sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Claquete 20 de agosto de 2004



Newton Ramalho - colunaclaquete@gmail.com


O que está em cartaz

Depois de uma longa espera, chega às telas dos cinemas brasileiros o filme “Olga”, contando a vida de Olga Benario, mulher do líder comunista Luís Carlos Prestes. A estréia do filme coincide com o cinqüentenário da morte de Getúlio Vargas, por quem teria sido deportada para a morte, nos anos 30. A outra estréia da semana, “Mulheres Perfeitas”, traz a talentosa Nicole Kidman, em um misto de drama e suspense. Continuam em cartaz “Mulher-Gato”, filme de ação estrelado pela gatíssima Halle Berry, “O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”, comédia romântica, com o careteiro Jim Carrey, e, a ótima Kate Winslet, “Eu, Robô”, ótimo ficção-científica, estrelada pelo rapper Will Smith, o romance “Diário de Uma Paixão”, com os veteranos James Garner e Gena Rowlands, a comédia romântica “Um Príncipe em Minha Vida”, e, o infantil “Garfield”, com o gato mais folgado do mundo. O Filme de Arte do Cine Natal 1 traz uma produção americana independente, “Ken Park”. Continuamos aguardando sinais de “Fahrenheit 11 de Setembro”.

“Olga” estréia nacionalmente

Uma personagem fascinante de nossa história tem a sua vida levada às telas do cinema. Reunindo todos os elementos somente observados na ficção, uma mulher viveu aventuras, romance, e, um final trágico, no conturbado período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Baseado no livro homônimo de Fernando de Morais, “Olga” retrata a vida de Olga Benario Prestes. Bonita, alta, cabelos escuros, olhos azuis, Olga nasceu na Alemanha, em Munique. Desde cedo, participou de atividades comunistas, como o resgate de um namorado, em pleno tribunal. Mais tarde, após intenso treinamento em Moscou, recebeu uma importante tarefa, proteger o líder da futura Revolução Comunista no Brasil, Luís Carlos Prestes. Após o fracasso do movimento, que passaria para a história brasileira como “Intentona Comunista”, Olga e Prestes foram presos, assim como inúmeros outros companheiros. Grávida de sete meses, Olga é deportada para a Alemanha, onde viria a morrer na câmara de gás do campo de extermínio de Bernburg, destino comum para comunistas e judeus. Nos papéis principais, Camila Morgado (Olga), Caco Ciocler (Prestes), e, Osmar Prado (Vargas). A direção é de Jayme Monjardim. “Olga” estréia, nesta sexta-feira, no Cine Natal 2, e, nos Cines 4 e 6, do Moviecom. Para maiores de 14 anos.


Mulheres Perfeitas

Você sonha com uma mulher perfeita, que nunca tenha ciúmes, ou, que faça qualquer tipo de exigências? Então, vá para Stepford! Mas, cuidado, pois, as aparências enganam... Joanna (Nicole Kidman) é uma executiva bem-sucedida que, após o fracasso de um reality show idealizado por ela, é demitida, e, sofre um colapso nervoso. Para descansar, seu marido (Matthew Broderick), a leva para uma cidade do interior, Stepford, localizada no subúrbio de Connecticut, com seus dois filhos. Lá, ela faz amizade com Bobbie (Bette Midler), mas, começa a notar uma estranha coincidência: todas as esposas do local obedecem, com extrema dedicação, aos seus maridos, parecendo felizes com a situação. Joanna começa a investigar o caso, e, descobre a existência de um plano, que evita os problemas familiares. Esta é a segunda filmagem do livro de Ira Levin, “Stepford wifes”, cuja primeira versão saiu em 1975. Levin já teve outros livros transportados para as telas, como “O Bebê de Rosemary”, dirigido por Roman Polanski, e, “Meninos do Brasil”, de Franklin J. Schaffner. “Mulheres Perfeitas” estréia, nesta sexta-feira, no Cine 3, do Moviecom. Censura 12 anos.


Filme de Arte: “Ken Park”

Esta produção independente americana mostra a rotina de quatro adolescentes da cidade de Visalia, Califórnia. Shawn (James Bullard) é um skatista, que transa com a namorada, e, com a mãe dela. Tate (James Ransone) gosta de se masturbar várias vezes seguidas, e, tem um cachorro de três pernas. Ele é criado pelos avós, que não respeitam a sua privacidade, deixando-o furioso. Claude (Stephen Jasso) é agredido seguidamente pelo seu violento pai, um alcoólatra, que o acusa de homossexualismo, sendo consolado pela apática mãe grávida. Peaches (Tiffany Limos) anseia por liberdade, mas, tem de cuidar de seu religioso pai, um cristão fundamentalista, que a espanca, após fraga-la transando. Embora conversem o tempo todo, cada um dos personagens não sabe dos problemas enfrentados pelos outros. Algumas cenas de sexo causaram a proibição do filme na Austrália. O filme é do diretor Larry Clark, que fez o ótimo “Kids”. Sessão única, às 21h da próxima terça-feira, no Cine Natal 1. Censura 18 anos.


Abertas as inscrições para Festival do Minuto

Estão abertas as inscrições para mais uma edição do Festival Mundial do Minuto, que será realizado em dezembro próximo. Podem participar trabalhos realizados em qualquer tipo de equipamento que produza imagens em movimento: câmeras de vídeo, câmeras de foto digitais (seqüências de fotos), ou, até mesmo, animações em formato Flash, feitas no computador. Para inscrição, os trabalhos poderão ser entregues em fita de vídeo VHS, mini-DV, ou, em CD, para animações em formato Flash. Maiores informações, regulamentos, e, inscrições, no site www.festivaldominuto.com.br.



Festival de Gramado

Está acontecendo, até sábado, o mais famoso festival de cinema da América do Sul, o Festival Internacional de Gramado. Se você, como a maioria dos mortais brasileiros, não pode dar um pulinho até lá, que tal dar uma conferida no site www.petrobrasfestivalgramado.com.br? Lá, é possível ver as sinopses dos filmes patrocinados pela estatal, conferir as notícias do Festival, entrevistas com atores e diretores, ver notícias de bastidores, e, até mesmo, fazer download de papeis de parede e screensavers, relativos ao evento. Entre os entrevistados, estão os atores Lima Duarte, Camila Morgado, Daniela Escobar, e, os diretores Jayme Monjardim, Nelson Pereira dos Santos e Tizuka Yamazaki.



Veja o filme, leia o livro

A ocasião não poderia ser mais propícia. No próximo dia 24 de agosto, terão passados 50 anos, desde a morte de Getúlio Vargas, o mais importante político de nosso país. Tirano, benfeitor, muito se dirá ainda, em verso e prosa, principalmente em prosa. Nesta mesma semana, acontece a estréia do filme “Olga”, uma vítima da era Vargas. Não fique apenas no filme. O livro “Olga”, de Fernando de Morais, no qual o filme é baseado, apesar de ser um documentário exaustivamente pesquisado, não perde o sabor de uma boa narrativa, mantendo um suspense impensável, ao narrar-se uma história sabida e acontecida há poucas décadas atrás. Para saber mais sobre o período, veja também “Getúlio”, de Juremir Machado da Silva, e, “Quem Matou Vargas?”, de Carlos Heitor Cony. Não confundir com o romance de Jô Soares. Boas leituras!


Morre o músico de “Os Dez Mandamentos”

Faleceu, aos 82 anos, o grande compositor de cinema Elmer Bernstein. Entre as inúmeras trilhas sonoras compostas por Bernstein, destacam-se “Os Dez Mandamentos”, “O Homem do Braço de Ouro”, “Bravura Indômita”, “Sete Homens e Um Destino” (que, durante muito tempo foi usada nos comerciais do cigarro Malboro), “O Indomável”, “O Sol é Para Todos”, “Fugindo do Inferno”, “A Maldição do Ouro”, “Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu!”, “Um Lobisomem Americano em Londres”, “Meu Pé Esquerdo”, “A Época da Inocência”, “O Homem Que Fazia Chover”, “As Loucas Aventuras de James West”, “Vivendo no Limite”. Embora tenha tido outras 13 indicações, o único Oscar de sua carreira foi em “Positivamente Millie”, de 1967.






Filme recomendado: “Ben-Hur”

O filho do General

Geralmente imaginamos um general como um cara durão, mais afeito às armas, do que, aos livros. A História encarregou-se de provar o contrário, em diversos casos, sendo, o mais notável, o general Lee Wallace. Este cidadão foi o autor do livro de segunda maior vendagem nos Estados Unidos, perdendo apenas para a Bíblia Sagrada. O título do livro? “Ben-Hur, uma história de Cristo”. O livro, escrito em 1880, foi levado aos palcos do teatro, e, às telas do cinema. A mais famosa versão, “Ben-Hur”, com Charlton Heston, de 1959, tornou-se o mais premiado da Academia em todos os tempos, com onze estatuetas, só sendo igualado por “Titanic”, quatro décadas mais tarde.

Mas, quem foi afinal Lee Wallace? General, distinguiu-se na Guerra Civil Americana, participando de inúmeras batalhas, inclusive a histórica Shiloh. Após a guerra, chefiou a comissão que investigou o assassinato de Lincoln, foi nomeado governador do território de Novo México, e, serviu como embaixador na Turquia. Seu primeiro livro, uma novela sobre princesas e guerreiros astecas, lutando contra Cortez, não fez muito sucesso. O segundo, ambientado na origem do cristianismo, foi o surpreendente Ben-Hur.

Wallace pesquisou incansavelmente, nos 250 mil volumes da Biblioteca do Congresso e de Boston, toda documentação sobre os judeus, e, tudo o que fosse relacionado com a era em que Cristo viveu. Em 12 de novembro de 1880, foi publicada a primeira edição do livro, com o título “Judah, uma história de Cristo”. Embora Wallace não tenha permitido nenhuma edição popular enquanto fosse vivo, sua obra ultrapassou o clássico “A cabana do pai Tomás”, e, vendeu milhões de cópias. Só em 1913 foi que a Sears & Roebuck fez a primeira edição barata, vendida a módicos trinta e nove cents.

A primeira montagem para o teatro aconteceu em 1899, alcançando a marca de seis mil apresentações, não só na Broadway, mas, em qualquer cidade dos Estados Unidos. O curioso, é que foram usadas bigas reais, com cavalos, em pleno palco. Inicialmente só duas, chegou-se ao requinte de cinco ou seis bigas, causando uma certa apreensão nos usuários das primeiras filas! Contudo, nada menos que vinte milhões de pessoas assistiram a peça, isso no início do século vinte.

O sucesso no cinema veio por etapas. Em 1907, com o cinema ainda dando os seus primeiros passos, foi feita uma versão resumida, com cerca de quinze minutos, o que não era muito diferente das demais produções da época.

Em 1925, foi feita uma nova versão, que teve a co-produção da Metro-Goldwyn-Mayer. Ainda mudo, e, colorizado artificialmente, em duas cores, o filme foi uma superprodução, na época, chegando à incrível soma de quatro milhões de dólares. Hoje pode parecer pouco, mas dólar também tem inflação. Um ingresso de cinema custava na época um quarto de dólar, hoje custa dez dólares, é só fazer as contas...

Esse filme levou seis anos para ser concluído. Uma das dificuldades foi o fato de estar sendo rodado em Roma, onde o ditador Mussolini, em franca ascensão atrapalhou bastante a produção. Um detalhe curioso, foi um telegrama enviado pelo diretor do filme ao estúdio, solicitando que fossem trazidas mulheres bonitas da França, pois “as italianas eram muito gordas” para o que se pretendia. Ainda sobre as mulheres no filme, na parada triunfal de Arrius Quintus, jovens seminuas, com os seios desnudos, jogavam pétalas de rosas à frente do cortejo. Parece que os anos vinte eram mais liberais que os cinqüenta...

Finalmente, em 1959, chegou às telas a versão mais conhecida de “Ben-Hur”. Dirigida por William Wyler, e, tendo Charlton Heston no papel-título, foi uma das produções mais caras de toda a história do cinema, mas que rendeu mais de oitenta milhões de dólares em todo o mundo. Filmado com um sistema, ainda experimental, de 65mm, foram construídos mais de trezentos sets de filmagem (inclusive o maior, até então, a arena onde correram as bigas, com mais de setenta mil metros quadrados), um quarteirão inteiro de Jerusalém, e, um lago artificial, com duas galés romanas em tamanho real. Cem mil figurinos foram usados, por oito mil extras.

Isso pode parecer pouco, quando comparamos a “Titanic”, mas, é bom lembrar que, nos anos cinqüenta, não existiam efeitos gráficos em computador. Tudo era feito “no braço”, para conseguir o máximo de realismo possível.

O esforço foi recompensado. O filme foi um sucesso de crítica, e, de público, ganhando onze Oscars, e, presente na memória coletiva do mundo inteiro, até os dias de hoje. Os atores são quase todos americanos, à exceção de Stephen Boyd (Messala), irlandês, e, Haya Harareet (Ester), israelense. Charlton Heston, já vinha de vários sucessos, como “Os Dez Mandamentos”, o que fez as pessoas ligarem a sua imagem a personagens “bíblicos”, embora Ben-Hur fosse ficcional. Curiosamente, Heston conseguiu o papel depois do mesmo ter sido recusado por Burt Lancaster, Marlon Brando, e, Rock Hudson.

Uma coisa curiosa, sobre a versão de 1959, é a apolitização do Ben-Hur. No livro original, o jovem usa sua fortuna para arregimentar e treinar três legiões de guerreiros, que deveriam proteger Cristo, e, lutar contra os romanos, para libertar a Judéia. Esse aspecto não é nem mencionado no filme, passando apenas a impressão da vendetta pessoal de Judah contra Messala. Talvez isso tenha sido intencional, tendo em vista que no final dos anos cinqüenta, o mundo vivia em ebulição por causa de vários movimentos de libertação política, incluindo o de Cuba com Fidel Castro. Afinal de contas, seja em que época for, os grandes veículos de comunicação não querem se indispor contra o poder...

A história do filme é por demais conhecida. Um jovem príncipe judeu, Judah Ben-Hur, contemporâneo de Jesus Cristo, é, injustamente, acusado de atentar contra o governador da Judéia, por seu amigo de infância, Messala. Sobrevivendo à infernal vida nas galés romanas, Judah salva a vida de um tribuno romano, e, por ele é adotado. Voltando à Judéia como um homem livre, Judah tem como objetivo fixo vingar-se do ex-amigo, que o condenou, e, causou a morte de sua mãe e da irmã. Tendo obtido grande sucesso nas corridas de bigas (na verdade quadrigas, pois eram puxadas por quatro cavalos), encontra sua oportunidade de vingança, ao desafiar Messala para uma corrida, em plena Jerusalém.

A versão em DVD para a América Latina estaria perfeita, se o excelente Making Of que acompanha o filme, estivesse legendado em português. Fora isso, está tudo muito bom. São dois discos, sendo que no primeiro encontra-se a primeira metade do filme, o comentário em áudio do Charlton Heston, e, algumas notas sobre o elenco. No segundo disco está a parte final do filme, o Making Of, galeria de fotos, trailers de cinema, e, alguns testes de tela. Num destes testes, está Leslie Nielsen, ainda em sua fase de galã, que se consagraria depois com as engraçadíssimas comédias da série “Corra que a polícia vem aí”. Outra curiosidade: a versão em DVD traz os intervalos de Overture (com seis minutos e meio) e Intermezzo ( com quatro minutos) originais do cinema. Não se espante, se a tela ficar escura, e, a música incidental tocando sem cessar...

Independente da crítica que se faça a “Ben-Hur”, é um filme que merece ser visto e revisto, se não pelo tema, pela grandiosidade, e, esmero na produção. Os valores ali retratados são coerentes e atemporais. Este é um dos filmes que nunca envelhece, e, por isso mesmo, merece um lugar de destaque em qualquer lista de cinéfilo.

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