sexta-feira, 12 de novembro de 2004

Claquete 12 de novembro de 2004


Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com

O que está em cartaz

Depois de uma semana com muitos filmes nacionais, a programação volta ao normal. Nas estréias, o remake romântico “Dirty Dancing – Noites em Havana”, com direito a muita dança em plena revolução cubana, “Celular – Um Grito de Socorro”, suspense com a ótima Kim Basinger, e, “Com a Bola Toda”, comédia besteirol sobre competição de queimada. Nas continuações, “Exorcista: O Início”, com o que seria a origem da famosa história do filme original, “O Enviado”, filme de suspense, que brinca com o tema de clonagem humana, “Menina dos Olhos”, sensível história do diretor Kevin Smith, com Ben Affleck, Jennifer Lopez e Liv Tyler, “A Dona da História”, drama nacional, com Marieta Severo e grande elenco, a comédia “De Repente 30”, o religioso “Irmãos de Fé”, sobre a vida de São Paulo, “Táxi”, comédia policial com Queen Latifah e a supermodelo Gisele Bundchen, e, o divertido desenho animado “Espanta Tubarões, da Dreamworks. Na 3ª Mostra Brasil, será exibido “Garotas do ABC”, com preço especial. No Filme de Arte, do Cine Natal 2, a produção inglesa “Moça do Brinco de Pérola”.


FestNatal

Após uma deliciosa maratona de dezesseis filmes, chega ao fim o mais famoso evento cinematográfico de nosso estado, o FestNatal. O encerramento do festival será no teatro Alberto Maranhão, onde, além da premiação das várias categorias concorrentes, acontecerão diversas apresentações, envolvendo atores, bailarinos, coreógrafos, cantores e instrumentistas. Estão concorrendo ao troféu Estrela do Mar os filmes “Lost Zweig”, “Uma Vida em Segredo”, “Contra Todos”, “Onde Anda Você”, “As Tranças de Maria” e “Durval Discos”. Além das tradicionais categorias do júri oficial, o FestNatal terá o prêmio dos universitários, prêmio Júri Popular, prêmio Cinearte e Troféu Tributo. A cerimônia começa às 19h.



Festivais de Vídeo em Natal e Mossoró

O 4º Festival de Vídeo Potiguar, que faz parte do calendário do FestNatal, já conta com vinte e dois trabalhos inscritos, todos produções potiguares, que concorrem a um prêmio de cinco mil reais, concedido pelo Banco do Nordeste. A maratona de exibições vai acontecer nos dias 17 e 18 de novembro, no auditório do Sebrae-RN (avenida Lima e Silva, Lagoa Nova), às 19h. Na semana seguinte, acontece o 2º Festival de Vídeo de Mossoró, cuja programação será exibida nos dias 25 e 26 de novembro, no Teatro Municipal Dix-Huit Rosado.


Revelando os Brasis

Uma interessante iniciativa do Ministério da Cultura e da Fundação Marlin Azul incentivarão a produção audiovisual em pequenos municípios brasileiros. O projeto Revelando Brasis selecionou quarenta participantes, que, farão um curso no Centro Técnico Audiovisual do MinC, no Rio de Janeiro, onde aprenderão a desenvolver roteiro, usar equipamento de filmagem e produzir vídeos. Em seguida, voltarão às suas cidades para começar a filmagem. O Nordeste arrasou: dos quarenta selecionados, a metade é nordestina, e, o maior número, cinco, da Paraíba. O Rio Grande do Norte terá dois participantes, Mary Land Brito e Silva, e, Rubens Flavio da Silva Nobre. Os trabalhos deverão ser finalizados até março de 2005.


Dirty Dancing 2

Uma jovem romântica jovem conhece um dançarino e vive um caso de amor... Este foi o tema de “Dirty Dancing”, megasucesso de 1987, que lançou Patrick Swayze no estrelato, e, arrastou milhões de pessoas aos cinemas. “Dirty Dancing – Noites em Havana” não é a continuação da história original, mas sim, uma refilmagem, desta vez, ambientando o romance na Cuba revolucionária, em 1958. Katey (Romola Garai) apaixona-se por Javier (Diego Luna), garçom e dançarino, que ajuda a moça a se redescobrir, em meio ao violento cenário de transição política. Eles encontram-se, às escondidas, em um night club de Havana, onde dançam e se preparam para um concurso nacional. Enquanto isso, Fidel Castro pretende forçar os americanos a deixar o país. Fique atento, pois o astro Swayze faz uma ponta neste filme. A direção é de Guy Ferland. “Dirty Dancing – Noites em Havana” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, no Cine 3 do Moviecom. Para maiores de dez anos.


Celular – Um Grito de Socorro

Um estudante (Chris Evans) recebe uma ligação em seu celular, onde uma mulher pede ajuda, dizendo ter sido seqüestrada. A princípio, ele pensa que se trata de um trote, mas, quando ouve os gritos dela e as vozes dos violentos seqüestradores ameaçando-a, ele tenta buscar socorro. O problema é que a mulher (Kim Basinger) não sabe onde está, e, a bateria do celular do rapaz pode acabar a qualquer momento. Se a ligação cair, eles perderão definitivamente o contato e ela perderá sua única chance de ser encontrada e salva. Com direção de David R. Ellis, “Celular – Um Grito de Socorro” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, no Cine 6 do Moviecom. Para maiores de 14 anos.


Filme de Arte: “Moça Com Brinco de Pérola”

O Filme de Arte desta semana traz a produção inglesa “Moça Com Brinco de Pérola”, que conta a história de Griet, que seria a suposta modelo do mais conhecido quadro do pintor holandês Johannes Vermeer. O esmero na ambientação rendeu ao filme indicações para o Oscar de Melhor Direção de Arte, Figurino, e, Fotografia, esta última sob os cuidados do português Eduardo Serra, que tentou reproduzir com o máximo de fidelidade a iluminação dos quadros de Vermeer. O filme foi baseado no romance da escritora inglesa Tracy Chevalier, que, inspirando-se no estranho olhar da moça, no quadro, tentou imaginar quem ela seria, e, como se relacionava com Vermeer e sua família. A direção é de Peter Webber, e, nos papéis principais, atuam Scarlett Johansson e Colin Firth. A sessão Filme de Arte será no Cine Natal 1, no dia 16, terça-feira, às 21h.


Garotas do ABC


Na programação da 3ª Mostra Brasil, será exibido, de hoje até segunda-feira, o filme “Garotas do ABC”, com entrada ao preço único de R$3,00. No ABC de São Paulo, região de fábricas têxteis e metalúrgicas, um grupo de operárias vive seu cotidiano de intenso trabalho, sonhos e ilusões. Entre elas, destaca-se Aurélia, operária negra, bela e atrevida, que adora homens fortes e musculosos. Aurélia (Michelle Valle), que é fã do astro Arnold Schwarzenegger, trabalha em uma indústria têxtil, recém-saída da concordata. Ao seu redor, se desenvolvem os três eixos narrativos do filme: a família de Aurélia (pai, mãe, irmão, tia e sobrinha), as colegas dela (a tecelagem e o clube operário que freqüentam) e o bando racista que acompanha o seu namorado fascista. 13º filme de Carlos Reichenbach, traz um elenco que mistura nomes consagrados, como Antonio Pitanga e Selton Mello, como jovens talentos, como Michelle Valle, Fernando Pavão, Luciele di Camargo, Natália Lorda e Rocco Pitanga. “Garotas do ABC” será exibido, de sexta a segunda-feira, na sessão de 15h, no Cine 1 do Moviecom. Para maiores de 16 anos.


Com a Bola Toda


Sente saudades do tempo em que jogava queimada (ou baleado, como se diz na Paraíba)? Pois vá conferir “Com a Bola Toda”. Peter LaFleur (Vince Vaughn) é o dono de uma academia decadente, que sobrevive de uma pequena clientela. O local atrai a atenção do egocêntrico White Goodman (Ben Stiller), dono de um império da ginástica. White pretende comprar o negócio de Peter, que está praticamente falido. Um dos bancos credores da Average Joe põe na academia a advogada Kate Veatch (Christine Taylor), que decide ajudar Peter a salvar a academia. A possibilidade de salvação surge através de um torneio de queimada, que terá como prêmio a quantia da dívida da Average Joe. Só que, ao saber dos planos, White também decide montar uma equipe de queimada de sua academia, e, participar do torneio. “Com a Bola Toda” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4 do Moviecom. Para maiores de dez anos.




Filme recomendado: “Cine Majestic”

Feridas do cinema

“Hollywood agora tem o seu Cinema Paradiso”, foi o comentário que surgiu, após as primeiras exibições de “Cine Majestic”. O filme, estrelado pelo ex-careteiro Jim Carrey, mostra que houve uma evolução do ator, após o chatíssimo “Mundo de Andy”, e, o infame “Eu, Eu Mesmo e Irene”. Mas, daí a ser comparado à obra-prima de Giuseppe Tornatore, é só para ressaltar as diferenças, como será visto adiante.

“Cine Majestic” traz uma boa dosagem de drama, romance, e, comédia, além de remexer em uma das mais dolorosas feridas da história americana, o macartismo. Mas, vamos por partes, como diria Jack, o Estripador.

O filme conta a história de Pete Apletton, um roteirista de cinema em ascensão, que é denunciado como participante do Partido Comunista, por ter assistido uma reunião, quando era estudante universitário. Isso não traria maiores repercussões se não fosse o negro período do macartismo, quando o simples rótulo de simpatizante do socialismo implicava em perda de emprego, prisão, deportação, e, até coisas piores.

A perda do emprego, o último roteiro sendo esmiuçado pelo FBI, e, um fora da namorada, levam o desiludido Pete a um porre homérico, que terminou num acidente automobilístico, dentro de um rio. Quando acorda, está desmemoriado, perdido, e, literalmente, sem lenço nem documento. Socorrido por um bondoso pescador, este o leva até a pequena cidade de Lawson, para que seja atendido pelo médico local.

Um dos moradores, ao vê-lo, acredita que é o seu filho, que retornou, após ter sido dado como desaparecido, em combate, durante a Segunda Guerra Mundial. Em meio a muitos vais-e-véns, o recém-chegado é praticamente idolatrado como o herói perdido, até mesmo pela antiga namorada do desaparecido. O retorno de Luke revoluciona a cidadezinha, principalmente pela reabertura do cinema da cidade, o Majestic.

O clímax fica por conta dos agentes do FBI, que chegam em Lawson para prender Pete-Luke, nessas alturas considerado o maior espião soviético em ação no mundo ocidental. De uma hora para outra, o rapaz passa de herói de guerra a fraudador, e, agente comunista. Ponto. Para saber o resto, assista ao filme.

Mais do que uma comédia romântica, “Cine Majestic” levanta a questão do macartismo, uma das páginas mais vergonhosas da história da maior democracia do mundo. A partir de 1947, o mundo comunista deixara de ser o aliado contra o nazismo, para tornar-se o inimigo mortal da democracia. Avanços tecnológicos, como a bomba atômica, e, a corrida espacial, aliados aos movimentos armados na China, Indochina e Coréia, fizeram os americanos temer por sua posição de supremacia mundial.

Aproveitando-se dessa paranóia, um obscuro político chamado Joseph McCarthy liderou um poderoso movimento no Congresso, denominado Comitê contra Atividades Anti-Americanas. Esse comitê investigava qualquer pessoa envolvida com movimentos civis, fossem pacifistas, liberais, socialista, comunistas, etc.. Embora a lista dos investigados chegasse à casa das 100 mil pessoas, por sua influência no imaginário popular, a indústria do cinema foi um alvo preferencial do comitê.

Quando alguém entrava nessa lista, estava banida do mercado de trabalho, muitas vezes tinha que prestar depoimentos, nos quais era obrigado a delatar supostos subversivos, para evitar a própria prisão. Na história real, uma resistência por direitos democráticos, foi radicalmente esmagada. Dos "Dez de Hollywood", alguns fugiram para o exterior, uma parte foi para a cadeia, outros pediram desculpas, e, delataram antigos companheiros. O caso mais conhecido é de Elia Kazan, autor do célebre “Sindicato de Ladrões”, e, “Os Visitantes”.

Até mesmo o genial Charles Chaplin foi impedido de retornar aos Estados Unidos, enquanto que inúmeros outros profissionais tiveram que trabalhar sob pseudônimos, entregaram-se ao álcool, foram presos, ou, morreram. Nessa época, o Sindicato dos Atores era comandado pelo canastrão Ronald Reagan, que colaborava ativamente com o FBI e o Comitê, fornecendo listas e mais listas.

A exemplo do que aconteceu com uma outra ferida histórica, a Guerra do Vietnã, Hollywood tenta refazer, nas telas, o que não conseguiu na vida real. “Cine Majestic” propõe uma inflamada afronta do herói contra o Comitê, invocando a constituição e os princípios da democracia. Tudo muito bonito e patriótico, embora os Estados Unidos de hoje, com o rescaldo do 11 de setembro, esteja mais próximo do macartismo do que em qualquer outra ocasião de sua história.

Ah! E o Cine Majestic? Se “Cinema Paradiso” é uma ode à Sétima Arte, “Cine Majestic” mostra um cinema físico, como um símbolo de esperança e reconstrução, emocional e política. Na bela seqüência final, o velho cinema consolida o seu papel de perpetuação da tradição familiar, tão valiosa para as culturas ocidentais. “Cinema Paradiso” fala de um retorno às origens, enquanto que “Cine Majestic” propõe um recomeço, a partir das ruínas.

A edição em DVD no Brasil ficou por conta da Warner Home Vídeo, trazendo o filme em formato de tela widescreen, áudio em inglês e português, e, legendas em português, inglês e espanhol. Como extras, nove minutos de cenas adicionais, que não fazem a menor falta, trailer de cinema, e, a seqüência completa do filme “Piratas das Areias do Sahara”, cujo roteiro foi escrito pelo personagem principal de “Cine Majestic”.

Se foram tomadas liberdades poéticas excessivas em “Cine Majestic”, não o invalida como um grande filme. O elenco de apoio, um batalhão de ótimos coadjuvantes, aliado a uma cuidadosa fotografia, e, trilha sonora repleta de jazz e outros ritmos dos anos cinqüenta, ajudam o filme a compor uma obra harmônica e agradável. E se, de quebra, despertar a sua curiosidade, e, o questionamento sobre os direitos individuais, já terá mais do que alcançado os seus objetivos.

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