiro, aliás, é parcialmente baseado na infância de Zach Braff, em Nova Jersey. Este filme está disponível em DVD. A Sessão Filme de Arte será no Cine Natal 1, na terça-feira, dia 30, em sessão única, às 21h. Para maiores de 16 anos.


“Segredos de Família ”, em DVD

Jason Lair (Josh Lucas) é um homem simples, que sonha em levar uma vida normal. Recentemente separado de sua esposa, que viajou para o Nepal, para pintar, ele, agora, precisa cuidar de seu filho Zach (Jonah Bobo), de 6 anos, e, também de seu avô Henry (Michael Caine). Entre outras esquisitices, Henry, que é arqueólogo, pesquisa rituais antigos, para seu próprio funeral. Quando Turner (Christopher Walken), pai de Jason, e, que há anos está afastado da família, ressurge repentinamente, a vida do trio muda. Henry fica feliz com o reaparecimento do filho, mas, Jason está reticente em conhecer o pai, que o abandonou quando ainda era criança. Decidido a fazer com que a família se reúna novamente, Henry traça um plano: prepara uma série de mapas e recados, para que Turner e Jason possam cumprir um ritual em sua homenagem após sua morte. Para tanto Turner, Jason e Zach realizam uma viagem pelo interior dos Estados Unidos, onde conhecem melhor uns aos outros, e, reencontram o passado. Nas locadoras.


“Sete Homens e um Destino”, em DVD

Quando Akira Kurosawa fez “Os Sete Samurais”, em 1954, certamente não previu a quantidade de refilmagens que foram feitas, baseadas no seu roteiro. A mais famosa delas foi um western, “Sete Homens e um Destino”, dirigido por John Sturges, que nos brindou com obras como “O Velho e o Mar”, “Duelo de Titãs”, e, “Fugindo do Inferno”. “Sete Homens e um Destino”, de 1960, consagraria nomes pouco conhecidos, que viriam a brilhar nos anos seguintes, como Yul Brynner, Eli Wallach, Steve McQueen, Charles Bronson, Robert Vaughn, e, James Coburn. Em um vilarejo mexicano, os habitantes sofrem constantes ataques de um bando de pistoleiros liderados pelo temido Calvera (Eli Wallach). Cansados de serem saqueados, alguns moradores locais, que não têm armas, e, muito menos, temperamento violento, viajam até a fronteira, onde encontram Chris (Yul Brynner) e Vin (Steve McQueen). Os dois pistoleiros, desempregados, estão dispostos, não pelo dinheiro, mas, pela aventura, a reunir mais cinco outros foras-da-lei, que concordam por motivos diversos, a defender o vilarejo dos homens de Calvera. A vitória parecia assegurada, mas, Calvera não desiste facilmente, e, volta ao povoado, obrigando Chris e seus companheiros a lutarem até a morte, para salvar os habitantes da pequena cidade. O disco traz formato de tela original widescreen, trilhas em inglês, portugues e espanhol Dolby Digital 5.1, e, como extras, comentários em áudio, Making Of, trailers e galeria de fotos. O melhor é que está numa dessas promoções “leve 3, pague 2”.


“Cinema no rio”, uma idéia a ser seguida

O evento é distante, ao longo do velho Chico, atendendo as populações que vivem à margem do Rio São Francisco, mas, a idéia é muito boa. O projeto “Cinema no rio”, idealizado por Inácio Ribeiro Neves, tem como objetivo levar alguns títulos de cinema para serem exibidos, gratuitamente, para as populações ribeirinhas, que, certamente, nunca tiveram acesso a uma sala de cinema. Mostrando que a Vida imita a Arte, os idealizadores do projeto farão como em “Cinema Paradiso”, sessões ao ar livre, fazendo, ao mesmo tempo, gravações para documentar o projeto. Toda a estrutura será transportada em um barco, que também servirá de alojamento para a equipe do projeto e profissionais da imprensa. Trazendo para o nosso universo, um simples caminhão poderia fazer uma jornada semelhante, nos nossos interiores, talvez, até mesmo, pegando carono em outros projetos, como o Cine BR em movimento, por exemplo. A idéia está lançada!

Filme recomendado: “Dicionário de Cama”

Faça o que eu digo...



Viver de aparências não é novidade, na história do Homem, seja na China antiga, seja nas cortes européias da Idade Média, seja no dia-a-dia dos brasileiríssimos natalenses. Este estilo de vida resume-se a: “saia da linha, mas, respeite as nossas regras...”. Um filme que explora, com graça, e, romantismo, este lado estranho da civilização é “Dicionário de Cama”, do diretor Guy Jenkin.

Nem só nos ambientes modernos existe a vida de aparências. Em meados da década de 30, quando a Inglaterra era os Estados Unidos da época, mais da metade do mundo ostentava o pavilhão de São Jorge. Em uma destas colônias, a idílica Sarawak, ao norte da ilha de Bornéu, a vida transcorria mansamente, entre a luxuriante floresta tropical, e, a rotina sem pressa do povo local. Comandando a região, por muitas décadas, estava o governador Henry (Bob Hoskins, de “Uma Cilada para Roger Rabbit”), auxiliado pela mulher, Aggie (Brenda Blethyn, de “Segredos e Mentiras”), Sua principal missão era tomar conta dos nativos, ensinando-os a falar inglês, aprender a religião e os costumes ingleses, bem como, enviar os tributos para a Corte.

Um belo dia, a rotina do local é quebrada, com a chegada do jovem John Truscott (Hugh Dancy), Ele vinha, como tantos outros jovens recém saídos das academias, estudar a “vida real” nas colônias, ajudando no esforço de manter o mundo sob a rédea inglesa. John tinha um incentivo adicional, já que o pai dele estivera nesta mesma colônia, preparando um sistema educacional, que jamais fora implantado. John pretendia concluir o trabalho do pai, que morrera quando o jovem tinha quatro anos.

A chegada dele alvoroça os locais, já que, além de ser uma cara nova, era completamente ignorante da lingua e dos costumes locais. Após alguns tropeços, é aceito carinhosamente pelos nativos, e, em especial, por Belansai (Eugene Salleh), um jovem de sua idade, que estava destinado a ser o futuro chefe da tribo. A outra pessoa que se interessa pelo recém chegado é Selima (Jessica Alba), uma bela nativa, que é oferecida a John, como “dicionário de cama”. Em princípio, já que, no local quem vivia eram os Ibans – uma tribo de costumes estranhos e tradições diferentes, para poder governar em paz, era preciso, pelo menos, entender o que os indígenas estavam falando.

Este título pomposo compreendia, não só, um curso de imersão total na língua local, como, também, uma companheira para todos os momentos, incluindo a intimidade sexual. Como a maioria dos jovens da época, John fora catequizado na rigorosa igreja anglicana, que preconizava que todos, homens e mulheres, deveriam chegar virgens ao casamento. Por isso, a proposta de Selima o chocou, embora não menos do que a constatação de que, todos, do cínico governador, à sua formal primeira-dama, não apenas conheciam o hábito, como, o toleravam, desde que não se falasse dele. Há séculos, os colonizadores sabiam dos efeitos devastadores dos hormônios a toda, nos jovens solteiros, que teriam que passar anos longe de casa.

Relutante, a princípio, John, aos poucos, encanta-se com Selima, unindo os prazeres da descoberta do sexo a dois, com uma paixão arrebatadora. Este estado de enlevo só é quebrado com a chegada de Cecil (Emily Mortimer, a "garota perfeita" de “Um Lugar Chamado Notting Hill”), a filha do governador. Apesar de ter nascido ali, Cecil fora enviada, ainda muito criança, para um colégio interno na Inglaterra. Não é preciso muito para que ela se interesse por John, o que parecia tão natural para todos quanto à tolerância ao “dicionário de cama”.

O que ninguém poderia esperar era que John, ao invés de livrar-se da nativa, e, formalizasse a união com a jovem inglêsa, optasse por seu objeto de paixão, enfrentando a fúria de ambos os mundos. Uma refrega contra contrabandistas holandeses é usada contra John, como chantagem, para que abandone a sua paixão. No melhor estilo da vida de aparências, Selima casa-se com Belansai, enquanto que John, um ano depois, termina casando-se com Cecil.

Se, para as famílias e sociedades, as coisas pareciam estar acomodadas, voltam a desarrumar-se, algum tempo depois, quando o casal John e Cecil retorna a Sarawak, para juntar-se aos pais da moça.

Embora seja visível um certo distanciamento entre o jovem casal, John parece ter se acomodado à nova vida, pelo menos, até o momento em que vê o filho de Selima, visivelmente, seu filho, resultado do tempo de “dicionário de cama”. Embora não ultrapassem os limites impostos por seus respectivos casamentos, é impossível para os dois não sentirem velhas emoções aflorarem.

Esse novo estado, com uma certa ajuda de pessoas maldosas, precipita uma reação passional de Belansai, que ataca John, com uma faca. O jovem nativo é preso, e, John, mais uma vez, é pressionado, pelo sogro governador, a condená-lo à morte, já que cometeu o maior crime que um colonizado poderia fazer, o de atacar um dos seus senhores.

Entre a mulher insatisfeita, a sogra querendo manter as aparências a qualquer custo, o sogro ameaçando com as leis inglesas, e, a possibilidade de perder, para sempre, a mulher amada, faz com que John resolva tomar uma atitude extremada. Para completar a confusão, uma revelação atinge, como um raio, todos os envolvidos. Ponto. Para saber mais, assista ao filme.

“Dicionário de Cama”, uma modesta produção de 12 milhões de dólares, que nem sequer chegou a ser exibida nos cinemas americanos, consegue, em meio a alguns furos no roteiro, levantar alguns pontos interessantes, de um colonialismo que nem está tão distante assim. Afinal, podem ser transgredidas regras (religiosas, no caso), desde que não se assuma que o fato acontece. Um dominador pode explorar o colonizado (sexualmente, no caso, como um símbolo de um valor máximo), desde que não se envolva com ele. No Brasil colônia, os senhores de engenho adoravam submeter as jovens negrinhas aos seus caprichos, repassando-as aos vassalos, quando não mais interessavam.

A visão de colonizadores explorando o que querem, e, impondo a sua cultura, sem que ninguém tenha pedido, não está num passado tão distante assim, talvez uma leitura mais atenta dos nossos telejornais demonstre isso.

E, para um público pouco interessado nessa elucubrações, “Dicionário de Cama” oferece uma bonita história de amor, na paisagem tropical, que parece o nosso quintal, que, certamente, irá interessar ao pessoal mais jovem. Para os censores de plantão, as cenas de sexo são poucas, e, não vão muito além do que passa na novela das oito.

Lamentavelmente, a edição em DVD não aproveitou a magnífica fotografia do filme, mutilando-a no formato tela cheia. A trilha sonora em inglês é Dolby Digital 5.1, e, a dublagem em português, em 2.0. Não há extras, a não ser trailers de outros títulos da distribuidora. Confira, e, faça a sua própria opinião.

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