sexta-feira, 10 de setembro de 2004

Claquete 10 de setembro de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

De dramas e comédias, assim é feita a vida dos homens. Os lançamentos da semana refletem bem esse espectro. Tom Hanks estrela uma curiosa comédia, “O Terminal”, sobre um refugiado em um aeroporto. Padre Marcelo Rossi repete sua passagem pelas telas, participando de “Irmãos de Fé”, produção nacional sobre a vida de São Paulo. E, no Filme de Arte, que ressurge, “Sob a Névoa da Guerra”, documentário premiado, que analisa a participação americana nas guerras do século 20. Continuam em cartaz, “A Vila”, de M. Night Shyamalan, interessante fantasia sobre uma utópica comunidade cercada de seres malignos, o policial “Colateral”, com Tom Cruise vivendo um malvado assassino profissional, “Olga”, a impressionante biografia da mulher do líder comunista Luis Carlos Prestes, e, “Alien x Predador”, ficção-científica que traz dois dos mais famosos seres alienígenas do cinema. Atendendo a pedidos, repetimos a análise do documentário “11/9”.


O Terminal

Decididamente, Tom Hanks está talhado para papéis “bonzinhos”. O mais novo filme do ator, repetindo a parceria com o diretor Steven Spielberg, é “O Terminal”, uma curiosa fábula sobre a incongruência da legislação americana, com relação aos estrangeiros. Viktor Navorski (Tom Hanks) é um cidadão de um fictício país da Europa Oriental, que viaja rumo a Nova York, em viagem de negócios. Para seu azar, o seu país sofre um golpe de estado, o que faz com que seu passaporte seja invalidado. Ao chegar ao aeroporto, Viktor não consegue autorização para entrar nos Estados Unidos. Como não pode retornar à sua terra natal, já que as fronteiras foram fechadas após o golpe, Viktor passa a improvisar seus dias e noites no próprio aeroporto, à espera que a situação se resolva. Porém, o impasse continua arrastando-se meses a fio, e Viktor permanece no aeroporto, passando a descobrir o complexo mundo do terminal onde está preso. Sem falar inglês, sem amigos, e, sem dinheiro, Viktor torna-se um cidadão do aeroporto, convivendo com os passageiros e funcionários, e, envolvendo-se nas mais absurdas situações. Apesar da comédia, um aeroporto é uma área internacional, tornando-se um verdadeiro limbo para os direitos dos cidadãos. O roteiro de “O Terminal” foi inspirado na história de Merhan Nasseri, um refugiado iraniano, que passou por uma situação semelhante à do personagem de Tom Hanks, no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Merhan teve seu visto de entrada negado, por ser iraniano, e, o certificado de refugiado, concedido pelas Nações Unidas, roubado. “O Terminal” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 4, do Moviecom. Para maiores de 12 anos.


Irmãos de Fé

O padre Marcelo Rossi prossegue em sua carreira nas telas de cinema, desta vez com “Irmãos de Fé”. Em São Paulo, dois rapazes seqüestram um casal de idosos, na intenção de fazê-los sacar dinheiro, em um caixa eletrônico. Eles enfrentam a polícia, sendo o mais velho baleado, e, Paulo (Micael Borges), que ainda é menor de idade, levado para a FEBEM. Mariana (Sabrina Rosa), irmã de Paulo, pede a ajuda de um padre (Padre Marcelo Rossi), já que o irmão está revoltado, por estar preso, e, por acreditar que foi Mariana quem o delatou. Paulo trata os dois com hostilidade, mas, recebe do padre uma Bíblia, que está marcada em Atos do Apóstolo, trecho que narra a vida do apóstolo Paulo. O garoto inicialmente rejeita o livro, mas, de madrugada, começa a lê-lo. É quando ele passa a conhecer a história de um homem que foi dos principais perseguidores de cristãos, e, de como ele se tornou um dos principais santos da Igreja Católica. A direção é de Moacyr Góes, e, o elenco conta ainda com Thiago Lacerda (Saulo / Paulo), Othon Bastos (Pedro), e, José Dumont (Tiago). “Irmãos de Fé” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 1, e, nos Cines 6 e 7, do Moviecom. Censura livre.


Filme de Arte: Sob a Névoa da Guerra

Talvez a passagem de 11 de setembro seja a época de pensar nas guerras, e, na inutilidade delas. Uma boa dica é o título do Filme de Arte do Cine Natal 2, “Sob a Névoa da Guerra”. O filme narra a história militar recente dos Estados Unidos, do ponto de vista de Robert S. McNamara, ex-secretário de Defesa nos governos Kennedy e Johnson. Um dos mais controvertidos políticos americanos, McNamara, que também já presidiu o Banco Mundial, tenta explicar o motivo do século 20 ter sido tão violento. Desde o bombardeio de centenas de milhares de civis em Tóquio, em 1945, passando pela Crise dos Mísseis, em Cuba, até os efeitos da guerra do Vietnã, o filme examina a combinação de fatores políticos, sociais e psicológicos que envolvem os conflitos armados. Com uma rica seleção de imagens de arquivo e gravações confidenciais da Casa Branca, também examina as justificativas do governo americano para uso militar da força. “Sob a Névoa da Guerra” ganhou o Oscar de Melhor Documentário em 2003. O Filme de Arte terá sessão única, às 21h, no dia 14, terça-feira, no Cine Natal 2.


“Mestre dos Mares”, em DVD

Um dos filmes que fizeram mais sucesso no cinema no ano passado, “Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo”, chega agora ao público, em DVD, numa edição dupla, merecedora de lugar de honra para qualquer colecionador. O filme narra a sangrenta batalha entre a fragata inglesa HMS Suprise, e, o navio de guerra francês Acheron, durante as Guerras Napoleônicas. Russell Crowe vive o capitão inglês Jack Aubrey,um líder genial e impetuoso,capaz de fazer o impossível para levar seus homens e seu país à vitória,por mais desesperadora que seja a situação. Além do filme, a edição traz um disco extra, com os documentários “Os Cem Dias” e “Seguindo O'Brian”, Trailers de Cinema, Cenas Excluídas, Filmagem com várias câmeras, e, Galeria de Fotos. O disco traz formato de tela widescreeen e tela cheia



“Tróia”, em DVD


Outro ótimo lançamento, em DVD, é “Tróia”, cuja pré-venda está sendo anunciada em todas as principais lojas na internet. O filme é inspirado no poema épico de Homero, a Ilíada, que narra o cerco de Tróia pelos gregos, com a participação de diversos heróis, como Aquiles, Heitor e Ulisses. O filme reconta, segundo uma ótica “realista”, diversas passagens dos grandes mitos gregos. Uma superprodução, com batalhas espetaculares, onde a atuação teve predominância sobre os efeitos especiais. No elenco, Brad Pitt, Peter O´Toole, Eric Bana, e, Orlando Bloom. O segundo disco, que complementa a edição, traz diversos documentários, como “No calor da batalha”, “Das ruínas à realidade”, “Tróia: Uma Odisséia de Efeitos”, e, “A galeria dos Deuses”. Todos os documentários estão legendados em português. E, graças aos deuses do bom senso, o formato de tela do filme foi mantido no widescreen original, para o prazer de quem vai curtir os 163 minutos do filme!



Moviecom: Sessão de Arte e “Fahrenheit”

Boas notícias para os cinéfilos natalenses! Segundo o assessor de imprensa do Moviecom, Ailton Medeiros, a empresa irá oferecer, nas próximas semanas, uma sessão regular de Filmes de Arte, a exemplo do que é feito pelo Cine Natal. A outra boa nova, é que, em breve, chegará a Natal o polêmico documentário do cineasta Michael Moore, “Fahrenheit 9/11”. É esperar, para ver...


Sony venderá shows em VideoCD

A Sony Music anunciou que iniciará a venda de shows de seus artistas em VideoCD. Para quem não sabe, VidcoCD é o formato de vídeo que permite que se assista tanto no CD-ROM do computador, como no aparelho de DVD. A resolução de imagem é similar ao VHS, e, o som, em estéreo. Resta saber se o consumidor estará interessado em pagar cerca de vinte reais para ter estes exemplares, com qualidade inferior ao DVD, sem extras ou documentários, se o camelô da esquina oferece o DVD pirata pela metade do preço. E, o pior de tudo, é que a justificativa da gravadora foi lançar no formato VCD para baratear o produto, e, combater a pirataria! Como diz aquele comercial, está na hora das reverem os seus conceitos, se quiserem realmente se livrar dos piratões...







Filme recomendado: “11/9”

11 de setembro: O dia em que o mundo parou


A Arte, por definição, imita a Vida. Quando o inverso ocorre, os resultados são absolutamente surpreendentes. Este foi o caso do atentado de 11 de setembro de 2001, quando o mundo inteiro assistiu, pela televisão, a destruição das torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Desde então, muitos especiais e documentários foram produzidos, sobre o assunto, explorando o tema até à exaustão. Será? Se você pensa desta maneira, então procure assistir “11/9”.

Quando dois franceses, os irmãos Jules e Gédéon Naudet, procuraram o Corpo de Bombeiros de Nova York, foi para produzir um documentário sobre um bombeiro iniciante, e, o seu primeiro contato com um incêndio real. Jamais passaria, pela cabeça deles, ou, a de qualquer cidadão do mundo ocidental, que o que eles iriam documentar ultrapassaria qualquer produção de Hollywood.

Procurando entre os inúmeros recrutas, os irmãos Naudet selecionaram o jovem Tony Benetatos para ser a sua “estrela”, mais pelo entusiasmo e idealismo do rapaz, do que qualquer outra razão. No melhor estilo “Big Brother”, a equipe acompanhou o jovem desde o início do período probatório de nove meses, pelo qual todo neófito tem que passar, antes de ser efetivado como bombeiro.

Durante os primeiros minutos do filme, são registrados os treinamentos, as rotinas, e, as brincadeiras, a que o estagiário é submetido. Num momento premonitório, Tony recebe a incumbência de colocar a bandeira a meio-pau, devido à morte de um bombeiro novato, durante um incêndio. Nervoso, o rapaz resmunga esperar ser esta a última vez que faz isso em sua vida. As semanas se passam, e, nada de acontecer o batismo de fogo de Tony. Ansioso por participar de um incêndio real, o máximo que lhe acontece é um carro pegando fogo. Por gozação, já estava sendo apelidado de “nuvem branca”, que é como chamam o bombeiro que dificilmente vê um incêndio.

No dia 11 de setembro de 2001, os bombeiros recebem um chamado, comunicando um vazamento de gás. Operação de rotina, um grupo de bombeiros vai verificar o caso, indo com eles o chefe do posto, Joseph Pfeifer, e, Jules Naudet com sua câmera. Quando estavam examinando o vazamento, presenciam o primeiro avião chocando-se com a Torre Um do World Trade Center (este, de fato, é o único registro do primeiro choque). Mais que depressa, Pfeifer reúne a equipe e dispara para o local do que achava ser um acidente, enquanto alarmava os demais grupos de bombeiros, através do rádio.

Em pouco tempo, eles chegam ao WTC, e, encontram um quadro desolador: vidros arrebentados, pessoas queimadas ou desfiguradas pela violência do choque. Outros grupos de bombeiros vão chegando, e, subindo as escadas, enquanto os chefes organizam um posto de comando, no saguão do edifício. De vez em quando, escuta-se o som de corpos chocando-se no solo. São as pessoas que estão acima do 80º andar, e, que não tem mais esperança de salvamento, preferindo abreviar o sofrimento.

Enquanto isso, ao novato Tony coubera a incumbência de permanecer no quartel, recebendo as ligações. Com ele, ficou o outro irmão Naudet, Gédéon, que ainda não tinha idéia do que acontecia de verdade. Como o jovem recruta não podia sair, Naudet pegou a câmera, e, foi andando, em direção ao WTC, registrando a reação das pessoas. Foi aí que o segundo avião atingiu a outra torre.

Nessas alturas, centenas de bombeiros subiam as escadas, pois nenhum dos elevadores funcionava. Devido ao seu projeto peculiar, todos os elevadores e escadas ficavam agrupados no centro do edifício. Quando o avião chocou-se com a torre, bloqueou a única via de escape dos que estavam acima, e, ainda, despejou milhões de litros de combustível incandescente pelos poços dos elevadores.

Quando ocorreu o segundo choque, o alerta foi dado aos bombeiros para abandonar o conjunto do WTC. Aos poucos, os que podiam procuravam as suas rotas de fuga, embora a maior parte ainda estivesse muitos andares acima. Em pouco tempo, ruía a primeira torre, e, logo depois, a segunda.

Conseguindo, a muito custo, escapar do edifício, o chefe Pfeifer e o cinegrafista francês correram, junto com os demais sobreviventes, para longe do acidente, mas a queda da primeira torre pegou-os no caminho. Praticamente às cegas, conseguiram sair da imensa nuvem de poeira e detritos que se formou. Logo, conseguiram chegar no quartel, e, contar as baixas. Pouco a pouco, todos foram retornando, faltando somente o novato, Tony, que saíra com um velho comandante aposentado que se apresentara, ao saber do acidente. Quer saber o que houve com ele? Assista ao filme.

“11/9” recebeu algumas críticas, por não ter analisado mais profundamente o que ocorreu naquele dia em Nova York. Mas, paradoxalmente, esta é sua maior qualidade. O documentário mostra exatamente o ponto de vista dos bombeiros, e, habitantes da cidade que testemunharam os fatos. O nome Osama Bin Laden não fazia sentido para ninguém, e, não faz falta no filme. Contudo, o registro dos fatos ocorridos foi feito com um realismo inédito, sem nunca escorregar para o escatológico ou sensacionalista. Até porque, seria impossível ser mais sensacionalista do que o próprio ataque.

Um outro ponto altamente positivo do documentário é a ausência de julgamento de valor. Não se questiona a crueldade dos terroristas, ou, as suas motivações. O que se mostra é a reação das pessoas, perante os fatos, e, suas conseqüências. Voltando a seus propósitos originais, os irmãos Naudet registraram o encontro de Tony Benetatos com o seu primeiro incêndio, mas também brindaram a História, com um testemunho fiel, de um dos dias mais apavorantes da América.

Tecnicamente, “11/9” está primoroso. Os editores conseguiram transformar um documentário real em uma apresentação que prende a atenção do espectador, levando-o a momentos de suspense, comparáveis aos de uma ficção de Hollywood. Os minutos iniciais contextualizam o espectador no ambiente dos bombeiros, fazendo-o criar uma empatia com o jovem Tony e o seu destino. Quem for assistir deve preferir a versão em DVD, pois além das duas horas do documentário, ainda tem mais 42 minutos de entrevistas, que ajudam a preencher lacunas, e, completar a visão de inferno que foi o 11 de setembro.

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